Foi amor à primeira vista, um encantamento. Assim começa a história de Alexandre Forssell Toscano com a beleza do campo, que se transformou em paixão pela produção leiteira, na Fazenda São Sebastião, no município de São do José Barreiro, no Vale do Paraíba (SP). Apreciador da arquitetura de antigas fazendas, ele foi passar um fim de semana em São José do Barreiro com a família, em 2010. “O clima do local, a arquitetura das sedes das fazendas antigas, a simplicidade das coisas das histórias e das pessoas sempre me encantaram”, conta o produtor, acrescentando que o que o levou até a fazenda São Sebastião foi o interesse na casa-sede, de meados de 1948, parte dela ainda de pau-a-pique. Não imaginava, porém, que essa visita mudaria sua vida.
A paixão pelo leite surgiu quando comprou a sua primeira “vaquinha” em 2012, a “Ísis, um animal mestiço”, com o objetivo de tirar leite para a família. Depois dessa aquisição, não parou mais, comprando mais algumas vacas e novilhas. Como não conhecia nada, comprou muitos animais ruins e ainda ouvia comentários negativos sobre a atividade. Como o de que a atividade era só sofrimento, que não dava resultado, que a mão de obra era muito difícil, que o produtor não tinha incentivo, e por aí vai… “E, além de tudo, não tinha nenhum histórico familiar de envolvimento na atividade leiteira. Na família ninguém acreditava que eu, que vivia de roupa social atrás de uma mesa, iria me adaptar a trabalhar no meio de estrume de vacas e silo malcheiroso”, brinca.
Ele conta que, a princípio, seu projeto era colocar um encarregado na fazenda e continuar com sua atividade em São José dos Campos, indo à fazenda aos fins de semana. Porém, não funcionou bem. “Foi muito problemático, meu deu muita dor de cabeça, pois tudo de ruim acontecia quando eu não estava na fazenda. Assim, aos poucos, fui entendendo que se meu objetivo era fazer com que a fazenda fosse lucrativa, eu teria que dedicar mais tempo à atividade. E foi o que fiz, contando com o apoio de minha esposa, que me ajudou a superar todos os obstáculos”, lembra ele.
No início, o gado era mestiço, “tipo tatu com cobra”, como diz o pessoal da região. “Cheguei a comprar animal porque gostei da pelagem, o manejo era a pasto, em época de chuva era uma “mamitaiada danada”. Sem contar as vezes em que teve de comprar roça de cana de emergência, porque a que tinha na fazenda não seria suficiente. O trato era na carroça, a falta de funcionário era constante, e muitas vezes teve de colocar o balaio no ombro na hora do trato para ajudar os funcionários. “Não foi nada fácil, inúmeras foram as vezes em que me perguntava o que eu estava fazendo ali”, diz, enfatizando que essas dificuldades em nada o desmotivaram de continuar em busca de seus objetivos na atividade leiteira: fazer o melhor para evoluir em produtividade, escala e qualidade do leite, tornando-a rentável.
Conhecimento: o caminho seguro para a profissionalização
Impulsionado por seu objetivo, Alexandre Toscano começou a buscar conhecimentos na área de pecuária leiteira e a trocar experiência com outros produtores. Fez vários cursos no Rehagro, por exemplo, e não perdia nenhum programa de TV com temática relacionada à agropecuária.
“Aprendi a identificar os bons animais, e dividi experiências com vários e renomados produtores da região, por causa dos seus trabalhos em sanidade e melhoramento genético dos animais. Ouvindo casos de sucesso, analisando os resultados de propriedade eficientes, visitei grandes fazendas e feiras e participei de torneios leiteiros e exposições, aprimorei meus conhecimentos. E aí fui identificando que a pecuária leiteira é uma atividade que, com amor, tecnologias, gestão eficiente, equipe comprometida e apoio técnico seria possível ser lucrativa”, conta.
Mais eficiência com ajustes no sistema de produção
À medida que ia aprendendo mais e mais, o pecuarista também ajustava o sistema de produção e obtinha mais eficiência nas rotinas, até que lhe foi possível uma grande virada: “Entendi que a tecnologia, a gestão e a genética seriam os meus principais aliados para alcançar meus objetivos”.
