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Água de ótima qualidade é uma exigência para que a produção leiteira se enquadre nas normativas

QUALIDADE DA ÁGUA

Água

como fator de contaminação do leite

Estima-se que um porcentual elevado das contaminações da sala de ordenha e do leite sejam causados pela água utilizada na limpeza das instalações e dos equipamentos

João Antônio dos Santos

A água de qualidade, já abordada em reportagens na Balde Branco, é um item fundamental no sistema de produção de leite, não só no que se refere ao consumo dos animais, como também na limpeza dos utensílios e equipamentos de ordenha e tanques de resfriamento do leite. Porém, por mais que se tenha divulgado isso, ainda há muitos casos em que a água não recebe a devida atenção na propriedade leiteira. Agora, as INs 76 e 77 estabelecem exigências quanto à qualidade da água usada no sistema de produção de leite e na indústria láctea. Por isso, é tão importante a atenção dos produtores, técnicos e profissionais de laticínios quanto a essas determinações das normativas (veja quadro).

Por essa razão, vale alertar os produtores sobre a necessidade de se armar de todas as providências para garantir a produção de leite de alta qualidade – do manejo dos animais, passando pelos cuidados sanitários e alimentares, até os rigorosos cuidados higiênicos na ordenha. E que tenha certeza de que em todas essas etapas precisa dispor de água de qualidade.

Porém, muitos se esquecem de que a qualidade da água utilizada na sala de ordenha, por exemplo, pode ser um fator comprometedor da qualidade do leite. No percurso da fonte de abastecimento até a torneira da sala de ordenha, a água pode ser contaminada por diversos tipos de patógenos e agentes químicos que vão prejudicar a qualidade do leite.

“A água tem importância essencial para a produção de leite sob dois principais aspectos: como nutriente essencial para a vaca leiteira e para uso na limpeza de equipamentos de ordenha, utensílios, instalações, higiene pessoal dos ordenhadores e resfriamento das vacas”, destaca o professor Marcos Veiga, em artigo publicado no site Milkpoint, acrescentando que se estima o consumo de até 150 litros/dia por vacas leiteiras de alta produção. Para uso na limpeza de equipamentos e da sala de ordenha calcula-se o gasto de 30 litros/vaca/dia para sistema de três ordenhas/dia.

A ampla literatura sobre o assunto mostra que a água de poços, nascentes, rios e lagos, principalmente nas áreas de intensa produção animal, está em grande parte contaminada. Em muitos casos, em diversos estados, essa contaminação varia entre 70% e 100%. “Considerando que essa água é utilizada em todo o processo de ordenha, fica claro que qualquer contaminação é transferida para o leite. É a chamada contaminação cruzada, já que o leite, antes de ser ordenhado, é um produto estéril”, alerta João Luís dos Santos, bioquímico, especialista em Gestão e Qualidade da Água e diretor da Consultoria Especializo Recursos Hídricos na Produção Animal.

João Luís dos Santos: "O tratamento completo da água, quando necessário, poderá ser realizado de forma simples e com grandes benefícios"

São várias as causas e formas de contaminação microbiológica da fonte de água numa propriedade rural. Desde a falta de saneamento (algum vizinho, que mora acima do nível da fonte e que elimine o esgoto sem o devido cuidado), à falta de proteção da fonte (animais que pastejam próximo, defecando e urinando, ou mesmo matéria orgânica do ambiente), até a contaminação do reservatório e tubulações por falta de higienização. A solução para esses casos é simples, rápida e barata: além das providências para proteger as fontes e limpeza do sistema de armazenamento e distribuição da água, é preciso fazer a cloração da água.

O especialista observa ainda que é preciso monitorar a cloração diariamente, além de realizar uma análise anual dos parâmetros de qualidade da água, o que poderá evitar prejuízos recorrentes. O tratamento completo da água, quando necessário, deve ser realizado de forma simples e com grandes benefícios.

Há ainda o risco de contaminação química da fonte de água. Embora mais raro, pode acontecer em consequência de resíduos de defensivos agrícolas ou de medicamentos (descarte inadequado de embalagens ou dos produtos). Pode ocorrer contaminação química também quando o produtor medica uma vaca e joga o leite no ralo ou no solo, o que vai contaminar a água e o solo. Ou ainda quando faz queijos e descarta o soro da mesma forma. No caso desse tipo de contaminação, a solução é mais difícil e de alto custo. Por isso, o mais acertado é trabalhar com a prevenção para evitar que ocorra.

