Utilizados em diferentes situações, os aditivos alimentares normalmente não entrariam na ração como ingrediente, mas são empregados para potencializar a qualidade da dieta, visando melhorar o desempenho do animal de maneira eficiente e segura.
Eles podem atuar no balanço energético, na reprodução, na saúde dos cascos, na função ruminal, no controle da hipocalcemia e na função imune. Dentre outros, também podem alterar a composição do leite, a temperatura corporal e até o aroma de queijos, a exemplo do que fazem os franceses. Cada aditivo tem suas funções mais específicas e, a depender da necessidade e do valor, podem ser inclusos em dieta de diferentes categorias animais como recria, pré e pós-parto e vacas em lactação.
“Os aditivos devem ser encarados como um investimento que vou utilizar, comprovada sua eficácia, para se ter retorno em leite, saúde animal, reprodução ou outros, e, se não se pagarem, não uso”, recomenda o médico veterinário Marcos Neves Pereira, pesquisador e professor da Universidade Federal de Lavras (Ufla), em Minas Gerais. Por exemplo, no caso da metionina para aumentar a proteína do leite, é preciso ter um prêmio adequado do laticínio para compensar. Assim, não existe uma conta única para todos.
Pereira avalia que, no geral, as fazendas têm utilizado corretamente os aditivos e, com bastante frequência, o bicarbonato de sódio como tamponante para evitar a queda do pH do rúmen. Ele acredita que as maiores falhas ocorrem no seu uso quando a propriedade não está com uma dieta e manejo adequados e com problemas, pois os aditivos devem ser empregados para ajustes finos. Outra falha frequente que aponta é errar na dose, tanto para mais quanto para menos.
Ele indica ainda que é preciso considerar as possibilidades de resposta alta ou baixa, o que depende da vaca, da dieta, se se está no verão ou no inverno e se são animais de alta ou baixa produção. Caso não funcione numa propriedade, não quer dizer que noutro cenário não seja efetivo. Os aditivos, como esclarece, não possuem efeito acumulativo, ou seja, usar vários deles imaginando que se cada um puxa um litro de leite a mais ao se usarem vários deles o volume saltará para 20 litros.
“Existem muitos produtos no mercado e é preciso definir prioridades e escolher a marca, o fornecedor, se o produto é bom e tem pesquisas e testes no Brasil, comprovando seus resultados”, enfatiza. Ele explica que em fazendas comerciais não é possível se fazerem testes para isso, embora reconheça que algumas o façam, isso porque é preciso se ter método e grupos-controle. Com o suporte técnico da empresa informando quanto custa, quanto será usado e a resposta esperada, o produtor e o consultor da fazenda tomarão a decisão e acompanharão os resultados.
Diferentemente da produção de leite, que é palpável, Pereira observa que nem tudo é fácil de mensurar, como impactos na saúde animal, e muitos dos efeitos dos aditivos são sutis e não surgem de um dia para outro, daí a necessidade de pesquisas e testes da indústria evidenciando seu potencial. No caso de uso da levedura para puxar o leite, lembra que é possível se calcular que se o gasto for de R$ 0,50 vaca/dia e o ganho de um litro a mais, sendo vendido por R$ 2,00, será quatro vezes o valor do investimento, “o que é bom demais”, reconhece.
Os probióticos, dentre eles as leveduras, são muito utilizados, pois seu custo animal/dia é baixo, não têm restrições de mercado e podem ser utilizados em diferentes situações, como estimular a produção de leite, e também atuam para reduzir a acidose e o estresse calórico.
Longevidade – Os aditivos, como aponta o professor da Ufla, estão disponíveis e podem ser utilizados em qualquer situação, desde que seja comprovado, em testes, que são seguros aos animais, aos seres humanos, ao meio ambiente e que trarão ganhos.
Como um problema sério do setor leiteiro é a baixa longevidade das vacas, ele sugere que um importante uso dos aditivos seria para reduzir o descarte dos animais, indicando que as principais causas são reprodução, mastite (imunidade) e problemas de casco. Produtos que melhorem isso merecem atenção, tornando as vacas mais saudáveis e férteis.
