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Inoculante acoplado à bica da colhedora – silagem de planta inteira de milho

SILAGEM

ADITIVOS

ferramenta pra garantir a qualidade da silagem

A máxima na produção da silagem é fazer tudo bem feito e usar os aditivos para torná-la ainda melhor

João Antônio dos Santos

A primeira coisa que o produtor precisa ter em mente quando pensa em produzir silagem para alimentar vacas leiteiras é garantir a qualidade desse alimento, preservando todos os seus nutrientes por um longo tempo. Daí ser importante planejar bem, escolher os híbridos adequados à sua região e seguir todos os procedimentos recomendados para a cultura e tomar os cuidados na colheita, no transporte, na ensilagem e na vedação do silo. E, se nesse processo ocorrer algo anormal, ele dispõe das tecnologias de aditivos para minimizar ou solucionar o problema, garantindo a qualidade da silagem.

Em relação a esses aditivos, temos a explicação do professor Patrick Schmidt, coordenador do Centro de Pesquisas em Forragicultura (CPFOR), da Universidade Federal do Paraná (UFPR): “Aditivos são microrganismos ou substâncias diversas que são adicionados nas silagens para cumprir funções específicas. Existem diversos tipos de aditivos, com diversas finalidades. Conhecer isso é essencial para tomar a decisão correta na hora de escolher o que aplicar durante a ensilagem”.

Ele ressalta que, quando a escolha é correta, espera-se que o aditivo atue reduzindo as perdas e preservando nutrientes durante o processo de ensilagem e após a abertura dos silos. Mesmo em silagens muito bem feitas, algumas perdas acontecem em função do metabolismo celular da própria planta picada e da ação de uma infinidade de microrganismos presentes nas forragens. “Os aditivos agem principalmente nessas perdas consideradas ‘invisíveis’, pois elas ocorrem na forma de gases (majoritariamente dióxido de carbono – CO2)”, explica.

LEMBRE-SE SEMPRE: OS ADITIVOS SÃO COMO UM AJUSTE FINO PARA MELHORAR PONTOS CRÍTICOS DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DA SILAGEM

Por sua vez, a zootecnista Luciana Lima, da Insilo Consultoria, frisa que, se forem utilizados de maneira correta, os aditivos podem proporcionar os seguintes benefícios: redução nas perdas de matéria seca, preservação dos nutrientes, aumento da estabilidade aeróbia e, pela qualidade desse alimento, melhoria no desempenho animal, no caso, a produção leiteira. “É importante salientar que o uso de aditivos não corrige falhas que possam ocorrer durante todo o processo de ensilagem, e esta tecnologia deve ser adotada depois que todas as variáveis agronômicas e de manejo estejam adequadas.”

Classificação dos aditivos – Schmidt explica que há várias formas de classificar os aditivos. Os mais comuns no Brasil são os inoculantes microbianos, alguns aditivos químicos e os absorventes de umidade.
Os inoculantes são compostos por diferentes cepas de bactérias com diferentes modos de ação benéficos ao processo de ensilagem. Sua finalidade é estimular para que a fermentação aconteça de forma rápida e eficiente.
As bactérias homoláticas são muito hábeis em aumentar rapidamente sua população e competir com os outros microrganismos, produzindo grandes quantidades de ácido lático, que causa redução no pH e paralisa o crescimento dos competidores. “Já as bactérias heteroláticas produzem outros ácidos, como o acético, que vão atuar após a abertura do silo, atrasando o aquecimento e a degradação da silagem exposta ao ar”, diz ele, observando que esse mesmo efeito também é esperado como resultado dos aditivos químicos que, em geral, combatem as leveduras (fungos unicelulares responsáveis pela degradação da silagem após a abertura do silo).

Patrick Schmidt: "Existem diversos tipos de aditivos, com diversas finalidades. Conhecer isso é essencial para tomar a decisão correta na hora de escolher o que aplicar durante a ensilagem"

Os aditivos químicos têm como função inibir o crescimento de microrganismos prejudiciais ao processo, como as enterobactérias, as leveduras e os clostrídeos. No Brasil, os aditivos químicos mais comuns são a ureia, o benzoato de sódio e a cal virgem.

Por fim, os absorventes têm como função aumentar o teor de matéria seca e reter umidade em forragens úmidas, como os capins, e ainda fornecer nutrientes e melhorar a qualidade da silagem. Os produtos mais comumente usados são o farelo de trigo, a casquinha de soja e a polpa cítrica peletizada. “Conhecer as características das forragens e os desafios no processo permite tomar a melhor decisão dentre os grupos disponíveis”, assinala o professor.

De maneira geral, acrescenta Luciana, os microrganismos presentes nos inoculantes bacterianos só vão começar a crescer e produzir os ácidos desejados quando o silo for vedado e houver pouco ou nenhum oxigênio. “Quanto mais eficaz for o processo de ensilagem, mais rapidamente o oxigênio se esgotará dentro do silo. Assim, o ambiente adequado para o crescimento das bactérias vindas do inoculante será antecipado.”

