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PRODUTIVIDADE

Forte crescimento

sustentado

Propriedade paranaense evolui em sua produção e produtividade e fica entre as maiores do País, com mais de 52 mil litros de leite/dia

Luiz H. Pitombo

Marcos Epp: Para permanecer na atividade e ter melhor geração de renda, buscamos maior volume de leite com diluição dos custos fixos

Não foram um, nem dois ou três aspectos isolados que deram novo impulso à atividade leiteira da Agropecuária Régia, mas sim um conjunto maior e articulado de mudanças planejadas, como explica o médico veterinário Marcos Epp. Ele integra uma terceira geração de imigrantes alemães e é o responsável por esse setor da propriedade familiar, localizada na Colônia Witmarsum, no município de Palmeiras (PR), que também produz soja, milho e trigo no inverno.

O marco inicial no leite, que aconteceu no mesmo local onde se encontram hoje, se deu em 1968, com apenas 15 vacas Holandesas preto-e-branco em lactação, raça à qual se mantiveram fiéis até hoje, embora praticamente tudo o mais tenha se alterado para melhor, com visão, tecnologia e assistência técnica.

Desde criança, Epp gostava de estar envolvido com a atividade e, após a conclusão da faculdade, em 1996, passou a assumir cada vez mais a administração da pecuária de leite, enquanto a produção de grãos ficou sob a responsabilidade de seu pai, Mavin.

Um momento importante rumo ao patamar atual ocorreu há cerca de dez anos, quando a produção de leite vinha se mantendo num volume relativamente estável. Tomando por referência as médias do ano de 2010, o volume diário da propriedade atingia 10,39 mil litros de leite, com vacas rendendo 29,85 kg de leite/dia, apresentando 3,38% de gordura e 3,1% de proteína, o que totalizava 1,93 kg de sólidos vaca/dia. O sistema de produção adotado era misto, com parte das 400 vacas em lactação mantidas confinadas em free-stall e parte em piquetes, recebendo suplementação no cocho.

“Naquela época já enxergávamos que, para permanecer na atividade e ter uma melhor geração de renda, precisaríamos de maior volume de leite com diluição dos custos fixos”, explica Epp. Ele acrescenta que se encontram em região de terras valorizadas e com demanda por este bem, fazendo com que houvesse o imperativo de se conseguir maior produtividade por área que justificasse sua utilização.

Planejamento e metas de produção – Prudentemente, começou-se a realizar um planejamento para as mudanças necessárias e a se tomarem algumas decisões, embora, logo no início, não fossem estabelecidas metas de produção além da exigência de se obter um maior rendimento por área. Esse deveria ser atingido por meio de diferentes formas, como melhora no manejo das vacas e do seu ambiente para obter mais conforto; aumento da produção de forragem por área, e aprimoramento da genética, incluindo posteriormente a genômica, para que os animais respondessem aos investimentos, dentre outros aspectos.

Com planejamento e metas, a propriedade alcançou resultados que a colocam entre as maiores produtoras de leite do Brasil, segundo o ranking MilkPoint

O produtor, que não tem outra atividade além do leite, faz questão de apontar que foi grande o conhecimento adquirido durante esse período com seus desafios e que continua a aprender, sem deixar de lado a importância da assistência técnica, à qual recorreram em áreas como sanidade, manejo da ordenha, nutrição e gestão de pessoal. Hoje, continuam a se valer de consultorias nos setores de clínica veterinária, qualidade do leite, criação de bezerras e produção de forragem.

Com um desenvolvimento e ritmo acima do esperado, os resultados foram considerados bem satisfatórios pelo pecuarista. No ano passado, a produção média de leite da propriedade chegou a 52,68 mil litros/dia, com 1.200 vacas em lactação, números que significam, na comparação com 2010, uma evolução de 407% e 200%, respectivamente. Quanto ao aumento da produção média por hectare/ano, esta subiu da faixa de 10 mil litros a 15 mil litros de leite, para 40 mil a 45 mil litros, com ganhos de 200% a 300%. Existem cálculos sugerindo que a média nacional não ultrapasse apenas 3,5 mil litros ha/ano.

Já a produção média por vaca/dia da agropecuária cresceu 36%, ao bater em 40,66 litros no ano passado; a gordura ficou 16% mais elevada, ao atingir 3,93%, enquanto a proteína aumentou 7%, ficando em 3,32%. A soma desses dois teores trouxe quase 53% a mais de sólidos, que pesaram na média do ano, de 2,95 kg/vaca/dia.

Empregando 48 funcionários da produção até a administração, todo o leite é vendido para a Cooperativa Witmarsum, que tem pagamento por sólidos e faz parte do Pool do Leite, integrado por outras cooperativas da região, como Frísia e Castrolanda.

