“A silagem de milho reidratado surge como uma tecnologia inovadora de conservação do grão moído, por meio da ensilagem, para ser utilizado em dietas de vacas leiteiras. O processo consiste basicamente na reidratação do grão de milho moído, seguido por conservação na forma de silagem”, explica Renata Apocalypse, pesquisadora da Epamig, informando que, dada a grande importância dessa tecnologia, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), em parceria com o professor da Universidade Federal de Lavras (Ufla), Marcos Neves Pereira, realiza uma série de estudos para tornar viáveis formas mais nutritivas e econômicas de processar e armazenar o milho nas fazendas.
Na alimentação das vacas leiteiras, o milho entra como um dos principais ingredientes da dieta, garantindo aporte de energia para os animais. Porém, ao contrário do que ocorre em outros países com o cultivo do milho farináceo, no Brasil é cultivado o milho duro, como observa o professor Pereira, da Ufla, o qual se caracteriza por sua alta vitriosidade, o que significa que tem baixa digestibilidade.
Para superar tal limitação desse ingrediente tão importante na dieta, vem sendo utilizada cada vez mais a tecnologia de ensilagem do grão maduro moído e reidratado, que propicia melhor fermentação ruminal, o que traz benefícios para a digestibilidade.
A tecnologia vem sendo adotada cada vez mais tanto por grandes quanto por pequenos produtores. Tem aplicabilidade não só nutricional, mas também como opção de baixo custo para armazenamento do grão na fazenda, nota o professor Marcos Pereira.
Segundo Renata, da Epamig, a silagem de milho reidratado é uma forma barata de armazenamento do produto. Ela destaca que o produtor pode comprar milho quando o preço do cereal estiver mais baixo no mercado. Além disso, a estocagem do material nas fazendas dispensa os altos custos com galpões ou silos de terceiros e elimina as perdas por ataque de pragas, como carunchos.
“Estudos com silagem de milho reidratado oferecida a animais especializados, como vacas holandesas geneticamente melhoradas para produção de leite, mostraram eficiência da dieta alimentar. O aumento da digestibilidade do milho que ocorre durante o processo permite a mesma produção de leite com custo alimentar mais baixo”, explica.
Renata ressalta que se trata de uma forma barata de ensilagem do milho bastante acessível aos pequenos produtores. “Além disso, a oportunidade de compra estratégica na época da safra, quando o preço no mercado é mais baixo”, diz, acrescentando que os produtores com limitação de área para o cultivo do milho também podem se beneficiar com o uso dessa tecnologia. Ou seja, não privará seus animais desse alimento de alto valor nutricional. Sem contar ainda que não precisará de instalação adequada para armazenar o grão, que é suscetível ao ataque de pragas, como o caruncho, por exemplo. E, no fim, o aumento da digestibilidade do milho, que ocorre durante esse processo, proporcionando maiores produções de leite ao mesmo custo.
Para o pequeno produtor, por exemplo, a possibilidade de baixar o custo de armazenamento na fazenda (silagem) traz uma série de benefícios, como a redução na mão de obra e energia elétrica no processo de moagem comparado a moagem fina de milho maduro, ganho na digestibilidade do amido em grãos de milho com textura dura do endosperma (prevalentes no Brasil).
A pesquisadora nota ainda que pequenos produtores têm utilizado recipientes plásticos para fazer sua silagem. “Para produtores muito pequenos é uma forma adequada de armazenamento. A perda durante a ensilagem é próxima de zero. Entretanto, o custo por unidade armazenada pode ser alto. Um silo tipo trincheira ou ‘bag’ seria mais barato que o tambor para volumes maiores de armazenamento”, observa.
O silo tipo trincheira é o mais comum. A pesquisadora nota que é importante frisar que o grão reidratado e ensilado tem densidade próxima de 900 kg/m3. O gasto na fazenda também é baixo, por ser um concentrado. Logo, os silos devem ser pequenos para propiciar uma descarga de pelo menos 20 cm da face por dia (como qualquer silagem).
“Como o custo do alimento é alto (concentrado) e o tamanho do silo é pequeno, justifica investir em silos melhores e concretados ou totalmente forrados com lona.
O intuito é reduzir a perda de matéria seca nas bordas durante a ensilagem”, explica, acrescentando que também se justifica o uso de inoculantes microbianos na silagem e o uso de lona impermeável a oxigênio para vedação. “Este tipo de silagem paga mais o investimento no armazenamento que uma silagem de forragem, por exemplo, já que forragens têm menor valor por unidade de alimento que concentrados.”
