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É fundamental o produtor mensurar a produção de cada vaca e também do rebanho

LACTAÇÃO

Conheça mais sobre a

curva de lactação de vacas leiteiras

Conhecer e analisar a curva de lactação do rebanho, além de ser uma ação essencial, ajuda na identificação de gargalos que estejam limitando o desempenho das vacas

Bruno Marinho Mendonça Guimarães*

Há duas frases conhecidas que dizem que aquilo que não é medido não pode ser gerenciado, e que uma pessoa sem dados é apenas uma pessoa com opinião. Ambas podem ser empregadas na atividade leiteira e merecem reflexão. Afinal, nenhuma ação pode ser empregada com segurança se não estiver pautada em dados confiáveis que retratem a realidade da atividade.

O principal produto da atividade leiteira é, sem dúvida, a produção de leite, seguida pela venda de animais, de genética, etc. O leite é o responsável majoritário pela geração de receitas da propriedade. Somente essa afirmação já possui fundamentos suficientes para justificar a mensuração da produção de leite da propriedade.

Porém não é somente isso. Além da razão óbvia, por que devemos medir a produção de leite? Um dos motivos é para avaliarmos a curva de lactação das vacas. Mas o que é a curva de lactação e quais informações podemos obter por meio dela?

 

Conhecendo a curva de lactação

 

Comumente representada no formato de gráfico, a curva de lactação ilustra a produção de leite das vacas ao longo dos períodos da lactação. Esse modelo pode ser construído e analisado tanto para o indivíduo, quanto para grupos (primíparas e multíparas, por exemplo) ou rebanho.

Para a sua formação, é necessário ter duas informações básicas e principais: produção de leite e dias em lactação (DEL). O valor de produção é obtido nas pesagens de leite periódicas. Já o DEL, como o próprio nome diz, representa quantos dias aquele animal está produzindo leite naquela lactação. Nada mais é do que a diferença entre a data do dia atual e a data do último parto.

Com essas informações em mãos, basta arranjá-las em um gráfico, conforme o exemplo abaixo, onde o eixo X (horizontal) representa o DEL dos animais e o eixo Y (vertical) representa a produção de leite por indivíduo. Lembrando que cada marcador no gráfico representa uma vaca do rebanho.

Variações na curva de lactação

 

Em uma situação normal, a curva de lactação esperada é bastante semelhante ao exemplo mostrado no gráfico 1. As vacas apresentam uma ascensão da produção de leite que vai do parto até geralmente por volta de 60 dias, que é quando ocorre o pico de produção na espécie bovina. Passado esse período, os animais tendem a manifestar um decréscimo gradual (6% a 10% por mês, em média) no leite na medida em que o DEL avança. Fato natural que, ao longo do tempo, culmina com a secagem do animal, seja devido à gestação avançada ou à baixa produção.

Já em situações em que as vacas passam por grandes desafios, é muito comum observarmos uma curva de lactação anormal, onde o pico de produção é tardio. Referências na literatura citam que cada litro de leite perdido no pico de produção pode resultar em 200 a 300 litros perdidos ao fim da lactação. Só esse fato já explica a importância e a necessidade de mensurar a produção de leite das vacas e interpretar a curva de lactação. Com o litro de leite sendo vendido a R$ 2,00, por exemplo, a perda econômica será de R$ 400,00 a R$ 600,00 por vaca em lactação nessa condição!

Veja o gráfico 2. Neste exemplo, as vacas estão chegando ao pico de lactação tardiamente, somente aos 100 a 110 de DEL (linha vermelha tracejada). Esses casos quase sempre estão relacionados a algum evento que está influenciando negativamente o desempenho dos animais e resultando no atraso do pico de produção. Doenças, dietas mal formuladas e manejo nutricional inadequado próximo ao parto ou no início da lactação, por exemplo, são três das principais causas que resultam nessa ocorrência. Em resumo, qualquer fator que prejudique o consumo alimentar das vacas no início da lactação é capaz de atrasar o pico de produção.

Curva de lactação e ordem de parto

 

A curva de lactação possui algumas particularidades quando olhamos para aspectos como a ordem de parto dos animais. Ao observar a produção de primíparas e multíparas, por exemplo, notamos algumas diferenças.

Conforme já mencionado anteriormente, após o pico de lactação é natural que as vacas reduzam de forma gradual a produção de leite a cada mês. Geralmente, essa redução fica em torno de 6% a 10% por mês após o pico. No entanto, o decréscimo não acontece na mesma proporção quando analisamos primíparas e multíparas. O esperado é que primíparas decaiam a produção por volta de 7% ao mês, enquanto esse porcentual para as multíparas fica em torno de 10%. Veja o gráfico 3.

Como a produção das primíparas cai de forma mais branda ao longo dos meses, é comum observarmos uma curva de lactação mais suave (flat) nessa categoria em relação às multíparas. Note a diferença da inclinação da curva entre o pico e o fim da lactação de ambas as categorias. Essa taxa de queda é utilizada para estimarmos a produção dos animais após o pico de produção, além de analisarmos se a curva de lactação real está coerente com o que foi estimado, auxiliando na identificação de possíveis entraves na rotina da fazenda que estejam dificultando o desempenho dos animais.

Curva de lactação e persistência de lactação

 

Por quanto tempo as vacas dão leite? Para responder a essa pergunta devemos considerar algumas perspectivas. Padrão racial, situação reprodutiva, nutrição, saúde… Enfim, uma série de fatores influenciam no tempo de produção de leite pelas vacas, acontecimento que também é conhecido como persistência de lactação. Vamos agora considerar alguns desses fatores e clarear um pouco o entendimento sobre como eles influenciam na persistência de lactação dos animais.

É fato que alguns padrões raciais tiveram maior intensidade de seleção genética para produção de leite ao longo dos anos e, por esse motivo, conseguem expressar melhor essa característica na atualidade. Vacas de rebanhos com padrão racial mais especializado geralmente apresentam maior persistência de lactação, ou seja, conseguem produzir leite por mais tempo.

Se pensarmos de forma associada à reprodução, em um cenário de intervalo entre partos de 12 meses, por exemplo, esperamos que as vacas produzam leite por volta de 10 meses e permaneçam secas próximo a dois meses. Logo, por mais que as vacas tenham persistência de lactação para produzir leite por mais tempo, elas deverão ter a lactação interrompida para que sejam secas e se preparem para o próximo parto.

Já ponderando nutrição e saúde, qualquer evento que reduza o consumo alimentar e prejudique o funcionamento adequado do metabolismo animal poderá abreviar o volume de leite e o tempo de produção das vacas. Dessa forma, a persistência de lactação será encurtada.

Considerações – Conhecer e analisar a curva de lactação do rebanho, além de ser uma ação essencial, representa uma grande oportunidade de identificação de gargalos na fazenda que estejam limitando o desempenho das vacas. Qualquer sinal de produção de leite aquém do esperado deve ser investigado e corrigido. Conduções inadequadas de manejo com as vacas próximo ao parto e/ou no início da lactação podem provocar eventos que afetarão toda a lactação. Ao fim, o resultado será em menores resultados zootécnicos, econômicos e financeiros.


*Bruno Marinho Mendonça Guimarães é Médico veterinário, técnico da Equipe Leite Rehagro

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