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MERCADO

Lorraine Nóbrega

Zootecnista, Scot Consultoria

Agronegócio: rentabilidades médias em 2021 e expectativas

A Scot Consultoria calcula anualmente a rentabilidade média das atividades agropecuárias e outras opções de investimento de capital. Para esse cálculo, são utilizados modelos econômicos que levam em consideração fatores estimados para cada negócio agropecuário (índices técnicos, localização e estrutura produtiva), conforme o nível tecnológico. Nesse sentido, ressaltamos que os resultados apresentados podem ter significativa variação, conforme alteração dos índices produtivos.

Com a pandemia e queda na economia mundial, a cotação do dólar subiu em 2021 (8,1%). No mais, o cenário de incertezas aumentou a procura pela moeda norte-americana. Os investimentos em ouro, principal investimento em 2020, tiveram valorização modesta de 2,7% no ano passado.

Após estímulos financeiros para combate à pandemia, a inflação, que afetou os mercados globais, foi destaque. No Brasil, o IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna), teve alta de 17,4% no acumulado do ano passado, acima do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que encerrou 2021 com variação de 10,1%.

O Ibovespa, descolado das principais bolsas no mercado internacional e influenciado pela maior atratividade em investimentos de renda fixa após o aumento da taxa básica de juros no País (Selic), teve uma forte retração em 2021, de 11,9%. Já dentre as atividades agrícolas e pecuárias, os destaques foram a soja e o milho (agricultura anual), que apresentaram rentabilidade média de 14,4% em 2021.

Os preços dessas commodities subiram fortemente em 2020 e seguiram a trajetória de alta em 2021, puxados pela demanda aquecida (mercado interno e exportação), câmbio em alta e baixos estoques internos.

Já na pecuária de leite, os preços do leite ao produtor subiram consideravelmente em 2021 frente a 2020 devido à produção menor, prejudicada pelo aumento nos custos de produção e clima mais adverso no Sul do País. No entanto, os resultados da atividade foram prejudicados pelo aumento expressivo nos custos de produção, principalmente nos sistemas de baixa produtividade, que tiveram resultados negativos por mais um ano.

As expectativas para 2022 são de manutenção dos preços em patamares elevados para a soja e o milho, com a demanda interna aquecida e, por ora, um câmbio favorável às exportações brasileiras. Além disso, as quebras de produção na América do Sul, comentadas na última edição, devem manter a oferta global, principalmente de soja, ajustada.

No entanto, a atenção será com relação aos custos de produção para a próxima temporada (2022/23), visto a disparada nos preços dos adubos e defensivos no mercado brasileiro em 2021. Para o leite, o cenário é de oferta de matéria-prima (leite cru) mais ajustada, mas as incertezas com relação à demanda ainda pairam e podem limitar as altas nos preços do leite ao produtor.

Cenário da produção de leite no Brasil

Em 15 de março, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os resultados da Pesquisa Trimestral do Leite. Segundo o relatório, que apura o volume de leite adquirido e industrializado pelos laticínios brasileiros com inspeção municipal, estadual e federal em 2021, foram captados 25,1 bilhões de litros em 2021, uma queda de 2,2%, ou 561,9 mil litros, em relação a 2020.

O fenômeno climático La Niña derrubou a produção leiteira no último trimestre de 2021. A estiagem na porção ao Sul do Brasil, que perdura – em menor intensidade – até o momento, prejudicou as bacias leiteiras do Paraná e do Rio Grande do Sul, importantes produtores.

Os déficits de precipitação de chuvas em relação à normal atingiram os 300 milímetros em boa parte de Mato Grosso do Sul, com exceção à região nordeste do Estado, e em todo o território de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Os impactos não foram sentidos apenas na produção leiteira. A Região Sul tem papel importante na produção de milho de primeira safra. A estiagem sofrida na região levou a uma severa quebra. A previsão é de queda de 32% no Rio Grande do Sul, de 0,8% em Santa Catarina e de 11,4% no Paraná, totalizando 1,8 bilhões de toneladas a menos em relação à safra 2020/21.

Alta dos grãos – O cenário não foi diferente para a soja, cuja produção também caiu. Está prevista uma queda de 41,7% na produção da safra atual frente à anterior, equivalente a 17,9 milhões de toneladas. No Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná estimam-se recuos de 46%, 10% e 40,9% na produção, respectivamente, na mesma comparação.

