balde branco

Com crescimento expressivo desde 2006, o estado se posiciona hoje entre os cinco maiores produtores de leite do país

SANTA CATARINA

A BUSCA POR MAIS LEITE POR ÁREA E RENTABILIDADE

É essa estratégia que tem caracterizado a pecuária leiteira catarinense, que é a atividade agropecuária que mais cresce no Estado, envolvendo 45 mil produtores, que produziram 2,97 bilhões de litros em 2018, segundo dados do IBGE

Erick Henrique

   Transpiração, determinação e bons resultados marcam a trajetória da bovinocultura leiteira catarinense nos últimos 15 anos. Basta analisar o Censo Agropecuário divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o qual mostra que Santa Catarina aumentou em 82% a sua capacidade produtiva, saltando de 1,7 bilhão de litros para 3,1 bilhões de litros entre 2006 e 2016, figurando entre os cinco maiores produtores de leite do Brasil (MG, RS, PR, SC e Goiás).

   No levantamento mais recente, divulgado em 2018, foi registrada uma ligeira queda na produção de leite, com 2,97 bilhões de litros, muito por causa da greve dos caminhoneiros, que paralisou o país por dez dias. Mesmo assim, o leite contribuiu para um acréscimo no valor da produção, passando de R$ 3,23 bilhões em 2017 para R$ 3,45 bilhões em 2018, impulsionado por uma melhora no preço pago ao produtor. 

   Ademais, Santa Catarina manteve a melhor produtividade do Brasil, com 3,8 mil litros por vaca ao ano, ante 3,4 mil do Rio Grande do Sul e 2,06 mil litros da média nacional, de acordo com IBGE. Números incríveis, especialmente se compararmos o tamanho do Estado, com uma área que representa apenas 1,13% do território nacional.

   “É possível pontuar alguns aspectos que, ao nosso entender, contribuíram para esse crescimento consistente dos últimos 15 anos: as condições relacionadas a topografia, fertilidade do solo são fatores que influenciam o desenvolvimento da atividade leiteira, sendo que este fator é determinante para a estrutura fundiária do estado (minifúndio); as condições climáticas com possibilidade de produção de pastos de origem tropical com alto potencial de produção de massa, assim como pastos de clima temperado com alta qualidade”, diz Carlos Otávio Mader Fernandes, engenheiro agrônomo e coordenador do Programa Pecuária da Epagri.

“Trabalho com análise de 64 propriedades constatou que os produtores leiteiros que compõem o grupo Top 20% se caracterizam por uma melhor gestão da sua fazenda, com mão de obra qualificada” Carlos Mader Fernandes

   Ainda segundo ele, o alcance social da atividade leiteira e sua possibilidade de desenvolvimento com baixo capital investido favoreceram o crescimento do setor em SC, aliado à alta densidade econômica da atividade, se mostrando altamente competitiva em relação a outras atividades agropecuárias. 

   Outra característica apontada pelo coordenador da Epagri provém da rede de capacitação técnica que apoia o desenvolvimento dos produtores e da atividade. Aliás, no estado de Santa Catarina o Programa Pecuária da Epagri acompanha mais de 250 Unidades de Referência Técnica, com sistema computacional de gestão técnica e econômica. 

Pelo perfil das condições de produção de leite de SC, em propriedades menores, a busca tem sido por sistemas com alta

PRODUTIVIDADE POR ÁREA E RENTABILIDADE​

   “Recentemente finalizamos um trabalho com análise de 64 propriedades, com acompanhamento mínimo de quatro anos. Constatou-se que os produtores leiteiros que compõem o grupo Top 20% caracterizam-se por uma melhor gestão da sua fazenda, com mão de obra altamente qualificada. Além disso, estes produtores têm como característica básica a tomada de decisão compartilhada”, destaca Fernandes, observando que certamente a capacitação técnica e gerencial são fatores determinantes parai se construírem sistemas produtivos sustentáveis.

