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SANIDADE

Ações para o controle da

MASTITE

A redução dos casos de mastite é resultado do uso de boas práticas, como o adequado manejo do ambiente, uma rotina de ordenha de qualidade e equipamento de ordenha regulado e limpo

Bruno Marinho Mendonça Guimarães*

A mastite é a doença mais frequente em rebanhos leiteiros, tendo grande impacto na eficiência e rentabilidade das fazendas. Um dos fatores para que isso ocorra é que vacas com mastite clínica e subclínica produzem menos leite quando comparadas a vacas sadias, e essa queda de produção pode persistir durante toda a lactação da vaca.

As perdas produtivas devido à mastite podem representar 80% dos custos relacionados à mastite (Huijps, K. et al., 2008)** e quartos mamários infectados por agentes contagiosos podem diminuir a produção de leite em 700 mililitros/ordenha (Gonçalves, J. et al., 2018).

Os dados encontrados na literatura também podem ser calculados dentro de cada propriedade leiteira, estimando assim quais as perdas e oportunidades temos de acordo com a realidade e manejos de cada fazenda. Para isso, precisamos de algumas informações, como controle leiteiro mensal e dados de CCS individual mensal.

Em uma análise de 191 mil dados da consultoria Rehagro, entre os anos de 2020 e 2021, vacas sadias apresentaram, em média, uma produção de leite de 32,9 litros/dia, enquanto as vacas com mastite subclínica (CCS maior que 200 mil células/ml) apresentaram uma produção média de 26,1 litros/dia, ou seja, uma diferença de produção de quase 7 litros de leite/dia (Figura 1).

Para que seja possível reduzir as perdas de produção e aumentarmos, consequentemente, o faturamento da fazenda, é fundamental entendermos quais os pontos de atuação na propriedade, considerando a dinâmica da CCS do rebanho. Portanto, o controle da mastite vai depender da redução da exposição das vacas aos agentes causadores de mastite, reduzindo assim o número de novas vacas doentes (novas infecções) e das tomadas de decisão para reduzir o número de vacas doentes do rebanho (tratamentos, terapia da vaca seca e descarte, por exemplo).

A redução do número de casos de mastite é consequência da constância do uso de boas práticas de manejo, que incluem o adequado manejo do ambiente, uma rotina de ordenha de qualidade e equipamento de ordenha regulado e limpo.

Manejo do ambiente – O manejo do ambiente é fundamental para reduzirmos a exposição dos tetos aos agentes causadores de mastite e garantir que as vacas cheguem mais limpas no momento da ordenha, facilitando assim a limpeza e desinfecção dos tetos.

Garantir um ambiente seco, limpo e confortável pode ser um grande desafio, especialmente no período chuvoso, e, por isso, é importante atuarmos de forma preventiva. Quais são os desafios da minha propriedade? O que posso fazer, antes de iniciar o período chuvoso, para reduzir meus riscos quando aumentar a umidade?

Quando temos vacas em sistema de confinamento, seja free stall, seja compost barn, manter as camas limpas e secas inclui algumas medidas estruturais e de manejo.

No caso do free stall, é fundamental que as camas estejam corretamente dimensionadas para o rebanho, reduzindo assim a defecação sobre a cama, mantendo-a mais limpa, além de reduzir outros problemas como lesões de pernas e cascos.

Outro ponto importante é estabelecer a rotina diária de limpeza das camas e reposição do material dela. É possível realizar a avaliação visual da cama e de sujidade das vacas para definir as estratégias e frequência de limpeza de acordo com a realidade da propriedade.

No caso do compost barn, devemos seguir alguns pontos importantes. O sucesso no manejo de camas está em garantir sua adequada aeração, revolvendo a cama diariamente, e manter a umidade entre 40% e 60%, reduzindo os riscos de formação de torrões e multiplicação de bactérias causadoras de mastite. Também é fundamental garantir a adequada temperatura da cama para o processo de compostagem, que deve variar entre 54ºC e 65ºC (Black et. al., 2013).

