balde branco

PASTAGEM

A importância das pastagens

no contexto econômico, social e ambiental

São números que demonstram o quanto a produção de leite a pasto é competitiva, dada a elevada capacidade de produção dos capins tropicais

Ivan Jannotti Wendling

Já não é novidade para ninguém que as pastagens, ou melhor, os capins, como popularmente são conhecidas as plantas forrageiras, constituem a fonte de nutrientes mais barata para os bovinos. Também é consenso que, por causa disso, a pecuária de leite e de corte, especialmente nos trópicos, se tornam atividades altamente competitivas. O que talvez seja novidade é que pastagens produtivas e que cobrem suficientemente o solo cumprem importantes funções sociais e ambientais, ainda que muitos não percebam ou negligenciem essa realidade.  

Recentes estudos da Embrapa constataram que o custo da forragem a pasto variou entre R$ 0,10 e R$ 0,12/kg de matéria seca (MS), valores consideravelmente menores quando comparados ao custo de produção da silagem de milho, de R$ 0,20 a R$ 0,40/kg de MS, num cenário de elevada e baixa produtividade da cultura, respectivamente, e, principalmente, quando comparado ao custo da ração concentrada (R$ 1,10 a R$ 1,40/kg de MS). São números que demonstram o quanto a produção de leite a pasto é competitiva, dada a elevada capacidade de produção dos capins tropicais.

Além da importância para a economia de nosso País, as pastagens desempenham relevante papel ambiental, ao contribuírem para a redução do aquecimento global na medida em que as gramíneas forrageiras estocam expressivas quantidades de carbono (C) em suas raízes, especialmente aquelas que promovem eficiente cobertura do solo.

As pastagens representam a segunda maior fonte potencial global de sequestro de C, com capacidade de drenar da atmosfera 1,7 bilhão de toneladas de C por ano, atrás somente das florestas, cuja capacidade estimada chega a 2 bilhões de toneladas de C.

Na ausência das florestas, são as pastagens que assumem o papel de armazenar as águas das chuvas que alimentam os mananciais e abastecem as cidades e o próprio campo, revestindo-se de importância ambiental e social. Essas funções são particularmente relevantes em regiões montanhosas predominantemente ocupadas por pastagens, as quais são parte importante de várias microbacias hidrográficas, sendo que o somatório de toda a carga hídrica das microbacias sobrecarrega as bacias a jusante, causando enchentes e estragos de grandes proporções.

Neste contexto, catástrofes ambientais provocadas pelas intensas chuvas verificadas recentemente nas regiões sul do Espírito Santo e Zona da Mata, em Minas Gerais, marcadas por relevos bastante íngremes,  poderiam ter sido amenizadas caso as pastagens fossem manejadas no sentido de segurar as águas das chuvas, em vez de deixá-las escorrer a altas velocidades.

Destruição de estradas rurais, avarias de máquinas e implementos agrícolas, inundação e desabamento de casas com inúmeras pessoas desabrigadas, além de vidas perdidas, são alguns exemplos de danos e prejuízos que poderiam ter sido amenizados, caso fossem adotadas corretas práticas de manejo das pastagens localizadas em relevos montanhosos, como nos estados do Espírito Santo e de Minas Gerais.

De modo geral, o manejo de pastagens deve ser no sentido de manter o solo suficientemente coberto e as plantas vigorosas. Para tanto, devemos utilizar taxas de lotação animal compatíveis com a disponibilidade de forragem, evitando-se o superpastejo, e repor, via adubação e calagem, os nutrientes do solo que são convertidos em produto animal (leite e carne) e perdidos pelos processos naturais de erosão.

É preciso manejo cuidadoso, de modo a ter taxas de lotação animal compatíveis com a disponibilidade de forragem, evitando-se o superpastejo


De modo geral, o manejo de pastagens deve ser no sentido de manter o solo suficientemente coberto e as plantas vigorosas


Pastagens em terrenos íngremes – Para pastagens implantadas em terrenos muito íngremes, deve-se escolher plantas forrageiras com alta capacidade de cobertura do terreno (como as braquiárias). Além disso, são recomendadas a adoção de práticas de conservação do solo e da água, sejam mecânicas (terraços, barraginhas, curvas de nível) ou vegetativas, em que a proteção dos topos do morro por árvores ou, preferencialmente, o plantio de árvores, em nível, em toda a extensão da pastagem (sistemas silvipastoris) são medidas efetivas.

Desde que planejadas e executadas corretamente, as práticas adotadas promoverão a redução da velocidade de descida das águas das chuvas, amenizando as enxurradas e os processos de erosão e perda da capacidade produtiva do solo; os assoreamentos de rios e outros cursos d’água, bem como amenizarão os danos causados aos meios rural e urbano, como consequência de chuvas torrenciais.  

Pastagens são ecossistemas relativamente frágeis, cuja estabilidade vai depender do manejo baseado em conhecimentos técnicos nas diferentes áreas das Ciências Agrárias.

Por fim, a sustentabilidade da produção animal a pasto será alcançada quando houver o consenso de que as pastagens vão muito além do contexto econômico. Elas prestam relevantes serviços ambientais e múltiplos benefícios à sociedade.

Em terrenos mais altos, exige-se maior cuidado para evitar erosão

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