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O diretor técnico da CNA, Bruno Lucchi; o presidente da CNA, João Martins, e a diretora de Relações Internacionais da CNA, Lígia Dutra, durante a coletiva

BALANÇO CNA

Alta volatilidade

deve permanecer em 2022

Clima e cenário internacional trazem otimismo para pecuária leiteira no novo ano

Marcos Giesteira

A conjunção de fatores macroeconômicos e climáticos aponta para um ano de cautela na pecuária leiteira. Com a previsão do dólar em alta ante o real em 2022, a pressão sobre os custos de produção continuará elevada e a tendência é de manutenção da volatilidade nos preços dos insumos, visto que grande parte desses produtos é importada.

Apesar de o câmbio em alta favorecer as exportações de milho e soja utilizados na alimentação animal, uma notícia positiva é que as chuvas irregulares e as geadas em importantes regiões produtoras, que comprometeram a produção e a qualidade das pastagens no ano passado, não deverão se repetir.

“A próxima safra caminha para oferecer um quadro de oferta e demanda de milho e soja mais favorável internamente, com aumento da produção e dos estoques iniciais e finais de cada grão, fato que deve se refletir em menores preços em 2022 para o produtor de leite”, projeta o assessor técnico na CNA, Thiago Rodrigues.

Thiago Rodrigues: "A perspectiva favorável de aumento da produção e dos estoques iniciais e finais de cada grão deverá se refletir em menores preços em 2022 para o produtor de leite"

No cenário internacional, são projetadas oportunidades de negócios pontuais para o setor lácteo, em razão da desvalorização do real e de uma possível consolidação do mercado chinês. Com a demanda externa por lácteos em alta, há espaço para crescimento da participação do Brasil no comércio mundial, ainda que pouco expressiva no volume total.

As previsões foram divulgadas pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), no documento “Balanço 2021 e Perspectivas 2022”.

Outros fatores que devem influenciar nesse contexto são as novas regulamentações ambientais que estão pressionando os produtores de leite da Nova Zelândia a reduções no rebanho, o que deve culminar em taxas menores de crescimento da produção daquele país. A economia da Argentina em um momento delicado e a produção leiteira estagnada na União Europeia apontam uma oferta limitada também.

“A considerar a persistência do impacto da covid-19 nos mercados globais, o pouco arrefecimento dos custos logísticos, as elevações constantes dos preços de insumos para produção animal e as pressões ambientais impostas a importantes países produtores de leite, a tendência é de que 2022 seja um ano de oferta ainda restrita de leite mundialmente”, disse Rodrigues.

A previsão de estabilidade da renda per capita e de leve crescimento do PIB, somados a uma taxa de inflação elevada, deverão manter o consumo de lácteos estagnado na faixa dos 170 kg/habitante/ano – média inalterada desde 2013. Outros pontos limitantes para o aumento do consumo de lácteos são o alto nível de endividamento das famílias brasileiras e uma provável manutenção das taxas de desemprego acima de 10% em 2022.

Conforme o assessor técnico de Pecuária de Leite da CNA, Guilherme Souza Dias, em função do achatamento das margens há possibilidade de uma redução aproximada de 1,5% no volume total da produção. Apesar disso, a tendência é de um menor impacto das importações no mercado brasileiro, tendo em vista o alto preço equivalente de um litro de leite importado quando comparado ao captado nas propriedades brasileiras.

A previsão é baseada nas atuais condições e em dados da plataforma Global Dairy Trade (GDT) e da Bolsa de Futuros da Nova Zelândia (NZX Futures), que apresentam um cenário de aumento nos valores dos lácteos para o início de 2022, indicando a tonelada de leite em pó (56% das importações brasileiras) com valores próximos a US$ 4 mil.

Na opinião de Rodrigues, as incertezas setoriais para o próximo ano definirão o ritmo de crescimento da atividade no Brasil. “Fatos como o efeito de um novo programa de transferência de renda melhorando o consumo de lácteos, a necessidade de um constante investimento na transformação tecnológica no campo e na indústria e o receio em termos de custo de produção corroboram para esse cenário indefinido”, alerta ele.

Guilherme Souza Dias: "Na relação de troca leite versus milho, o produtor teve uma perda de 39% em 2021, em comparação a 2020"

Custos de produção elevados em 2021 – O balanço de 2021 passa pela análise da interrelação entre demanda e produção. A falta de fôlego proporcionada pelo auxílio emergencial e o quadro econômico instável trouxeram dificuldades na demanda. Com a ponta produtora sofrendo as consequências das altas constantes dos insumos agrícolas e da interferência de adversidades climáticas, o lado produtivo também freou.

De acordo com Dias, o produtor de leite saiu de uma relação de troca de 35,4 litros de leite necessários para se comprar uma saca de milho de 60 kg, em dezembro de 2020, para 49,4 litros/saca em maio – pior resultado do ano –, representando um aumento de 39% nesse desembolso.

Dados do Projeto Campo Futuro, promovido pela CNA e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), apontaram que, de janeiro a novembro de 2021, os custos de produção acumularam alta de 17,7% em relação a igual período do ano passado, enquanto a receita por litro cresceu apenas 7,1% nesse intervalo.

O quadro comprimiu as margens do produtor e desestimulou investimentos na atividade, resultando em um cenário que culminou em queda de 1,4% no volume de leite captado entre janeiro e setembro, quando comparado a igual intervalo do ano anterior.

“Como essas cadeias produtivas são majoritariamente voltadas ao mercado interno, a situação de renda fragilizada da população comprometeu a rentabilidade do setor, haja vista a falta de espaço para repasses de preços de forma expressiva ao consumidor”, declara Dias.

Em termos de preços, o leite pago ao produtor apresentou alta de 14,55% de janeiro a outubro, na média do País, conforme as cotações do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP), em função de uma produção mais ajustada.

Do ponto de vista da indústria, a dependência gerada por um portfólio de derivados lácteos que operam com margens estreitas – como o leite UHT e o queijo muçarela – deixou o setor apreensivo em momentos de oscilação e alta volatilidade no mercado. Em 2021, a Associação Brasileira da Indústria de Lácteos Longa Vida (ABLV) projeta que o volume comercializado poderá ser até 10% menor que os 6,9 bilhões de litros vendidos em 2020.

Outro fator a ser considerado sobre o mercado nacional diz respeito à Balança Comercial de Lácteos. Com a demanda interna desaquecida, preços internacionais de lácteos elevados, taxa de câmbio desfavorável e valor de frete internacional em escalada, o apetite para as importações vem perdendo força. Até outubro de 2021, o volume acumulado era 10,7% menor que igual período de 2020.

Por outro lado, a mesma conjuntura gerou lampejos para exportações de lácteos brasileiros. Dados até outubro de 2021 apontam que foi enviado ao exterior um volume 36% maior em relação a igual período do ano passado.

“Oportunidades de negócios estão se desenhando e cada vez mais as indústrias nacionais devem se atentar para essas alternativas de escoamento a fim de equilibrar a oferta no mercado interno”, aconselha Rodrigues.

Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), dentre os principais países produtores de leite no mundo – excetuando o Brasil –, a previsão é de que se tenha um crescimento médio de 1,4% na produção em 2021. A explicação é o bom momento dos preços internacionais de lácteos e a crescente demanda chinesa, principalmente no primeiro semestre de 2021. A previsão é de que as importações de lácteos do país asiático alcancem 32,7% de aumento em relação a 2020.

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