Existem aditivos utilizados para categorias e fases específicas da vida do animal, pois não se terá uma resposta que cubra o investimento ao se fornecer para todos os animais. Como exemplo, Pereira cita a colina, direcionada para o metabolismo hepático de vacas no pré-parto e recém-paridas. Mas uma limitação prática que pode ocorrer em seu fornecimento é que, como a maioria das fazendas brasileiras é pequena, e mesmo as grandes não possuem tantos animais, fica difícil se formarem lotes homogêneos em número justifique a alteração da rotina de fornecimento da ração.
Marcos Pereira comenta que existe muita pesquisa sendo feita e divulgada no Journal of Dairy Science, o mais importante veículo de artigos acadêmicos do setor, e afirma que aguarda com expectativa as novas informações que podem surgir sobre aminoácidos, em agosto, com a nova publicação de referência norte-americana NRC (National Research Council).
Seguindo a tendência mundial do mercado consumidor por produtos naturais, ele acredita que esta seja a área na qual os investimentos em pesquisas e produtos devam crescer mais, citando em particular os prebióticos e os probióticos.
Ele conta que um campo no qual têm surgido novas informações se refere aos diferentes mecanismos de ação de um mesmo aditivo. Um dos casos são os óleos essenciais, produtos naturais que antes eram destinados a atuar no rúmen contra acidose, mas que hoje se sabe que atuam também na dilatação dos brônquios do pulmão, assim como na melhoria da eficiência alimentar das vacas.
Algumas dúvidas – “O aditivo é utilizado quando o manejo da fazenda já está redondo, a dieta adequada e o animal em conforto, aí ele entra para resolver situações pontuais e não o problema todo da fazenda”, reforça a zootecnista Lísia Bertonha Correa, nutricionista de bovinos leiteiros na Agroceres Multimix.
Atuando a campo, ela relata algumas dúvidas que produtores têm demonstrado em relação a certos aditivos, como os tamponantes, para evitar a acidose do rúmen. Como existem vários deles com ação diferente, por exemplo, de maneira mais rápida ou lenta e aplicados em quantidades diferentes, a questão é qual deles utilizar. “Daí a importância da presença de um técnico”, indica a nutricionista.
Outra situação diz respeito à biotina, que geralmente é associada à produção de queratina para os cascos, mas que produtores desconhecem que também está envolvida no balanço energético da vaca, ajudando a puxar o leite. Também aponta que poderiam ser mais conhecidos os benefícios da levedura viva Saccharomyces cerevisiae, que, além de melhorar a absorção do amido do milho contido na ração, ajuda a controlar a acidez ruminal.
Igualmente gera dúvidas entre os produtores o uso dos óleos essenciais, que têm sido indicados, por exemplo, em substituição à monensina para produtores que querem se aproximar daquele consumidor da linha natural. Ambos possuem efeito similar, melhorando a fermentação ruminal, mas a monensina foi proibida na Europa por receio de resíduos no leite e existe possibilidade de que essa restrição também ocorra no Brasil. Os óleos entram em maior quantidade na ração e são de um valor um pouco mais elevado e ainda não são muito utilizados.
Embora os aditivos possam ser adquiridos isoladamente, Lísia sugere que o sejam juntamente com o núcleo mineral, pois, como são adicionados em quantidades reduzidas, pode-se não conseguir uma mistura bem homogênea se forem batidos na propriedade.
A nutricionista avalia que são bem poucas as reservas na aplicação dos aditivos, indicando em particular o uso criterioso do bicarbonato de sódio na dieta de vacas pré-parto, já que o sódio em excesso acarreta edema de úbere, e, no restante, são questões que envolvem mais o valor gasto e o retorno obtido.
Como tudo na lactação é importante e se veem os resultados em produção de leite, aponta que é aí onde são feitos os maiores investimentos e nas vacas de maior produção.
Todos os Direitos Reservados - Balde Branco © 2023
Personalidade Virtual