Incrementar a atividade leiteira, fazendo dela motivo de satisfação e garantia de melhores rendimentos. Foi com essa ideia que, em 2016, recém-casados, Andrea Ruppenthal e Inelson Fioreze, donos da Agropecuária IF, no município de Colorado (RS), decidiram dar um novo rumo à atividade leiteira na propriedade de 9 hectares, que já produzia leite em pequena escala havia 22 anos. Andrea, médica veterinária e filha de produtores de leite, e Inelson, também produtor, ao juntarem seus objetivos na atividade, sabiam que o caminho seria árduo e suas metas passariam por adoção de novas tecnologias para elevar o volume de matéria-prima, com base em ganhos de produtividade, qualidade genética dos animais, nutrição correta, bem-estar animal e qualidade do leite.
Daí que a estratégia mais segura vislumbrada por eles foi partir de um planejamento, com metas e investimentos bem definidos e focados em tecnologia. Estabeleceram, então, o esquema 40 por 40, ou seja: 40 vacas em produção, com média anual de 40 litros de leite/vaca/dia, na medida das condições da propriedade.
“Decidimos que essa seria a forma de alcançarmos o máximo aproveitamento da terra, que é muito cara em nossa região. Assim, estabelecemos investir em algumas mudanças no sistema de produção. O primeiro passo, em 2016, foi instalar o confinamento dos animais em sistema de compost barn”, relata Andrea.
A Agropecuária IF conta com orientação da equipe de assistência técnica da Cotrijal: a Devet, de veterinários, e o Detec, de agrônomos. “A primeira nos orienta nos quesitos de nutrição para os animais, na parte de gestão administrativa, planejamento econômico-financeiro e também na parte reprodutiva e clínica. Já o Detec, que é a equipe agronômica, nos orienta na parte de produção de alimento para o gado”, informa Andrea. A cada mês, passam de dois a três técnicos na fazenda para acompanhar e ajudar na solução de algum problema que o produtor venha a ter.
Quando iniciaram as mudanças, em 2016, eles contavam com 13 vacas em lactação, com média de 24 litros de leite/vaca/ano. Em 2020, fecharam com média de 34 animais em lactação, e produção de 38,77 litros/vaca/ano. Faltam alguns detalhes para chegarem aos 40 litros/vaca/ano.
“Esses números nos dão satisfação, pois mostram um grande avanço em pouco tempo. Até então, eu atuava na parte de qualidade de leite e clínica, mas sempre sonhando em também ser produtora de leite. É uma propriedade familiar, trabalhamos eu e meu esposo, sem nenhuma mão de obra de fora. E, por enquanto, estamos dando conta na busca de alcançar nossas metas”, diz Andrea, com orgulho.
Hoje, além dos 9 hectares próprios, eles arrendam 4 hectares. Na propriedade, têm as instalações, a área de produção de milho para silagem e mais um espaço de pastagem em tifton para a recria. O rebanho de 70 animais, predominantemente da raça Holandesa, conta ainda com animais Jerseys (cerca de 30%). São 40 vacas em produção (34 em lactação e 6 secas, e o restante de novilhas e animais mais jovens).
Conforto para os animais – Como um dos grandes desafios é conforto térmico, devido ao estresse do verão, o compost barn tornou-se a tecnologia fundamental para o avanço da eficiência do sistema produtivo. “E, para conseguir essa eficiência, é essencial o manejo correto do sistema, a começar pela manutenção da qualidade da cama e o seu manejo correto, com o revolvimento dela a cada saída dos animais”, observa Andrea. O compost barn é dotado de sete ventiladores em sistema de cortina de vento, de modo a aproveitar a predominância de vento natural. As vacas são refrigeradas sempre que a temperatura superar os 25oC, com o sistema sendo acionado de forma manual variando de três a quatro “banhos”, dependendo do dia. E um “banho” antes da ordenha da tardinha, às 16 horas.
Na área de produção de cultivo de milho para silagem, safra e safrinha, é feita rotação de cultura para produção de palhada, de modo a proteger o solo e enriquecê-lo com matéria orgânica, algo que a produtora destaca ser muito importante em seu sistema de produção de leite. Nos últimos anos, a produtividade da silagem em ano normal (sem estiagem) chega a 70 toneladas por hectare na safra e 40 t/ha na safrinha, totalizando 110 t de silagem de alta qualidade. Antes alcançava em torno de 90 t/ha no total.
