Balança comercial, por que tão funda?

Em maio 2023, o custo com a importação de produtos lácteos bateu recorde. O volume captado de leite tem vindo mais fraco. No primeiro trimestre de 2023, foram captados 5,88 bilhões de litros, queda de 1,2% em relação a igual período em 2022, equivalente a 71 milhões de litros. Frente ao semestre anterior (4º trimestre de 2023), a queda totalizou 6,9% (433 milhões de litros).

O custo de produção atingindo níveis recordes ao longo dos últimos anos tem sido um fator de desestímulo à atividade. Produtores não têm conseguido se manter no ramo.

Pequenos produtores têm saído da atividade, rumo a outros setores dentro da produção agropecuária, ou vendendo a fazenda.

Há uma concentração da produção ocorrendo. Menos produtores, mas com maior, ou melhor, produtividade, conseguem se manter, devido à melhor remuneração (a indústria tem interesse em manter fornecedores de alta produção, diminui custos com transporte, por exemplo).

Frente à queda na captação, é mais que óbvio que o restante necessário para abastecer o mercado interno tem de ser comprado de outros países.

De onde vem o leite importado? – Nossos principais parceiros comerciais para produtos lácteos são países vizinhos, na América do Sul.

Argentina e Uruguai correspondem a 53,6% e 36,1% do custo da importação de 2023, até maio. Paraguai vem em terceiro lugar entre os principais fornecedores, com 3,8%.

Em maio, o preço médio da tonelada importada de leite em pó advinda da Argentina foi de US$ 3,8 mil, do Uruguai em US$ 3,9 mil e do Paraguai em US$ 3,6 mil.

Balança comercial de lácteos – A balança comercial é a diferente entre o faturamento com a exportação de determinado produto e o custo com a importação desse mesmo produto em certo período.

A importação de produtos lácteos, pelo Brasil, é muito maior do que a exportação. De 2018 a 2022, a relação média entre o volume importado frente ao exportado é 5, ou seja, o volume importado é cinco vezes maior que o exportado.

Em 2023, até maio, essa relação está em 9,7. Foram 110,4 mil toneladas importadas, frente a 11,4 mil toneladas exportadas.

Em meio a este cenário, nos últimos meses, temos visto a balança comercial nos patamares mais negativos da série histórica existente desde 1997.

Em maio/23, o recorde foi batido, totalizando US$ 103,49 milhões de déficit.

Competitividade – Os preços praticados no mercado externo têm estado mais competitivos frente àqueles que têm sido pagos ao produtor.

O preço do leite pago ao produtor, na média ponderada dos 18 Estados pesquisados pela Scot Consultoria, foi de R$ 2,56/l em maio/23 (referente ao captado em abril/23).

O preço do leite em pó importado, em maio/23, proveniente da Argentina, Paraguai e Uruguai, em equivalente leite, ficou em R$ 2,29/l, aproximadamente.

É mais barato importar que captar o leite dentro do País.

Expectativas – O preço do leite pago ao produtor deverá diminuir no segundo semestre. A safra de capim retorna à região central do Brasil (Sudeste e Centro-Oeste) e, no Sul, as pastagens de inverno tendem a melhorar a captação por lá também.

Assim, a competitividade entre o preço internacional e o nacional deverá diminuir, podendo ter impacto na importação de lácteos, reduzindo o volume adquirido com nossos países vizinhos.

(Referências: Secretaria de Comércio Exterior, Secex)