balde branco

Considero o ESG uma ferramenta certa, no sentido da profissionalização do produtor de leite. É a decisão mais acertada para aquele que deseja obter o melhor desempenho em sua propriedade, nos vários quesitos que cercam a produção. A Agenda ESG passa a ser um norteador para os processos de melhoria dentro do seu ambiente familiar, produtivo, social e ambiental

ENTREVISTA

PAULO SÉRGIO SILVA RAMOS

Agenda ESG não é modismo,

e sim caminho para a profissionalização do produtor de leite

Paulo Sérgio Silva Ramos é formado em Engenharia Agronômica, com MBA em Marketing do Agronegócio e especialista em Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF). É diretor da empresa Perene Agronegócios, com sede em Salvador (BA), dividindo seu tempo entre os escritórios na cidade baiana e em Goiânia. Atua em consultorias a produtores rurais no Centro-Oeste e no Nordeste, mais recentemente em São Paulo, na área de sustentabilidade no segmento de pecuária

João Antônio dos Santos

Balde Branco – Explique o que vem a ser a sigla ESG, que tem ganhado muito espaço nas mídias, inclusive no setor do agro.

Paulo Sérgio Ramos – Agenda ESG, Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança), está sendo muito divulgada e debatida, pois o consumidor consciente deseja conhecer e participar cada vez mais das cadeias produtivas das proteínas animal e vegetal que produzem o seu alimento.

BB – De maneira geral, para todos os setores econômicos, é um conceito que traz benefícios. Que tipo de benefício para a sociedade?

PSR – Há o benefício direto, em que o setor produtivo passa a produzir de forma sustentável, tendo nova visão e conceito para o uso mais racional dos recursos naturais, redução da geração de resíduos, e valorização do tempo (recurso) dos profissionais envolvidos no processo produtivo, poupando-os de esforços desnecessários e insalubres. Já o benefício indireto para a sociedade revela-se na qualidade de vida de todos os cidadãos, que passam a ter mais acesso à alimentação segura, bem como ao meio ambiente protegido e valorizado.

BB – Especificamente, qual sua importância para a cadeia produtiva do leite e, em particular, para a pecuária leiteira?

PSR – O mercado consumidor, com consumidores cada vez mais conscientes, exigentes e participativos, está ávido por produtos social e ambientalmente corretos. Portanto, os produtores que aplicarem o conceito da Agenda ESG na pecuária leiteira encontrarão um mercado mais disposto a pagar valores diferenciados pelos produtos. Ou seja, esse produtor pratica uma pecuária sustentável e rentável, independentemente de seu porte. Para citar um exemplo: em fazendas onde presto consultoria, o produtor e funcionários dividem suas atividades entre o manejo dos animais com o viveiro de produção de diversas espécies arbóreas nativas para proteger as áreas de nascentes, de mata ciliar, de preservação permanente e também de pastagens. É, como já disse, um esforço de muitos pecuaristas em investir em sustentabilidade e rentabilidade de seu negócio, oferecendo ao consumidor final produtos de qualidade, cada vez mais seguros e confiáveis. Este, acredito, é o caminho para a nossa pecuária de leite e de corte.

BB – Pode-se dizer que o ESG é mais uma ferramenta para a profissionalização do produtor de leite, principalmente para o pequeno e médio produtor?

PSR – Considero a melhor ferramenta, nesse sentido. É a decisão mais acertada para o produtor de leite que deseja obter o melhor desempenho em sua propriedade, nos vários quesitos que cercam a produção. Ou seja, desde o cuidado para com as pessoas que lidam no seu dia a dia, pelo bem-estar animal, qualidade do alimento oferecido aos animais, até o momento em que acompanha a entrada do seu produto leite e derivados no próximo elo da cadeia. Agindo dessa maneira, a Agenda ESG passa a ser um norteador para os processos de melhoria dentro do seu ambiente familiar, produtivo, social e ambiental.

BB – É necessário que o produtor interessado em adotar o ESG conte com a orientação de um técnico especializado?

PSR – A assistência técnica é de suma importância para todas as atividades do agronegócio. E mais ainda quando se trata de um sistema, pois a Agenda ESG traz vários componentes que precisam se comunicar intensamente. O produtor precisa ter em mente que o caminho mais seguro para se profissionalizar, ou seja, melhorar sua gestão, produtividade, qualidade, sustentabilidade e rentabilidade, é com a ajuda da assistência técnica.

