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Com informações em quantidade e com qualidade para uma avaliação genômica, os criadores terão animais da raça Jersey de alto desempenho em regiões tropicais

GENÉTICA

Programa Nacional de Melhoramento Genético da Raça Jersey traz novidades

Ao completar um ano de atividade, o programa traz novidades de grande relevância para o progresso genético do rebanho Jersey brasileiro: sumário de avaliação genômica, controle leiteiro e dados de desempenho zootécnico

Erick Henrique

A pecuária leiteira é uma atividade cativante e ao mesmo tempo desafiadora, uma vez que, porteira adentro, inúmeros fatores determinam o sucesso ou o fracasso do projeto, a destacar a importância do processo seletivo de animais produtivos e lucrativos. Algo imprescindível que, até pouco tempo, o criador de Jersey brasileiro apenas contava com uma base de dados genéticos e genômicos do exterior para realizar a escolha de touros e vacas superiores.

Como explica o pesquisador da Embrapa Gado de Leite e coordenador do programa, Marcos Vinícius G. Barbosa da Silva: “Apesar de ser uma raça de grande expressão na pecuária leiteira, até o ano de 2021 a Jersey ainda não possuía um programa de melhoramento genético no Brasil, que permitisse aos criadores identificar os melhores indivíduos e selecioná- los, objetivando aumentar a produção de leite e de sólidos”.

Em fevereiro de 2022, a Embrapa Gado de Leite e a Associação dos Criadores de Gado Jersey do Brasil (ACGJB) estabeleceram um convênio de cooperação técnica no intuito de, entre outros objetivos, implementar o Programa Nacional de Melhoramento Genético da Raça Jersey (PNMGJ) por meio da identificação e seleção de touros e de vacas geneticamente superiores para características de importância econômica, usando diferentes estratégias como avaliações genéticas e genômicas.

De acordo com o coordenador do programa, os principais desafios para levar à frente esse projeto foram sem dúvida organizar, estruturar e consolidar o banco de dados da raça para efetuar as análises. “Usamos todas as informações de controle leiteiro válidas entre 1991 e 2021, totalizando mais de 53 mil registros de lactações”, diz Silva.

Marcus Vinício da Silva: “A partir de 2023, no Sumário da Raça Jersey, serão apresentadas as 350 melhores vacas para cada uma das características. Talvez o número de características possa ser aumentado, caso seja de interesse dos criadores”

Além disso, informa que as principais diretrizes do PNMGJ são no sentido de aumentar o número de criadores que fazem o controle leiteiro, o que contribui para estruturar as informações de pedigree e genotipar o maior número possível de animais para se terem as equações de predição genômica em ambiente tropical para o Jersey.

“Não tenho dúvidas a respeito dos excelentes atributos dos animais da raça Jersey do Brasil e realmente acredito que, se tivermos informações fenotípicas e genômicas em quantidade e com qualidade para uma avaliação genômica, teremos um Jersey de alto desempenho em regiões tropicais, com possibilidade real de exportação de material genético para diversos países”, avalia o pesquisador, ressaltando que, neste momento, os resultados das avaliações genômicas da raça são provenientes do Council on Dairy Cattle Breeding (CDCB) dos EUA, que chegam até os criadores por meio de empresas como a Neogen, a ST Technologies e a Zoetis.

É fundamental a divulgação entre os criadores, de que o controle leiteiro é não só a base para o desenvolvimento de uma ferramenta de seleção dentro do PNMGJ, mas também de gestão do rebanho

Nelci Mainardes: “A diferença dos teores de gordura e proteína da vaca Jersey brasileira versus animais dos EUA está relacionada à alimentação do rebanho. Lá, o produtor utiliza resíduos de fécula, cenoura, beterraba, malte, batata, enfim, uma gama de coprodutos que não utilizamos no Brasil”

Já o criador e presidente da ACGJB, Nelci Mainardes, acredita que a raça Jersey viva um momento excepcional no contexto nacional e mundial. “A valorização da qualidade do leite produzido desses animais vem se acentuando dia a dia, e a associação tenta trazer toda essa evolução para junto de nós, criadores. Acredito que, ao longo deste quarto ano de mandato, a ACGJB evoluiu muito em todo o setor administrativo, financeiro e técnico e a gente procura acompanhar esse crescimento da raça em todo o mundo”, pontua o dirigente.