Luciana Lima: "Dois meses é o tempo mínimo de estocagem da silagem para que o inoculante tenha o efeito desejado. Não há milagre de abrir o silo antes do tempo e ter os reais benefícios dos inoculantes"

Schmidt explica que os absorventes evitam a produção de efluentes (chorume) no silo, retendo nutrientes e até estimulando a boa fermentação nas silagens de capins e outros resíduos úmidos.

Em relação ao uso de aditivos químicos (ácidos orgânicos), Luciana observa que ele está crescendo no mercado. “É feita a aplicação direta de uma mistura de ácidos (por exemplo: ácido lático, ácido propiônico, ácido acético, ácido benzoico, etc.), que atuam inibindo o crescimento das leveduras, de outros microrganismos indesejáveis e dos fungos durante o pós-abertura.”

Ela enfatiza um ponto muito importante neste tópico: mesmo que o processo de ensilagem seja bem feito e que o oxigênio se esgote rapidamente, todos os microrganismos que requerem a ausência do ar precisam de, no mínimo, 60 dias para ter todo seu efeito pronunciado. 

Painel de silagem de grãos de milho reidratado deteriorado

“Ou seja, 60 dias é o tempo mínimo de estocagem da silagem para que seu inoculante tenha o efeito desejado. Não existe milagre em abrir o silo com 15 dias e ter os reais benefícios dos inoculantes”, diz, detalhando que as  bactérias precisam de tempo para crescer, consumir os açúcares, fermentar, produzir ácidos e estes terem os efeitos nos demais microrganismos.

Também no tocante ao uso dos aditivos químicos, Luciana faz questão de alertar sobre o engano de muitos produtores, que acreditam que, ao usar a mistura de ácidos (aditivos químicos), o alimento ensilado se torna ácido prontamente, o que os leva à abertura precipitada do silo. “Isso não é verdade. Mesmo que a aplicação de ácidos orgânicos seja feita, é recomendado esperar pelo menos 60 dias para que estes tenham seu efeito esperado no pós-abertura.”

Schmidt chama a atenção para um ponto relevante: “Aditivo é como um ajuste fino, para melhorar pontos críticos do processo”, o que reforça a necessidade de o produtor conhecer as características da planta a ser ensilada. As diferentes plantas se comportam de forma diferente no silo e, por isso, precisam de correções pontuais. “Silagens de milho e sorgo colhidas no ponto certo (30% a 35% de matéria seca) não produzem efluentes, então não faz sentido se pensar num absorvente. Por outro lado, podem ter a produção de gás e as perdas reduzidas com uso de um inoculante”, diz ele, frisando que, quanto maior o tempo entre o início e o fechamento do silo, mais importante é o uso do inoculante para estimular a boa fermentação.

Luciana reforça esse alerta, observando que o uso de aditivos deve ser recomendado com base no “problema” que o alimento A ou B tenha. “Por exemplo, a silagem de milho, quando colhida no momento adequado, tem elevado valor nutricional e não acarreta problemas com a fermentação, mas pode possuir problemas no pós-abertura, ou seja, tem facilidade em deteriorar. Sendo assim, o uso de inoculantes que inibem a deterioração aeróbia da silagem pode ser indicado.”

Ela cita outro exemplo, que são as silagens de grãos de milho, como o reidratado, o grão úmido ou a silagem de espigas. “É recomendado o uso de aditivos que inibem a deterioração aeróbia, visto que esses alimentos são muito suscetíveis às perdas no pós-abertura.”

Processo de compactação. Rolo acoplado ao trator para conferir mais peso

Cuidados e aplicação – Quantos aos cuidados que deve ter o aplicador do aditivo, Schmidt explica que os inoculantes microbianos não são patogênicos e não oferecem risco às pessoas e aos animais. Por outro lado, são organismos frágeis e que não toleram grandes variações de temperatura. Devem ser diluídos em água limpa e sem cloro, e aplicados com equipamentos limpos e sem resíduos de produtos químicos. A aplicação deve ser em toda a massa, da forma mais homogênea possível, pois “a bactéria não anda no silo” e só vai crescer onde for aplicada.

Ele reforça que o ideal é a aplicação direta na bica da ensiladeira durante a colheita, tomando-se muita atenção com a regulagem da vazão. A maioria dos inoculantes comerciais vem em frascos ou sachês suficientes para 50 toneladas de forragem (cerca de 1 hectare de milho).

Já os absorventes de umidade são aplicados em grandes volumes (50 a 100 kg/tonelada de forragem) e devem ser distribuídos na seguinte proporção: metade da dose no fundo da carreta que vai buscar forragem picada, e outra metade adicionada no silo, durante a compactação.

