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ATUALIZANDO

Importância do resfriamento

DAS VACAS LEITEIRAS

Neste bate-papo com o médico veterinário Adriano Seddon*, trazemos aos leitores informações super-relevantes sobre a necessidade de resfriamento das vacas leiteiras em lactação. Acompanhe

João Antônio dos Santos

Balde Branco – Dê um breve resumo da importância do resfriamento das vacas leiteiras e o que há de novo.

Adriano Seddon – Num clima como o nosso, as vacas de alta produção sempre precisam de resfriamento, pois elas produzem muito mais calor do que conseguem mandar para o ambiente. Isso faz com que elas se superaqueçam, o que lhes acarreta uma série de problemas, como diminuição de produção, de eficiência alimentar, problemas sanitários e reprodutivos.

A principal diferença que existe hoje no que diz respeito ao resfriamento das vacas é a possibilidade de monitorar a temperatura das vacas por longos períodos, como os sistemas de monitoramento que utilizam outros meios, como a frequência respiratória. Com isso, a gente consegue customizar o resfriamento das vacas na fazenda, conseguindo um resultado muito melhor.

Quanto à necessidade do resfriamento, digo que no Brasil, num sistema profissional de produção, vacas que produzem em média acima de 20 litros de leite/dia precisam ser resfriadas. Isso é fundamental para a própria sobrevivência do negócio, pois não há mais lugar, em região tropical, para “tirar” leite sem pensar em resfriamento. É simples assim.

Adriano Seddon é consultor e sócio-diretor técnico da Cowcooling Flamenbaum & Seddon e fundador da Alcance Consultoria e Pesquisa Rural.

Balde Branco – Adotando essa prática, o produtor pode melhorar também seu retorno econômico, não?

Adriano Seddon – Basicamente, a importância do resfriamento é econômica, e contribui muito para isso o fato de proporcionar bem-estar e conforto térmico para as vacas. Ao resfriá-las o produtor consegue aumentar ou recompor sua margem líquida durante o verão, com essas vacas em um sistema de produção profissional, por volta de R$ 1.500,00 a R$ 2.000,00, ou seja, quanto maior a produção da vaca, mais retorno.
Geralmente, em vacas com produção acima de 25 litros de leite/dia consegue-se, com o resfriamento, um efeito positivo muito significativo. E quando falamos de fazendas com média de 32 a 40 litros de leite/dia, esse impacto é bastante alto no aumento da produção. Isso porque a vaca sob estresse térmico reduz a ingestão de matéria seca (MS) em cerca de 10%, o que representa em torno de 4 litros de leite a menos; perde eficiência alimentar e diminui ao redor de 4 litros de leite a produção. Além disso, a taxa de concepção cai significativamente, fazendo com que se tenha um DEL maior, bem como descarte maior de animais devido à baixa reprodução; a observação de cio também cai, e também haverá mais animais imunossuprimidos, ou seja, animais mais suscetíveis a doenças. E não para por aí. Também ocorrerá queda na qualidade do leite (CCS mais alta, não pelo aumento da mastite, mas pelo aumento do cortisol circulante), menor teor de sólidos, proteína e gordura, e também mais vacas que vão gerar bezerras com maior risco de mortalidade e se sobreviverem, terão menor capacidade de produção de leite quando adultas.


Balde Branco – Os produtores de leite hoje estão mais conscientes dessa necessidade ou ainda há muitos produtores que não dão a devida atenção a esses aspectos?

Adriano Seddon – Pelo lado dos produtores, minha visão é de que eles entendem a necessidade do resfriamento das vacas, mas não o fazem de maneira direta, porque o resfriamento para ser bem feito depende tanto de uma quantidade razoável de equipamentos, para que se tenha de fato o processo de “roubar” calor das vacas, quanto da rotina, que é pesada, pois para as vacas de alta produção é preciso resfriá-las seis a sete vezes/dia, em média, por períodos de 45 a 60 minutos cada vez. Por isso, o produtor precisa contar com uma gestão do tempo da vaca muito grande, para atender a essa necessidade das vacas.


Balde Branco – Ligada ao conforto térmico das vacas está a tecnologia do compost barn, que você foi pioneiro em divulgar no Brasil. Como você vê a evolução desse sistema no Brasil e seus resultados de maneira geral?

