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Para evitar perder dinheiro, é preciso também que o produtor tenha uma gestão reprodutiva eficiente no rebanho

REPRODUÇÃO

Atraso na reprodução

gera entraves na produtividade da fazenda

A demora para emprenhar as vacas aptas é um problema sério e muito frequente em muitas propriedades leiteiras do Brasil, pois resulta em prejuízo que pode chegar a até R$ 500 vaca/mês

Erick Henrique

Para conseguir sucesso na produção leiteira, o produtor deve estar ciente de que é necessário ter uma gestão eficiente – financeira e zootécnica –, que lhe forneça dados que lhe permitam tomar decisões com segurança. E isso é muito válido no manejo reprodutivo, para que as matrizes fiquem prenhes no tempo desejável, evitando problemas que levem ao aumento no intervalo entre partos.

Em outras palavras, uma propriedade leiteira que não cuida do manejo reprodutivo deixa de criar protocolos para se precaver dos problemas (sanidade, nutrição, manejo e bem- estar). É também muito provável que terá de correr atrás dos prejuízos para solucioná-los, caso queira obter algum nível de produtividade sustentável, ou será obrigada a entregar os pontos e deixar a atividade.

Para dimensionar a gravidade do fato, a consultoria Cia. do Leite avaliou a diferença da produção de uma vaca no início da lactação e quando ela está no período seco. Assim, se o produtor atrasar o cruzamento de uma vaca, o que vai acontecer é que ela dará leite por mais tempo, durante o período mais próximo da secagem, bem no fim da lactação. Para a vaca produzir o máximo de leite, conforme seu potencial, precisa parir anualmente ou o mais próximo disso. Se o pecuarista atrasar esse novo parto, estará mantendo a fêmea numa lactação anterior, no período que produz menos leite.

“O dimensionamento de valores depende do custo de produção de cada fazenda e do preço do leite naquele momento. Por isso, é muito difícil cravarmos um valor exato do atraso na reprodução na propriedade. Porém, é interessante ponderar que esse cálculo varia de R$ 100 a R$ 500/vaca/mês, a depender da produção daquele animal, do custo de produção da propriedade e do preço de leite negociado no período envolvido”, destaca o médico veterinário e diretor da Cia. do Leite, Ronaldo Carvalho.

Ronaldo Carvalho: "Perdas no atraso da prenhez podem variar entre R$ 100 e R$ 500 por animal/mês"

Para o especialista, há muitos casos em que o produtor não tem informações de quantas repetições de cio o animal teve, tampouco sabe o tempo de serviço e o período que vai do parto até a nova concepção. E, sem esses dados, acaba comprometendo a tomada de decisão para melhorar o desempenho reprodutivo da propriedade. Ou seja, sem tais dados não tem sequer um norte para mudar, nem por onde começar. Daí ser fundamental, com orientação técnica especializada, fazer a gestão, com a anotação rigorosa de todos esses índices.

“Esses problemas acontecem tanto na fazenda que faz a monta natural quanto naquela propriedade que faz uso da técnica de inseminação artificial (IA), contudo bem menos, pois tende a ser mais orientada, sendo provável que processe muito bem suas informações. Ainda assim, é bom informar que o ganho das tecnologias de IA e IATF é meramente genético, porque o que realmente vai trazer aumento nos resultados reprodutivos do rebanho é a gestão, que pode ser bem feita tanto com touro como via inseminação”, reforça Carvalho.

Receber uma dieta equilibrada, na medida certa das demandas das vacas em produção, é fundamental para o bom desempenho reprodutivo

INFLUÊNCIA DA NUTRIÇÃO NOS RESULTADOS

Fatores negativos relacionados à nutrição, como subnutrição e superalimentação, podem estar relacionados à baixa fertilidade. Para que se reproduza adequadamente, a fêmea bovina precisa receber ração balanceada capaz de suprir suas necessidades em energia, proteína, vitaminas e minerais.

A subnutrição é um dos principais fatores relativos ao baixo desempenho reprodutivo dos rebanhos bovinos leiteiros no Brasil. A deficiência alimentar severa ou prolongada traz como consequência o anestro, ou seja, a ausência do ciclo estral e do estro (cio). Os ovários, neste caso, estão pequenos e inativos, o que pode ocorrer mais rapidamente quando a má alimentação está associada a enfermidades crônicas e/ou elevada produção de leite.