Quanto ao custo dos aditivos, Luciana explica que no mercado há diversas empresas fornecedoras de inoculantes para silagem e os preços variam entre elas. “O produtor deve estar atento para comprar produtos de empresas idôneas e que realizam experimentos com seus produtos, em laboratórios de universidades ou de centros de pesquisa, e comprovem que tenham resultados positivos.”

Desde que o aditivo e/ou inoculante sejam aplicados de forma correta, considerando-se todas as etapas de manejo bem conduzidas, certamente haverá benefícios para o produtor. “Os ganhos ocorrem desde a redução das perdas de matéria seca, preservação dos nutrientes, melhora do valor nutritivo (silagens de milho/grãos quando estocadas por no mínimo 60 dias), o que contribui para o desempenho na produção dos animais”, afirma ela.

Schmidt observa que, em geral, os inoculantes microbianos custam cerca de 5% do custo da forragem, e podem reduzir até 10% da perdas fermentativas. Ele orienta que o produtor deve solicitar ao vendedor resultados de ensaios a campo, que mostrem a eficiência do produto, para auxiliar sua tomada de decisão. “Para os outros tipos de aditivos, a tomada de decisão é diferente, pois eles podem ser essenciais para o sucesso na ensilagem.”

Para os entrevistados, quanto maior o risco de problemas com a forragem, mais importante é o uso do aditivo. Schmidt cita que um bom exemplo é a silagem de cana-de-açúcar, em que as perdas são muito elevadas sem o aditivo correto, e seu uso é considerado obrigatório. “Em silagens de milho e sorgo, quanto mais lento e difícil o processo (tempo prolongado para fechamento do silo, picagem ruim, compactação deficiente, etc.), mais importante é o uso dos inoculantes microbianos.”

Ele destaca que o produtor deve conhecer sua forragem e seu processo de ensilagem. “Se houver riscos de atrasos no fechamento do silo, por quaisquer motivos, o uso de um inoculante passa a ser fundamental. O produtor deve estudar o assunto, conhecer os pontos fracos do seu processo e a vulnerabilidade da forragem. Isso o ajudará na decisão.”

O professor observa que o acompanhamento de um técnico não é obrigatório, mas ele pode agregar muito, ajudando o produtor na busca de informações técnicas, planejamento e execução. No Laboratório do Centro de Pesquisas em Forragicultura/UFPR, são testados diversos aditivos para silagens das mais variadas forragens. E quanto àquele conceito que se ouve no campo, de que “silagens de milho não precisam de aditivos”, não é verdade, diz, taxativo. “Temos nos surpreendido com o potencial de resposta de alguns produtos. Muitas empresas investem no desenvolvimento de novos aditivos, e essa área está em constante evolução”, destaca, acrescentando que o acompanhamento de um técnico, seja ele autônomo, da cooperativa, de empresas ou de órgãos públicos, pode ajudar muito o produtor nas tomadas de decisão.

Sintetizando a visão tanto do professor Schmidt, como da consultora Luciana Lima, da Insilo, o segredo para se obter silagem de alta qualidade pode ser dito numa palavra: capricho. Pequenos produtores, com estrutura limitada e silos na terra, conseguem produzir silagens de excelente qualidade, inclusive premiadas em concursos. “Precisa ter atenção, zelo, estudo e dedicação. Da mesma forma, produtores grandes e com muita tecnologia, vez ou outra, erram feio na silagem, por se esquecerem desses conceitos básicos”, arremata o professor.

Mais informações: Luciana Lima, e-mail insiloconsultoria@gmail.com, tel. (31) 98601-6504; Patrick Schmidt, e-mail patricks@ufpr.br

Painel de silagem de planta inteira do milho, sem qualquer ponto de deterioração

Como evitar falhas na produção de silagem

 

Segundo Patrick Schmidt, as falhas mais comuns são:

• Colheita na hora errada, muito precoce ou tardia. Para evitar, o produtor deve conhecer o ponto de colheita da cultura e monitorar o teor de matéria seca da planta, o que pode ser feito facilmente em um forno de micro-ondas comum;
• Compactação ruim. Às vezes, por falta de trator, pressa ou até descuido, a compactação fica ruim, sobrando muito ar na silagem e prejudicando a fermentação. Quanto mais compactada a silagem, melhor vai ser a qualidade dela;
• Lona de baixa qualidade e vedação ruim. Quando o silo já está cheio, todo mundo já está cansado e louco para terminar logo. Muitas vezes acabam descuidando da vedação. Vedar bem o silo, com lona de alta qualidade, é fundamental para impedir a entrada do ar (que é o maior inimigo da silagem) e garantir assim a preservação dos nutrientes. A borda completa das lonas deve ser enterrada e, sempre que possível, pesos devem ser colocados sobre a lona. E muito cuidado para que não haja furos. Camada preta no topo do silo sempre é devido a problemas de vedação.

Informação técnica: O Laboratório do Centro de Pesquisas em Forragicultura/UFPR realiza testes de diversos aditivos para silagens das mais variadas forragens.

Superfície do silo deteriorada, com grande perda material

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