   Segundo o coordenador de Pecuária da Epagri, no geral, nos últimos cinco anos, a produtividade média das URTs saiu de 8.745 litros de leite por hectare/ano para 12.142 litros de leite por hectare/ano. Vale destacar ainda que a metodologia utilizada  pela Epagri considera todas as áreas utilizadas pela atividade leiteira, todas as categorias animais (vacas, novilhas, bezerras, terneiros, bois), bem como se o produtor adquire alimentos conservados de terceiros ou arrenda área para produção. 

 

Atividade agropecuária que mais cresce em Santa Catarina. O segmento busca continuamente a eficiência na gestão e ganhos em produtividade, com foco na qualidade do leite

   “Associado a essa condição, nós utilizamos dois índices. Um que se relaciona ao leite produzido por meio do uso de alimentos concentrados, em que de forma subjetiva foi estabelecido que cada quilo de concentrado fornecido às vacas foi responsável pela produção de 1,5 litro de leite. Aliás, as propriedades Top 20% registraram a média de produtividade por ha/ano, em 2019, de 17.850 litros de leite”, destaca o especialista.

   Fernandes informa também que a Epagri, por meio de estudos técnicos e econômicos desenvolvidos no estado e em outras regiões da cadeia do leite, sobretudo em lugares com condições climáticas parecidas com as de Santa Catarina, além das características de ser um estado exportador de leite, constatou a necessidade de construir sistemas produtivos de baixo custo de produção, mas com alta rentabilidade por área. Em função disso, foi estabelecido pela Epagri, desde 2005, um núcleo de trabalho com uma série de diretrizes técnicas.

Encontro de produtores de leite com palestra de Airton Spies, ex-secretário da Agricultura de Santa Catarina e também especialista em produção leiteira

   O objetivo é fomentar a produção de leite à base de pastos perenes, pautadas por diretrizes técnicas: 
– Uso de forrageiras de alto potencial produtivo, consorciadas e manejadas sob os princípios do pastoreio racional Voisin;
– Utilização correta do concentrado, tendo como critério o controle leiteiro e as relações de troca entre preço do leite e preço da ração concentrada;
– Melhoria contínua do valor nutritivo, da qualidade e da segurança sanitária do leite produzido; 
– Melhoramento genético voltado para eficiência de consumo alimentar e transformação de pasto em leite, obtendo vacas rentáveis, com maior vida útil; 
– Humanização e eficiência da mão de obra.

JOVENS PRODUTORES MOSTRAM NA PRÁTICA A IMPORTÂNCIA DA CAPACITAÇÃO TÉCNICA

   Quem assumiu a gestão da propriedade e, agora, desenvolve um trabalho sustentável são os irmãos Vinícius e Eduardo Dedonatti, produtores de Arvoredo (SC), que buscaram o conhecimento técnico da Epagri para melhorar os resultados da Fazenda Dois Irmãos. Entretanto, antes de ser um exemplo para os produtores da região, os jovens produtores quebraram a cabeça com inúmeros problemas.

    “Em 2008, a nossa intenção era parar com a atividade leiteira e ingressar na avicultura, devido à baixa produtividade. Mas era difícil vender os animais, além disso, já tínhamos feito benfeitorias, investido em um sistema de ordenha canalizada para diminuir a mão de obra. Antes de a Epagri chegar, não fazíamos rotação do pasto, tínhamos perda da comida fornecida, com muita sobra no cocho, e não tínhamos grama perene implantada, o que levou à elevação dos custos, principalmente com alimentação. A produção na época era baixa, cerca de 400 litros/leite/dia, e os índices de qualidade não atingiriam os níveis da normativa que está em vigor”, lembra Eduardo Dedonatti. 

   Ele conta que o gatilho para as mudanças ocorreu durante um treinamento realizado para pecuaristas do município pela Epagri, em 2011, que apontou um novo rumo que os trouxe até os resultados atuais. “Naquele curso aprendemos conhecimentos básicos, do qual ainda hoje fazem parte do dia a dia da Fazenda Dois Irmãos, como altura de entrada e saída do pasto, importância da sombra para os animais, água de qualidade e alimento barato, mas de alta qualidade para o consumo de todos os animais desde a bezerra em aleitamento até as vacas em lactação.

