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Esforço da cadeia do leite baiano volta-se para incrementar a
produtividade dos rebanhos, ampliando a assistência aos produtores

LÁCTEOS

BAHIA busca crescer com eficiência e qualidade

Ainda existem importantes desafios no estado como a produção muito baixa por vaca e a elevada taxa de informalidade
Luiz H. Pitombo

setor agropecuário tem presença marcante no estado nordestino: é o que mais gera empregos e o que mais contribui para a formação do produto interno bruto (PIB). Em 2018, o valor de sua produção obteve o maior crescimento do País, 27%.

A atividade leiteira está presentes em todos os municípios, mas como outras atividades, pode ainda dar sua contribuição de maneira muito mais significativa e é isso que vem sendo trabalhado através do governo estadual, entidades de produtores e indústrias. Estas, por sua vez, buscam maior organização, melhor gestão e qualidade para atender às novas demandas do mercado consumidor.

Com esta clara determinação foi realizado o 10° Encontro Baiano dos Laticinistas, em Salvador, Salvador, no final de outubro. Um novo local garantiu maior espaço para os expositores de produtos e serviços para o setor. O interesse igualmente aumentou, pois o evento registrou 256 inscritos, o dobro do ano de 2018.

Dentro da programação das palestras foram abordados vários temas de interesse comum para a cadeia láctea, como os impactos e os primeiros meses de implantação das instruções normativas números 76 e 77; possíveis mudanças na recuperação dos créditos PIS/Confins para lacticínios que permite a aplicação em programas de fomento junto aos produtores; a implantação de programas de autocontrole nas indústrias e programas de qualificação de fornecedores.

A produção baiana tem patinado em torno dos 900 milhões de litros de leite/ano desde 2015, quando a pecuária foi atingida por forte seca que trouxe a redução do rebanho pela crônica falta de produção de volumosos para a época de necessidade. Hoje o estado tem um déficit estimado de 1,3 bilhão de litros/ano adquiridos de Goiás, Minas Gerais e São Paulo.

Um marco dentro da cadeia produtiva do leite foi a criação em 2000 do Sindileite Bahia, que dá representatividade ao setor industrial levando adiante suas demandas e estimulando a abertura de plantas maiores, pois até então predominava o consumo de derivados produzidos localmente. O estado conta com 160 plantas, das quais 92 são sindicalizadas, incluindo as de inspeção sanitária estadual e federal, sendo que inexistem as municipais. Estima-se que 40% do leite e derivados que circulam no estado sejam sem inspeção sanitária, uma presença que já foi maior.

Dirigentes de laticínios, especialistas e representantes de produtores debatem os rumos do setor na Bahia

Os laticínios têm mantido uma linha de crescimento paulatino com segurança, pois existe demanda reprimida e um mercado esperando a apresentação dos produtos. A expectativa para os próximos anos é de uma expansão entre 2% e 3% ao ano no volume de produtos ofertados, num processo de substituição de importações.

Como principal região produtora de leite no estado está a sudoeste que passou a atrair novas plantas. Quando uma grande multinacional do segmento parou de realizar compras no local, houve receio do que poderia ocorrer, mas o efeito positivo veio com a atração de outras indústrias menores.

A palestra de abertura, com o tema oportunidades e obstáculos, coube ao secretário da Agricultura da Bahia, Lucas Teixeira. Com formação em agronomia e zootecnia, vem de família de produtores de leite, atividade que mantém e que garante ser lucrativa quando bem conduzida e com anotações de gastos e gestão. Ele salienta que a produção de grãos vem se destacando principalmente no Oeste do estado e que representa uma boa vantagem para aqueles que desejem produzir proteína animal.

Na radiografia inicial que realizou sobre a atividade leiteira, lamentou a baixa produção média por vaca/dia de apenas 3 litros de leite. “Isso para mim é volume de gado de corte, apesar dos baixos custos que representa, os produtores não investem em melhoria genética e nem numa alimentação concentrada mais reforçada para puxar a produção e a reprodução”, lamenta o secretário. A questão da produtividade da mão-de-obra foi igualmente avaliada, indicando que ela se encontra abaixo do indicado.