O PRODUTOR ERRA QUANDO ‘ACHA’ QUE NÃO HÁ PROBLEMA COM A ÁGUA EM SUA PROPRIEDADE. SÓ A ANÁLISE PODE CONFIRMAR A QUALIDADE

Segundo Santos, em reportagem divulgada na Balde Branco, estima-se que seja alto o porcentual de contaminações na sala de ordenha provocadas por água contaminada. “Isso é consenso geral. Um tipo de constatação que nem precisa de pesquisas para ser comprovada. Para os profissionais que cuidam de qualidade de água e de segurança do alimento está muito claro que a água utilizada deve ser de excelente qualidade”, diz, ressaltando que há uma clara correlação entre o aumento de contagem bacteriana na água e o aumento na contaminação do leite.

Para ele, o principal erro do produtor é justamente acreditar que não há problema com a água em sua propriedade. Estima-se que ainda seja grande o número de produtores que não fazem nenhum tipo de tratamento da água. “Justificam que, desde seus antepassados, ‘aquela água vem sendo utilizada e sempre foi muito boa’. Justamente por ter sido explorada há tantos anos, sem os devidos cuidados, é que hoje essa água pode estar contaminada”, assinala, chamando a atenção que muitos desses produtores alegam ter receio de utilizar o cloro na água por deixar gosto e achar que faz mal à saúde. “Mais um equívoco, pois o cloro é utilizado mundialmente no tratamento da água desde 1908”, diz.

São vários os procedimentos para garantir a qualidade da água, e nenhum deles pode ser negligenciado: limpeza dos reservatórios e tubulações; reservatórios não podem ter acesso difícil (o que impede a limpeza ou que seja feita muito raramente); manutenção frequente dos reservatórios (caixas-d´água quebradas, rachadas, sem tampas); periodicamente fazer análise da qualidade da água; a água para o consumo dos animais deve ter qualidade; manter os bebedouros sempre limpos e com capacidade suficiente para eles.

Há ainda produtores que deixam os animais em piquetes sem fonte de água por boa parte do dia. Isso com certeza vai provocar queda na produção de leite, além de problemas para eles.

Santos observa que 85% de todas as doenças conhecidas pelo homem são de veiculação hídrica. Os tipos de microrganismos patogênicos que podem estar na água são os mais diversos.

Bebedouro nos piquetes das novilhas com água suficiente e mantido sempre limpo

Vale ressaltar ainda que a água contaminada, no ambiente dos animais, pode transmitir diversas doenças, como pododermatite, salmonelose, leptospirose, coccidiose, mastite, entre outras. Para o homem, a água contaminada pode transmitir cólera, gastroenterites, leptospirose, salmonelose, cisticercose. Já o leite é contaminado por vários agentes presentes na água, como a Escherichia coli; Pseudomonas spp., Listeria monocytogenes, Compylobacter, Salmonella spp., Staphylococcus spp., entre outros.

Os coliformes são o principal indicativo de contaminação séria na água, segundo Santos. Isso porque estão presentes no trato intestinal de todos os animais, inclusive o homem. “A presença deles na água indica possível presença de outros patógenos mais nocivos à saúde. Por serem dos mais resistentes, os coliformes são um indicador da qualidade da água. Um tratamento que os elimine certamente também destruirá outros patógenos prejudiciais”, assinala.

Parâmetros de qualidade da água – Há dois aspectos que devem ser considerados quando se trata da água de uma propriedade leiteira. O primeiro é a qualidade microbiológica, que está relacionada à contaminação por agentes patógenos. O segundo refere-se à qualidade físico-química da água, em que são avaliados o pH e a dureza, principalmente (sais podem ser pesquisados, como ferro, alumínio, zinco e manganês, que podem interferir na dureza da água).

As armadilhas, colocadas estrategicamente no ambiente, ajudam no controle das moscas

Santos explica que, para o controle microbiológico, não se deve depender de análises, mas fazer o monitoramento e a cloração constantemente: “É preciso promover a desinfecção de qualquer água, pois nunca sabemos quando a água está contaminada”. Isso porque a água pode ser mineral quando captada, mas ao entrar em contato com os ambientes externos vários fatores a contaminam. Por isso, enfatiza ele, toda água deve ser tratada. “O Ministério da Saúde/Anvisa já tornou lei que toda água para o consumo humano deve ser clorada. Isso porque se sabe que a água está altamente contaminada”, diz ele, acrescentando que se o produtor quiser garantir a saúde dos seus animais e a qualidade de seu produto deve ser um gestor da qualidade da água de sua propriedade.

