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Pedro Braga Arcuri

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"Outra ação positiva, como comentei em texto anterior, é priorizar a qualificação profissional de todos os participantes da cadeia produtiva; nossos professores mostraram que estão à altura do desafio"

A nova nutrição de ruminantes

Como pesquisador da Embrapa Gado de Leite, tive muita satisfação em assistir pelo YouTube, nos dias 11 e 12 de abril, ao 3º Workshop de Microbiologia do Rúmen, promovido pela Sociedade Brasileira de Zootecnia, organizado pelo dinâmico professor Luciano Cabral. No evento, cinco professores brasileiros e uma colombiana formada no Brasil apresentaram os mais recentes resultados da nova nutrição dos ruminantes.

Nova nutrição, sim. No fim dos anos 1990 esse tema era algo de futuro. Em seguida, passou a ser uma tendência, pelos resultados obtidos quando a única alternativa comercial para manipular a digestão dos alimentos no rúmen eram poucos produtos químicos, alguns antibióticos. Novas disciplinas são fator de inovação industrial.

Recentemente, a China anunciou que cerca de 10 mil novos programas serão adicionados ao sistema de ensino superior em novas tecnologias e indústrias prioritárias. Por outro lado, o estudo “O Futuro do Mundo do Trabalho para as Juventudes Brasileiras”, em reportagem do jornal Valor Econômico, mostrou que 60% dos jovens consideram que cursos de formação profissional não são atualizados e sintonizados com as vagas existentes no mundo do trabalho.

Conhecimentos da ecologia do rúmen desvendam os processos da vida que evoluiu em simbiose ao longo de milhões de anos. Sua aplicação produz tecnologias sustentáveis com resultados econômicos expressivos. Para isso, trabalham, juntos, as universidades brasileiras e do exterior, indústrias inovadoras, a Embrapa e outros órgãos de pesquisa aplicada.

Exemplos concretos são o aumento da produtividade em quilo de proteína e gordura do leite para cada quilo da dieta consumida pelo animal, pela adição de bioinsumos ou substâncias naturais, ou pela maior eficiência alimentar advinda do cruzamento de animais com essa característica; a redução no uso de antibióticos e outros produtos rejeitados pelos consumidores em seus alimentos, e, indiretamente, a mitigação das emissões de metano entérico.

Micro-organismos, na forma de bioinsumos ou outros produtos, serão cada vez mais importantes para a produção sustentável e segura de alimentos de um modo geral, leite e carne especialmente. Ademais, com a soma de competências em biologia e em ciência da computação, serão desenvolvidos micro-organismos melhorados, uma tendência científica real. Essa nova abordagem em nutrição está gerando vantagens competitivas e agregando valor à produção.

Pela complexidade das possíveis soluções, será preciso somar as iniciativas e aplicar o conhecimento que já desenvolvemos para a produção eficaz de leite nos trópicos e fazer os consumidores conhecerem esses esforços associados à qualidade e ao valor nutritivo do leite. Pensar globalmente, mas agir localmente, um velho chavão que faz cada vez mais sentido para que a transição do que são os sistemas de produção hoje seja feita com sustentabilidade. Esse conceito deve estar sempre presente, pois inclui gestão econômica, preservação do ambiente e satisfação das pessoas envolvidas na cadeia produtiva, sem esquecer do bem-estar animal.

Como a cadeia do leite pode contribuir? Uma ação imediata é apoiar e difundir a campanha da ABLV, “A vida pede leite”, recém-lançada para valorizar as qualidades do leite sem fazer ataques a outros segmentos, garantindo o consumo de leite e lácteos por um público bombardeado pela propaganda de bebidas brancas e produtos “análogos” aos lácteos. Outra ação positiva, como comentei em texto anterior, é priorizar a qualificação profissional de todos os participantes da cadeia produtiva; nossos professores mostraram que estão à altura do desafio. As instituições de ensino e as demais devem ter condições para oferecer educação e treinamento de qualidade. Afinal, como lá em 2011 já dizia o atual diretor de captação de leite da maior empresa de lácteos, “o futuro do leite é aqui”.

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