balde branco

No laboratório da APCBRH, em Curitiba (PR), a média de análises de NUL gira em torno de 48 mil animais/mês, como é recomendado pelos especialistas

ANÁLISE DE NUL

Análise de Nitrogênio Ureico no Leite

precisa ser mais utilizada pelas fazendas leiteiras

Especialistas comprovam que as análises de NUL ainda são pouco utilizadas pelos produtores de leite. Algo muito preocupante, visto que essa técnica é um excelente indicador para formular de dietas de vacas leiteiras com precisão, além de ter baixo custo

Erick Henrique

Se existir um ranking apontando as principais atividades econômicas de extrema complexidade, a pecuária leiteira, certamente, deve estar no topo da lista. Afinal, são tantos fatores que o produtor de leite precisa avaliar dentro de sua gestão, que se deixar algum item de lado por algum motivo, invariavelmente estará perdendo muito dinheiro. E, por vezes, nem sabe apontar a origem desse desequilíbrio dentro da fazenda. É isso, por exemplo, o que ocorre quando não utiliza a Análise de Nitrogênio Ureico no Leite (NUL), abrindo mão de uma eficiente ferramenta de monitoramento da adequação da nutrição de suas vacas em lactação.

É como explica o médico veterinário e superintendente técnico da Associação Paranaense dos Criadores de Bovinos da Raça Holandesa, Altair Valloto: “Realmente, ainda utilizamos muito pouco essa tecnologia no País, mas estamos avançando. No entanto, vejo que há um grupo de assessores de nutrição que, não entendemos por quê,  abre mão desse indicador”, comenta, e continua: “O professor Marcos Neves Pereira, da Ufla, também disse para nós, da APCBRH, que não consegue entender como uma pessoa formula uma dieta para as vacas em lactação sem ter o acompanhamento do nitrogênio ureico no leite. Também o professor Rodrigo Almeida, da UFPR, que presta consultoria para a entidade, falou que a NUL é ferramenta mais poderosa para aferir a nutrição dos rebanhos”.

Altair Valloto: “A análise de NUL é uma ferramenta imprescindível, principalmente, para o técnico de nutrição."


A mesma amostra individual do leite da vaca pode ser analisada para CCS, gordura, proteína, lactose e NUL, aumentando as informações que estarão disponíveis aos técnicos da fazenda e diluindo o custo do transporte da amostra


 

Quem concorda também que existe a subutilização da análise de NUL nas fazendas é Marina de Arruda Camargo Danes, professora do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras (Ufla): “Sim, com certeza. Para se ter uma ideia, a Clínica do Leite, que provavelmente é o laboratório que mais recebe amostras no Brasil, analisa 60 mil tanques por mês. Somente 18% pedem análise de NUL. Para vacas individuais, esse número é ainda menor, menos de 5%. E, muitas vezes, mesmo os que fazem a análise não utilizam o resultado como ferramenta nutricional”, destaca a professora.

Segundo ela, por isso é tão importante conversar mais sobre esse assunto. “Em 2017, meu grupo de pesquisa aplicou um questionário online sobre NUL e tivemos 152 respondentes, que representavam 123 mil vacas e 3 milhões de litros de leite. Destes, apenas 63% realizavam a análise de NUL, sendo a maioria do tanque (68%) e uma vez por mês (76%). Essa análise do tanque tem pouco potencial de ajuste de dieta, uma vez que lotes de vacas na fazenda recebem dietas diferentes.”

Indagada sobre os fatores que possam, de alguma maneira, impedir os produtores de realizar as análises de NUL em suas vacas em lactação, a especialista da Ufla ressalta que, pensando em análise individual, que é a quando a ferramenta se torna realmente útil, os motivos podem ser desconhecimento da utilidade da ferramenta, não saber interpretar os dados, logística da coleta de amostras de leite individuais e, por último, custo.

“No entanto, é importante lembrar que a mesma amostra individual pode ser analisada para CCS, gordura, proteína, lactose e NUL, aumentando a quantidade de informações que estarão disponíveis aos técnicos da fazenda e diluindo o custo do transporte da amostra”, ressalta Marina Danes.