“Para o produtor ter uma ideia do impacto da subnutrição, quando fazemos o exame ginecológico da vaca subnutrida, o ovário, geralmente, está do tamanho de um caroço de feijão, devido ao fato de esse animal entrar no processo de anestro. A subnutrição leva ao anestro fisiológico, quando o animal deixa de emprenhar, porque não tem comida suficiente para perpetuar a espécie”, explica o médico veterinário da Cia. do Leite.

Ele explica que, em casos de superalimentação seguida de algum fator que cause emagrecimento, mesmo que discreto, o que ocorre é que o organismo manda a mesma mensagem ao cérebro sobre a subnutrição, por mais que o animal esteja bonito. Assim, essa oscilação da nutrição pode causar o mesmo efeito da subnutrição no atraso reprodutivo.

Vale notar ainda que, em muitos casos, ocorre o excesso de proteína na dieta. Essa falha, além de desperdiçar proteína, que é cara, leva o animal a gastar energia para descartar o excedente. “O agravante é que esse excedente de proteína provoca problemas no desempenho reprodutivo. As vacas, apesar de entrarem no cio, têm baixa taxa de concepção. Desta forma, podemos afirmar que uma dieta desbalanceada por diversas vias compromete o desempenho reprodutivo de vacas leiteiras”, nota ele.

O monitoramento do balanceamento da dieta pode ser realizado medindo o Nitrogênio Ureico no Leite (NUL). Em casos de suspeitas, o produtor deve procurar a orientação de um nutricionista para ajustar a dieta das vacas.

“A respeito dos microminerais, qualquer um que faltar pode trazer limitações ao sistema reprodutivo, mas reforçamos sempre a importância do selênio, com atuação oxidante, de alta influência na reprodução. Dentre os macroelementos, basicamente destacamos o balanço de cálcio e fósforo na dieta dos animais como fundamentais para manter ativa a reprodução do rebanho. Aliás, o mais importante dessa questão é que o produtor não deve inventar moda, basta escolher uma boa suplementação mineral e seguir a recomendação do fabricante.”

 

Sanidade da vaca é crucial e não pode haver descuidos – Para Carvalho, à medida que a propriedade evolui em produtividade, os problemas sanitários afloram. “Nas fazendas onde a Cia. do Leite presta assistência técnica estamos assustados. Tanto que desenvolvemos um laboratório para análise das doenças reprodutivas, porque há muitas ocorrências, casos extremamente variados, por exemplo, de neosporose, IBR, BVD, brucelose e leptospirose que estão acontecendo e o produtor, por vezes, nem percebe que a doença circula no plantel.”

O especialista explica que os quadros mais comuns das infecções uterinas, as metrites, estão associados a problemas durante o período pós-parto, com destaque à retenção de placenta. Muitas vezes, por não ocorrer um quadro clínico (com corrimento de pus), fica mais difícil o diagnóstico, o que prolonga o problema, agravando a infecção.

Daí que, nesses casos, é necessário fazer um exame com uma ferramenta muito simples disponível – o “metricheck”, que consiste em uma haste de aço inoxidável, contendo um coletor de borracha na ponta, que é introduzido até o fundo do canal vaginal do animal para coletar o conteúdo, a fim de avaliar o escore do líquido coletado, o que indicará o grau da infecção.

“O uso dessa ferramenta ainda não é comum na bovinocultura leiteira, porém ajuda bastante na detecção de infecções uterinas. Qual a origem disso? A maioria dos casos é por causa daquelas doenças já citadas, que afetam o sistema reprodutivo, ou podem ser atribuídos a problemas durante o parto. Por essa razão, o manejo pré-parto é a melhor estratégia para evitar as metrites”, alerta Carvalho, ressaltando que o produtor deve pensar também em todo o manejo nutricional desse período, pois, no pós-parto, a vaca vai produzir mais leite, emprenhar mais rápido, já que não teve a metrite, além de ganhar peso rapidamente.

PARA TER SUCESSO NO QUESITO REPRODUÇÃO, É INDISPENSÁVEL BOA GESTÃO DOS ÍNDICES ZOOTÉCNICOS, QUE SÃO A BASE DE TOMADAS DE DECISÃO NOS ASPECTOS DE NUTRIÇÃO, SANIDADE E MANEJO REPRODUTIVO

FAZER A GESTÃO CORRETA

O que vai mais influenciar na melhoria dos indicadores reprodutivos, segundo Carvalho, da Cia. do Leite

  • Ter registros
  • Processar os dados, gerar indicadores
  • Tomada de decisão
  • Aplicar as técnicas de reprodução: monta controlada, IA e IATF
  • Aumentar o número de serviços nos animais, com o intuito de promover a redução no intervalo entre partos, viabilizando maior produção de leite durante a vida produtiva deste animal
  • Garantir um bom balanço nutricional, criar protocolos de sanidade para evitar doenças que afetam o sistema reprodutivo

