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Pecuaria

A melhoria genética dos animais é um componente estratégico para a incrementar a eficiência da produção animal

MELHORAMENTO GENÉTICO

HOLANDÊS

Avanço genético tem trazido

ganhos para o produtor

A busca por melhoria genética de animais da raça Holandesa surte efeito: nos últimos dez anos, segundo dados da ABCBRH/Embrapa Gado de Leite, trouxe um incremento de 300 kg de leite a mais por lactação

Erick Henrique

A tecnologia de melhoramento animal é um sistema complexo, cheio de minúcias, no qual vários ajustes são necessários para que os bovinos de leite possam expressar todo o seu potencial. Por esse motivo, infelizmente, muitos pecuaristas ainda não conseguem enxergar os benefícios do melhoramento genético. No entanto, com os argumentos a seguir, citados por especialistas engajados no tema, não restarão dúvidas de como o progresso genético pode trazer dinheiro ao bolso do produtor e selecionador de gado Holandês.

“Conforme os dados que temos na primeira avaliação genética nacional, desenvolvida pela Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa e Embrapa Gado de Leite, a contribuição do melhoramento genético foi em centenas de quilos de leite. Aproximadamente em dez anos, falamos de 300 kg de leite a mais por lactação na média de todos os animais avaliados. Em milhares de animais, isso é um avanço fantástico”, destaca o superintendente técnico da ABCBRH, Timotheo Silveira.

Para o zootecnista e pesquisador da Embrapa Gado de Leite Cláudio Napolis Costa, a melhoria genética dos animais é um componente estratégico para o aumento da eficiência da produção animal. A realização das avaliações genéticas para as características de importância econômica resulta na identificação de animais geneticamente superiores nas condições dos sistemas de produção brasileiros. Animais de melhor padrão genético têm maior potencial de produção e assim são mais eficientes.

Ele observa que, nas avaliações genéticas da raça Holandesa, em 2020, além das características de conformação ou de tipo, importantes para identificar os animais que apresentam uma constituição corporal equilibrada para produção, saúde e vida produtiva, foram consideradas as produções de leite, de gordura e de proteína. “Muito importante e pioneiramente no Brasil, foi realizada a avaliação genética para a contagem de células somáticas, um indicador de mérito genético para identificar os animais com maior potencial de resistir à mastite, com melhor saúde do úbere, o que implica menor perda da produção e da qualidade do leite, e maior permanência no rebanho (longevidade)”, assinala.

Segundo Costa, para a próxima etapa, já em curso, além da produção de gordura e de proteína do leite, serão também avaliadas as respectivas porcentagens. Serão realizadas ainda as avaliações genéticas para duas novas características, relacionadas à reprodução: a idade ao primeiro parto e a taxa de gestação das fêmeas. A disponibilidade dessas novas características permitirá avaliar a sua inclusão e assim uma possível reavaliação de sua inclusão no Índice de Seleção Genética da ABCBRH.

Timotheo Silveira: em dez anos, falamos de 300 kg de leite a mais por lactação na média de todos os animais avaliados

Cláudio Costa: animais de melhor padrão genético têm maior potencial de produção

Altair Valloto: o ganho real em leite (dinheiro) alcançado pelos produtores a mais no período de 2008 a 2019 foi muito significativo

Daniel K. Moreira: Na Select Sires, acreditamos que um índice nacional deve ser discutido entre todos os envolvidos

Fábio Fogaça: 'Quando o pecuarista está indo bem, faturando, há uma estimulação para aumentar o rebanho, e para isso é necessário adquirir

A importância do Índice de Seleção Genética

 

“O índice de seleção genética é o famoso TPI americano. São características de interesse usadas para formar um número de ranqueamento de animais. Basicamente, usamos características de interesse com ponderações de impacto para definir um valor para cada animal”, observa Timotheo Silveira, informando que no Brasil foi montado um comitê com a participação de produtores e técnicos ligados à associação da raça Holandesa. Esse comitê se reúne todos os anos para verificar e analisar se é necessário rever a equação e os dados para ficar mais próximo do mercado do retorno de cada animal ao seu valor de mercado.

Além disso, segundo o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, o critério brasileiro nos programas de seleção das raças leiteiras geralmente inclui apenas as características registradas no controle zootécnico. Até recentemente, o volume de leite era o principal componente da rentabilidade dos sistemas de produção, mas esse processo tem evoluído com a valorização dos componentes e da qualidade do leite pela indústria de laticínios. Assim, o Índice de Seleção é uma forma de combinar informações sobre várias características e explorar o potencial benefício das correlações genéticas entre elas.

Costa acrescenta ainda que, alguns anos atrás, o Conselho Deliberativo Técnico (CDT) da APCBRH sugeriu a utilização do Índice de Seleção Genética (ISG/PR) para uso pelos criadores da raça no Estado do Paraná. “Em 2020, o CDT da ABCBRH promoveu uma avaliação do ISG, e decidiu pela sua restruturação e aplicação nacional, a partir das avaliações genéticas oficiais realizadas com os registros zootécnicos de todos os rebanhos participantes dos serviços de controle leiteiro e da classificação da conformação para tipo da raça Holandesa, no Brasil”, nota Costa.