Teores muito baixos ou elevados de NUL podem afetar o ambiente ruminal e, consequentemente, a saúde da vaca

Paraná na dianteira – Mesmo com esse retrospecto pouco satisfatório a respeito das análises de NUL nas propriedades leiteiras pelo País afora, o estado do Paraná vem mudando esse panorama. Por meio da demanda dos criadores associados à APCBRH, o laboratório da entidade coleta as análises de NUL dos produtores desde o início do ano 2000. Segundo o superintendente técnico da associação, os produtores do Paraná buscavam, na época, um parâmetro para saber se a alimentação dos animais estava adequada, sobretudo aqueles que faziam o controle leiteiro oficial.

“Atualmente, temos cerca de 50 mil vacas em controle leiteiro oficial, sendo o leite analisado todo mês, e ainda fazemos o Gestão Qualidade em  mais de 50 mil vacas. Assim, acompanhamos na APCBRH, mensalmente, a análise de leite para proteína, gordura, CCS, sólidos totais. Deste total, para cerca de 50% dessas vacas, os criadores realizam individualmente a análise de nitrogênio ureico no leite. Hoje, a média de análises de NUL gira em torno de 48 mil animais/mês, como é recomendado pelos especialistas”, calcula Valloto.

Ademais, a entidade computa que em cerca de 40 mil tanques são analisados os níveis de NUL a cada mês pelos laticínios. O dirigente da APCBRH acredita que essas indústrias realizam esse tipo de análise porque elas também comercializam a ração para as propriedades, além de disponibilizarem equipes técnicas de nutricionistas que dão assessoria para um determinado grupo de fazendas. Por isso, é necessário monitorar se ocorre algum equívoco na nutrição das vacas em lactação de seus fornecedores.

“Tudo isso é de suma importância e a análise de NUL é um grande indicador, porque o custo da alimentação fornecida aos animais varia no nosso Estado de 45% a 55% do custo total da produção de leite nas propriedades, muito por causa dos custos da proteína. Com isso, o pecuarista tem um bom parâmetro para saber se está fornecendo o concentrado em demasia, ou se a vaca está jogando fora esse alimento, o que representa fatalmente prejuízos para  o produtor”, avalia o técnico da associação.

Quem entendeu o recado há muito tempo é o produtor Marcos Epp, da Agropecuária Régia, do município de Palmeira (PR). Com rebanho de 1.200 vacas da raça Holandesa em lactação, o produtor não admite falhas em seu sistema de produção. Logo, o balanço nutricional de seu plantel é feito com precisão.

“Faço há vários anos a análise individual de NUL pela APCBRH, onde consigo avaliar melhor a dieta de cada lote. Com informações por categoria, consigo avaliar se a dieta dos animais está ajustada. Aliás, utilizo essa informação de NUL com os dados de gordura, percentual de proteína e produtividade das vacas. Também faço a avaliação semanal do tanque para proteína, ureia e gordura para monitorar como anda o balanço nutricional dos animais. Desta forma, qualquer alteração na dieta ou mudança nos ingredientes, eu consigo observar se isso está afetando de algum jeito o desempenho do rebanho leiteiro”, diz o pecuarista.

Segundo a APCBRH, em três dias o produtor e o nutricionista recebem os resultados das análises de NUL

Com relação ao ganho econômico que as análises de NUL podem propiciar, Epp  ressalta que esse fator se baseia, sobremaneira, na possibilidade de acompanhar de perto como sua dieta está funcionando na prática.

“Pois uma coisa é formular a dieta no computador, e outra pode ser no momento de fornecer esse alimento aos animais. Os resultados podem ser totalmente distintos. Assim, a gente tem feito ajustes na dieta seguindo os resultados de NUL. E é lógico, na medida em que consigo otimizar a minha dieta, tenho ganho financeiro, dado que a alimentação do meu plantel representa mais de 50% do custo de produção da propriedade. E também ocorrem outros ganhos por causa da dieta balanceada, sobretudo na melhora da reprodução e da sanidade dos animais”, ressalta Epp.

