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Doença que pode causar grandes prejuízos na propriedade leiteira, o botulismo requer diversos cuidados para evitar sua ocorrência no rebanho

SANIDADE

BOTULISMO

Práticas de prevenção podem

evitar surtos da doença

Por ser uma intoxicação alimentar, o controle do botulismo exige o monitoramento das condições de conservação e qualidade dos ingredientes da dieta

Gisele Dela Ricci*

O botulismo é uma intoxicação causada pela ingestão ou absorção, no intestino, de toxinas formadas pela bactéria Clostridium botulinum, que são formadas no processo de decomposição da matéria orgânica vegetal ou de carcaças de animais mortos. A bactéria pode ser encontrada na água, no solo e nos alimentos. Essa doença, também conhecida como doença da vaca caída, tem afetado muitos rebanhos, causando prejuízos por causa das altas taxas de mortalidade dos animais.

O botulismo pode se apresentar de forma esporádica, com a ingestão de alimento contaminado, como silagem e água, ou de forma endêmica, quando há ingestão de maneira constante nas propriedades, como em decorrência da baixa ou nenhuma mineralização, falta de correção do solo ou carência de nutrientes na dieta.

Logo após a contaminação, o bovino passa a ter dificuldades para levantar os membros posteriores, chegando a quadros de paralisia cardiorrespiratória, provocando a morte do animal. Diferente de doenças como raiva, o botulismo não causa perda de consciência. Não apresenta lesões que o identifiquem, uma vez que a toxina se aloja no sistema nervoso e impede que o animal se movimente.

A evolução pode levar dias ou semanas para se evidenciar, o que dificulta o diagnóstico. Dois sintomas importantes se destacam na sintomatologia clínica do botulismo: a diminuição dos movimentos da cauda e a perda do tônus da musculatura da língua. Entretanto, alguns animais podem não apresentar esses sintomas no curso da doença.

Na mistura da ração total, é preciso verificar se não há ingredientes contaminados (úmidos, com mofo, por exemplo)

Diagnóstico – O diagnóstico da doença deve ser realizado por um médico veterinário, a partir de análises clínicas e avaliações sistemáticas nas propriedades. Imprescindível que se relacione a fonte de alimento contaminada, associando os sintomas clínicos com os aspectos apresentados pelos animais.

Para o diagnóstico laboratorial, é recomendado que seja realizada a coleta de conteúdo ruminal e/ou intestinal para obtenção do alimento com a toxina; de fragmentos do fígado, pois é nele que há metabolização da toxina; de fonte de contaminação, ou alimento suspeito, como silagem e água, entre outros. Esse material precisa ser enviado ao laboratório em até, no máximo, 48 horas, devidamente refrigerado em caixas de isopor com gelo reciclável, em um recipiente hermeticamente fechado.

É necessário também que haja avaliação de carcaças de animais nos pastos, analisar se há um calendário sanitário na propriedade e se neste há vacinas contra o botulismo.

Em alguns casos, em que pequena quantidade de toxina se aloja no sistema nervoso, pode haver a morte do animal, sem identificação prévia da causa. Quando a toxina já está no sistema nervoso, não é possível fazer um tratamento eficiente. Neste caso, é preciso aguardar a metabolização da toxina, e o tratamento será o de suporte.

Para prevenção e controle, é necessária a vacinação de todo o rebanho. A primeira dose do imunizante deve ser aplicada a partir dos 12 meses de idade, antes do período das chuvas, sendo que a primeira imunização deve ser seguida de reforço de quatro a seis semanas após a primeira dose. Mas, quando se identifica o risco de botulismo em bezerros, essa vacinação deve ser realizada antes desse período. Após essa primeira dose, é fundamental revacinar os animais anualmente. Assim, há a garantia de que haja anticorpos circulantes na corrente sanguínea dos animais. Manter a vacinação é a principal estratégia de controle dessa doença.

Outras medidas de controle do botulismo são a cautela com as fontes de alimentos que podem estar contaminados, realizar corretamente a suplementação mineral, correção adequada do solo, retirar carcaças expostas, controlar o acesso dos animais a fontes de águas paradas e eliminar a utilização da cama de frango, já proibida no País.

