balde branco

Cuidados rigorosos do nascimento ao primeiro parto garantem vacas saudáveis e de alto desempenho produtivo

NOVILHAS

Boas práticas na cria e recria

significam lucro ao produtor

Falar de novilhas na produção leiteira é estar com o olho no futuro, ou seja, no que será a qualidade e a produtividade do rebanho, caso o produtor não se conscientize do quanto elas são importantes para o negócio

Da Redação

Na edição do mês de abril deste ano, o tema novilhas foi abordado com foco na importância dos cuidados ao primeiro parto, para que a matriz tenha uma vida saudável, que expresse todo o seu potencial reprodutivo e produtivo. Nesta reportagem, para trazer mais informações relevantes para o produtor de leite,  o destaque é mostrar que to­do investimento na cria e recria, seguindo-se as boas práticas, traz um retorno financeiro muito significativo. É o que indicam os dados de pesquisa junto a um grupo de fazendas participantes do Projeto de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira (PDPL – UFV), na região de Viçosa (MG), relata o consultor técnico Lucas Fonseca, da Labor Rural.

Ele explica que aproximadamente 26% de todo o capital investido na propriedade leiteira está alocado em vacas, novilhas, bezerras em aleitamento, touros e animais de serviço. Em geral, as maneiras mais utilizadas pelos produtores para investir em animais são a compra de vacas já em produção e a cria e recria de novilhas leiteiras na propriedade.

O investimento em animais já em produção é amortizado mais rapidamente, pois, logo após o momento do desembolso, o animal inicia a geração de receita para a propriedade. “No entanto, esse sistema pode ser arriscado, caso sejam adquiridos animais de genética duvidosa, com problemas reprodutivos, sanitários ou problemas crônicos de mastite, por exemplo”, alerta o consultor.

De maneira geral, a grande maioria dos produtores busca a evolução de seu rebanho com animais criados e recriados dentro da própria fazenda. Essa prática necessita que o produtor realize investimentos contínuos durante toda a fase de crescimento da futura vaca.

 

Nutrição adequada à fase de desenvolvimento garante o ganho de peso para chegar à IA com a idade adequada

 

 

Custo de criação da bezerra até o desmame e o da recria até o primeiro parto

Para exemplificar as despesas médias com as fases de cria e recria, Fonseca analisou os dados desse grupo de fazendas participantes do PDPL – UFV, na região de Viçosa (MG). O gráfico 1 reflete o custo total até o momento do desaleitamento e o gráfico 2 representa o custo total da criação da novilha até o momento do parto.

Em sua análise dos dados, ele observa que, em média, o custo total de uma bezerra até o momento de desaleitamento, com aproximadamente 82 dias de vida, foi de R$ 914,25 por animal. “Esse total engloba todos os custos variáveis e fixos vinculados à criação dessa bezerra. Os gastos que mais oneraram o valor da bezerra foram o aleitamento artificial e a mão de obra, que corresponderam a 41,6% e 18,9%, respectivamente”, diz, ressaltando que o terceiro item de maior impacto foi o custo fixo, que representou 14,2% do total. Os custos fixos correspondem ao valor de depreciação das benfeitorias, máquinas, equipamentos vinculados à criação das bezerras, ao pró-labore do produtor e ao custo de oportunidade de todo capital investido nos itens vinculados à criação dessas bezerras, à taxa de 6% ao ano.

Já em relação ao custo total médio da formação de uma novilha até o momento do parto, este foi de R$ 4.085,32. “Os elementos de despesa que mais oneraram o custo foram o concentrado (30,93% do total), os custos fixos (21,3%), os alimentos volumosos (12,75%) e a mão de obra contratada para o manejo do rebanho (12%)”, nota Fonseca.

Ele explica que, para demonstrar em números o ganho real com a maior eficiência na cria e recria de fêmeas leiteiras, os dados das fazendas  participantes do projeto PDPL – UFV foram classificados em três grupos (Grupo A, Grupo B e Grupo C), de acordo com a idade ao primeiro parto (IPP) alcançada pelas novilhas em suas propriedades. “Os produtores do grupo A correspondem às fazendas que alcançaram uma IPP menor do que 28 meses. Os grupo B, às que alcançaram um IPP de 28 meses a 30 meses e os do Grupo C, às propriedades que obtiveram IPP acima de 30 meses.”

