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TENDÊNCIAS

Pedro Braga Arcuri

Pesquisador da Embrapa Gado de Leite

A SAÚDE É ÚNICA

A música “Pulso” é um dos sucessos do conjunto de rock brasileiro Titãs. Para compô-la, seus autores, Tony Bellotto, Marcelo Fromer e Arnaldo Antunes, prepararam uma lista de doenças e outros males que afligem a nós, humanos, para concluírem depois que, apesar de tantas mazelas, “o pulso ainda pulsa”. Várias das doenças citadas na letra da música acometem animais e seres humanos, como, por exemplo, raiva, tuberculose, brucelose. São as zoonoses.

O site Wikipedia define zoonoses como “doenças infecciosas capazes de serem naturalmente transmitidas entre outros animais e seres humanos”. Aprendi que o dia 6 de julho foi escolhido como Dia Mundial das Zoonoses porque nesta data, em 1885, foi usada pela primeira vez a vacina contra a raiva, obra do francês Louis Pasteur, célebre por este feito, pela pasteurização e muito mais. Estudos indicam que 6 em cada 10 doenças infecciosas humanas podem ter origem em animais.

E de onde vem essa incômoda taxa de transmissão de doenças de animais para humanos? O biólogo americano Jared Diamond – professor de geografia e saúde ambiental na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, no seu premiado livro intitulado “Armas, germes e aço; o destino das sociedades humanas”, demonstra com clareza que as zoonoses são uma consequência da domesticação dos animais. Isso começou há milhares de anos, e nunca mais parou. Ao contrário, nossa convivência diária e consumo também diário de produtos animais aumentou o risco de ocorrência de zoonoses, e, sem que se tomem os devidos cuidados, a tendência é de as ocorrências aumentarem ainda mais.

Com o aumento da população mundial e sua mobilidade, a proximidade de animais com pessoas aumenta em muito o risco de ocorrência de zoonoses e da transmissão de doenças pelos alimentos de origem animal, caso estes sejam produzidos sem o cuidado de boas práticas. Neste caso, consumidores nas cidades podem ser afetados indiscriminadamente.

Vem desta constatação o conceito de “saúde única”, do inglês “one health”, cujo autor é o médico veterinário dr. Calvin Schwabe, outro americano. Em 1984 ele lançou a obra “Medicina veterinária e saúde humana”, na qual demonstra a interdependência entre a saúde animal, a saúde humana e mais, com o meio ambiente. Este conceito é também a base para o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS), assunto da coluna do mês de abril, o de número 3, intitulado “Garantir uma vida saudável e promover o bem-estar para todas as idades”.

Recentemente, como efeito indireto da pandemia de covid-19, práticas de segurança biológica, ou biosseguridade, passaram a ser rotina em muitas propriedades leiteiras, de modo a evitar a propagação do vírus, seguindo o conceito de “saúde única”. Biosseguridade trata da saúde animal “por inteiro”, porque animais saudáveis contribuem para pessoas saudáveis e para a produção sustentável de alimentos, garantindo comércio seguro.

Para desenvolver e otimizar protocolos de biosseguridade para as propriedades leiteiras brasileiras, a Embrapa Gado de Leite assinou recentemente um contrato de cooperação técnica, formalizando mais uma parceria público-privada. A empresa Boehringer Ingelheim, de grande tradição na área, a Fazenda Colorado, de Araras (SP), e a Fazenda Santa Luzia, de Passos (MG), decidiram somar suas competências às da equipe da Embrapa, num trabalho de inovação aberta, para desenvolver e testar protocolos que serão adequados para produtores brasileiros, de todos os tamanhos.

Com biosseguridade na produção do leite, o pulso dos consumidores, brasileiros ou de qualquer outro país, pulsará cada vez mais saudável.

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