Adriano Seddon – O compost barn no Brasil fez uma revolução. Eu não imaginava que essa tecnologia se transformaria nisso tudo que temos aqui. Ela mudou a maneira de produzir leite, estimulando avanços em vários aspectos da atividade. É um caminho sem volta. O Brasil vai ser um país com uma grande proporção de vacas de alta produção confinadas nesse sistema. Por quê? Não é só pelo aspecto econômico, que é bom, altamente rentável, mas porque essa vaca é a melhor para a produção leiteira. É melhor para o ambiente, porque produz menos gases, é mais eficiente na conversão do alimento, basta avaliar pelo lado da energia para manutenção da vaca, que não é por produção, mas por animal. Ou seja, essa energia é a mesma para uma vaca que produz 40 ou 10 litros de leite. Então, seriam necessárias muito mais vacas de 10 litros de leite para produzir a mesma quantidade de leite comparativamente a um lote de vacas de 40 litros.
O Brasil está se consolidando nesse caminho e o compost barn sem dúvida apresenta mais conforto, longevidade e bem-estar para as vacas do que qualquer outro sistema de confinamento. Quando eu trouxe esse sistema, em 2011, foi para resolver os problemas de alguns de meus clientes e, como se trata de uma tecnologia simples e com resultados rápidos, atraiu o interesse de outros produtores, começando então a se disseminar sua adoção nas mais diferentes partes do País. Além disso, o retorno do investimento também é muito rápido, em torno dos dois anos. É isso que o produtor entendeu – o que é bom fica.
Hoje, há muitas pequenas e médias propriedades com médias de acima dos 35 litros de leite/vaca/dia. Para as grandes fazendas, também fez uma significativa diferença, possibilitando um grande aumento do rebanho. Vale ressaltar que também tem um efeito considerável na melhoria da atividade de pequenos produtores familiares, com uma média de 50 vacas no rebanho. Esse foi o meu legado. Agora, estou na segunda metade de meu legado, que é ensinar as pessoas a resfriarem as vacas com eficiência, porque vai acrescentar tanto leite quanto o compost barn acrescentou.
O uso dessa tecnologia de compost barn não deixa de ser um aprendizado contínuo de aprimoramento em diversos aspectos, de fazenda a fazenda. E nesse processo não deixam de acontecer falhas, pois muitos ainda têm dúvidas e cometem alguns erros, que precisam ser corrigidos o quanto antes, seguindo a orientação técnica. Outro ponto importante para o qual vale alertar é que o produtor precisa estar atento, pois há gente falando coisas erradas, fazendo projeto errado ou o produtor construindo o galpão sem ter um projeto profissional. Daí ser preciso seguir a orientação de consultores especializados nessa tecnologia.


Balde Branco – Que outras tecnologias estão disponíveis no mercado para o resfriamento das vacas? Elas são acessíveis aos produtores de menor condição de investimento?

Adriano Seddon – Basicamente existem duas tecnologias de resfriamento: 1 – a do resfriamento direto, bastante utilizada, em que se utilizam ventiladores e aspersores sobre as vacas, baixando a temperatura da pele delas e na sequência do corpo inteiro; 2 – a do resfriamento indireto, em que se baixa a temperatura no interior do barracão fechado, que pode ser por sistema de túnel de vento ou de cross ventilation. Em ambos pode ser utilizado cama de composto ou free-stall. No sistema de cross ventilation (ventilação cruzada), o fluxo de ar é transversal aos corredores, enquanto no túnel de vento o fluxo de ar é no mesmo sentido dos corredores de alimentação. O galpão é todo fechado, com ventilação forçada por exaustores, numa extremidade, e placas evaporativas na outra extremidade para baixar a temperatura do ar, o que permite manter as vacas num ambiente de temperatura controlada. Esses últimos sistemas exigem maior investimento na construção, pois são menos flexíveis, e apresentam bons resultados. Essas tecnologias têm uma escolha técnica adequada à situação de cada propriedade, entre outros aspectos.


Balde Branco – Para os pequenos e médios produtores sem condições de investimentos, o que você recomenda como providência para garantir esse conforto térmico para as vacas?

Adriano Seddon – Quanto a investimentos no resfriamento das vacas, depende do tipo de tecnologia escolhida pelo produtor, de acordo com as condições da fazenda. O resfriamento direto não é caro, sendo acessível para qualquer porte de produtor. Claro que, em muitos casos, o pequeno produtor precisa primeiramente resolver algumas questões, como garantir alimento de qualidade e suficiente para os animais, bem como bem-estar deles.
A primeira coisa que falamos sobre o resfriamento de vacas é indicar sombra e água de qualidade. É o essencial, pois em primeiro lugar é não deixar a vaca aquecer graças à sombra e deixá-la se hidratar com bastante água à disposição. Quanto às tecnologias de resfriamento, elas são acessíveis e há soluções para atender às necessidades, qualquer que seja o porte do produtor. Por exemplo, atendo produtores que possuem 30 vacas em lactação e estão obtendo resultados ótimos. Geralmente, o investimento em resfriamento se paga no primeiro verão, isso usando tudo do bom e do melhor, com um gasto ao redor de R$ 1.500,00 por vaca, considerando o equipamento, a mão de obra e a energia.
Com o resfriamento, o produtor consegue elevar em 50% a margem líquida da fazenda. Por isso, o resfriamento tem de estar na mira de todo produtor profissional ante os altos benefícios que traz à produção leiteira do País, já que melhora a atividade, garantindo conforto, bem- estar para as vacas, aumenta a produtividade, a eficiência reprodutiva e melhora a qualidade do leite e a rentabilidade.

*Adriano Seddon é consultor e sócio-diretor técnico da Cowcooling Flamenbaum & Seddon e fundador da Alcance Consultoria e Pesquisa Rural.

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