Para ter essa garantia, o controle do processo de desinfecção deve ser diário. Desinfecção sem controle é dinheiro jogado fora. No mercado existem kits com metodologias muito simples que permitem ao produtor realizar a análise residual de cloro na água assegurando sua desinfecção total. Há ainda o kit de análise microbiológica para checar tanto a qualidade da água como a do leite, cujo resultado é detectado em menos de 24 horas.

Cloração da água – Uma técnica de desinfecção da água prática e acessível ao produtor de leite é a que utiliza pastilhas de cloro. “Dispondo de uma água isenta de contaminação microbiológica já são 50% da garantia de um leite de melhor qualidade. Os outros 50% ficam por conta dos procedimentos de higiene na ordenha e o correto uso dos produtos para limpeza”, salienta. Essas pastilhas são aplicadas com auxílio de um equipamento dosador muito simples, amplamente utilizado na desinfecção da água em produção de aves, suínos e bovinos. O produto deve ter registro na Anvisa e pode ser utilizado também para consumo humano, ou seja, assim tem qualidade e é seguro.

O custo desse sistema de desinfecção da água é acessível a qualquer produtor de leite, afirma Santos. Com isso, obtém significativa melhora na qualidade do seu leite, reduzindo incidência de CCS, principalmente devido à mastite de origem ambiental, bem como a diminuição dos números da CBT do leite”, destaca, acrescentando que é uma relação custo/benefício muito interessante, sobretudo se o produtor for remunerado pela qualidade do leite.

Mais informações: João Luís dos Santos – joao.luis@especializo.com.br; www.especializo.com.br

Qual a sua percepção sobre a qualidade da água utilizada na produção leiteira?


CSegundo João Luís dos Santos, essa identificação, que é feita a partir das respostas ao questionário, é importante para técnicos, produtores e laticínios, para a adequação e atendimento às INs 76 e 77, no quesito qualidade da água.

O Manual para Elaboração do Plano de Qualificação de Fornecedores de Leite (PQFL), além de conter tópicos relacionados a Boas Práticas Agropecuárias (BPA) e a pontos fundamentais para o atendimento às Instruções Normativas 76 e 77/2018 do Ministério da Agricultura, inclui recomendações e exemplos práticos que visam auxiliar empresas, técnicos e produtores na aplicação dos requisitos previstos nesta nova legislação, que com certeza serão definitivos para a melhoria do leite nacional.

No item 4.1, Ferramentas para o diagnóstico de situação, há um guia contendo perguntas de orientação para a elaboração do plano, onde uma das questões é a 4.7: A qualidade da água fornecida aos animais é boa?
A avaliação de quais parâmetros devem ser considerados a fim de estabelecer se uma água é boa ou não requer algumas observações, percepções e análises do contexto geral da água de cada propriedade.

No mesmo documento, ainda no capítulo 4, ocorrem as seguintes perguntas no item 5 do check list:
5. Qualidade da água
5.1 As fontes de captação de água são devidamente isoladas?
5.2 Os reservatórios de água são periodicamente higienizados?
5.3 Há registro da higienização dos reservatórios de água?
5.4 A água utilizada na limpeza de equipamentos é potável?
5.5 São realizadas análises para avaliação da qualidade da água?
5.6 Existe algum tratamento da água?

O documento ainda verifica que há pontos importantes a serem enfatizados nos quesitos planejamento, gestão, monitoramento, ações e verificações e auditorias.

Fundamentado nestes pontos destacados por profissionais do setor leiteiro, que se ampararam em normas e legislação vigente como as Instruções Normativas n° 76 e 77/2018 do Ministério da Agricultura, elaboramos um questionário com 10 perguntas que avaliam exatamente os estes pontos.

O questionário contém 10 perguntas com respostas de múltipla escolha, sendo que 9 focam nos requisitos do manual e uma é de identificação. A identificação é importante caso o produtor ou a empresa queira receber uma avaliação de suas respostas, quão próximo está do ideal, o que precisa fazer para se adequar e como ele está quando comparado com os demais produtores que responderam. O sistema informa que quem respondeu dedicou em média 2 minutos para concluir a pesquisa.

Caso seja um profissional do setor, de uma cooperativa ou empresa produtora de leite, ou mesmo de um segmento ligado ao setor leiteiro, ajude a divulgar o link para acesso à pesquisa: Qualidade da água na produção leiteira

Faça aqui: https://pt.surveymonkey.com/r/WZZ5TYX o download do manual: Manual para Elaboração do Plano de Qualificação de Fornecedores de Leite (PQFL)

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