balde branco

A competitividade da raça Holandesa vem propiciando, também com muitos exemplos no Nordeste e no próprio Centro-Oeste, além de Minas Gerais, alta produtividade nas fazendas, que se valem dessa capacidade da vaca Holandesa para produzir muito leite de qualidade. Então, aqueles criadores que dão prioridade à tecnologia em seus rebanhos certamente têm na raça Holandesa uma grande parceira para atingir seus objetivos.

ENTREVISTA

JOÃO GUILHERME BRENNER, presidente da APCBRH

A força da raça holandesa

se mostra nas várias regiões do país

Engenheiro civil, produtor na Fazenda Engenho Velho, em Imbituva (PR), João Guilherme Brenner tem ligação com a produção leiteira desde os 14 anos de idade. Recém-eleito presidente da Associação Paranaense dos Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (APCBRH), Brenner, com ampla experiência em gestão de negócios, também é membro-diretor do Fundo de Desenvolvimento da Agropecuária do Estado do Paraná (Fundepec/PR). Ele faz questão de enfatizar que é apaixonado pela atividade leiteira, especialmente pela raça Holandesa, por causa da performance que essas vacas entregam, produzindo cerca de 20 vezes o seu peso vivo em leite por lactação.

Erick Henrique

Balde Branco – Trace um perfil da APCBRH atualmente, bem como de sua expectativa quanto a novas adesões durante o seu mandato, número de animais no controle leiteiro, entre outros dados.

João Brenner – Com 69 anos de atividade, a associação atualmente conta com 615 produtores ativos, que possuem 50.822 vacas inseridas dentro do controle leiteiro supervisionado, e são mais de 1.390 produtores que realizam serviços de qualidade do leite, deixando amostras para qualidade, que somam mais 55.770/vacas/mês. Isso quer dizer que, no total, a associação paranaense monitora a saúde da glândula mamária de aproximadamente 107 mil vacas em lactação por mês. A média de produção de leite das vacas Holandesas em controle leiteiro oficial, no ano de 2021, em 305 dias/duas ordenhas foi de 9.552 kg de leite, 309 kg de gordura e 236 kg proteína. Já as médias para vacas em três ordenhas aos 305 dias foram de 10.985 kg/leite, 392 kg de gordura e 348 kg de proteína, com média de 249 mil CCS. Esses números de produtividade são muito expressivos, podendo ser comparados com as médias registradas nos EUA, no Canadá e na Europa. Além disso, estimamos um crescimento da produção de leite, dentro das principais bacias leiteiras do Paraná, nos próximos três anos, da ordem de 6% a 8% ao ano, com o número de rebanhos estável.

BB – A Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (ABCBRH) e a paranaense acabam de lançar o Índice de Transição de Vacas (TCI), capaz de avaliar a saúde e o desempenho do rebanho leiteiro. Como funciona e que benefícios traz aos produtores?

JB – Esse índice foi criado pelo professor Ken Nordlund, da Universidade de Wisconsin (EUA), e foi trabalhado a seis mãos pela ABCBRH e pela APCBRH, juntamente com a Universidade Federal do Paraná (UFP), e capitaneado pelo professor Rodrigo de Almeida e sua equipe. O TCI é um índice muito utilizado para medir a eficiência e a saúde das vacas leiteiras nos seus períodos de transição, pois nós, produtores, sabemos que esse é um período mais crítico, que são durante as três semanas antes do parto e três semanas após o parto dos animais. Esse indicador para medir o desempenho das vacas leiteiras a partir do segundo parto, quando há uma correlação de produção individual, por meio da mensuração do leite produzido na 1ª x 2ª lactação. Assim, o produtor consegue identificar se o animal teve um desempenho melhor ou pior do que o esperado. Dessa forma, por meio do TCI, podemos avaliar se a gestão do criador durante o período de transição está sendo bem executada. Mas vale pontuar também que o resultado da produção de leite de uma vaca leiteira é uma equação de múltiplos fatores (alimentação, manejo, conforto, genética).