Dentre as várias ações para o incremento da produtividade e produção, está o free-stall, que garante maior conforto aos animais

Instalações e conforto – Um dos primeiros aspectos que Marcos Epp faz questão de apontar na implementação das modificações é quanto às instalações do freestall. Elas foram ampliadas de maneira que todas as vacas em lactação pudessem ficar protegidas do sol, da chuva e do barro. Os novos barracões passaram a ser construídos com o pé-direito mais alto do que os anteriores e com uma orientação geográfica de maneira a favorecer a circulação natural do ar, o que fez uma grande diferença, como indica o produtor. Atualmente, a maioria dessas instalações não possui ventiladores, o que também trouxe economia de energia elétrica, mas garantindo o conforto térmico.

As temperaturas máximas no verão ficam entre 32º e 34ºC, o que não chega a representar uma marca muito alta, segundo avalia, contribuindo mais para o estresse a sua associação com a elevada umidade da região, para a qual não existe remédio.

Outro investimento importante para o conforto das vacas foi a adequação do tamanho das camas no free-stall, com medidas atualizadas, dando mais espaço aos animais. “Anteriormente, acredito que eles estavam apertados”, observa Epp. O tipo de cama adotado também mudou, trocando-se os colchões pela areia, quando foi registrado um bom efeito.

O pecuarista reconhece que o manejo desse tipo de cama é mais difícil e que tem seu custo. No entanto, considera que, com o tempo, foram obtendo maior domínio da técnica e que, observando-se as vacas, constatou-se que elas demonstravam um conforto maior, permanecendo deitadas por períodos mais longos ruminando, o que acarreta vários benefícios. Ele citou o aumento na produção de leite, a redução de problemas de casco por ficarem menos em pé, trazendo assim maior longevidade aos animais, melhor saúde do úbere, com menos mastite e finalmente incremento na reprodução.

Anteriormente, na sala de espera da ordenha não havia nenhum sistema de resfriamento direto para as vacas, sendo esta mais uma das melhorias implementadas. Foram instalados aspersores de água e a ventilação forçada, igualmente trazendo conforto.

Com o aumento do número de vacas em lactação, a antiga ordenhadeira não atendia mais à demanda e começou também a favorecer problemas de mastite contagiosa. Devido a isso, há cerca de sete anos foi adquirido um equipamento maior e construída uma nova sala de ordenha. Na ocasião, se pensava em atingir um volume diário de 21 mil litros de leite com 700 vacas em produção, optando-se por uma ordenha rotatória de 32 postos.

Epp fala com entusiasmo que a quantidade de animais em produção foi crescendo cada vez mais, até o nível atual, e que, apesar de o equipamento não ser muito grande, tem sido bem eficiente, esperando que tenha uma vida útil de 20 anos, com a amortização do investimento acontecendo em dez anos. Isto, indica, muito em função da produtividade obtida com seu funcionamento por 20 horas ao dia.

No item reprodução, todo esse trabalho, que envolve diversos fatores, elevou a taxa média de prenhez do rebanho

Alimentação e sanidade – No decorrer do tempo, outro trabalho significativo foi realizado no quesito alimentação dos animais, com a produção de alimentos de qualidade.

Na produção da silagem de milho, os itens aprimorados envolveram a colheita no ponto certo, a compactação do material e o armazenamento correto. Também mudou bastante a própria máquina que prepara a silagem, dando-se mais atenção ao processamento que realiza no corte para que se obtenha um tamanho de fibra adequado e homogêneo.

Sob este aspecto do equipamento, o produtor considera que o mais importante mesmo seja o processamento apropriado do grão, o que vai influenciar a capacidade da vaca em digerir e absorver os nutrientes nele contidos, mantendo uma boa saúde ruminal. Ele salienta que quando se colhe o milho um pouco mais tarde, visando buscar a maior presença de amido e sua energia, o grão precisará estar bem processado.

A região apresenta boas condições para o cultivo de forrageiras de inverno, como a aveia e o azevém, dos quais a propriedade faz o seu pré-secado. O que se realizou nessa área foi caprichar na adubação, conseguindo maior produtividade. Epp diz que o azevém cai muito bem para as vacas em lactação.

“Nos últimos dez anos, temos investido em novos equipamentos, misturadoras e balanças para que se consiga preparar a receita de uma boa dieta”, afirma. Na preparação da ração total, salienta que seus componentes como a silagem de milho, o pré-secado e os concentrados precisam estar bem dosados, pesados e homogeneizados.

A sanidade foi outra área em que igualmente se conseguiu melhorar bastante na propriedade, enfrentando e superando desafios com aprendizado e assistência técnica. “Às vezes, você está dentro da propriedade diante alguma dificuldade e não consegue visualizar tudo no momento e uma pessoa vem de fora e ajuda você a tomar decisões”, reconhece o produtor.

O manejo sanitário das vacas foi melhorado, passando-se, por exemplo, a seguir esquemas de vacinação com foco mais na prevenção do que na medicação e passou-se a utilizar de maneira mais adequada os desinfetantes na ordenha. Uma das dificuldades enfrentadas foi em relação às mastites contagiosas, mas os resultados obtidos revelam uma consistente redução ao longo do período na contagem de células somáticas (CCS), que em 2010 estava em 320 mil e, no ano passado, ficaram em 167 mil.