Custo total médio de formação de uma bezerra desaleitada (R$/animal)
na amostra de fazendas participantes do PDPL – UFV

Custo Fixo: 710,48
Aleitamento: 380,37
Mão de obra para o manejo de rebanho: 173,15
Custo inicial da categoria (Sêmen/Identificação): 106,20
Concentrados: 73,35
Outros Gastos de Custeio: 35,94
Volumosos: 8,38
Minerais: 6,45

Diante do grande investimento nesses animais, é fundamental se atentar à nutrição,
ao conforto e à sanidade nesta fase, buscando um ganho de peso ideal e, consequentemente, menor idade ao primeiro parto (IPP) e melhor eficiência na criação das futuras vacas.

Novilhas com peso e idade desejáveis prontas para a inseminação

 
Primeiro parto mais cedo: maior custo, porém maior produção

 

As fazendas em que as novilhas tiveram o primeiro parto com menor idade (grupo A) apresentaram um custo operacional efetivo 22,46% superior em comparação às fazendas que alcançaram uma média de idade maior ao primeiro parto (grupo C). Esse comportamento se deve ao maior investimento em nutrição, sanidade e conforto para os animais, o que proporciona maior ganho de peso e, consequentemente, menor idade ao primeiro parto. “Visto isso, qual estratégia seria a mais assertiva para ser tomada pelos produtores que realizam a recria na propriedade?”, assinala Fonseca.

Ele observa que, se for analisado friamente o custo de produção de uma novilha em cada estrato, a melhor estratégia seria aparentemente a idade maior ao primeiro parto, já que  esse grupo C apresentou um custo menor de produção por animal.

Isso só aparentemente, faz questão de frisar Fonseca: “Para avaliar corretamente o  melhor caminho, é preciso ir além e inserir na conta todas as receitas  ‘extras’  obtidas com a produção de leite de um animal que iniciou a produção mais cedo, devido à menor idade ao primeiro parto, quando comparado a um animal com IPP maior”.

A comparação da produção das primíparas dos grupos A e B com as do grupo C demonstra uma expressiva diferença favorável das novilhas do grupo A. Estas entraram em trabalho de parto 233 dias antes das novilhas dos produtores do grupo C, enquanto as novilhas dos produtores do grupo B pariram 117 dias antes das novilhas das fazendas que obtiveram maior média de idade ao primeiro parto (grupo C).

Avaliando a produção de leite desses animais, Fonseca, com base nos períodos descritos acima, destaca que as primíparas dos produtores classificados como grupo A produziram o volume de 4.735,78 litros, enquanto as novilhas dos produtores do grupo B produziram 2.002,78 litros no mesmo período.

Ele explica que o custo operacional efetivo por litro de leite produzido nas fazendas analisadas foi de R$ 0,86 por litro de leite, enquanto o preço médio foi de R$ 1,30 por litro de leite comercializado. Com isso, a margem bruta unitária do leite foi de R$ 0,44 por litro de leite produzido. Assim, a margem bruta do leite das primíparas dos produtores do grupo A foi de R$ 2.060,82 por animal e a do grupo B, de R$ 871,57 por animal.

Ao amortizar a margem bruta do leite produzido pela primípara no período no custo total da novilha, o consultor observa que o cenário se inverte e que o sistema de criação de novilhas, em que os produtores investem maior capital na cria e na recria da futura vaca, é mais viável economicamente. “Descontando a margem bruta proveniente da lactação até o momento da primípara, o custo da novilha dos produtores do grupo A passou a ser de R$ 2.473,96 por animal; o do grupo B foi de R$ 3.207,52 por animal e o do grupo C, de R$ 3.803,10 por animal.”

Fonseca assinala que essa análise comparativa dos três grupos de fazendas comprova a importância de o produtor ter consciência de que buscar a melhor estratégia, alicerçada nas boas práticas e no bem-estar animal, não é um custo a mais, mas sim um investimento seguro. “Ou seja, investir em nutrição, sanidade e conforto nas fases de cria e recria, é essencial para se alcançar o retorno do capital investido nas futuras vacas o quanto antes. Isso significa mais leite produzido na fazenda e mais dinheiro no bolso do produtor. Lembre-se, a novilha de hoje será sua vaca de amanhã!”, conclui.

Custo total médio de formação de uma novilha (R$/animal) no
momento do parto, na amostra de fazendas participantes do PDPL – UFV

Concentrados: 1.263,80
Custo fixo: 872,82
Volumosos: 521,18
Mão de obra para o manejo de rebanho: 490,41
Aleitamento: 380,37
Outros gastos de custeio: 234,91
Minerais: 215,64
Custo inicial da categoria (Sêmen/Identificação): 106,20

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