Fonte: Cia. do Leite

ATAQUE À RAIZ DO PROBLEMA

A Fazenda Dubenczuk, localizada no município de Getúlio Vargas (RS), foi dia após dia introduzindo uma sólida rotina na reprodução e buscando melhores índices da taxa de serviço. A pequena propriedade de 13 hectares, dos produtores Valdemiro Luís Dubenczuk e de seu filho Felipe Carlos, médico veterinário, subiu vários pontos no Índice Ideagri de Leite Brasileiro (IILB), sistema que avalia diariamente os dados de desempenho e eficiência das fazendas de dois anos para cá.

“As perspectivas foram melhores do que no ano passado, pois, em pleno verão, a taxa de prenhez foi 30% maior quando comparada à taxa durante o inverno. Os principais pontos aos quais estamos dando prioridade são: aumentar as taxas de serviço, concepção e reduzir as perdas de prenhez, na medida em que buscamos minimizar o estresse calórico dos animais, melhorias na sanidade, nutrição e manejo mais adequado”, diz o médico veterinário e produtor de leite.

Ele relata que o primeiro ponto que a fazenda melhorou foi o índice da taxa de serviço. “Inseminávamos muito pouco os animais, às vezes em menos de 40% das vacas, a cada 21 dias. Já, atualmente, a taxa de serviço está em 63%. Só para ilustrar, do dia 3 até 24 julho, inseminei 100% dos animais aptos. Isso significa que não perco cio de vaca, o meu objetivo é inseminar o máximo de animais sempre que possível.”

Felipe Dubenczuk: "Não perco cio de vaca, pois o meu objetivo é inseminar o máximo de animais sempre que for possível"

De acordo com o produtor gaúcho, a questão da lucratividade da fazenda ainda não foi averiguada totalmente, visto que a melhoria na reprodução ocorreu de um ano para cá. Mas como a Fazenda Dubenczuk está emprenhando suas vacas no pós-parto o mais rapidamente possível, gerando um intervalo menor entre partos e consequentemente um DEL menor e maior produção de leite, passando dos 200 dias, na última análise do IILB, para um DEL de 145, pressupõe-se que, com esse melhor desempenho, a rentabilidade tenha melhorado.

O pecuarista informa que a média diária de produção de leite por vaca holandesa, no sistema de free stall, que antes era de 29 litros, hoje bate nos 37/litros/vaca/dia, no período de pico. Essa diferença de 8 litros de leite superou sua meta para 2020, que era de 4 litros/média do que foi registrado em 2019.

“Se eu considerar esses números como lucratividade de 30%, estou falando 1,2 litro/vaca/dia. Na soma de 40 a 45 vacas em lactação, terei algo em torno de R$ 90 a R$ 100 de lucro/dia, com incremento de 15% no volume de leite produzido em um ano. Vamos pensar que isso pode ser o 13º ou até o 14º salário para Fazenda Dubenczuk”, calcula o jovem produtor gaúcho.

Casal de produtores Marli e Valdemiro Luís Dubenczuk

Com o objetivo de melhorar os resultados da propriedade, Dubenczuk buscou se especializar em nutrição animal e reprodução, e agora presta também consultoria para mais de 25 fazendas produtoras de leite na região de Erechim (RS). “Vejo que o pecuarista não observa esse detalhe do atraso na reprodução, porque não faz uma gestão reprodutiva. Ele simplesmente relata que inseminou uma ou duas vezes o animal, mas quando vai verificar o dia do parto, a vaca pariu cerca de cinco meses atrás.”

Segundo ele, muitos trabalhos mostram que uma vaca vazia custa em torno de R$ 8,00 a R$ 10,00/dia, em alguns casos bem mais, dependendo do sistema de produção. É um dinheiro que os produtores de leite deixam de ganhar. Isso porque o DEL, em média de um rebanho, seja de 150 a 180 dias, somando-se esse número com os dois meses da vaca seca, sem ordenha, para fazer o próximo parto. Após 180 dias de lactação estima-se, em média, uma perda de 70 a 80 ml/leite/vaca/dia. “Isso é um grave problema. Há propriedades que, quando inicio um trabalho de reprodução, já estão com mais 240 até 300 dias em lactação, apresentando um atraso entre partos a cada 660 dias, ou seja, a cada dois anos. Em suma, essa fazenda quebra muito fácil”, enfatiza Dubenczuk.

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