Formulação da dieta – Silagem da planta inteira de milho e silagem do grão reidratado. Qual usar? Renata explica que a primeira é forragem, já a segunda é concentrado energético. Elas não são excludentes. O produtor e o técnico em nutrição é que devem decidir o que usar, de modo a equilibrar a dieta. “A inclusão depende da dieta sendo formulada e do que se busca de teor de amido na dieta. Ambas as silagens contêm amido de alta digestibilidade devido à quebra das prolaminas do milho durante a ensilagem.”
Com essa silagem de grão reidratado, espera-se ganho de eficiência alimentar. Ou seja, mais leite por unidade de consumo, não necessariamente mais leite por vaca. Tira-se o mesmo leite com a vaca comendo menos. Pode ocorrer mais leite por vaca se a dieta anterior não estivesse adequadamente formulada. “O milho reidratado força a entrada de cálculo de dieta na fazenda, pois é um concentrado energético que exige suplementação com concentrado proteico. Fazer o cálculo correto da dieta aumenta o leite em fazenda que não faz cálculo de dieta. Maior vantagem é redução de custo, maior que o ganho em produção ou eficiência alimentar”, assinala a pesquisadora.
De forma geral, o uso da silagem de milho reidratado vem ganhando espaço nas fazendas leiteiras do Brasil, pelas vantagens que apresentam em termos de custos e também pelos ganhos nutricionais obtidos durante o período de fermentação, assinala Mateus Castilho Santos, engenheiro agrônomo, doutor em Ciência Animal e Gerente Técnico da Lallemand para América do Sul, acrescentando que entre as ferramentas disponíveis para contribuir com o processo de conservação está o uso de inoculantes microbianos como melhoradores das fermentações desse tipo de silagem.
Ele explica que entre as diversas opções de bactérias existentes, os inoculantes à base de Lactobacillus buchneri geram o ácido acético durante o período fermentativo, que inibe o crescimento dos principais microrganismos deterioradores dessas silagens, como mofos e leveduras. “A inibição desses microrganismos é benéfica para a qualidade da silagem, pois reduz o aquecimento da massa, aumentando sua estabilidade aeróbia e melhorando o valor nutritivo desse alimento, que será ofertado aos animais”, diz.
Para a obtenção de respostas consistentes, Santos observa ainda que a dosagem ideal de inoculação com L. buchneri deve ser de pelo menos 100 mil unidades formadoras de colônias (ufc)/g de forragem, conforme evidenciado em dados obtidos em trabalhos científicos. “Isso foi avaliado em uma meta-análise por Kleinschmit & Kung (2006) e também pela EFSA (European Food Safety Authority) em 2013”, informa, acrescentando que além do efeito do Lactobacillus buchneri no controle dos principais microrganismos deterioradores de silagens de grãos, estudos recentes mostram que essa bactéria também apresentou efeitos positivos na digestibilidade ruminal.
Ele cita ainda um estudo conduzido pela APTA-Secretaria de Abastecimento do Estado de São Paulo, unidade de Colina, em que o Lactobacillus buchneri se mostrou mais eficaz do que outras bactérias para melhorar a degradabilidade ruminal do grão reidratado.
Nesse trabalho publicado por Da Silva et al., (2018), os autores mostraram que a silagem de grão de milho reidratado sem inoculação teve uma degradação em torno de 79% da MS, enquanto na inoculação com a dosagem de 100.000 ufc/g de Lactobacillus buchneri esse valor foi de 83,6%. “Comparando esta última bactéria com a silagem controle, seria um aumento de 5,8% na degradabilidade ruminal. Fazendo uma conta bem simples com base nos resultados desse estudo, por exemplo, para uma vaca com ingestão de aproximadamente 5 kg de silagem de milho reidratado, pode-se esperar uma economia de cerca de 290 gramas de milho/vaca/dia, o que equivale a uma saca para cada tonelada de grão reidratado armazenada”.
Ele conclui observando que, assim, é possível demonstrar que além da melhor estabilidade aeróbia, o uso de L. buchneri aumenta a degradação dessa silagem dentro do rúmen do animal. “Considerando os custos que o milho está no mercado atual, é fácil fazer as contas e ver que o retorno do investimento desse tipo de inoculante é muito positivo”.