Mainardes acrescenta que a associação desenvolve três frentes de trabalho: em primeiro lugar foi esse convênio do melhoramento genético com a Embrapa Gado de Leite; depois vem a questão do controle leiteiro que a associação aprovou junto ao Ministério da Agricultura, e o terceiro, que deverá ser lançado em breve, é o selo de qualidade do leite Jersey e produtos derivados.

Os resultados de interesse do produtor – A ACGJB já vinha trabalhando há algum tempo na publicação de anuários da raça Jersey das 50 melhores fêmeas para as GPTAs para as seguintes características: produção de leite em até 305 dias, para produção de gordura e de proteína, para vida produtiva, para tipo, o índice de mérito líquido, a taxa de prenhez das filhas (DPR), o Jersey Udder Index (JUI) e o Jersey Performance Index (JPI). “A partir de 2023, no Sumário da Raça Jersey, serão apresentadas as 350 melhores vacas para cada uma dessas características. Talvez o número de características possa ser aumentado, caso seja de interesse dos criadores”, informa o pesquisador da Embrapa Gado de Leite.

Segundo ele, como parte dos principais resultados do sumário, além do conhecimento de um número significativo de vacas que podem usadas como doadoras de embriões ou como mães de touros, é o fato de que, a partir de agora, há estatísticas oficiais sobre o desempenho produtivo da raça Jersey, extraídas do banco de dados da ACGJB, em mais de 900 rebanhos por todo o território nacional. Até então, somente havia dados oriundos de um ou poucos rebanhos e que não retratavam a raça como um todo. Por meio dessas estatísticas, ainda foi possível verificar o aumento da produção de leite, de gordura e de proteína entre 1991 e 2021.

“Considerando-se somente o ano de 2021 e de animais puros, observou-se que as médias das produções de leite, de gordura e de proteína na raça Jersey no Brasil foram, respectivamente, 7.838 kg, 339 kg e 273 kg, isto é, 5% inferiores às médias americanas para produção de leite, 15% para produção de gordura e 10% para produção de proteína. Isso mostra a qualidade inquestionável do Jersey nacional”, ressalta o especialista em melhoramento.

No entanto, o pesquisador da Embrapa de Juiz de Fora (MG) disse que há um ponto negativo observado nas análises, que é a alta frequência entre os animais que possuem o haplótipo JH1 no Brasil. “Este haplótipo foi associado à redução na taxa de concepção das fêmeas, devido às perdas embrionárias com menos de 60 dias de gestação. No Brasil, verificou-se grande porcentual (18,28%) de vacas e touros portadores do haplótipo, superior aos encontrados no Canadá (14,7%) e nos EUA (12,1%).”

Sobre a diferença dos teores de gordura e proteína da vaca Jersey brasileira x animais dos EUA, o presidente da ACGJB avalia que isso está relacionado à disponibilidade, à forma e à qualidade de alimentação do nosso rebanho. “Quando visitamos as fazendas dos EUA, por exemplo, a gente percebe que o produtor utiliza tudo o que é possível para os animais: resíduos de fécula, cenoura, beterraba, malte, batata, enfim, uma gama de coprodutos que nós não utilizamos no Brasil”, explica Mainardes.

Segundo o dirigente, a alimentação básica nutricional do rebanho brasileiro é silagem e ração, e existem algumas propriedades mais tecnificadas que oferecem pré-secado, pasto mais evoluído. “Portanto, esse é um grande diferencial que influencia em termos de produção de gordura e proteína do leite.”

 

Controle leiteiro – Outra iniciativa que trará grandes frutos para a raça Jersey feita pelos pesquisadores da Embrapa e equipe da Jersey é um projeto para a estruturação do Serviço de Controle Leiteiro (SCL) junto ao Ministério da Agricultura, em 2021, obtendo a aprovação do mesmo em tempo recorde.

Contextualizando, em relação à origem dos dados de SCL, os pesquisadores da Embrapa verificaram que o Estado do Paraná detém a maior representatividade no controle leite, com 33.846 lactações (67%), seguido por Santa Catarina, com 5.006 lactações (10%); Rio Grande do Sul, com 4.400 lactações (9%); São Paulo, com 2.907 lactações (6%), e Minas Gerais, com 1.812 lactações (4%). Os Estados de Goiás, Espírito Santo e Sergipe, juntos, geram 471 lactações (menos de 1%).

Esses valores mostram que há grande número de rebanhos e de vacas Jersey no Brasil que não estão sob controle leiteiro oficial. Daí ser fundamental a divulgação, entre os criadores, que o SCL é não só a base para o desenvolvimento de uma ferramenta de seleção dentro do PNMGJ, mas também de gestão do rebanho.