Para garantirmos esses pontos, podemos realizar a avaliação visual da cama, avaliando a presença de torrões e a limpeza do úbere, pernas e pés das vacas no momento da ordenha. Também podemos aferir a temperatura da cama semanalmente, numa profundidade de 25 a 30 cm.

As estratégias de manejo para manter a cama em adequadas condições incluem a reposição de seu material, aumento da frequência do revolvimento dela e redução da lotação.

O correto dimensionamento dos corredores, além da definição da frequência diária de limpeza, também fazem parte dos cuidados com o ambiente. Um outro ponto importante quando trabalhamos com vacas em confinamento é garantirmos um adequado fluxo de ar e ventilação, que auxiliarão na redução do estresse térmico e secagem das camas.

Um estudo de 2016, comparando diferentes tipos de cama de vacas em confinamento, identificou que o tipo de cama escolhido expõe as vacas a diferentes patógenos causadores de mastite e pode alterar a proporção dos agentes de casos de mastite clínica, porém a incidência de mastite clínica não difere de acordo com o tipo de cama (Rowbotham, et. al., 2016).

Acrescente-se ainda que a adição de aditivos nas camas, como o uso da cal hidratada, não é capaz de promover a redução da carga microbiana por mais de 48 horas após sua aplicação. Sendo assim, o adequado manejo do ambiente, bem como aspectos relacionados à rotina de ordenha são fundamentais para o controle da mastite.

Nos casos de animais criados em sistema de pastejo ou semiconfinamento, a limpeza dos corredores e caminho até a ordenha, além de garantir boa cobertura vegetal para alimentação das vacas e drenagem de água, são fundamentais.

É necessário disponibilizar área de sombra natural ou artificial suficientes (média de 5 m²/vaca), e que sejam na direção norte-sul, para que a sombra se movimente ao longo do dia. Para o caso de sombras artificiais, como o uso de sombrites, é importante que tenha o correto dimensionamento (largura deve ser até 1,5 vez maior que a altura). Dessa forma, além da redução do estresse térmico, promoveremos acesso a áreas de sombra com menor umidade, e consequentemente, menor risco de mastite.

Além dessas ações preventivas, podemos atuar de forma corretiva, realizando ajustes dos manejos e intensificando a limpeza e desinfecção dos tetos, durante a rotina de ordenha, por exemplo:

• Retirar o excesso de sujidade dos tetos com papel toalha antes de aplicar a solução pré-dipping, melhorando assim sua ação desinfetante;
• Realizar a aplicação de 2 pré-dipping (pré-dipping, teste da caneca e outro pré-dipping), melhorando a limpeza dos tetos e desinfecção.

Rotina de ordenha – Outro ponto fundamental no controle da mastite, e que ainda encontramos muitas oportunidades nas fazendas, é a realização de uma rotina de ordenha de qualidade.
Para realizarmos uma ordenha gentil e completa, com tetos limpos e desinfetados, devemos nos atentar aos seguintes pontos:
• Manejar as vacas de forma tranquila até a ordenha, facilitando assim a ação da ocitocina e descida do leite e melhor manipulação e limpeza dos tetos;
• Utilizar luvas limpas durante toda a ordenha, reduzindo os riscos de transmissão de mastite;
• Realizar o teste da caneca em todas as vacas e em todas as ordenhas, desprezando os 3 primeiros jatos de cada teto, contribuindo assim para a estimulação das vacas e descida do leite e identificação de vacas com mastite clínica;
• Aplicar a solução pré-dipping cobrindo todo o teto da vaca, com tempo de ação de 30 segundos, para que haja melhor desinfecção dos tetos e redução dos casos de mastite, especialmente causados por agentes ambientais;
• Realizar a secagem da lateral e da ponta dos tetos, garantindo tetos limpos e secos antes da colocação das teteiras;
• Colocar o conjunto de teteiras de forma alinhada, entre 60 e 90 segundos após o início da preparação das vacas, para que a ordenha da vaca se inicie no momento de pico de ação da ocitocina, e seja uma ordenha rápida e gentil;
• Retirar o conjunto de teteiras quando o fluxo de leite estiver reduzido, evitando assim a sobreordenha e o risco de lesão na ponta dos tetos, porta de entrada para os agentes causadores de mastite;
• Aplicar a solução pós-dipping cobrindo todo o teto da vaca, para que haja a desinfecção dos tetos após a ordenha, reduzindo assim o risco de mastite, especialmente causada por agentes contagiosos.

