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LEITE EM NÚMEROS

Samuel José de Magalhães Oliveira

Pesquisador da Embrapa Gado de Leite

Ascenção e queda da produção de leite no Brasil

O ainda baixo padrão tecnológico da produção nacional, a escala reduzida na produção primária e na indústria e os gargalos logísticos encarecem o produto brasileiro

A produção nacional de leite inspecionado se encontra praticamente estagnada nos últimos nove anos. A produção subiu até 2014, alcançando cerca de 68 milhões de litros/dia médios no ano. Caiu até 2016 e voltou a crescer até 2020, quando atingiu o recorde de 71 milhões de litros/ dia. A partir daí decresceu por dois anos seguidos, atingindo cerca de 65 milhões de litros/dia em 2022, praticamente o mesmo valor observado em 2013 (Figura 1).

Entre 2020 e 2022, a produção brasileira de leite recuou 5,4 milhões de litros/dia, ou o equivalente a um Uruguai a menos na produção de leite do País em apenas dois anos.

A única região brasileira na qual a produção cresceu nesse período foi a Nordeste, que saiu de 4,7 milhões para 5,1 milhões de litros/dia. A produção regrediu no Norte, de 2,8 milhões para 2,3 milhões de litros/dia, e no Sul, de 26,7 milhões para 26,1 milhões de litros/dia. Nesta última região, o decréscimo relativo foi baixo, menor que o observado no País, o que garantiu o avanço na participação sobre o total nacional, passando a ocupar o primeiro lugar.

A produção decresceu significativamente no Centro-Oeste, caindo de 8,6 milhões para 7,2 milhões de litros/dia. Um decréscimo de cerca de 1,4 milhão de litros/dia, equivalente à produção de todo o Estado de Rondônia. A maior queda absoluta, no entanto, ocorreu no Sudeste, que variou de 27,5 milhões para 24,1 milhões de litros/dia. Uma queda de 3,4 milhões, equivalente à produção de Sergipe, Bahia, Alagoas e Pernambuco juntos.

Dentre os cinco mais importantes Estados produtores de leite inspecionado, apenas Santa Catarina não tem enfrentado decréscimo de produção nos últimos anos. Nos nove anos em que a produção nacional esteve praticamente estagnada, o Estado saltou de 5,8 milhões de litros/dia (2013) para 8,1 milhões de litros/dia no ano de 2022. Os outros quatro Estados, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás, apresentaram decréscimo de produção no passado recente. Minas Gerais atingiu o pico de produção em 2020, com 17,9 milhões de litros/dia. Em 2022 produziu apenas 16 milhões, valor próximo do observado em 2011. O maior produtor de leite brasileiro tem sua produção praticamente estagnada há 11 anos (Figura 2).

O Estado do Paraná também apresentou decréscimo de produção nos últimos dois anos, após atingir o pico de 9,6 milhões de litros/dia. Rio Grande do Sul e Goiás também tiveram o mesmo comportamento. No Estado gaúcho, no entanto, o pico de produção se deu há dez anos, em 2012. A produção atual se assemelha com a observada em 2011. Em Goiás, a maior produção foi registrada em 2014, com cerca de 7,4 milhões de litros/dia. A queda foi significativa até 2022, que apresentou apenas 5,9 milhões. A produção estadual retrocedeu a níveis de 16 anos atrás, já que em 2006 exibiu produção semelhante à observada em 2022.

A produção nacional de leite tem apresentado desempenho pouco satisfatório nos anos recentes. O ainda baixo padrão tecnológico da produção nacional, a escala reduzida na produção primária e na indústria e os gargalos logísticos encarecem o produto nacional. O leite estrangeiro, em geral mais competitivo, sempre bate à porta do mercado nacional, deslocando a produção nacional, como está sendo observado neste início de 2023. Isso, somado à pandemia e à guerra recente na Europa, pressionou os custos de produção, reduzindo a oferta de leite. A superação desses gargalos, a retomada do mercado consumidor e a modernização de toda a cadeia de lácteos são urgentes para gerar um novo impulso na produção brasileira de leite.

É importante avançar em uma agenda pré- competitiva, com melhoria da qualidade do leite, melhor gestão nas fazendas e ganhos de eficiência no uso da terra, das vacas e do capital investido. No segmento industrial, a estrutura fragmentada de laticínios acaba gerando elevado custo de captação, baixo poder de mercado nas transações e uma visão mais de curto prazo, sem foco em melhorias de processo, produtos e marcas. O sucesso do agronegócio do leite passa por ganhos de escala, eficiência, investimento em conhecimento, inovação e um foco maior na competitividade.

*Coautor: Glauco Rodrigues Carvalho, pesquisador da Embrapa Gado de Leite

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