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Para explorar todo o potencial da cultivar, é necessário um solo profundo, fértil e bem drenado

FORRAGEIRA

BRS KURUMI: alto teor de nutrientes

e elevada produtividade em pastejo intensivo

Além dessas vantagens, comparativamente a outras forrageiras, tem menor custo de implantação, crescendo de importância na intensificação da produção e otimização do uso da terra

José Luiz Bellini Leite*

Capim milagroso seria aquele que, tendo a semente jogada na terra, alimentaria uma grande quantidade de animais, sem exigir maiores cuidados. A resposta para a pergunta, se existe algum capim com essas características de “milagroso”, é um grande e retumbante “não”. Quanto mais um capim fornece em termos de produtividade, quantidade e qualidade de proteína e energia, para citar dois nutrientes relevantes, mais será exigido do solo e, por conseguinte, melhor manejo será requerido do produtor.

A cultivar BRS Kurumi tem elevada produtividade de forragem, alto valor nutritivo, palatabilidade e facilidade de manejo devido ao porte baixo, sendo recomendada de forma preferencial para pastejo, no sistema de lotação rotacionado. O potencial de produção é de 175 toneladas de forragem, com 17% de matéria seca (30 toneladas por hectare/ano de MS), alto valor nutritivo, sendo que os teores de proteína bruta (PB) variam entre 18% e 20% e os coeficientes de digestibilidade (NDT) entre 65% e 70%. Entretanto, para expressão de todo esse potencial, necessita de solos profundos, férteis e bem drenados.

A BRS Kurumi é um clone de capim-elefante que apresenta propagação vegetativa, ciclo perene e porte baixo. Foi obtida por meio de cruzamentos conduzidos pela equipe de melhoramento de forrageiras da Embrapa Gado de Leite, em parceria com outras instituições de pesquisa e ensino e registrada no Ministério da Agricultura, sob número 20120164, e lançada em 2014.

Essa cultivar pode ser estabelecida em regiões de clima tropical e subtropical, sendo recomendada para o bioma Mata Atlântica, conforme Registro Nacional de Cultivares (RNC). Todavia, tem sido utilizada com êxito em diversas regiões, incluindo o Sul do Brasil, sendo que apenas no Rio Grande do Sul existem cerca de 12 mil hectares plantados com a cultivar.

A BRS Kurumi é plantada por mudas ou estacas vegetativas (pedaços de colmo) e é muito vigorosa no seu estabelecimento, possibilitando o primeiro pastejo com 50 a 60 dias (pastejo de uniformização) após o plantio. Os pastejos subsequentes devem acontecer quando atingir 80 cm de altura e a retirada dos animais deve ocorrer na altura de 30 a 40 centímetros da gramínea.

Dados experimentais da Embrapa Gado de Leite mostram que a BRS Kurumi, bem manejada, possibilita lotação entre 7 e 9 unidades animais por hectare (UA/ha) na estação chuvosa e, nos períodos secos, de 1,4 a 1,8 UA/ha, considerando-se as condições de manejo, solo e clima. Nas regiões Sudeste e Sul, o período de pastejo vai de setembro a maio e, tendo um ciclo de pastejo a cada 20 a 25 dias, serão possíveis de 10 a 13 pastejos no ano.

O custo de implantação de um hectare da cultivar BRS Kurumi, produzindo 175 toneladas de forragem, foi estimado em R$ 6.462,00, assim divididos: (1) Preparo e correção do solo (11%); (2) Corte e transporte de mudas (12%); (3) Plantio (33%); (4) Tratos culturais (39%); (5) Outros custos (5%). Por ser uma cultivar perene (20 anos), foi estimado o custo anual de manutenção do pasto. O custo de manutenção anual de um hectare da pastagem foi estimado em R$ 3.626,00, assim composto: (1) Adubação de cobertura (64%); (2) Controle de invasoras (18%); (3) Outros custos (18%).

Para se obter o custo total da BRS Kurumi, manejada sob pastejo intensivo, produzindo 30 toneladas/ha/ano de matéria seca, será necessário depreciar (20 anos) a uma taxa de juros de mercado os custos de implantação e adicionar custos anuais de manutenção da forrageira. Desta forma, o custo anual total foi de R$ 4.182,00/ha, sendo a depreciação anual estimada em cerca de 13% e a taxa de manutenção em 87%, correspondendo a R$ 139,00 por tonelada de matéria seca e R$ 28,00 por tonelada de matéria natural.


