Apesar da heterogeneidade da atividade, que está dispersa por todo o Brasil, tem-se cada vez mais exemplos de sucesso de produtividade animal, em níveis compatíveis com os países mais competitivos mundialmente
O IBGE divulgou, recentemente, os resultados da Pesquisa Pecuária Municipal (PPM/IBGE) referentes ao ano de 2020. Com uma série histórica de dados de produção de leite, rebanho de vacas ordenhadas e produtividade animal iniciada em 1974, a análise da PPM permite traçar um diagnóstico da evolução da atividade leiteira no Brasil, ao longo de quase meio século.
Em 2020, o Brasil registrou novo crescimento da produção, de 1,5%, consolidando a retomada iniciada em 2018, após três anos de quedas sucessivas (2015 a 2017). Em 2020, a produção total chegou a 35,4 bilhões de litros, o maior volume da série histórica, superando o ano de 2014, quando o País produziu 35,1 bilhões. Em uma análise isolada do indicador de produção, pode-se acreditar que a atividade leiteira pouco evoluiu nesses últimos anos, por somente agora retomar o nível de produção de seis anos atrás. Entretanto, ao verificar os outros dois indicadores disponíveis nesta pesquisa, tem-se claramente que a situação é bem distinta.
Então vejamos: em 2014, foram ordenhadas pouco mais de 23 milhões de vacas para atingir aquele volume de produção. Já no último ano, para uma produção 1% superior, foram ordenhadas 16,2 milhões de vacas. Isso indica uma redução de quase 7 milhões de vacas, o que representa expressivos 30% a menos em relação a 2014. Esse resultado foi possível devido ao aumento da produtividade por animal, que saltou de 1.525 litros/vaca em 2014 para 2.192 litros/vaca em 2020, aumento de 44% em apenas seis anos (gráfico abaixo).
Essa análise dos dados médios nacionais é importante para se ter uma visão geral da atividade leiteira, que está presente em 99% dos municípios brasileiros. Mas ela, por si só, esconde uma evolução ainda mais acentuada em algumas regiões do País. O Sudeste e o Sul, juntos, produzem 68% do leite brasileiro e apresentam produtividades de 2.581 litros/vaca e 3.619 litros/vaca, respectivamente. Em nível estadual, sete Estados registraram produtividades acima da média nacional (gráfico ao lado). O líder nesse quesito foi Santa Catarina, com 3.716 litros/vaca, seguido pelos outros dois Estados da Região Sul (Rio Grande do Sul e Paraná) e por Minas Gerais, todos com produtividades acima de 3.100 litros/vaca. Completam essa lista os Estados nordestinos de Alagoas, Sergipe e Pernambuco.
Ao aprofundar essa análise para mesorregiões e municípios, percebe-se uma evolução ainda mais expressiva da atividade leiteira pelo Brasil, com patamares equivalentes aos dos países mais competitivos do mundo em termos tecnológicos. A centro-oriental paranaense lidera essa estatística, com 7.140 litros/vaca, seguido do nordeste sul-rio-grandense, oeste catarinense, noroeste sul-rio-grandense e oeste paranaense, todas com produtividades acima de 4.000 litros/vaca. No caso dos municípios, esses números são ainda maiores. Em 1.697 municípios, a produtividade animal supera a média nacional, sendo que em 423 a produtividade é superior a 4 mil litros/vaca. A paulista Araras lidera esse indicador, com 13.531 litros/vaca, seguida de Carambeí (PR), com 9.798 litros; Quinze de Novembro (RS), com 8.559 litros; Cachoeira Dourada (MG), com 8.492 litros; Arapoti (PR), com 8.154 litros, e Castro (PR), com 8.087 litros/vaca.
Portanto, os dados da Pesquisa Pecuária Municipal mostram que a atividade leiteira nacional vem evoluindo a cada ano, apesar do volume total produzido ainda estar próximo de seis anos atrás. Daí vem a importância da produtividade animal, que é resultado da adoção de tecnologias, como a melhoria genética do rebanho e de técnicas de gestão e de manejo adequado envolvendo nutrição, conforto animal, saúde e reprodução. Assim, apesar da heterogeneidade da atividade que está dispersa por todo o Brasil, têm-se, cada vez mais, exemplos de sucesso, demonstrados pelos dados de produtividade animal, que colocam a produção nacional em níveis compatíveis com os países mais competitivos mundialmente.
Coautor: Glauco Rodrigues Carvalho, pesquisador da Embrapa Gado de Leite
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