A tropicalização da genética – De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), Nelson Eduardo Ziehlsdorff, o impacto do programa de melhoramento visa ao aumento de produtividade, a valorização do material genético nacional, que será utilizado de uma forma muito mais profissional e abrangente, por meio das provas efetivas, principalmente dentro das centrais de inseminação, buscando touros que possam melhorar o rebanho nacional, não somente com produtos importados.

“Dessa forma, a gente abre uma grande oportunidade para o criador brasileiro de Jersey ter o desenvolvimento do seu rebanho, dos indivíduos que se destacam (touros e matrizes) para a produção de embrião”, avalia o presidente da Asbia, criador da raça e membro da ACGJB. Além disso, conforme Ziehlsdorff, o mercado deseja animais Jersey com produções consistentes, sobretudo na parte de sólidos, saúde e longevidade produtiva.

“Tivemos uma crescente sobre a utilização da genômica mundialmente e também no Brasil. Dessa tecnologia todo mundo faz uso e os resultados são de parâmetros e de conhecimento de todos. Assim, a meta dos produtores, em prol do desenvolvimento, é de que tenhamos animais geneticamente superiores, com a utilização de melhores touros importados para que consigamos acelerar o potencial genético do rebanho brasileiro”, diz o presidente da Asbia.

Nélson Ziehlsdorff: “Os criadores e principalmente as centrais buscam animais Jersey superiores que transmitam bons índices produtivos, como gordura e proteína, pois são características que muitas cooperativas e indústrias estão bonificando”

Nesse sentido, Ziehlsdorff ressalta que os criadores e principalmente as centrais buscam animais Jersey superiores que transmitam bons índices produtivos, como gordura e proteína, pois são características que muitas cooperativas e indústrias estão em busca e inclusive bonificando o produtor por isso.

Segundo o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, as centrais de inseminação são os principais colaboradores de qualquer programa de melhoramento, tanto pela possibilidade de introdução de material genético de alta qualidade, como na disseminação do sêmen de touros provados em testes de progênie. “Ainda, as centrais podem facilitar o acesso a algumas propriedades que fazem parte de seus programas, bem como auxiliar na captação de dados fenotípicos para os programas de melhoramento. Não há programa de melhoramento genético de sucesso em bovinos sem que exista a participação efetiva das centrais de inseminação”, conclui ele.

IMPORTÂNCIA DO SCL

 
A partir das informações do SCL, podemos responder a perguntas como:

1) Quais animais manter e quais descartar?
2) Qual o grau de utilização de cada animal no sistema?
3) Devo intensificar ou não o meu sistema de produção?
4) Qual o manejo a ser praticado na minha propriedade?

Por isso, é fundamental que o produtor veja o SCL como um investimento e não como um gasto.
É bom frisar que esse método é uma forma coesa de mensurar a curva de lactação para projeção dos dados totais da mesma. Também é possível controlar e registrar a qualidade do leite produzido, em teor de sólidos (gordura, proteína, lactose e sólidos totais) e contagem de células somáticas. O controle leiteiro é uma prova zootécnica que gera índices de evolução produtiva individual, fundamental para tomada de decisões relacionadas à gestão e à seleção e ao melhoramento genético do rebanho. Assim, é possível controlar e gerar dados sobre produção e qualidade do leite, saúde da glândula mamária, histórico do rebanho, reprodução e eficiência do programa de melhoramento instituído na propriedade. (Fonte: Marcus Vinícius Barbosa G. Silva – com informações do Sumário da Embrapa Gado de Leite)

 


 
O 1º Sumário de Avaliação Genômica da Raça Jersey, lançado em abril de 2023, está disponível no site da Embrapa Gado de Leite (https://www.embrapa.br). Na seção publicações, buscar o Sumário de Avaliação da Raça Jersey.

Além das informações contidas nos sumários e nos anuários, eles estão planejando a publicação de material que possa facilitar o entendimento das ferramentas de melhoramento, entre elas a genômica, bem como aumentar o número de palestras e de artigos técnicos. É importante a aproximação entre a ACGJB, a Embrapa e os criadores de Jersey para que possam ser repassadas as necessidades da raça no Brasil e de ações de transferência das tecnologias já geradas pela pesquisa.
 
O projeto de criação da raça Jersolando está sendo finalizado por parte da equipe de pesquisadores na área de melhoramento da Embrapa Gado de Leite e pelos técnicos da ACGJB. A projeção é de que, num prazo de até dois meses, ele seja submetido ao Ministério da Agricultura para aprovação.
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