 

Melhoria genética e reprodução – A busca de uma genética cada vez melhor persistiu paralelamente às demais benfeitorias que eram realizadas.

As metas de seleção da agropecuária sempre foram por vacas rentáveis, que associassem alta produção com sólidos, saúde e que permanecessem o máximo de tempo possível de sua vida produtiva na propriedade e, mais recentemente, animais com melhor conversão alimentar. E, igualmente, o produtor ficou atento a possíveis defeitos que os reprodutores pudessem ter, para evitar introduzi-los no rebanho.

Epp trabalha com touros de diferentes centrais e está envolvido diretamente nos acasalamentos, pois reconhece que gosta muito do assunto e que dedica parte de seu tempo para identificar reprodutores dentro do que procura. Isso significa, eventualmente, um animal em particular, mas o normal é trabalhar com grupos de touros que melhorem o mérito líquido (lucro esperado de uma vaca, considerando-se características econômicas importantes relacionadas a produção, saúde, longevidade e facilidade de parto), conformação do úbere e fertilidade.

Neste último item, o pecuarista fica atento aos valores da DPR (taxa de prenhez das filhas), mas ressalta que a fertilidade é reflexo de um conjunto de fatores relacionados a manejo, alimentação, genética e clima. A taxa média de prenhez do rebanho, que estava em 13%, chegou a 27% em 2020, para recuar até 22% no ano passado, situação para a qual ainda buscam uma justificativa, acreditando que possa estar associada à nutrição.

Graças à excelência do padrão genético do rebanho, a Agropecuária Régia agregou mais uma fonte de faturamento, com a venda de bezerras, novilhas prenhes e vacas em lactação

A conversão alimentar tem sido igualmente um tópico para a qual Epp fica atento na escolha dos touros e que não pode ser desprezado. “Não me interessa uma vaca grande que produza bem, mas que coma muito, pois o custo da ração é elevado”, comenta. Ele afirma que também busca vacas com boa conformação, fáceis de manejar no cotidiano, que sejam discretas dentro das instalações, que se alimentem e permaneçam deitadas tranquilamente.

Desde que surgiu a nova ferramenta da genômica para a seleção, o pecuarista a tem utilizado, inicialmente na escolha de touros jovens das centrais e depois realizando um grande trabalho de genotipagem das fêmeas da propriedade, reconhecendo o importante impacto obtido, principalmente na velocidade do melhoramento.

Se antes esperava a vaca produzir por uma ou duas lactações para decidir se ela poderia ser uma doadora de embriões, hoje aos dois meses de idade da bezerra já obtém seu perfil genético completo e com uma confiabilidade relativamente alta.

A rotina realizada consiste na amostragem de um lote de fêmeas jovens para identificar a situação do rebanho e triar as melhores, que serão multiplicadas. Entre 11-14 meses de idade, as bezerras escolhidas são superovuladas, inseminadas com a posterior coleta dos embriões, que são implantados em parte das vacas da propriedade. A transferência de embriões (TE) é igualmente realizada a partir de fêmeas adultas de destaque.

As bezerras não selecionadas para a TE serão inseminadas pelo método convencional, como também parte das primíparas e das multíparas, embora para estes dois últimos grupos predomine a inseminação artificial em tempo fixo (IATF).

 

Compost barn e novidades – Os investimentos mais recentes têm sido para melhorar o conforto dos animais jovens. Após a desmama, aos quatro meses, todos, indistintamente, vão para o novo compost barn, onde permanecem até os 12 meses de idade, passando depois para piquetes, à exceção das bezerras doadoras, que permanecem apartadas em outro compost barn específico. Além do maior conforto, o criador diz que o manejo diário ficou mais fácil. Mas a ideia é que, após os 13 meses, aquelas que ficam a céu aberto já sejam instaladas em free-stall.

Marcos Epp considera que os resultados conquistados na etapa atual têm sido gratificantes e que nunca imaginou que chegaria a uma quantidade tão elevada de animais e com a produtividade que atingiu. Apesar deste início de 2022 estar mais complicado, avalia que os últimos três anos representaram um bom momento para o seu negócio, com a margem operacional girando em torno de 30% (levando- se em conta o que recebe, subtraindo-se todos os custos e desembolsos).

Como estão quase no limite da capacidade dentro dos 200 hectares dedicados ao leite e do equipamento de ordenha, o criador conta que, desde o ano passado, iniciou uma nova atividade, representada pela comercialização de animais. Os planos consistem em obter um número maior de matrizes do que necessita para reposição e ofertar as demais ao mercado, sendo que nos últimos 12 meses já foram vendidas 450 fêmeas, entre bezerras, novilhas prenhes e vacas em lactação.

Isso, como afirma o pecuarista, sem perder de vista a sustentabilidade do negócio, tanto em termos econômicos, com a melhoria dos índices produtivos e com pessoal engajado na atividade, como na área ambiental, como já tem feito com a reciclagem da areia das camas e no aproveitamento dos dejetos, ainda mais com os preços atuais dos fertilizantes, assinala Epp.

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