Os preços das sacas dos grãos, que já estavam em patamares elevados, tiveram aumentos expressivos a cada revisão para baixo da produção estimada pelos órgãos oficiais ao longo dos últimos meses. Os impactos do clima não foram a única adversidade que o produtor encontrou. Tivemos aumentos no custo de produção, principalmente com a alimentação concentrada, devido ao cenário exposto.

Entretanto, não só a alimentação concentrada pesou no bolso do produtor: a cotação dos fertilizantes, combustíveis e suplementos minerais também subiu.

Mercado do leite adianta período de entressafra

A tendência de preços no mercado do leite, que vinha em baixa desde outubro, começou a se inverter no pagamento de março, que remunera a produção de fevereiro. Considerando a média nacional, a alta foi de 1,1% no comparativo mensal, com o leite padrão (sem a bonificação por qualidade) cotado em R$ 1,95/litro.

Esse movimento se deu em função da queda na captação de leite nas bacias leiteiras do Centro-Sul, responsáveis por grande parte da produção nacional.

O clima, que tem sido um vilão da pecuária leiteira nos últimos anos, devido às intempéries que afetam não somente a pastagem como também a produção de grãos, pressionou a produção ao fim de 2021 e no primeiro trimestre de 2022.

A estiagem no Sul do País e a quebra da safra de soja e milho, além das chuvas em excesso em Estados como Minas Gerais e Bahia, enxugaram a oferta de leite, que, no comparativo anual, segundo o Índice de Captação da Scot Consultoria, está menor este ano, com queda de 1,1%, considerando os dados consolidados de fevereiro. Apesar do movimento de alta nos preços que já se iniciou, a expectativa do produtor de leite não é positiva para os próximos meses, sob influência do custo de produção alto, que desencoraja já há algum tempo os investimentos na atividade.

Em março, as altas no custo apertaram as margens da atividade. A guerra entre Rússia e Ucrânia pesou sobre os preços dos combustíveis e fertilizantes, que subiram fortemente apesar do câmbio mais frouxo. Além disso, a proximidade da entressafra elevou a demanda por suplementos minerais.

Na primeira quinzena do mês de março, os preços dos alimentos concentrados, tanto energéticos quanto proteicos, aqui destacando milho, soja e farelo de soja, estiveram firmes, no entanto, na segunda quinzena recuaram, com o dólar em baixa, aumento na oferta e tensões menores com relação ao conflito no Leste Europeu.

Apesar dos recuos na segunda quinzena, no comparativo anual o preço do milho, da soja e do farelo estão, respectivamente, 7,4%, 8,1% e 7,1% maiores este ano.

Guerra na Europa e o adubo

A primeira consequência da guerra russo-ucraniana foi uma série de aumentos de custos, que, aliás, já vinham subindo em função da pandemia de covid-19. Entre eles, o do adubo, o fertilizante do solo, fundamental para o cultivo em solos tropicais. Sem fertilizante a produção nos trópicos despenca.

O Brasil importa 85% do fertilizante que consome, sendo 23% dele importado da Rússia. A guerra lá nos afeta aqui. Considerando os últimos cinco anos, em função da tremenda expansão da agricultura brasileira, a taxa de importação de adubo cresceu 7,3% ao ano.

E a produção nacional de adubo? A produção, neste mesmo período, caiu 8% ao ano. Talvez, apesar do apelo do mercado, fosse interessante o Brasil ter uma política de segurança alimentar que incentivasse a produção nacional de fertilizantes, diante da demanda crescente e projeção do consumo futuro.

Pode piorar? Por fim, para agravar o quadro, motivados pela pandemia e pelo conflito, países que dependem da importação passaram a estocar o produto, diminuindo a oferta global e consequentemente fazendo com que os preços subissem.
Com a expansão da agricultura, notadamente a agricultura racional e tecnológica, o consumo de fertilizantes aumentou. Produzir mais significa consumir mais adubo. Estamos fritos, então? O quadro é preocupante. Certamente não faltará adubo, mas o preço subirá. Já subiu.
O custo de produção aumentou, a comida ficou cara, teremos mais fome, no mundo e no Brasil. Ações para amenizar esse quadro, tais como auxílios emergenciais, deixarão de ser uma opção para ser uma necessidade.
O boicote econômico e as sanções financeiras à Rússia certamente não facilitarão o quadro para o Brasil. Se isso perdurar, a corrida será encontrar outros países produtores de adubo.

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