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Mais uma vez, agora no caso da brucelose, a prevenção é a melhor estratégia para o produtor manter a sanidade dos animais

SANIDADE

BRUCELOSE

Vacinação e exame diagnóstico são as garantias para Proteger o rebanho

Essas medidas auxiliam o produtor a enfrentar a doença, que provoca casos de abortos, baixos índices reprodutivos, morte de bezerros e queda na produção de leite, além de ser uma zoonose

Erick Henrique

Em artigo publicado pela pesquisadora Grácia Maria Soares Rosinha, da Embrapa, são destacadas as graves consequências que a bactéria Brucella abortus provoca principalmente em bovinos leiteiros e de corte, resultando em elevados prejuízos. As perdas econômicas estão relacionadas a abortos, a baixos índices reprodutivos, ao aumento no intervalo entre partos, à diminuição na produção de leite, à morte de bezerros e à queda da produtividade, além de gerar barreiras internacionais ao comércio de produtos de origem animal e perdas na indústria, com a condenação da carne e do leite utilizados em seus produtos.

De acordo com a pesquisadora, estudos realizados em 2013 demonstraram que o prejuízo total da brucelose no Brasil foi estimado em US$ 448 milhões, o que equivale, em valores atuais, a cerca de R$ 2,503 bilhões. Além disso, a prevalência de focos da brucelose bovina em fazendas brasileiras varia de 0,32% a 41,5%. Esses índices, por si só, são muito expressivos e afetam os diferentes segmentos da cadeia produtiva.

A propósito, o médico veterinário Raul Mascarenhas, da Embrapa Pecuária Sudeste, informa que há diferenças significativas da prevalência da brucelose de acordo com cada Estado da Federação. O Brasil possui realidades muito diversas. Os Estados da Região Sul apresentam prevalências menores em contraposição aos do Centro-Oeste. De maneira geral, podemos dizer que a brucelose se encontra bem disseminada no País.

“O produtor vem dando uma maior importância ao controle da doença, especialmente com relação à vacinação. Porém, a realização dos exames para diagnóstico ainda não é uma prática comum nas propriedades brasileiras, principalmente devido à não obrigatoriedade”, relata o médico veterinário.

Mascarenhas avalia que o produtor brasileiro está mais atento aos prejuízos que a brucelose é capaz de causar do que há 20 anos, quando surgiu o programa de controle e erradicação do Ministério da Agricultura, que, apesar dos avanços obtidos, ainda não são suficientes.

Raul Mascarenhas: "O produtor vem dando uma maior importância ao controle da doença, especialmente com relação à vacinação, mas a realização dos exames não é prática comum"

“Apesar de a vacinação contra brucelose ser obrigatória, dificilmente os Estados conseguem uma taxa de 100% dos animais vacinados na faixa de idade entre 3 e 8 meses. Isso mostra que há produtores necessitando de assistência técnica e que precisam compreender a importância de sua ação para a melhoria da sanidade do rebanho nacional”, destaca.

A importância dos protocolos – Segundo o médico veterinário da Embrapa Pecuária de Sudeste, para controlar e erradicar a doença é necessário fazer uso das duas principais armas: a vacinação e o exame diagnóstico. A primeira é obrigatória e deve ser feita nas bezerras entre 3 e 8 meses de idade. Contudo, o produtor precisa estar atento à necessidade de se fazer ou não o reforço vacinal. As vacinas contra brucelose são bastante eficientes.

“A imunidade produzida é de cerca de sete anos após a aplicação, portanto, se o pecuarista possui animais mais velhos, que é algo comum na pecuária leiteira, é necessário realizar uma dose de reforço por volta dessa idade. O outra situação é que, caso haja uma elevada incidência de brucelose na propriedade, o recomendável é que se realize uma vacinação de reforço nos animais, mesmo abaixo dos sete anos de idade, pois é sinal de que a doença está desafiando os animais do rebanho de uma forma mais intensa.”

Conforme Mascarenhas, para que o produtor consiga definir como a brucelose está no seu plantel será preciso fazer uso da segunda arma: os exames diagnósticos, que são fundamentais para a erradicação. “Nenhum produtor vai conseguir erradicar a brucelose do seu rebanho somente com a vacinação. O Estado de São Paulo, por meio da portaria da Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA nº 6 de 19/04/2020), tornou obrigatória a realização de exames de brucelose e tuberculose nos bovinos leiteiros, dentre outras definições. Essa legislação foi postergada por um ano, devido à pandemia de covid-19, e já está valendo.”

A vacinação é obrigatória e deve ser feita nas bezerras entre 3 e 8 meses de idade, contudo o produtor precisa estar atento à necessidade de reforço da vacina

O especialista informa também que há uma discussão na CDA sobre a possibilidade de se estender por mais um ano o prazo para essa obrigatoriedade, mas até esse momento o bovinocultor precisaria cumprir tal definição até o dia 1º de julho deste ano. Os outros Estados deverão em breve seguir o mesmo caminho de São Paulo.

Caso o produtor não siga os protocolos citados, o veterinário da Embrapa reforça que a brucelose gera perdas reprodutivas do tipo: aumento do período de serviço e consequentemente do maior intervalo entre partos, infertilidade, bezerros fracos, natimortos. Mas o abortamento, de fato, é o principal prejuízo. “Como a doença tende a ocasionar o abortamento no fim da gestação, estou me referindo a uma vaca que ficará aproximadamente um ano sem produzir leite. Daí você pode imaginar quanto está custando isso para o produtor e para o Brasil.”