A visão do mercado

 

O coordenador programa leite da Select Sires do Brasil, Daniel Kanheski Moreira, vê com bons olhos essa iniciativa, pois para ele é importante que o País tenha a sua própria referência e produza animais que atendam à necessidade dos criadores brasileiros. “Mas esse é um projeto novo e ainda está se desenvolvendo, logo é necessário maior número de informações para que ele ‘balize’ os caminhos que a genética brasileira deve seguir. Na SSB, acreditamos que um índice nacional deve ser discutido entre todos os envolvidos, para que realmente se alcancem valores que terão influência na grande maioria dos produtores de leite.”

Por falar em valores, segundo Moreira, 2020 foi um excelente ano para o mercado da genética, que registrou, mesmo com a pandemia, um crescimento significativo de 13%. “O aumento do preço do leite trouxe boas perspectivas para o setor e a busca pela genética de qualidade é uma demanda cada vez mais forte entre os principais produtores”, pontua.

Entre as raças de leite, a Holandesa é a que possui o maior número de doses comercializadas, estando presente nos quatro cantos do País e sendo utilizada tanto por criadores de Holandês quanto por criadores de Girolando. “A Select Sires tem uma relação muito íntima com a raça, pois muitos dos touros que escrevem a história do Holandês são da companhia. Hoje, a central possui pouco mais de 20% do market share brasileiro, mas indiretamente a nossa genética está presente numa proporção muito maior de rebanhos, devido ao fato de grande número de reprodutores, de diferentes centrais, serem filhos dos touros da SSB”, explica o coordenador da Select Sires do Brasil.

Já na avaliação do gerente de produto leite importado da Alta Genetics, Fábio Fogaça, as vendas de sêmen de touros Holandês e Jersey representaram, em 2020, cerca 72%, de acordo com o balanço divulgado pela Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia).

Ele comenta que o mercado de genética das raças taurinas leiteiras registrou um aumento de vendas de 360 mil doses a mais, no comparativo com igual período de 2019. “Esses resultados demonstram como o agronegócio brasileiro fez bonito em um ano tão adverso de pandemia. Ademais, na pecuária de leite nós também tivemos um ano muito favorável em termos de valores daquilo que o produtor costuma receber. Tudo isso é uma consequência, pois quando o pecuarista está indo bem, faturando, há estímulos para aumentar o rebanho, e para isso é necessário adquirir mais sêmen”, avalia.

Mesmo com todo esse ânimo quanto à demanda crescente do setor, o gerente da Alta Genetics informa que não adianta vender um material genético ao produtor se ele não consegue ter bons índices de concepção, e, mesmo se obtiver êxito nessa fase, tudo pode ir por água abaixo caso não faça o manejo correto da bezerra recém-nascida, porque a genética não vai se expressar futuramente. “Eu costumo dizer que não existe melhoramento genético se não existe prenhez. Pois não adianta adquirir sêmen de um touro Holandês espetacular, se a fazenda não promove um correto manejo reprodutivo para que cada dose traga a maior chance de concepção possível.”

Genética traz dinheiro para o bolso do produtor

 

Altair Valloto, superintendente técnico da associação paranaense da raça, demonstra que o ganho real em leite (dinheiro) alcançado pelos produtores a mais no período de 2008 a 2019 foi muito significativo. Considerando que, em média, uma vaca Holandesa aumentou 8 kg de leite por lactação, por ano, em 10 anos isso significa 80 kg/305 kg por lactação de cada animal, contabilizando apenas o impacto da genética, não considerando as melhorias de ambiente.

“Se considerarmos que o produtor também trabalhou com excelência no ambiente (comida, bem-estar, instalações, etc.), ele teve um ganho real de 26,8 kg por lactação (10 anos) ou 268 kg. Se multiplicarmos por R$ 1,85 litro leite (Conseleite/PR), são R$ 495,80 a mais brutos por lactação. Neste exemplo, estamos só falando no progresso genético para leite, mas tem ainda gordura, proteína, vida produtiva e outras características reprodutivas e de saúde”, pondera Valloto.

Lucas Mari: o uso de leveduras vivas na dieta é, comprovadamente, efetivo em diversas fases da produção leiteira, especialmente para as vacas no período de transição

Índices de seleção genética

 

O Índice de Seleção Genética (ISG) incluiu três grupos de características: Produção, ECS e conformação, com o objetivo de promover, respectivamente, o aumento da produtividade de leite, gordura e proteína; a redução das perdas por mastite e a melhoria da estrutura e capacidade funcional dos animais.
• ISG = [ 20(PTAL) + 18(PTAG) + 14(PTAP) + 9(PTAPF) + 6(PTAFL) + 3(PTAGA) + 8(PTAPP) + 12(PTASM) – 10(PTACS) ] + 1000* onde,
• PTA (Habilidade Prevista de Transmissão) é o indicador do mérito genético da característica;
• L = Leite (20%), P = Proteína (18%) e G = Gordura (14%);
• PF = Pontuação Final (9%), FL = Força Leiteira (6%), GA = Garupa (3%), PP = Pernas e Pés (8%) e SM = Sistema Mamário (12%), e
• CS = Escore de Células Somáticas (-10%)

Fonte: Embrapa Gado de Leite/ABCBRH

Tendência genética (pta) e produção de leite (kg) – Raça Holandesa – Paraná (2008 a 2019)

 

De acordo com superintendente técnico da APCBRH, a herdabilidade para produção de leite é 30% genética, outros restantes 70% são do ambiente: 30% equivalem a igual a 8 kg, outros 18,7 kg (ambiente) = 26,8 kg, ou seja, genética mais ambiente. Como comparativo nos EUA, o progresso genético por ano foi de 22 kg. (CBCB,2020).

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