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Pastagem corretamente adubada e bem manejada: abundância de volumoso de alta qualidade

PASTAGEM

Adubação e manejo do pasto:

essenciais para o sucesso do sistema

Para poder explorar todo o potencial da pastagem, o produtor não pode descuidar desses dois aspectos que são cruciais para garantir alta produção de alimento com qualidade para os seus animais

João Antônio dos Santos

Ivan Wendling: "Adubação de pastagens deve respeitar um conjunto de fatores inerentes à técnica, com destaque para a época de aplicação, a quantidade de adubo a ser aplicada e o que aplicar"

O significado da palavra intensificação da produção de leite em sistema de pastejo é, em última análise, produzir mais com menos, aumentando a eficiência de uso da terra. Ou seja, conforme destaca Ivan Jannotti Wendling, professor de Forragicultura e Pastagens da Universidade Federal do Espírito Santo, Campus Alegre: “Produzir mais leite em menor área de pastagens implica redução progressiva dos custos de produção e aumento da renda, desde que o manejo seja conduzido com base em conhecimentos técnicos”.

Ele reforça ainda que manter ou aumentar a produção de forragem por anos a fio depende de ações corretas de manejo da pastagem (irrigação e principalmente adubação) e de manejo do pastejo. Este manejo tem como objetivos promover o maior aproveitamento possível da forragem produzida “acumulada”, em resposta à aplicação dos insumos (água e adubo), além de aumentar a eficiência global do sistema, isto é, o quanto da forragem produzida foi consumida e efetivamente convertida em leite.

“Assim, é preciso entender as particularidades envolvidas em cada etapa da produção animal a pasto (Figura 1), de modo que as decisões de manejo resultem em retornos financeiros satisfatórios. Trocando em miúdos, o objetivo é manejar a biologia a favor do econômico – tarefa árdua, difícil, mas parcialmente, possível”, assinala.

ADUBAÇÃO CORRETA GARANTE A FERTILIDADE DO SOLO

Quanto a este quesito da adubação, Wendling orienta que, não havendo restrições climáticas e de nutrientes nas plantas (principalmente P e K), o N passa a ser o principal modulador do acúmulo de forragem na pastagem. Por sua vez, a adubação nitrogenada influencia a taxa de lotação animal e a produção de leite obtida por hectare.

“O N tem, entre outras funções, estimular o perfilhamento e aumentar a vida útil das folhas, resultando em mais forragem e em forragem de mais alta qualidade, o que reduz custos com alimentos volumosos no cocho e, principalmente, com concentrados”, ressalta o professor, acrescentando que construir a fertilidade do solo por meio da adubação química tem lá as suas dificuldades operacionais (especialmente em pastagens montanhosas), custa dinheiro, mas é possível e é viável, desde que se atente para um conjunto de fatores inerentes à técnica, com destaque para a época de aplicação, a quantidade a ser aplicada e o que aplicar (tipo de adubo), ou seja, o “QQOQ”: Quando, Quanto, e o Que aplicar.

Quando aplicar? Para sistemas não irrigados, a aplicação de adubos deve ocorrer no período das chuvas (outubro a março), sendo que para os irrigados a adubação pode ser estendida, desde que não haja restrição de temperatura e luz. “Lembrando que a própria irrigação é técnica viável em regiões onde a temperatura de inverno seja superior a 15oC. Abaixo desta temperatura as plantas respondem muito pouco à irrigação e à adubação”, orienta Wendling.

Tendo por base a análise do solo na fase de formação e estabelecimento da pastagem, e uma vez corrigidos os teores de P e K no solo, o ideal é que o adubo nitrogenado seja aplicado logo após a saída dos animais dos piquetes, desde que haja suficiente área foliar residual (resíduo pós- pastejo), que aliás é condição importante para garantir a rebrota da planta. Na fase de uso da pastagem (manutenção), tanto o P quanto o K devem ser aplicados em cobertura, valendo lembrar da necessidade de correção do pH do solo para aumentar a assimilação desses nutrientes e assim otimizar a adubação com N.

Quanto aplicar? O primeiro passo é ter a análise de solo em mãos, repetida ano a ano, e, de posse dos resultados, chegar à necessidade real para cada caso (nível tecnológico e produtividade esperada). É importante ainda que o produtor conte sempre com a orientação de um técnico especializado.

