COLUNA DO CEPEA

Natália Grigol

Pesquisadora do Cepea

 Agentes do setor acreditam que os preços do leite cru podemseguir firmes em abril, fundamentados na aproximação do período de entressafra e na consequente diminuição
da produção no campo”

Preço ao produtor fecha o 1º trimestre com alta de 9,3%

Pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, mostram que o preço do leite cru captado por laticínios em março chegou a R$ 2,8120/litro na “Média Brasil” líquida, altas de 2,4% frente ao mês anterior e de 10,8% em relação à de março/22, em termos reais. Com isso, o valor do leite cru acumula avanço real de 9,3% no primeiro trimestre de 2023 (os valores foram deflacionados pelo IPCA de março/23).

A oferta limitada no campo é o fator que sustentou o aumento das cotações ao produtor neste primeiro trimestre, movimento atípico para esse período. A produção foi prejudicada pelo clima adverso, resultado do fenômeno La Niña, e pela saída de produtores da atividade no ano passado. O Índice de Captação Leiteira do Cepea (ICAP-L) recuou 2,86% de fevereiro para março na “Média Brasil”, acumulando queda de 6,78% no primeiro trimestre. Nesse contexto, a disputa dos laticínios por produtores se intensificou, mantendo as cotações do leite cru em alta.

Esse movimento de valorização, contudo, não foi simétrico ao longo da cadeia produtiva. Houve muita oscilação dos preços, sobretudo no mercado do leite spot, que é quinzenal. Em Minas Gerais, houve queda na primeira quinzena, e, apesar da alta na segunda metade de março, a média mensal caiu 1,6% e chegou a R$ 3,00/litro. A pesquisa do Cepea em parceria com a OCB mostra que as cotações do UHT e da muçarela negociados entre laticínios e canais de distribuição caíram 1,77% e 4,34%, respectivamente, de fevereiro para março.

Dois fatores pressionaram as cotações do spot e dos derivados em março: a diminuição do consumo, fragilizado pelo menor poder de compra do brasileiro, e o crescimento das importações, que elevaram os estoques.

Dados da Secex mostram que, no primeiro trimestre, o volume importado foi três vezes maior que o do mesmo período de 2022. Apenas em março, foram internalizados 209,5 milhões de litros em equivalente leite. Essa quantidade representa cerca de 10% do total de leite cru industrializado pelos laticínios brasileiros (levando-se em conta a média dos volumes de mar/20, mar/21 e mar/22, da Pesquisa Trimestral do Leite do IBGE).

Agentes do setor acreditam que os preços do leite cru podem seguir firmes em abril, fundamentados na aproximação do período de entressafra e na consequente diminuição da produção no campo. Contudo, a demanda enfraquecida e o aumento das importações podem frear a intensidade desse possível avanço nos preços. Inclusive, na percepção dos agentes do setor, esses dois fatores têm potencial para amenizar as variações a partir de maio, o que implica na expectativa de um segundo trimestre menos volátil que o do ano anterior.

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