“Sempre buscamos parcerias que agregam conhecimento e possibilitam uma eficiência da mão de obra e da parte econômica”, diz Eduardo (à esq) e Vinícius Dedonatti

   Os produtores de Arvoredo recordam que, no mês seguinte, começaram mudar a situação desfavorável da propriedade: capricharam na limpeza de áreas, substituição das cercas de arame farpado por cerca elétrica fixa, assim como a adoção de gramíneas forrageiras (tifton 85, que predomina em 95% da fazenda), sistematização de áreas e instalação de bebedouros, sempre com água limpa e de qualidade, e sombra nos piquetes.

   “Em seguida, nossa dedicação foi garantir alimento de qualidade para os animais, depois realizamos ajustes na sanidade e nutrição, a partir dos problemas que eram identificados. A parte da gestão econômica e zootécnica se iniciou em 2013 e foi a partir disso que possibilitou a tomada de decisões em curto, médio e longo prazos”, diz Dedonatti.

 

Fazenda Dois Irmãos
• Perfil do rebanho:  três raças, Holandês, Jersey e Jersolando com 40%, 35% e 25%, respectivamente.
• Vacas em lactação: 40
• Vacas secas: 9
• Animais jovens: 30
• Intervalo entre partos: 397 dias
• Produção diária de litros de leite: 730 litros/dia
• Meta de produção de leite para os próximos anos: 2020 produção média de 800, 2021 produzir 1.000 litros por dia e 2022 produzir 1.100 litros por dia.
• Qualidade do leite: média de CCS em 2019 e meta em 2020: 277.000 células/ml
• CBT: média em 2019: 12 ufc/ml
Proteína e gordura: 3,22% e 3,71%

 

   A Fazenda Dois Irmãos é uma das Unidades de Referência Tecnológica da Epagri na região, possibilitando que algumas novidades sejam testadas antes na propriedade. Os produtores dessas unidades permitem que os dados técnico-econômicos coletados nas pesquisas sejam compartilhados com outras URTs e quando pecuaristas visitam a fazenda para conhecer o sistema de produção. “Muitas pesquisas já foram promovidas aqui, em parceria com a Epagri, instituições de ensino e empresas privadas. Sempre buscamos parcerias que agregam conhecimento e possibilitam uma eficiência da mão de obra e da parte econômica”, relata o produtor, explicando que já foram realizados estudos sobre as análises bromatológicas da pastagem, pesquisas sobre produtividade de MS do tifton, e herbicidas mais eficientes para o controle de invasoras, entre outras.

PERFIL LEITEIRO DE SC

   leite é a atividade agropecuária que mais cresce em Santa Catarina e envolve 45 mil produtores em diversos municípios. A região oeste é a maior produtora de leite catarinense e corresponde por 75% de toda a matéria-prima produzida. Maiores produtores de leite em Santa Catarina (litros/ano)

1º) Concórdia – 78,7 milhões
2º) Guaraciaba – 78,6 milhões
3º) Itapiranga – 65,3 milhões
4º) São José do Cedro – 56,8 milhões
5º) Braço do Norte – 52,7 milhões

Fonte: IBGE

   Com tais fundamentos em mãos, a família Dedonatti afirma que estão mais motivados que em 2008, pois a meta deles é aumentar em 50% o rebanho nos próximos anos. “Já temos a estrutura e área de pastagem para isso acontecer. Outra meta para daqui a cinco anos é alcançar 60% do rebanho com a raça Jersolando, porque há um bom tempo acompanhamos a eficiência zootécnica desses animais e os resultados obtidos são impressionantes. Queremos também reduzir a jornada de trabalho, contudo produzir mais. Enfim, para nós a motivação está em superar os nossos números, produzir um alimento de qualidade e tentar sempre alcançar a eficiência e não somente a quantidade”, finaliza o produtor de Arvoredo. 

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