Irrigação – Estimou-se também o custo do pasto da BRS Kurumi irrigado. Além de alongar a produção de forragem nos períodos de seca, a irrigação pode aumentar a capacidade de produção em mais três toneladas/ha/ano de matéria seca. É importante destacar que, sob frio intenso, a irrigação não terá efeito significativo. Os custos da irrigação devem ser considerados na implantação e na manutenção da pastagem. Considerando a produção de 33 toneladas de matéria seca do pasto da BRS Kurumi irrigado, o seu custo foi estimado em R$ 4.960,00, sendo: (1) Depreciação do capital de formação e estabelecimento da lavoura por 20 anos (12%) e (2) Manutenção da pastagem (88%). Apenas a irrigação de manutenção correspondeu a 15% do custo total. Esses valores correspondem a um custo de R$ 150,00 por tonelada de matéria seca e de R$ 30,00 de tonelada de capim fresco para pastejo.

A cultivar BRS Kurumi apresenta elevado potencial de produção de forragem de alto valor nutritivo, podendo também ser utilizada como forragem fresca no cocho. Nesse caso, além dos custos de implantação e manutenção da lavoura, têm de ser considerados o corte, a picagem e a distribuição. Foram levadas em conta duas situações: o corte manual e a picagem mecânica (R$ 8.370,00) e o corte e picagem mecânicos (R$ 5.856,00). As estimativas de custo dessas duas formas de uso de picado verde se mostraram mais caras que a pastagem da BRS Kurumi, portando podem ser adotadas apenas em situações especiais.

O pastejo inicia-se aos 80 dias do plantio; os subsequentes quando atingir 80 cm de altura, e a retirada dos animais, com 30 a 40 cm

A Embrapa Gado de Leite realizou estudo de simulação comparativo entre diferentes forrageiras em relação ao custo de produção por unidade de área e por fontes de proteínas (PB) e energia (NDT). Os resultados demonstram que as cultivares Coast Cross e a BRS Kurumi produziram as maiores quantidades de proteína por unidade de área cultivada, com vantagem para a segunda cultivar (Tabela 1).

No que se refere à produção de energia em um hectare cultivado, a BRS Kurumi produziu 20,7 t/ha de NDT, sendo superior ao capim Tanzânia (76%), braquiária Basilisk (214%), capim Marandu (164%) e Coast Cross (42%). Isso resulta do seu elevado teor de NDT, da ordem de 69%, e da maior produtividade de matéria seca por hectare.

Em relação à produção de proteína bruta por hectare, a BRS Kurumi também foi superior ao capim Tanzânia (78%), Basilisk (375%), Marandu (213%) e Coast Cross (16%). O custo de produção da tonelada de PB e NDT da BRS Kurumi é menor do que de todos os demais capins considerados.

Assim, pode-se concluir que a BRS Kurumi é uma excelente gramínea para pastejo intensivo, rivalizando com a Coast Cross em termos de nutrientes e com menor custo de implantação, crescendo de importância seu uso na medida em que se aumenta a necessidade de intensificação da produção e a otimização do uso do recurso terra.

 

*José Bellini, analista da Embrapa Gado de Leite – jose.bellini@embrapa.br. Coautores: Carlos A. de Miranda Gomide, carlos.gomide@embrapa.br; Antônio Vander Pereira, vander.pereira@embrapa.br; Francisco José da Silva Ledo, francisco.ledo@embrapa.br; Mirton José Frota Morenz, mirton.morenz@embrapa.br, todos pesquisadores da Embrapa Gado de Leite

PASTO TAMBÉM É CULTURA


OCenso Agropecuário do IBGE (2017) mostra um crescimento de 10% de pastagens plantadas no Brasil, indicando aumento da consciência de que “pasto também é cultura”, deixando no passado a história de “capim milagroso” como da época em que a produção de leite no Brasil era extrativista, amadora e romântica.

Diante da acelerada profissionalização da produção leiteira no Brasil e do claro entendimento de que a produção de leite é negócio que tem de gerar bons lucros, uma cultivar como a BRS Kurumi ganha importância. Ao fornecer condições para o uso intensivo da terra por meio de alta produtividade de biomassa por área e elevado teor de nutrientes, esta cultivar se apresenta como forte candidata para sistemas intensivos de produção a pasto, com impactos positivos sobre os custos de produção, principalmente pela redução na suplementação concentrada.

Desse modo, a cultivar promove condição para produção intensiva com sustentabilidade, sendo portadora de características prevalentes agora e de futuro no agronegócio do leite brasileiro. É nesse ambiente de franco desenvolvimento do agronegócio do leite no Brasil que a Embrapa Gado de Leite ofereceu esse excelente material forrageiro.

Livro: Para agilizar o entendimento de suas características, formas de manejo e uso, e responder às principais questões referentes à BRS Kurumi, a Embrapa prepara para os próximos meses a publicação do livro “BRS Capiaçu e BRS Kurumi: Cultivo e Uso”.

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