Um ponto importante alusivo à rotina de ordenha trata-se da desinfecção dos tetos. A higienização antes e após a ordenha contribui para a qualidade higiênica do leite e reduz a carga de agentes causadores da doença. Na edição 690, outubro de 2022, da Balde Branco, trouxemos dicas sobre como realizar corretamente a limpeza dos tetos.

Linha de ordenha – Outro manejo muito importante relacionado à rotina de ordenha é a segregação de vacas com mastite clínica para que sejam as últimas vacas da ordenha, reduzindo assim a transmissão de mastite durante a ordenha, além de reduzir os riscos de resíduo de antibiótico no leite.

A realização da linha de ordenha é uma prática estratégica e fundamental no controle da mastite, principalmente quando consideramos as características de transmissão e manifestação da mastite causada por agentes ambientais e contagiosos.

Os agentes ambientais causadores de mastite possuem pouca adaptação à glândula mamária, causando, em sua maioria, casos clínicos de mastite. Sua transmissão ocorre entre as ordenhas, pela exposição dos tetos aos agentes presentes no ambiente de permanência e circulação das vacas (cama, fezes e água contaminada, por exemplo). Por isso, seu controle está diretamente relacionado ao manejo do ambiente, desinfecção dos tetos antes da colocação das teteiras (pré-dipping) e segregação de vacas com mastite clínica.

Ao contrário dos agentes ambientais, os agentes contagiosos possuem maior adaptação à glândula mamária, causando, em sua maioria, casos subclínicos de mastite. Sua transmissão ocorre durante a ordenha, sendo os agentes transmitidos de vacas contaminadas para vacas sadias através de teteiras contaminadas e da mão dos ordenhadores, como acontece com casos de Streptococcus agalactiae e Staphylococcus aureus.

Sendo assim, o controle desses agentes está diretamente relacionado aos cuidados na rotina de ordenha, como a utilização de luvas e a qualidade da desinfecção dos tetos após a ordenha (pós-dipping). Além disso, é importante a realização de CCS individual ou CMT para identificação de vacas com mastite subclínica (CCS maior que 200 mil) e cultura microbiológica para identificação de vacas contaminadas, para que sejam segregadas e ordenhadas ao fim da ordenha, reduzindo os riscos de transmissão.

Com todas essas informações, podemos definir uma linha de ordenha na propriedade, ordenhando primeiramente as vacas sadias e de menor CCS e, por fim, vacas contaminadas e vacas em tratamento.

Equipamento de ordenha – Mais um ponto fundamental no controle da mastite e bastante negligenciado em propriedades leiteiras, o equipamento de ordenha limpo e funcionando corretamente é primordial para que a ordenha da vaca seja completa, sem lesionar os tetos. Além disso, um equipamento em mau funcionamento, com limpeza deficiente, além de aumentar os riscos de transmissão de mastite também podem contribuir para o aumento da CPP (contagem padrão em placas) do leite do tanque.

De forma geral, precisamos garantir que todas as etapas de limpeza do equipamento estejam sendo cumpridas conforme as recomendações do fabricante, com volume e temperatura corretos da água, e com soluções desinfetantes específicas para cada etapa de limpeza, na concentração adequada, de forma a reduzir a formação e proliferação de biofilme no equipamento, que são fonte de contaminação do leite do tanque e da transmissão de agentes causadores de mastite (Weber et. al., 2019).