BB – O trabalho de melhoramento genético feito pela associação visa tropicalizar a raça Holandesa pelo Brasil, como temos visto no crescimento do rebanho em Pernambuco e Sergipe, considerados outrora inviáveis para a utilização de gado Holandês no semiárido nordestino, ou ainda são apenas exemplos pontuais de criação?

JB – Nós, há anos, temos um banco de dados que permite avaliar o desempenho dos nossos animais e observamos que a cada ano existe crescimento na produção de leite, gordura, proteína, melhoramento na qualidade do leite, além do monitoramento, feito no nosso laboratório, dos indicadores de saúde animal. Quero dizer, com isso, que todo esse trabalho, somado às novas tecnologias, com destaque para a seleção genômica, permitiu que o gado Holandês se tornasse uma das raças mais competitivas para a produção leiteira no mundo. Essa competitividade da raça Holandesa vem propiciando, com muitos exemplos no Nordeste, no próprio Centro-Oeste, e também em Minas Gerais, de produtores que se valem dessa capacidade da vaca Holandesa para produzir muito leite de qualidade. Então, aqueles criadores que priorizam a tecnologia em seus rebanhos certamente têm na raça Holandesa uma grande parceira para atingir seus objetivos.

BB – Qual a importância das parcerias com as centrais de inseminação artificial para levar genética de qualidade para os produtores de leite, visando impulsionar os índices zootécnicos da propriedade?

JB – O Brasil possui grande potencial nesse aspecto, porque, hoje, apenas 12% dos animais são inseminados no País anualmente, enquanto no Estado do Paraná 18% das vacas são inseminadas/ano. Ou seja, há uma grande oportunidade para os criadores utilizarem a inseminação artificial (IA) para o melhoramento genético da vaca Holandesa no Brasil. A gente sabe que o caminho mais fácil para o melhoramento do rebanho é por intermédio da IA, e hoje temos parcerias com as principais centrais de inseminação artificial do mundo, como Semex, Select Sires, Alta Genetics e CRV Lagoa, que nos ajudam nas classificações dos animais de primeiro parto, por exemplo. Em contrapartida, nós devolvemos os resultados dessas classificações para fazerem parte do banco de dados dessas empresas, por meio da autorização individual dos proprietários dos animais. Na APCBRH há uma relação de interdependência entre melhoramento genético, classificação para tipo, controle leiteiro oficial e prova genômica para acelerar o desenvolvimento do rebanho Holandês. Entendemos como muito importante o trabalho das centrais para a evolução da raça no Brasil.

Para mim, a verticalização é a melhor alternativa também para amenizar as possíveis baixas nos preços e harmonizar as relações entre os agentes da cadeia do leite”

BB – Como o cooperativismo é muito forte no Paraná, fale sobre sua importância para impulsionar o segmento leiteiro e se esse modelo de parceria pode servir de exemplo para outros Estados.

JB – Esse sistema é muito bem-sucedido no Paraná, não apenas na pecuária leiteira, mas também em avicultura e suinocultura. É um modelo que se mostrou muito eficiente, capilar e democrático, pois permite a convivência entre pequenos e grandes produtores. O sistema cooperativista paranaense foi aperfeiçoado ao longo dos tempos, por meio da Ocepar (Organização das Cooperativas do Paraná) e de outros agentes. Percebemos, hoje, e eu sou cooperado também, como a cooperativa é um agente de desenvolvimento, de apoio técnico e econômico para o produtor. Nós, da APCBRH, temos um programa estabelecido juntamente com as cooperativas para facilitar esse trabalho e oferecer dados e informações sobre a qualidade do leite para que o produtor possa se situar melhor no contexto de sua produção leiteira.

BB – Como você avalia a questão de preço pago ao produtor de leite no Brasil e o que fazer para aproximar mais os pecuaristas da indústria, no sentido de solucionar tantos entraves?