Produtividade e qualidade – Andrea lembra que, de dezembro a março, é um período muito desafiador para eles, em função do estresse calórico de verão, “mas mesmo assim conseguimos fechar a média de 38,77 litros de leite/vaca/dia. O que mostra que estamos no caminho certo”.
Em relação à qualidade do leite, ela observa que uma de suas metas para 2021 é focar mais ainda na questão da qualidade, observando que em 2020 mantiveram uma média de 160 mil CCS/ml, CBT na média de 4 mil a 6 mil UFC/ml; 3,2% de proteína, 3,6% de gordura. “Em relação ao trabalho de redução da CCS, estamos dando mais atenção à secagem das vacas, com uma diferenciação no uso de produtos, análise do mensal do leite por vaca. Isso por questão de custo e também de tratamento diferenciado para vacas com CCS acima de 200 mil e para aquelas que estão abaixo desse patamar.”
Em relação ao porcentual no rebanho de vacas em lactação e vacas secas, Andrea e Inelson mantêm uma relação de 80% a 81% em lactação. No tocante à criação e recria das bezerras, graças aos cuidados rigorosos de manejo, desde o primeiro momento do parto são raros os problemas, registrando baixíssimo índice de mortalidade.
Andrea detalha: seguindo as orientações dos técnicos do Devet da Cotrijal, depois dos rigorosos cuidados no parto, com a ingestão do colostro, nas primeiras horas de vida, e cura do umbigo, as bezerras passam a receber a dieta líquida, que consiste em 6 litros de leite/dia, mais a ração para a idade e também feno. Após o desmame ficam na instalação para novilhas, com acesso ao piquete com grama tifton.
Seguindo os protocolos de boas práticas e bem-estar das bezerras, conseguem com que as novilhas tenham um desenvolvimento adequado para atingirem as condições de inseminação na idade e peso adequados. “Damos especial atenção a essa fase, investindo em instalações adequadas, num compost barn específico para elas, que atende à necessidade de bem-estar, manejo e dieta adequada, inclusive com acesso a piquete com grama tifton”, observa a produtora. Ela complementa dizendo que esse trabalho todo começa, a bem dizer, com a vaca seca (que recebeu os protocolos de secagem), e é intensificado no periparto. Assim, a vaca tem um bom parto, está saudável para ter um bom desempenho de produção e de reprodução.
Nesses quase cinco anos, com o ganho em produtividade e aumento do volume de leite, consequentemente mudou toda a configuração da propriedade e a forma de tocar a atividade. Com isso, conforme mostra a produtividade de litros de leite/hectare/ano, Andrea garante que otimizou muito o uso da terra, “que é muito cara na região”.
Ela destaca outro ponto importante, no contexto dessas melhorias da atividade e do aproveitamento da terra, que é a preocupação com a estruturação e a fertilidade do solo. Eles têm focado muito na preservação e no enriquecimento do solo, pois isso está na base da produtividade do milho para a confecção da silagem para os animais. “Nesse trabalho temos a preocupação não só quanto à produtividade da cultura, como também quanto à qualidade da silagem para os animais.”
Com foco nesses fatores de qualidade do solo, produtividade e qualidade da silagem para os 70 animais (antes eram 22), o rebanho foi formado na propriedade. O objetivo era crescer a partir dos animais de que já dispunham. Para tanto, investiram e continuam investindo no melhoramento contínuo do rebanho, com base em avaliações genéticas e programas de acasalamento.
“Visamos animais produtivos e longevos. Animais que se destacam em úbere, características de saúde, como maior resistência a mastite, laminite, metrite, retenção de placenta, deslocamento de abomaso, cetose, etc. A gente foca também em seleção para altas produções, com moderado tamanho corporal, para mantermos assim os animais por maior tempo possível no rebanho. Hoje, consigo trabalhar em 4 a 5 lactações, até descarte”, diz ela.
