É viável economicamente descartar o leite de antibiótico e não o utilizar para as bezerras?
Isso é uma opção do fazendeiro e alguns aspectos devem ser considerados ao se tomar a decisão de usar ou não leite de descarte. Caso a opção seja utilizá-lo, ele deve ser pasteurizado, devido ao risco de alta contagem bacteriana e presença de agentes patogênicos como o Mycoplasma. De maneira geral, vacas tratadas com antibióticos que são excretados no leite representam de 0,5% a 1% do rebanho, e esse leite pode não ser suficiente para alimentar todas as bezerras. Nesse caso, o uso de leite com resíduo de antibióticos tem pouca importância do ponto de vista econômico para o rebanho e seria prudente descartá-lo por completo. A dificuldade é quando o rebanho passa por problemas de saúde e inúmeras vacas estão sob tratamento com produtos que exigem período de descarte. Nesse caso, a quantidade de leite de descarte é grande e seu valor econômico se torna importante. Nem todo leite de descarte é originário de vacas que recebem antibióticos. Em muitos casos, uso de carrapaticidas, anti-inflamatórios e outros produtos faz com que o leite deva ser descartado e, nesses casos, o risco de resistência antimicrobiana não é um risco para a bezerra. Cada situação deve ser considerada com cautela e não há resposta única, já que dependerá do total de leite destinado ao descarte no rebanho.
Se não for fornecido às bezerras, o que fazer com o leite de descarte?
Caso a opção seja por não utilizar o leite de descarte, então ele deve ser eliminado por completo da alimentação animal e descartado junto com os outros resíduos da fazenda, nas lagoas de decantação de dejetos.
Existe alguma diferença, nas primeiras semanas de vida, se o leite é fornecido por mamadeira ou em balde?
Não existem diferenças, desde que a higiene seja muito bem feita. A higienização das mamadeiras é mais difícil e, por isso, muitos bezerreiros têm maior ocorrência de diarreias. Essa é a maior vantagem dos baldes. No entanto, para o fornecimento com baldes, existe a necessidade de treinamento do bezerro, o que requer paciência e comprometimento do tratador. Do ponto de vista comportamental, existe uma tendência de se entender a mamadeira como melhor, pelo fato de haver um bico e proporcionar uma posição da cabeça do animal similar ao que ocorreria com o bezerro ao pé da vaca. No entanto, a maior parte dos sistemas fornece um pequeno volume de dieta líquida em poucas refeições de forma que a necessidade de mamar de um bico não é totalmente atendida. Mais importante que o método de fornecimento do leite é assegurar que tanto o balde como as mamadeiras sejam higienizadas corretamente para evitar contaminação e risco de diarreia. Entretanto, quando é feito o uso de baldes nos primeiros dias de vida, é fundamental treinar a bezerra para que ela aprenda como mamar.
A utilização de baldes com bico é indicada?
Sim, existe indicação. A adoção de baldes com bicos para o aleitamento de bezerros melhora o grau de bem-estar dos animais nas fazendas. De fato, a oportunidade de expressar o comportamento inato de sugar o leite atende a um dos quatro princípios da promoção do bem-estar animal, nesse caso o princípio do “comportamento apropriado”, sendo que os outros três são “boa saúde”, “boa nutrição” e “bom ambiente”. O aleitamento artificial é, geralmente, realizado em baldes sem bicos, o que não oferece a oportunidade de os bezerros sugarem o leite. Isso pode gerar problemas de ordem motivacional, levando os bezerros a alterarem seu comportamento, podendo aumentar a ocorrência de mamadas cruzadas, que é a sucção de partes dos corpos de outros bezerros. A utilização desse tipo de balde favorece o bom funcionamento da goteira esofágica pelo posicionamento correto do pescoço dos bezerros. Resultados práticos nas fazendas apontam para a facilidade do bezerro em tomar todo o leite oferecido desde os primeiros dias de vida. Além disso, permitir que os animais expressem seus comportamentos naturais, nesse caso, o de sugar o leite, é uma das novas demandas do mercado consumidor, que prezam pela qualidade de vida dos animais nas fazendas. Para que esses bons resultados sejam observados na fazenda, é necessária a adoção de boas práticas de manejo, atentando-se ao tamanho do furo do bico, que não pode ser grande, a higienização correta dos equipamentos e a altura correta do balde, onde o bico deve estar a 45 cm do chão para que se alcancem resultados positivos em sua plenitude.
É indicado o fornecimento de leite ou sucedâneo por sonda quando a bezerra não apresenta apetite (redução de consumo para zero ou menos de 25% do que estava consumindo)? Se sim, qual o procedimento adequado para esse fornecimento?
O fornecimento de leite ou sucedâneo por sonda nunca é indicado, mesmo quando o animal não apresenta apetite. Durante o parto, a bezerra já inicia o seu contato com microrganismos presentes na vagina da vaca. Logo após o parto, microrganismos oriundos das lambidas da vaca e aqueles presentes no ambiente vão colonizando gradualmente o trato gastrointestinal da bezerra. A prática de fornecimento de leite ou sucedâneo via sonda faz com que esse alimento caia diretamente no rúmen, permitindo a sua fermentação nesse local pela microbiota ali existente. Isso gera quadro de acidose ruminal aguda, conhecida como beber ruminal. Esse quadro leva à distensão abdominal devido ao acúmulo de líquido e gás no rúmen oriundo da fermentação lática aguda. Em resumo, a única dieta líquida que pode ser fornecida via sonda é o colostro, nas primeiras horas de vida.
Quais os prós e contras da prática de desaleitamento precoce (< 50 dias de vida)?
A principal razão do desaleitamento ao redor dos 50 dias de vida é econômica, já que o fornecimento de leite é mais caro que o uso de concentrados. No entanto, para que a bezerra seja desaleitada aos 50 dias, ela precisa ter passado por um programa nutricional que promova não somente ganho de peso e crescimento adequado, mas também desenvolvimento ruminal e capacidade de ingestão de alimentos sólidos. Isso só ocorre se a bezerra receber leite suficiente para seu crescimento nas primeiras 5 a 6 semanas de vida e se houver redução gradual do fornecimento de leite ao mesmo tempo que a ingestão de alimento concentrado tenha aumento gradativo. Desaleitamento muito precoce vai, em muitos casos, restringir o crescimento da bezerra e aumentar o risco de doenças. Por outro lado, o desaleitamento muito tardio aumentará os custos de recria sem nenhum benefício aparente no desempenho da bezerra. Devido aos riscos do desaleitamento muito precoce, quando o consumo de concentrado é insuficiente, é mais recomendado fazê-lo entre 55 e 60 dias de vida. Nesse caso, para raças de grande porte como a Holandesa, espera-se que a bezerra a ser desaleitada apresente ingestão de concentrado de 1,5 kg/dia e que tenha dobrado o seu peso corporal ao nascimento.
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