Atualmente, Alexandre se dedica 100% à atividade e conseguiu formar uma equipe de profissionais competentes e comprometidos. Isso, diz ele, lhe traz grande orgulho. Conta com 16 colaboradores distribuídos entre o manejo do gado de leite e de corte e a manutenção. “O colaborador Luís Eduardo de Souza Leodoro começou a trabalhar na fazenda aos 18 anos e, hoje, com 22 anos, já é meu braço direito e encarregado do leite. O Luís Fernando Martins veio da cidade grande sem conhecimento da atividade e hoje é o responsável por toda a parte administrativa. E poderia citar o nome de todos os outros 14 com a mesma admiração e respeito”, assinala Alexandre Toscano.
Sistema de confinamento: praticidade e garantia de conforto aos animais
Com a evolução genética do rebanho e alimentação de qualidade, optou pelo confinamento para extrair todo o potencial produtivo e reprodutivo dos animais. “Decidimos pelo modelo do compost barn. Porém, antes, estudei e discuti bastante as vantagens e desvantagens desse sistema de confinamento que visa à melhoria do conforto e bem-estar dos animais, resultando em melhores índices de produtividade do rebanho”, diz. Ele observa ainda que o compost barn para o clima e a topografia da fazenda era o sistema mais indicado. Em seguida, foi possível decidir a genética do gado. “No sistema de confinamento você pode optar por um gado mais ‘raçado’, desde que garanta todos os cuidados necessários: alimentação, sanidade e conforto.”
Melhoramento genético: vacas de alto desempenho em ambiente adequado
Com o emprego da técnica de fertilização in vitro (FIV), Alexandre explica que o caminho da seleção e do melhoramento genético pode ser encurtado em pelo menos três gerações ou cerca de dez anos de seleção. “Nós nos dedicamos muito a esse processo, pois permite rápidos saltos na produção e na qualidade do leite.”
Outro ponto que o produtor destaca é que se preocupou com a logística de movimentação do gado, algo que é muito importante. “Construímos a sala de ordenha próxima ao compost barn para o gado andar um pouco, mas não muito. Também investimos em um sistema de resfriamento antes da ordenha para diminuir o estresse térmico, que prejudica o desempenho nutricional e todo o metabolismo do animal. Além disso, nossa equipe tem todo o cuidado durante a ordenha para não estressar os animais.”
O sistema de ordenha é do modelo espinha de peixe, automatizado, com capacidade para ordenhar dez animais de cada lado do fosso. É dotado de programa de limpeza e monitorado pelo sistema de gestão. Com isso, é possível acompanhar a produção diária do animal e entender as variações de produção e vários outros indicadores, o que facilita as tomadas de decisões.
Nutrição adequada para alta produtividade
Com o aprimoramento genético dos animais Girolandos, com predominância 3/4 e 7/8, a exigência de um arraçoamento adequado a cada categoria animal é fundamental para o desempenho do sistema produtivo. “Hoje, temos técnicos nutricionistas que nos ajudam a definir qual o tipo de ração e volumoso mais indicado de acordo com as variações de mercado e disponibilidade de alimentação na nossa região”, explica Alexandre, informando que a dieta das vacas em lactação é composta por silagem de milho, cevada, grão úmido, farelo de soja, DDG, feno e minerais formulados.
Período de transição – A dieta do pré-parto é composta por silagem de milho, cevada e fórmula de minerais que resultam numa dieta aniônica. Nas dietas aniônicas são retirados os sais catiônicos (como cálcio e potássio), e oferecidos os sais aniônicos (como cloretos e sulfatos de amônio). “Também, preferencialmente, são fornecidos volumosos que aportam menos sais catiônicos e mais sais aniônicos, a concentração na dieta, de mais sais aniônicos do que catiônicos. Isso induz a uma leve acidose metabólica, que vai estimular a produção de PTH (hormônio paratireoidiano) e assim diminuir muito a incidência de torsão do abomaso, fígado gorduroso e cetose, mastite ambiental e retenção de placenta”, explica o produtor.