O segundo passo é conhecer as exigências nutricionais dos diferentes grupos de plantas forrageiras, que atualmente estão classificadas em: 1) alta exigência (cultivares de capim-elefante, Panicum maximum cv. Tanzânia-1, Mombaça, BRS Quênia e BRS Zuri, e diferentes espécies de Cynodons – as gramas); 2) média exigência (cultivares de braquiária brizantha – Marandu, Xaraês, Piatã, Paiaguás, Ipyporâ, e Panicum maximum cv. Massai, Mombaça e Tamani), e 3) baixa exigência nutricional (braquiária decumbens, Humidicola, Ruziziensis, Andropogon, e Gordura).

Para sistemas de alto nível tecnológico, subentendendo que estes empregam plantas de alta exigência nutricional, recomendam-se de 200 a 300 kg/ha/ano de N; para sistemas de médio nível tecnológico a dose recomendada é de 100 a 150 kg/ha/ano de N, e para sistemas de baixo nível tecnológico (regime extensivo), é recomendável aplicar pelo menos 50 kg/ha/ano de N para manter a capacidade produtiva da pastagem e evitar a degradação, sem pretensões de aumentos de produtividade.

Vale ressaltar que, para aumentar a eficiência da adubação nitrogenada, as doses recomendadas devem ser parceladas em 2, 3, ou mais aplicações de, no máximo, 50 kg/ha de N por vez, ou seja, se a recomendação for de 100 kg/ha de N, esta dose deve ser dividida em 2 aplicações de 50 kg de N cada, e assim por diante.

Já as recomendações das quantidades de P e K, nutrientes que aumentam a eficiência da adubação nitrogenada, serão de acordo com os resultados da análise do solo e nível tecnológico do sistema de produção, devendo-se contar com uma assistência técnica competente para se chegar às doses.

Em pequenas áreas de pastagem, produtor faz a adubação a lanço, após a saída dos animais do piquete

O que aplicar? Em geral, devem ser aplicados no solo os fertilizantes que contenham os nutrientes faltantes, a fim de se alcançar algum nível de produtividade. “É preciso levar em conta a proporção de cada nutriente no fertilizante para reduzir o custo. A ureia, por ex.: fonte exclusiva de N, apresenta o menor custo de produção por kg de N (menor R$/kg de N), justamente porque o fertilizante contém cerca de 45,6% de N. Já o sulfato de amônio contém apenas 18% a 20% de N em sua composição (maior custo/kg de N), porém, além de N fornece também o enxofre”, explica Wendling, ressalvando que os adubos nitrogenados provocam a acidificação do solo, o que requer posteriores correções com calagem.

Como fonte de P, temos o superfosfato simples e triplo, entre outros, os quais promovem respostas mais rápidas das plantas e por isso são recomendados para sistemas de médio a alto nível tecnológico, e os fosfatos naturais (respostas a médio-longo prazo) recomendados para sistemas extensivos de baixo a médio uso de tecnologias. Já o cloreto de potássio é fonte exclusiva deste nutriente, contendo cerca de 58% de K em sua composição.

Alternativas no mercado são as formulações N-P-K, como o 30-00-10; o 20-00-20, e o 20-05-20. A escolha pelas fontes exclusivas de nutrientes ou pelas formulações passa pelo custo de aquisição, e normalmente as formulações são mais baratas.

Outro ponto de suma importância diz respeito à preservação da estrutura do solo (rearranjo das partículas), de modo a manter a atividade do sistema radicular e aumentar a eficiência dos insumos aplicados (água e adubo).

MANEJO DO PASTEJO: O PONTO CERTO PARA ENTRADA DOS ANIMAIS SEGUNDO O TIPO DE FORRAGEIRA

A Esalq-USP, em Piracicaba (SP), tem contribuído com importantes estudos que indicam o momento em que a rebrota das plantas deve ser interrompida, isto é, o momento em que as plantas estariam aptas ao pastejo. Segundo explica Wendling, “esses estudos se baseiam na interceptação de luz pelas plantas e determinam que para cada tipo de planta forrageira existe uma altura correspondente à interceptação de 95% da luz solar (Tabela 1)”.