Valloto faz questão de frisar que a análise de NUL é uma ferramenta imprescindível, principalmente para o técnico de nutrição. E o mais interessante é que no Paraná o custo gira em torno de R$ 0,70 por análise. “Só para ilustrar, o nosso controle leiteiro oficial possui, em média, 100 vacas em lactação, portanto o produtor desembolsa R$ 70,00/mês. Com isso, o técnico da fazenda terá uma ferramenta incrível para auxiliar o pecuarista a ajustar a nutrição do seu rebanho e economizar muito dinheiro.”

A associação tem cerca de 40 controladores de leite trabalhando a campo, que estão distribuídos pelo estado. O produtor e seu técnico podem procurar esses especialistas espalhados pelo estado do Paraná, ou entrar em contato direto com a APCBRH, para  fazer a solicitação pelo site https://www.apcbrh.com.br/.

“Imediatamente o laboratório envia uma caixa simples para leite refrigerado, bem como um manual sobre como deve ser feita a coleta do leite. Algo supersimples, basta homogeneizar o material, colocar em frascos individuais com estabilizante para conservar o leite até o envio pelos Correios. Em três dias, o produtor e o nutricionista recebem o resultado dessas análises, com divisão por lotes, gráficos, relatórios gerados pela associação”, conclui o superintendente da entidade.

Perfil da Agropecuária Régia

– 1.200 vacas em lactação da raça Holandesa
– Média de produtividade: 40 litros de leite/vaca/dia
– Sistema de produção: free stall
– Qualidade do leite: média de CCS 130 mil células/ml; CBT: média de 8 mil UFC/ml
– Proteína de 3,3%
– Gordura 3,8%

 

Epp: uma coisa é formular a dieta no computador e outra pode ser no momento de fornecer esse alimento aos animais. Os resultados podem ser distintos

PARÂMETROS DESEJÁVEIS DE NUL

Para a professora Marina Danes, da Ufla, a recomendação mais utilizada é de 10 a 14 mg/dL e não há referências específicas por fase da lactação. “Devemos tomar cuidado, porque essas recomendações vêm de outros países, com vacas prioritariamente da raça Holandesa, em sistemas de alimentação diferentes dos nossos. Além disso, vale lembrar que o NUL é influenciado por fatores não nutricionais, como raça, época do ano, e até mesmo o laboratório de análise”, ressalta ela.

Por isso, conforme a especialista, os valores de referência devem ser um guia, mas o uso do NUL como ferramenta nutricional deve levar em conta a série histórica da propriedade, sempre coletada da mesma forma, sempre analisada no mesmo laboratório e como isso muda após uma manipulação nutricional.

Já os valores baixos de NUL significam falta de proteína degradável no rúmen (PDR). A professora ressalta que isso é muito sério, pois se os micro-organismos ruminais estão deficientes em nitrogênio, seu crescimento fica prejudicado e, consequentemente, a degradação de fibra afeta negativamente o consumo. Então, de uma só vez se reduz o aporte de proteína microbiana e de energia (por queda no consumo e na degradação de fibra) ao animal, resultando em queda na produção de leite.

 O gráfico de dispersão de ureia demonstra a distribuição das vacas em relação ao teor de ureia no leite. O parâmetro desejável para a quantidade de ureia no leite pode ter uma variação de acordo com a fase de lactação conforme abaixo:

– Início de lactação (1 a 100): 12 a 16 mg/dl
– Meio de lactação (101 a 200): 10 a 14 mg/dl
– Fim de lactação (201 a 300): 8 a 12 mg/dl

Alto teor de nitrogênio ureico (NUL) no leite pode indicar que proteína em excesso foi oferecida à vaca, isto pode causar problemas ambientais, reprodutivos e ainda um prejuízo econômico, pois a proteína é o alimento que tem o maior custo sobre a alimentação. Níveis baixos de NUL podem ser causados por uma deficiência de proteína, carboidratos na dieta, fazendo com que o animal não expresse seu potencial produtivo.

Muitas vezes alguns lotes têm um alto teor de NUL no leite, por exemplo, 18,1 mg/dl. Quando analisamos a dieta, percebemos que o nível proteico está dentro do normal. Nesses casos, o que pode estar ocorrendo é um aumento nos níveis de energia da dieta para maximizar a síntese de proteína microbiana do rúmen.

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