O consumo de volumoso no ano está por volta de 2.800 toneladas de silagem de milho. Como a topografia da região não é propícia para plantação, o produtor tem uma parceria com um agricultor, em uma cidade próxima, que produz 70% desse volume. Já para o trato do gado seco e bezerras, utiliza capim e sorgo, que são produzidos na fazenda.
Sanidade é o ponto-chave – Para o controle da sanidade dos animais e da reprodução, a Fazenda São Sebastião conta, há mais de cinco anos, com a assistência do médico veterinário Luís Henrique Costa Guimarães. Para o controle das mastites adotou-se o sistema OnFarm, uma ferramenta que identifica os principais agentes causadores de mastite em 24 horas, na própria fazenda.
“Foram vários os benefícios alcançados nos casos de mastite clínica e controle da mastite subclínica, tanto em questão de saúde quanto financeiros. Com o resultado rápido da cultura microbiológica, só utilizamos antibiótico para o tratamento quando é realmente necessário”, relata Alexandre, assinalando que graças a essa tecnologia reduziu o custo com medicamentos e consequentemente o descarte de leite, que seria feito após o uso desses antibióticos, pois se elevou a eficiência dos protocolos de tratamento, graças à identificação da bactéria que está causando a mastite. E, além de tudo, reduziu-se o risco do aumento da resistência bacteriana resultante do uso imprudente de antibióticos.
Reprodução – Alexandre observa que, na realidade, está de forma profissional no leite há cinco anos. A fazenda tem 190 animais em lactação com a produção média diária de 5.400 litros. Já há animais na fazenda com produção acima 55 litros e seu objetivo é ter o maior número de vacas com essa produção. Quanto à qualidade do leite, a média de CBT é de 4 mil UFC/ml; a de CCS, de 210 mil/células/ml; de gordura 3,77%, e de proteína, 3,34%. A Fazenda São Sebastião vende o leite para o Laticínio de São José do Barreiro, da marca Queijos Beirão.
A taxa de prenhez hoje está por volta de 35%, o intervalo entre partos de 384 dias e a média de DEL de 160 dias. A taxa de descarte dos animais da fazenda gira em torno de 6% a 7% do total do rebanho.
Em 2020, nasceram na fazenda 105 bezerras e morreram 9, com porcentual de 8,6%, sendo contabilizadas somente as fêmeas. “Não estamos satisfeitos com esse número, e nosso foco neste primeiro semestre de 2021 é adotar procedimentos mais eficientes para melhorar o resultado. Estamos estudando os melhores protocolos e manejo de acordo com a nossa realidade”, diz o produtor. E nota que o sistema de compost barn foi tão eficiente que decidiu confinar os bezerros após a desmama, assim como os animais do pré-parto, onde ficam também as baias de parição coligadas.
No quesito margem de rentabilidade, Alexandre observa que nesses últimos tempos tem feito muitos investimentos, o que não dá para se avaliar neste momento tal margem. O importante é saber que o leite é uma atividade rentável, desde que se busque permanentemente uma gestão eficiente de todo o sistema. “É necessário muita eficiência e controle para alcançar resultados positivos. Existe uma constante insegurança no mercado, mas temos confiança de que em algum momento essa atividade será valorizada da forma que merece. E a nossa maior preocupação é até quando suportaremos esses desequilíbrios de custos de produção e a receita do leite.”
Segundo Alexandre Toscano, por estar em constante evolução, sua perspectiva para iniciar 2022 é de 260 animais em lactação e 7.800 litros produção diária. “Não tenho dúvida de que vamos alcançar esse objetivo”, reforça. “Uma das coisas que mais me atraem nessa atividade é a simplicidade de tudo e de todos, aprendo todos os dias, às vezes com técnicos, às vezes com a experiência daqueles que só executam. Claro que tenho há estresses aqui também, mas quando o problema é resolvido estão todos fazendo piada e ficamos bem”, arremata.
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