Pela Tabela 1, nota-se que as alturas para a interrupção da rebrota (altura pré-pastejo) são normalmente superiores para plantas de porte alto e inferiores para as plantas de porte baixo, e as alturas de resíduo pós-pastejo correspondem a aproximadamente 50% da altura de entrada, ou seja o animal deve comer pelo menos a metade do que tem.

De maneira consistente, os estudos desenvolvidos pela Esalq e parceiros verificaram que sob valores de interceptação luminosa superiores a 95% a proporção de colmos na planta aumentava consideravelmente, resultando em maior acúmulo de fibras e redução de proteína bruta e energia para os animais em pastejo.

É fundamental observar o momento certo para a entrada dos animais (lado a lado, o piquete com o resíduo depois do pastejo e outro com as plantas em crescimento)

Ajustes no manejo – Para pastagens manejadas em sistemas de alto nível tecnológico que são irrigadas e recebem quantidades expressivas de adubos, deve-se ajustar a intensidade e a frequência de pastejo, o que se consegue por meio do aumento da taxa de lotação animal, em pastagens manejadas pelo método da interceptação luminosa (IL 95%), e pelo aumento da taxa de lotação animal associado à redução do período de descanso, para o caso de pastagens manejadas pelo método do pastoreio Voisin, em que a interrupção da rebrota da planta (período de descanso) é baseado em dias fixos.

Altura do resíduo – Outro ponto de suma importância diz respeito à altura do resíduo, admitindo-se que sob menores alturas a renovação dos tecidos aéreos é maior (principalmente folhas), devido à maior transmissão de luz para as plantas, o que estimula a formação de novas folhas e novos perfilhos.
Repasse – Ao fim do pastejo do primeiro lote de vacas, caso ocorram sobras excessivas de forragem, deve-se proceder ao repasse para reduzir a altura do resíduo, o que se consegue com o pastejo de lotes de vacas menos produtivas.
Com o ajuste da frequência e intensidade de pastejo e com o repasse, a estrutura do pasto, o valor nutritivo e a eficiência de pastejo são mantidos ou até mesmo otimizados, justificando os investimentos em adubos e irrigação e garantindo o retorno econômico, assinala Wendling.

Sistema silvipastoril – Vale observar que a interrupção da rebrota da planta pelo critério de altura (IL 95%) definitivamente não deve ser estratégia recomendada para Sistemas Silvipastoris, em que há forte restrição de luz pelo efeito da sombra das árvores. Nestas condições, estudos mostraram que não houve resposta do capim braquiária à fertilização com N, e a pastagem tendeu à degradação. Foram utilizadas alturas pré e pós-pastejo, respectivamente, de 19 e 12,4 cm, e o estudo concluiu que a forrageira deve ser manejada sob maiores alturas de entrada, cerca de 40 cm.
Enfim, as tecnologias disponíveis para intensificar o uso das pastagens tropicais, associadas à escolha e ao manejo correto das forrageiras, tem promovido, nas diferentes regiões brasileiras, produtividades consideradas satisfatórias e altamente competitivas, conforme os números da Tabela 2.

Em regiões onde temperaturas e luminosidades são elevadas em boa parte do ano, como no Nordeste, uma vez corrigido o principal recurso limitante da região, a água, a produção de forragem é potencializada. É o caso verificado no município de Limoeiro do Norte, no Ceará, região conhecida como Tabuleiro de Russas, em que a aplicação de elevados níveis de N (até 600 kg/ha/ano), ajustes no sistema de pastejo, como o repasse e a oferta de altos níveis de concentrado para as vacas têm promovido produtividades de até 55 mil kg de leite/ha/ano.

O produtor deve sempre buscar novos conhecimentos para explorar todo o potencial do seu sistema de produção, de acordo com a sua realidade climática, solo, forrageira e capacidade produtiva do rebanho, contando sempre com a orientação de um técnico especializado.

“O produtor deve ter em mente também que o manejo da pastagem e o manejo do pastejo conduzidos de maneira racional é condição única para viabilizar os sistemas de produção animal a pasto, tanto do ponto de vista técnico, econômico, quanto ambiental, especialmente para aqueles que empregam alto nível de tecnologia”, finaliza Wendling.

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