BB – Esse conceito já está chegando e/ou sendo estimulado pelos laticínios, cooperativas e empresas da cadeia produtiva do leite?

PSR – Apesar de o consumidor já estar acompanhando, avaliando e optando no momento da compra por produtos de empresas que trabalham com o conceito ESG, nas gôndolas das redes de varejo e demais estabelecimentos é comum a dificuldade de encontrar tais produtos, o que revela o necessário avanço e que será preciso envolver todos os elos da cadeia produtiva.

Agenda ESG não é um modismo ou, simplesmente, três novas letrinhas de um alfabeto temporário. Trata-se de uma filosofia de vida, uma questão conceitual, prática e de sobrevivência para a atividade leiteira”

BB – Para aplicação desse conceito, é necessário que a propriedade, mesmo sendo pequena/média, já esteja num patamar mais alto (tecnologias, manejo, gestão) em seu sistema de produção? Ou não é preciso, ou seja, digamos, pode partir do zero?

PSR – Sim, é possível partir do zero, como de qualquer outro status de manejo em que a propriedade se encontre. Mais do que patamar, status, ou grau tecnológico, o produtor precisa ter a certeza de que a Agenda ESG não é um modismo ou, simplesmente, três novas letrinhas de um alfabeto temporário. Ela se trata, sim, de uma filosofia de vida, uma questão conceitual, prática e de sobrevivência para a atividade leiteira.

BB – Por onde o produtor deve começar? Poderia comentar uma espécie de passo a passo? Quais os pontos principais que você destacaria?

PSR – A primeira atitude que o produtor rural precisa ter é buscar assistência técnica especializada, por intermédio de uma consultoria específica na área, em que a empresa seguirá com metodologia apropriada. Exemplificando alguns passos iniciais para iniciar os trabalhos: sensibilização e mobilização das pessoas envolvidas em cada processo produtivo; realização de visitas técnicas no campo e nas áreas fechadas de produção para gerar o Relatório Situacional (marco zero); diagnóstico da Agenda ESG e da maturidade da gestão na temática; definições das ambições estratégicas e iniciativas ESG; adequação do modelo de relacionamento com stakeholders (público estratégico; grupo de interesse) que se comunicam com o setor produtivo; implementação e geração de valor sustentável integrado à gestão do relacionamento com stakeholders. Esse encaminhamento inicial requer tempo para a sua realização e está diretamente ligado ao relatório situacional, ou seja, como a propriedade estava no momento da chegada da consultoria.

BB – Há propriedades leiteiras que já adotaram alguns desses aspectos do ESG (ILPF, bem-estar animal, gestão eficiente, etc.). O que elas têm a fazer agora para atingir o ESG como um todo?

PSR – As ações e atitudes de gestão produtiva representam apenas um componente dos diversos fatores da sustentabilidade, sendo que, na maioria, se fazem necessários consideráveis ajustes do que já foi adotado na propriedade, alinhando a comunicação entre os setores, pessoas, meio ambiente e pares do setor.

BB – Como atua a Perene Agronegócios na cadeia produtiva do leite, especificamente na área de ESG?

PSR – A Perene Agronegócios atua na atividade da pecuária, atendendo às duas cadeias produtivas, de leite e corte. Para a cadeia produtiva do leite, acredito que o melhor caminho seja a cooperativa ou o sindicato rural contratar o serviço especializado de empresa especializada, e então, de forma escalonada e seguindo critérios, estender o serviço para os cooperados e associados. Atualmente, a Perene Agronegócios atua nos Estados da Bahia, Goiás e, desde o fim do ano de 2021, iniciou atendimento no interior de São Paulo, mais especificamente na região de Caçapava. Apresentando resultados práticos da Agenda ESG, cito o cliente Agropecuária Gravatá, situada na Bahia, com resultados visíveis em cada quesito da Agenda ESG.

BB – Que recado você gostaria de deixar para os produtores de leite?

PSR – Você, produtor de leite, avance imediatamente neste sentido, com o intuito de atender às demandas do cliente consciente e de um mercado exigente, diferenciando-se na produção sustentável e rentável, bem como garantindo a sua permanência na atividade com saúde financeira, humana e ambiental.

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