Rentabilidade – Ela observa que tem trabalhado na média de custo de litro de leite ao redor de R$ 1,40. Ressalva que 2020 foi um ano muito complicado para eles, devido ao severo problema da seca, que reduziu a produtividade do milho para silagem. Com isso, foi preciso elevar drasticamente a suplementação da dieta no cocho, com subprodutos como caroço de algodão, farelo de soja, além da ração Cotrijal, que comumente utiliza. Inclusive, compraram silagem de terceiros para suprir a necessidade dos animais. “Mesmo com toda essa interferência da seca, conseguimos ter em torno de 20% de lucro. Vale notar ainda que tivemos investimentos de 10% na propriedade, além da nossa receita, durante 2020.”
Ao responder qual o diferencial da Agropecuária IF, Andrea ressalta que é a dedicação total, todos os dias, para fazerem todo esse trabalho da melhor maneira possível. O que significa buscar novas tecnologias, práticas de gestão, que no fim resultam em produtividade, menor custo de produção e qualidade do leite, e claro que sobre uma margem satisfatória. “Para mim, isso tudo passa também pelo bem-estar dos animais. Procuro conhecer cada um deles, individualmente, ao mesmo tempo que também buscamos avaliar detalhadamente tudo o que fazemos na atividade. Entender cada número, cada fator de custo, cada índice zootécnico, analisando dentro do contexto de desempenho do rebanho”, explica.
Ela continua observando que tendo os diversos fatores zootécnicos anotados e analisados, tem como princípio trabalhar na prevenção, evitando o agravamento dos problemas e suas consequências. “Por exemplo, no caso de tratamento dos animais, utilizo um quadro de avaliação do uso de antibióticos, que me dá um ‘retrato’ da sanidade do rebanho. Por 11 meses, passei sem precisar usar antibiótico, o que me indica que a estratégia de prevenção está muito eficiente”, diz, acrescentando que outro cuidado é a preocupação em manter o equilíbrio nutricional do rebanho, das bezerras às vacas em lactação, no período de transição. Além, obviamente, do bem-estar animal, sobretudo no que diz respeito ao conforto térmico, com ventilação e aspersão.
Ela ressalta ainda outro fator que está na base do bom desempenho e dos avanços na propriedade nesses quatro anos de mudanças: “Trabalhar com satisfação, fazer com dedicação cada transformação e sentir orgulho a cada sucesso alcançado”. E continua: “É isso o que nos motiva a cada dia, buscando nos organizar da melhor maneira, seguindo nosso calendário de atividades, pois são muitos os detalhes e nenhum deles pode ser negligenciado sob pena de prejudicar os demais e comprometer o processo de produção. E, junto com isso, nosso trabalho torna-se mais leve também, já que somos só eu e meu esposo na lida e ainda temos um filho de dois anos”, ressalta.
Metas – Quanto a metas, segundo o casal, a principal é a 40 x 40, mesmo sabendo do desafio enfrentado no verão. Mas eles trabalham duro para alcançá-la e já estão próximos disso. Em 2020, a Agropecuária IF fechou o ano com uma produtividade de 37.401 litros de leite/hectare/ano, abrangendo tanto a área para recria, como a área para a produção de leite. A meta, realizando o esquema 40 x 40, é chegar aos 55 mil litros de leite/ha/ano.
Para tanto, assinala a produtora, vão continuar otimizando a recria e investindo na melhoria da forrageira, visando reduzir a suplementação da recria no cocho. “Vale reforçar a informação de que vamos continuar neste ano mais focados nos cuidados com a vaca seca, com atenção específica entre uma vaca e outra, daí ser fundamental continuar com a análise individual do leite de cada vaca”, afirma Andrea.
Outro ponto importante citado por ela é que, na base desse trabalho na Agropecuária IF, torna-se indispensável aprimorar cada vez mais o quesito gestão da propriedade. Para tanto, o casal conta com a orientação mensal da equipe técnica da Cotrijal, que os tem ajudado muito em termos gestão e planejamento eficientes. “Isso nos permite uma visão objetiva e bastante consistente de tudo o que ocorre na propriedade, principalmente no item análise de custos. É nesse ponto que nos baseamos para as tomadas de decisão. E, como tem dado certo, vamos nos aperfeiçoando sempre”, diz a produtora.
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