JB – Meu entendimento com relação ao preço é que o leite é uma commodity que está atrelada ao preço de mercado. Evidentemente, há um grande esforço para que possamos produzir um leite diferenciado, visando à elevação no patamar do preço. Contudo, isso não tira o nosso foco na questão da produtividade, assim como no aspecto da rentabilidade da atividade leiteira, que está também ligada ao custo de produção. Dessa forma, vejo que o exercício que o Estado do Paraná tem feito com relação ao modelo do Conseleite, bem como ao modelo das cooperativas de Arapoti, Castrolanda, Frísia e Witmarsum, tem sido de agentes facilitadores sobre esse entrave sempre tão difícil entre custo de produção versus remuneração de trabalho do produtor, que vem por intermédio do preço pago. Vejo que há dois aspectos bem distintos: o primeiro é trabalharmos em busca de um preço justo, e outro é obter o menor custo possível, para que a nossa atividade tenha, de fato, maior retorno sobre o investimento. E isso diante da situação atual, com custos altos de energia, combustível e grãos, dentre outros itens, que demandam um grande esforço na gestão da propriedade para tentar minimizar os impactos. Nós, produtores do Paraná, assim como os pecuaristas de Santa Catarina, começamos a exportar o nosso produto, visto que somos zonas com status livre de aftosa sem vacinação – que foi um trabalho de vários órgãos, capitaneados por Faep, Sindileite e Ocepar, ligados à cadeia do leite –, situação que hoje propicia uma oportunidade de agregar valor à matéria-prima e a seus derivados via exportação.

BB – Em sua avaliação, a verticalização da produção leiteira é uma alternativa para minimizar consecutivas baixas nos preços pagos ao pequeno e médio produtor de leite?

JB – Para mim, a verticalização é a melhor alternativa para amenizar as possíveis baixas nos preços e harmonizar as relações entre a cadeia do leite. Três anos atrás estava visitando algumas fazendas no Chile, e pude acompanhar uma palestra de um especialista dos EUA, infelizmente não me recordo o nome, que disse que o sucesso da produção leiteira nos Estados Unidos é por causa das cadeias que são verticalizadas, sendo algo que acontece, em alguns casos, no Paraná, como com cooperados da ABCW, que temos uma produção baseada na captação de leite, industrialização, com algumas marcas atuando no varejo, sendo um fator que agrega valor ao todo. Portanto, acredito muito nesse modelo, seja com o objetivo de atingir o consumidor final de leite e derivados, seja para atingir o mercado consumidor da matéria-prima, como o leite em pó e outros derivados para as indústrias de alimento.

BB – Como as associações de raças leiteiras podem contribuir, além da melhoria do potencial produtivo dos rebanhos, para auxiliar o criador a melhorar os índices da matéria-prima produzida na fazenda, em prol de melhores remunerações, como pagamento por sólidos do leite, que começa a se tornar realidade no Brasil?

JB – Sobre esse aspecto, a associação paranaense é sui generis tanto aqui no Brasil quanto no mundo, uma vez que é das poucas detentoras do controle leiteiro para classificação para tipo e possui laboratório para avaliar a qualidade do leite. Isso, para nós da APCBRH, é uma fortaleza, assim como para os criadores do Paraná, pois, desta forma, conseguimos auxiliar o produtor para verificar os indicadores de qualidade do leite: CCS, CBT e índices de gordura e de proteína. Sempre lembrando que os indicadores mostram quais caminhos devem ser seguidos, portanto não depende só da genética, mas também de meio ambiente, conforto animal, manejo, das equipes das fazendas, dentre uma série de fatores. De todo modo, o indicador de qualidade mostra, sem dúvidas, as potencialidades e diferenças entre cada propriedade leiteira, o chamado benchmarking, de maneira geral. Nós, como associados da APCBRH, somos privilegiados por ter uma entidade que também abarca essa questão tão importante sobre a qualidade do leite.

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