A eficácia das vacinas – São duas as vacinas que o produtor poderá utilizar para prevenir a infecção do rebanho leiteiro: a B-19 e a RB-51. “As duas produzem uma imunidade duradoura de cerca de sete anos, porém a diferença está na ausência de uma proteína de membrana da amostra de Brucella abortus da vacina RB-51. Essa proteína está relacionada à proteção do animal, mas sua ausência faz com que a vacina contra brucelose amostra RB-51 não influencie em um resultado falso-positivo no exame diagnóstico”, diz Mascarenhas.

Sendo assim, segundo ele, ao contrário da B-19, que só pode ser feita na idade entre 3 e 8 meses, a vacina RB-51 pode ser feita em qualquer idade e quantas vezes forem necessárias. “Só devemos estar atentos ao fato de ela não poder ser aplicada em fêmeas que estejam gestantes. Como ela não influencia no exame, as bezerras que forem vacinadas com a RB-51 podem fazer exames a partir dos 8 meses de idade.”

Entretanto, o veterinário da Embrapa de São Carlos (SP) ressalta que isso não é possível de ser feito quando os animais são vacinados com a B-19. Neste caso, só poderão fazer exames a partir de 24 meses de idade. Em outras palavras, apesar de a vacina RB-51 ser um pouco mais cara do que a vacina B-19, seus benefícios são muito grandes. “Diante disso, eu recomendaria somente o uso da RB-51, tanto para a faixa de idade obrigatória (bezerras fêmeas entre 3 e 8 meses de idade) quanto para as situações em que o reforço vacinal é necessário.”

A vacinação não pode ser negligenciada, pois essa doença traz elevados prejuízos ao produtor

COMO OCORRE A TRANSMISSÃO DA BRUCELOSE

O principal meio de introdução da brucelose em um rebanho sadio é pela aquisição de bovinos infectados. A transmissão do germe se dá principalmente pela via oral, devido a dois fatores:

1- O hábito de um bovino sadio lamber a genitália de uma fêmea doente;
2- A ingestão de alimentos contaminados por urina de animais doentes; fezes de bezerros recém-nascidos de vacas enfermas; corrimento uterino; restos de placenta; líquidos fetais; restos fetais.

Obs.: As lesões da pele podem, também, ser via de penetração de germes. A cobertura do touro pelo infectado praticamente não tem importância na transmissão da brucelose. (Fonte: Embrapa)

Mudar os hábitos – Na avaliação de Mascarenhas, a não adoção dos exames de diagnóstico da brucelose pode acarretar prejuízos elevados ao produtor, já que é obrigatório o sacrifício do animal em caso de ser comprovadamente positivo à infecção. “O produtor enxerga mais facilmente o prejuízo da eutanásia de uma vaca leiteira do que das perdas reprodutivas que a doença causa no rebanho. Isso sem mencionar o fato de a brucelose ser uma zoonose e, portanto, uma vaca infectada é um risco para todos os que tenham que lidar com ela no dia a dia.”

Para ele, sem realizar os exames, o rebanho não ficará livre da doença. Os órgãos de Defesa Sanitária animal sabem disso e, mais cedo ou mais tarde, o produtor será obrigado a fazer os exames. “A minha dica é para que comece a realizar os exames o quanto antes. Procure um veterinário que seja habilitado para fazer os exames, converse com ele e, juntos, elaborem uma estratégia para alcançar o resultado, que é a erradicação tanto da brucelose como da tuberculose bovina de sua propriedade.”

Biosseguridade – Segundo o especialista da Embrapa, a adoção de ações de biosseguridade em fazendas leiteiras é um ponto crucial para o controle da doença. Ele destaca que os animais que vierem a ser adquiridos precisam ficar em quarentena. No geral, esses animais tendem a vir com um exame negativo, porque minimamente se exige isso.

Ele recomenda que o produtor realize dois exames de brucelose nesses animais com um veterinário de sua confiança. Um exame na primeira semana em que chegarem à propriedade e outro na última semana da quarentena. Afinal, o seguro morreu de velho. “Além disso, eu gostaria de enfatizar que o produtor precisa atentar para os prejuízos causados pela doença e para a legislação que envolve o controle dessa enfermidade que cada vez mais se tornará restritiva. Portanto, não há mais tempo a perder”, conclui.

CONTROLE E PREVENÇÃO DA DOENÇA

O sucesso na eliminação da doença por meio das medidas a seguir dependerá da fase em que ela se encontra, da vigilância sanitária imposta e do tamanho do rebanho:

• Vacinação das bezerras com 3 a 8 meses de idade;
• Exame de todo o rebanho, pelo menos uma vez por ano;
• Repetição do exame dos bovinos suspeitos três meses após o primeiro exame;
• Eliminação dos bovinos doentes para o abate;
• Isolamento das vacas que abortarem;.
• Recondução ao rebanho somente das vacas com exame negativo para brucelose;
• Consulta ao técnico, para providenciar ou orientar no envio de materiais específicos para exames laboratoriais;
• Enterro do material resultante do abortamento e que não foi enviado para o laboratório;
• Desinfecção com cal ou creolina de todo o material que teve contato com o feto, membranas fetais e líquidos fetais;
• Aquisição de animais somente em rebanhos livres da doença. Isso porque animais com exames de sangue (sorologia) negativos, oriundos de rebanhos que têm animais comprovadamente infectados, têm grande risco de também estarem doentes. (Fonte: Embrapa)

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