Todos devemos reconhecer a força que são as mulheres no leite e no agronegócio. Me valho da história de três mulheres excepcionais, a começar pela professora Pautilha Guimarães, do Instituto de Laticínios “Cândido Tostes”, de Juiz de Fora. Primeira mulher do Brasil a se tornar laticinista, nos anos 1940, e a lecionar no ILCT, hoje parte da Epamig. Anos mais tarde, “Dona Pautilha” tornou-se uma personagem nacional, por atuar como consultora para a indústria laticinista nos quatro cantos do Brasil. Sua trajetória foi motivo de reportagem especial da revista Globo Rural, edição de 2000.
A indicação ao Prêmio Nobel em Química em 1997 para a agrônoma Johanna Döbereiner veio em decorrência dos anos de pesquisa e desenvolvimento da tecnologia para aumentar a quantidade de nitrogênio do ar “capturado” por bactérias diretamente nas raízes da soja, e mais tarde de outras plantas. Cientista e mãe, mulher modesta em tudo: nas roupas, na casa, no dia a dia. Contudo, é a sétima dentre os cientistas brasileiros mais citados pela comunidade científica mundial e a primeira entre as mulheres, segundo levantamento da Folha de S. Paulo. Suas pesquisas mudaram a forma como a agricultura funciona, provando que é possível ter uma produção sustentável a partir da geração de conhecimento inovador. Sem seu trabalho pioneiro, a soja no Brasil não seria competitiva, inviabilizando a produção de leite e de outras proteínas animais.
A pioneira e empreendedora, agrônoma e professora Ana Maria Primavesi, da Universidade Federal de Santa Maria (RS), registrou boa parte da sua produção científica e experiência no seu livro “”Manejo Ecológico do Solo: a Agricultura em Regiões Tropicais”, referência para plantio direto, agricultura regenerativa, agricultura orgânica e agroecologia. Tais tecnologias vêm sendo adotadas por número crescente de produtores preocupados com seus ganhos econômicos no longo prazo, e são objeto de políticas públicas recentes, em função da pressão dos consumidores por práticas sustentáveis.
Pesquisas indicam que, globalmente, a participação de mulheres na cadeia do leite, tanto em propriedades quanto em instituições, é maior do que em outras atividades agrícolas. Em linha com a coluna Tendências de fevereiro passado, os resultados de programas de qualificação específicos para mulheres demonstram que esses são ferramentas comprovadas e eficazes para promover boas práticas e habilidades de gerenciamento para grupos ou funcionárias de empresas de qualquer tamanho.
Mais pesquisas demonstram que a produção de leite e lácteos apresenta grande potencial e várias oportunidades de inclusão econômica para mulheres no meio rural. Portanto, a maior participação de mulheres na cadeia do leite permitirá seu acesso a fontes de renda, mais circulação de recursos e melhoria na qualidade de vida de famílias inteiras.
Dois fatos levaram os países componentes da Organização das Nações Unidas (ONU) a escolher o dia 8 de março como Dia Internacional da Mulher. Em 1908, cerca de 15 mil mulheres marcharam pela cidade de Nova York pleiteando, unidas, a redução das jornadas de trabalho, salários melhores e direito ao voto. No turbulento 1917, milhares de mulheres russas clamaram, unidas, por “pão e paz”.
Agora em 2023, a ONU elegeu o tema “DigitALL: Inovação e tecnologia para a igualdade de gênero”. Uma feliz convergência de temas com a iniciativa Ideas for Milk de 2016 a 2020, catalisada pela Embrapa Gado de Leite, da qual sou pesquisador.
Hoje e doravante, estou certo de que milhares de brasileiras, empreendedoras como a jovem Jacqueline Ceretta, produtora de Ijuí (RS), vão desenvolver novas ideias para o leite envolvendo ferramentas digitais com o objetivo maior de promover sua qualidade e a sustentabilidade da cadeia do leite brasileiro. Independentemente do gênero. A união faz a força.
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