Segundo recomendações da Circular Técnica 187, da Epamig, sobre a silagem de grão reidratado, o produtor em primeiro lugar precisa calcular o volume de consumo do milho na dieta dos animais para então dimensionar o tamanho do silo. Algumas recomendações da CT 187:
É importante que seja retirada uma fatia diária de, no mínimo, 15 cm de espessura, reduzindo a exposição ao ar e consequentes perdas. Considerando um silo de 1 metro de altura por 1 metro de largura e densidade média de 900 kg/m3, uma fatia diária retirada de 15 cm corresponde a 135 kg de silagem de grão reidratado.
Caso a quantidade diária seja menor, deve-se, proporcionalmente, reduzir as dimensões do silo, adequando-o à necessidade da fazenda. O comprimento do silo depende da camada de corte e do número de dias de utilização, por exemplo: considerando uma camada de corte de 15 cm e 180 dias de utilização, o silo deverá ter 27 m de comprimento (1 m x 1 m x 27 m), que é igual a 27 m³, com capacidade de estocagem de, aproximadamente, 24 toneladas de milho.
PREPARAÇÃO E ENSILAGEM
Moagem – A moagem pode ser feita utilizando diversos equipamentos, de acordo com o volume a ser ensilado. O triturador de grãos, alimentado por um sistema de rosca sem fim (chupim), é ideal para silo pequeno a médio. Para silos maiores, o milho moído pode ser misturador de alimentos.
Hidratação – O ponto chave da silagem de milho reidratado é a correção da matéria seca. O milho que será ensilado tem, no ponto de armazenagem, 12% de umidade e deverá atingir 35% de umidade, quando ensilado. Esse valor de hidratação é necessário para ótima fermentação e estocagem do material.
A adição de água no milho pode ser feita adaptando-se uma mangueira na parte inferior do triturador de grão, com furos ou aspersores em forma de leque, de modo que o milho recém-moído receba água o mais uniformemente possível. A quantidade de água necessária para reidratação do milho é em torno de 35 litros de água para cada 100 kg de milho moído. A forma de acompanhar a vazão de água é cronometrar o tempo necessário para a moagem de 100 kg de milho e o volume de água que cair durante o mesmo intervalo de tempo (35 litros/100 kg de milho). Exemplo: supondo que foi feita a moagem, de 100 kg de milho em 2 minutos, então a vazão da água nesses mesmos 2 minutos deve ser de 35 litros. O objetivo é obter um milho moído reidratado com umidade entre 30% e 40%.
Compactação e vedação – A distribuição do milho previamente moído e reidratado no silo pode ser feita com auxílio de rodos, carrinhos de mão, tração animal ou mesmo tratores acoplados às lâminas no caso de silos maiores. Durante o processo de confecção da silagem é importante compactação constante, objetivando retirar o ar da massa ensilada.
O carregamento do silo deverá ser feito em camadas inclinadas, do fundo para a boca do silo, diminuindo, assim, a área de superfície da silagem em contato com o ar. O tempo de enchimento do silo deve ser o mais rápido possível, de um a dois dias. Imediatamente ao enchimento, deve-se proceder à correta vedação do silo com lonas próprias (dupla face). A rápida confecção e o fechamento do silo garantem menores perdas decorrentes de fermentações indesejadas, por causa da exposição ao oxigênio.
Inoculantes – A utilização de inoculantes específicos para silagem de grão úmido auxilia na qualidade da silagem, pois melhora o processo fermentativo. Os microrganismos usados nos aditivos comerciais são Lactobacillus spp, Propionibacterium acidipropionici, Enterococcus faecium e Pediococcus spp. A forma de aplicação do inoculante pode ser variável (regador, aspersor ou diluído direto na água de hidratação), o importante é que toda a massa ensilada receba a solução uniformemente. Cuidados especiais devem ser tomados, como não utilizar água clorada ou contaminada na diluição e manter o inoculante em temperatura adequada, de acordo com as recomendações do fabricante.
Desabastecimento e uso – O tempo recomendado de ensilagem é de três a quatro meses, sendo duas semanas o tempo mínimo necessário para estabilização da fermentação. Durante o desabastecimento, as fatias deverão ser retiradas de maneira uniforme, respeitando a camada mínima diária de corte de 15 cm, recolocando a lona sobre a boca do silo (painel).
* A CT 187 está disponível em: http://www.epamig.br, Publicações/Publicações). Departamento de Informação Tecnológica
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