A sequência da limpeza do equipamento de ordenha compreende em enxaguar o equipamento de ordenha com água morna (40ºC) logo após a finalização da ordenha, removendo o excesso de leite presente nas tubulações. Em seguida, realiza-se a limpeza com detergente alcalino clorado (ciclo de, em média, 10 minutos), com temperatura inicial da água de 70ºC, finalizando o ciclo de limpeza com temperatura acima de 40ºC.

Essa etapa é de extrema importância para remoção dos resíduos de gordura e proteína do leite, sendo a temperatura acima de 40ºC fundamental para impedir a solidificação da gordura. Após essa etapa, inicia-se a limpeza com detergente ácido, indispensável para a remoção dos resíduos de minerais do leite. Nesse ciclo, a temperatura da água deve ser fria, e durar, em média, 5 minutos. Antes de iniciar a próxima ordenha, deve ser realizada a sanitização do equipamento, reduzindo a contaminação bacteriana.

Além de garantir o cumprimento dessas etapas de limpeza, podemos checar diariamente se os conjuntos de teteiras estão limpos antes de iniciarmos a ordenha, e checar as tubulações (linha do vácuo, linha do leite e linha de limpeza) com frequência semanal.

Outro ponto importante é realizarmos as manutenções preventivas e corretivas do equipamento, garantindo que borrachas, mangueiras e teteiras sejam trocadas com frequência adequada (teteiras de borracha devem ser trocadas a cada 2.500 ordenhas) e que o equipamento esteja em correto funcionamento.

Para a checagem do adequado funcionamento de ordenha, é importante alinhar, junto à revenda prestadora de serviço, a aferição do equipamento a cada 4-6 meses. Também é possível realizarmos avaliações diariamente no equipamento, checando seu correto funcionamento.

Para essa avaliação, podemos checar qual o nível de vácuo do vacuômetro do equipamento, observar a aparência dos tetos das vacas após a ordenha que possam indicar vácuo elevado ou pulsador desregulado (tetos avermelhados, tetos arroxeados, formação de anel na base do teto), avaliar o comportamento das vacas, se ficam inquietas com a colocação das teteiras, que possa indicar dor, e observar o deslizamento de teteiras, que pode indicar vácuo baixo no equipamento.

Treinamento de colaboradores – É fundamental ressaltar a relação entre o controle da mastite e o treinamento dos colaboradores da fazenda, responsáveis pelas atividades que compõem o controle da mastite, comentados anteriormente.

É fato que, além do conhecimento técnico, é preciso que proprietários, gerentes e colaboradores entendam os prejuízos causados pela mastite e como cada tarefa presente em suas rotinas irão influenciar esse resultado. Ou seja, para sermos efetivos no controle da mastite é necessário desenvolvermos algumas estratégias de comunicação (Jansen, J. et. al., 2012).

Nesse ponto, realizar treinamentos e reuniões frequentes com os colaboradores e discutir os resultados obtidos mensalmente, por exemplo, além de aproximar a equipe de trabalho, promovem maior engajamento da equipe, que se sente parte do trabalho e dos resultados alcançados.

Outro ponto importante é garantirmos os meios para que os colaboradores executem as tarefas conforme definidos na propriedade, como luvas, produtos utilizados na ordenha, regulagem e manutenções no equipamento (Alvarez, J.C.E., 2014).

Considerações finais – Atuar no manejo do ambiente, ajustes na rotina de ordenha e garantir um bom funcionamento do equipamento de ordenha são pontos essenciais no controle da mastite. O treinamento das pessoas envolvidas nos processos e o monitoramento dessas tarefas de forma constante são fundamentais para alcançar bons resultados, produzir um leite de excelente qualidade e reduzir os prejuízos relacionados à mastite. (**Obs.: No original, o autor cita diversas referências bibliográficas. Os interessados podem solicitá-las pelo email editor@baldebranco.com.br)

Bruno é Médico Veterinário e técnico da Equipe Leite do Grupo Rehagro

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