balde branco

OPINIÃO

José Otávio Menten

membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), engenheiro agrônomo e professor sênior da Esalq/USP

Água e o AGRO sustentável

Desde 1982, o Dia Mundial da Água é comemorado em 22 de março, como resolução das Nações Unidas. Mas o momento atual também não deixa de ser apropriado para se refletir sobre mais essa responsabilidade do agro: produtor de água.

Além de produzir alimentos, fibras e energia verde, o agro também pode executar os “serviços ecossistêmicos”. Com os inúmeros benefícios que os ecossistemas proporcionam à existência da vida, o agro tem como responsabilidade manter tais sistemas operacionais, uma vez que as propriedades rurais compõem a maior parte do território nacional. Com isso, o agro proporciona subsistência para os seres humanos e todos os seres vivos do planeta. Os projetos de produção sustentável auxiliam na regulação e na dinâmica entre solo, água e ar, resultando na conservação de biodiversidade, balanço dos estoques de carbono e da beleza cênica. Enfim, o agro é essencial para melhorar a qualidade de vida das pessoas, de inúmeras maneiras. Além de produzir, o agro é o grande prestador desse serviço de importância ímpar, um serviço de manter o equilíbrio ambiental e econômico no planeta, portanto social e da biodiversidade.

Há a necessidade de estarmos atentos à importância da conservação da água, fundamental para a vida; água é finita e insubstituível. Devemos lembrar que, dentre todos os planetas que temos informações astronômicas, o planeta Terra é o único que sabemos existir água líquida, o que viabiliza a vida. Assim, sempre é o momento de “valorizar a água”.

Parte expressiva da água consumida pela população, cada vez mais urbana, é produzida nas áreas rurais. São as nascentes que alimentam córregos, ribeirões e rios que atendem às demandas das pessoas, tanto para o consumo e a higiene, como para o desenvolvimento de várias atividades econômicas e sociais. Tanto que as cidades se estabeleceram, via de regra, às margens de cursos d’água.

É importante que a sociedade compreenda e apoie os agricultores que, seguindo as boas práticas, apliquem técnicas adequadas de conservação do solo, protejam as nascentes, respeitem e recuperem as matas ciliares e implementem o saneamento básico nas suas propriedades rurais. Usar a água, minimizando o impacto sobre o volume e sua qualidade, é de grande importância e as conquistas nesse sentido têm sido significativas, desde sistemas de irrigação mais eficientes, até plantas mais adaptadas para menor consumo de água.

Estas e tantas atividades podem ser reconhecidas e valorizadas por meio do Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). São muitos os exemplos de produtores que, ao cumprirem com requisitos, podem receber, do Poder Público e de mecanismos de mercado, um valor em dinheiro. Este pagamento pode ser ampliado, considerando as ações positivas de sequestro de carbono, que nos protegem das mudanças climáticas. Os mercados ambientais já são realidade em todo o mundo e o Brasil é um importante “player” nesse contexto.

A cidade de Piracicaba (SP) é bom exemplo, pois criou o Programa Municipal de Pagamento por Serviços Ambientais “Pensando o Futuro”. Na fase inicial, em 2018, foram selecionadas áreas rurais com maior potencial de produção de água, dirigindo interesses da população e ativando o relacionamento com o proprietário rural. Várias microbacias (Marins, Congonhal, Tamandupá e Paredão Vermelho) foram mapeadas, contendo oportunidades para melhorar a gestão da água. Os proprietários aderiram com compromissos e para isso são remunerados. São casos como este que inúmeros municípios da região poderão, no futuro, implementar. A construção de represas para armazenamento de água poderá complementar ações para garantir ainda mais o suprimento de água na região. Isso já vem sendo implementado nos rios Corumbataí e outros da Bacia do Piracicaba.

Foi estabelecida legislação municipal adequada, alinhada com políticas nacionais, para dar total transparência ao processo de participação e avaliação. Diversos produtores rurais já vêm se beneficiando desta iniciativa, que valoriza os agricultores que estejam contribuindo significativamente com o ambiente, visando à sustentabilidade de Piracicaba, da região e do Brasil.

A água é uma das substâncias que mais devem ser valorizadas e mantidas com qualidade e disponibilidade a todos os cidadãos. Para isso, devemos promover o engajamento e o esforço na proteção das nossas fontes de água. O Brasil é privilegiado neste sentido e já sabemos que, em grande medida, mesmo distante, a Amazônia supre grande quantidade de água ao Sul do Brasil, através dos “rios voadores” que deslocam umidade que irriga as regiões produtoras do Sudeste e Sul do País. Isso mostra que a manutenção do agro produtivo é resultado da integração da ciência, de mecanismos públicos e privados, convergindo interesses de todos.

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