É preciso muito cuidado no armazenamento dos ingredientes da ração para evitar contaminação – o local deve ser seco e arejado e protegido do tempo e do acesso de animais

Importante enfatizar que a umidade dos alimentos é muito importante. Ingredientes como milho e soja não podem ter umidade acima de 14%, avaliando-se sempre a procedência dos grãos, com observação do aspecto visual e contaminação por determinados fungos. O armazenamento dos alimentos que serão disponibilizados tem importância fundamental. Necessário que seja um local ventilado com estruturas que evitem o acesso de pássaros e ratos.

Dietas completas podem elevar os riscos de surtos de grandes proporções. Em 1998, um rebanho leiteiro norte-americano foi acometido, após a incorporação de uma carcaça de felino no vagão misturador de rações, causando distribuição homogênea da toxina na dieta, onde todo o lote que recebeu o alimento foi acometido, com a morte de 427 vacas de um total de 441 bovinos. Devido à sua importância, é fundamental que produtores, veterinários e outros envolvidos com a produção de bovinos leiteiros saibam a fundo os sinais clínicos e comportamentais desta doença, e principalmente entendam as medidas necessárias para realizar controle, prevenção e tratamentos adequados.

Como proteção sanitária das vacas contra o botulismo, a vacinação é a estratégia de controle, o que inclui também as bezerras e novilhas

Nos últimos anos, surtos de botulismo foram identificados no Brasil, tendo como fonte de infecção a cama de frango, utilizada na suplementação alimentar de bovinos, devido à presença comum do agente infeccioso no trato digestivo de aves. Após sua proibição em 2001, pela Instrução Normativa no 15 do Ministério da Agricultura, como uma medida preventiva para se evitar a encefalite espongiforme bovina (BSE), a utilização de cama de frango como suplemento alimentar diminuiu. No entanto, ainda tem sido relatada como uma das fontes de infecção para bovinos confinados, resultando na morte de alto número de bovinos em uma propriedade.
O botulismo no Brasil é, na maioria das vezes, associado à pecuária de corte. Surtos de botulismo em confinamento não são comuns ou são raramente comunicados, atingindo bovinos em sistemas extensivos, em ambientes de cerrado deficientes em fósforo e sem correta mineralização.
A ocorrência de botulismo em bovinos leiteiros pode ocasionar a redução da produção leiteira em dias imediatamente anteriores ao surgimento dos primeiros sinais clínicos da doença, com a possibilidade da eliminação da toxina no leite. Diversos estudos já relataram a ausência de toxina botulínica no leite de bovinos acometidos pelo botulismo. No entanto, não há um consenso a esse respeito, com a indicação do descarte do leite dos lotes acometidos por até 14 dias após o último caso clínico observado. Tal medida de proteção ao consumidor eleva ainda mais o encargo ocasionado pela doença em produções leiteiras. (No original, são citadas referencias bibliográficas. Os interessados podem solicitá-las à redação da Balde Branco.)

*Zootecnista, mestra, doutora e pós-doutoranda pela USP. Atua no laboratório de Etologia, bioclimatologia e nutrição de animais de produção (bovinos, suínos e ovinos)

CUIDADOS PARA EVITAR O BOTULISMO NO REBANHO

Armazenamento dos alimentos:
A primeira providência é estocar os ingredientes da dieta em um galpão, com boa cobertura para proteção contra o tempo (chuvas e raios solares); proteção contra presença de roedores e que seja seco e bem arejado. No caso de sacos de ração, deve-se empilhá-los sobre estrados de madeira, de modo a evitar que fiquem diretamente sobre o chão (o que pode umedecer o material);

Condições sanitárias:
Vale reforçar o que já foi dito no texto acima: é fundamental o produtor atentar para o ambiente em que estão os animais e mantê-lo sempre em boas condições de sanidade. Nessa providência, além da vacinação contra botulismo, orientada pelo médico veterinário, inclui-se também o cuidado com a suplementação mineral aos animais para corrigir eventuais deficiências minerais da dieta. O monitoramento da qualidade da água e limpeza dos bebedouros são medidas que não podem ser negligenciadas.
Vale ainda neste item chamar a atenção para o controle de roedores para evitar sua presença nos locais onde estão armazenados os alimentos dos bovinos.

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