Em vários momentos, Teixeira enfatizou a necessidade de o produtor ter planejamento e registrar o gasto realizado para obter um cálculo do custo de produção do leite, incluindo o valor da terra. Ele salienta que existem muitos produtores que fazem isso corretamente e estão dando certo com a atividade.

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“Além da baixa produtividade, outro problema é a falta de capacitação da mão de obra nas propriedades leiteira”

Lucas Teixeira

Um dos maiores gargalos são os períodos secos e quando os produtores não preparam a alimentação necessária. “Existem diferentes alternativas e os laticínios precisam ajudar também a divulgar tecnologias, pois é muito difícil trabalhar com muito leite e depois com quase nada”, afirma.

Nesse contexto, listou algumas das prioridades em que sua pasta vem atuando no estado, como a própria ampliação da assistência técnica; atração de novos laticínios e crescimento dos locais; apoio à biofábrica de palma forrageira e o combate ao leite clandestino.

Na ocasião, o destaque ficou para o laboratório de análise de leite, em Itapetinga, no polo produtivo do Sudoeste, que está em fase final de licenciamento. Ele conta com o apoio do Sindileite/BA e será o primeiro do Nordeste, dando importante suporte e maior agilidade no trabalho que se realiza em termos da qualidade do leite.

Desafio maior dos produtores é ter o alimento para os animais no período da seca

Visão da indústria – No Encontro Baiano, o entendimento de aspectos operacionais e desafios das Instruções Normativas dominaram boa parte das discussões.

Paulo Cintra, presidente do Sindileite Bahia, comenta que a entidade tem se empenhado intensamente quanto à aplicação e orientação das instruções, lembrando que houve laticínio no estado advertido por não estar adequado e que isso representou uma luz de alerta para a questão.

Ele defende a necessidade de sua implementação, em especial do ponto de vista do consumidor, mas também pelo menor rendimento industrial e barreiras sanitárias ao desenvolvimento das exportações. “Mas se temos uma parcela de produtores que estão dentro dos padrões exigidos, boa parte não conseguiu e não conseguirá no curto prazo”, afirma. As estimativas apontam para que 30% a 40% do leite no estado fique fora dos padrões e se estabeleça um mercado clandestino, criando-se “duas Bahias”, como lamenta.

Ele enfatiza que o processamento garante a qualidade do produto, de que o leite e os derivados estejam livres de limitações sanitárias, mas que as perdas continuarão a existir para as indústrias. Contagem de células somáticas (CCS), acima de 750 mil/ml, traz 15% de redução no rendimento industrial e tem 4,7 vezes mais chances de contar com resíduos de antibióticos.

A BAIXA PRODUTIVIDADE por vaca/leite/dia é ainda um grande problema DA PECUÁRIA LEITEIRA BAIANA

Sobre o tamanho do parque laticinista baiano, considera que seu crescimento ocorre num ritmo adequado e que se existe ociosidade é por conta da variação na oferta que nos períodos de seca fica prejudicada. “É sem água e um sol que queima e mata tudo, pastos e animais”, lamenta Paulo Cintra.

Mas a grande questão que coloca é a falta de preparo dos produtores para enfrentar esta situação prevista. Somente agora é que o plantio de palma forrageira está se expandindo e ele próprio conta que dispõe de perto de 50 hectares, onde há muito produz silagem para venda aos seus fornecedores e a outros. “Porém, fica mais em conta ele produzir para si próprio, falta foco. Na Europa, o produtor com 40 cm de neve no solo está lá produzindo seu leite e queijos”, comenta.

Em termos do evento que ocorre ininterruptamente há dez anos, ele avalia acerto na escolha do novo local mais amplo e passível de reunir maior número de participantes e expositores. O peso dos palestrantes e as temáticas abordadas também foram importantes. “Considero-me totalmente satisfeito e posso afirmar que foi o melhor encontro que já organizamos”, arremata Paulo Cintra.

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