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Nos últimos anos, o rebanho leiteiro tem crescido a uma taxa de 45%

LEITE DE BÚFALAS

Bubalinocultura de leite

em franca expansão

Segundo levantamento da Associação Brasileira dos Criadores de Búfalos (ABCB), segmento de leite de búfalas conta com a participação de 5 mil famílias produtoras, em diversas regiões do País, e movimentou cerca de R$ 1 bilhão em 2021

Erick Henrique

Para ser bem-sucedido, você tem de ter o seu coração em seu negócio, e o seu negócio em seu coração. Quem sintetiza esse raciocínio são os criadores de búfalos do Brasil, dentre eles Caio Vinicius Di Helena Rossato, médico veterinário e atual presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Búfalos (ABCB), que destaca o forte interesse pela bubalinocultura, atividade pecuária mais crescente no País nos últimos 20 anos, que tem grande potencial econômico, além de sua importância social.

“O Brasil já concentra o maior rebanho de búfalos do Ocidente, cerca de 3 milhões de animais. Isso representa 1% do rebanho bovino, sendo 70% para corte e 30% para produção de leite. Nos últimos anos, o rebanho leiteiro tem crescido a uma taxa de 45%”, informa ele, que está em seu segundo mandato consecutivo, que vai até 2025.

Caio Vinicius Rossato: “O maior desafio do setor é o aumento de produtividade leiteira do rebanho bubalino, visando atender à crescente demanda pelos lácteos de leite de búfalas”

Rossato lembra que teve o primeiro contato com búfalos logo após iniciar sua atividade como veterinário, no ano de 2000. “Naquela época, me tornei técnico de registro genealógico pela ABCB, prestando serviço para diversas fazendas do Estado de São Paulo e de outros Estados. Mais tarde me tornei criador e, como as coisas foram evoluindo, construí um pequeno laticínio em Pilar do Sul (SP).”

Segundo dados da ABCB, os principais Estados produtores de leite de búfala no Brasil são São Paulo, seguido de Minas Gerais, sendo marcante que diversos Estados vêm apresentando um crescimento expressivo. “O faturamento anual, com base em 2021, dessa cadeia produtiva do leite girou em torno de R$ 1 bilhão, envolvendo o trabalho de 5 mil famílias, em várias regiões do Brasil”, assinala Rossato.

Contudo, o presidente da associação informa que, hoje, o maior desafio do setor é o aumento de produtividade de seu rebanho bubalino, consequentemente o aumento da produção de leite, visando atender à crescente demanda do setor lácteo de bubalinos no Brasil.

De acordo com o artigo publicado pela ABCB no portal Milkpoint, em 2019, a exploração leiteira comercial no Brasil é relativamente recente, tendo se iniciado ao fim dos anos 1980 na Região Sudeste e existe ainda uma grande variabilidade produtiva, com rebanhos produzindo médias por lactação entre 1.500 e 1.600 litros e outros, mais destacados, atingindo médias de 3.500 a 3.600 litros/lactação. Há registro no País de búfalas com produções acima de 6.000 litros por lactação, ou de 5.500 litros até 305 dias, com picos diários de até 30 litros em duas ordenhas.

“No fim do ano teremos o relatório final das avaliações de 2022, e poderemos ter um dado real das lactações fechadas em diversos sistemas de produção, em diversas regiões do País, com grande confiabilidade. Com isso, será possível atingir um grande avanço no melhoramento genético do rebanho no Brasil, levando a garantia aos criadores da informação dos indivíduos que realmente são melhoradores de plantel”, explica Rossato.

A Associação Brasileira de Criadores de Búfalos, por delegação da Dipoa (Divisão de Inspeção de Produtos de Origem Animal), estabeleceu no ano de 2000 o programa denominado “Selo de Pureza 100% Búfalo”, por meio do qual concede aos laticínios participantes autorização para inserir nos rótulos de produtos elaborados exclusivamente com leite bubalino um “selo” representativo da certificação de origem do produto

MERCADO EXIGENTE POR PRODUTOS DE QUALIDADE

Conforme o presidente da ABCB, o preço do leite pago ao produtor tem deixado margem, porém o criador precisa ser eficiente. “Observamos melhoria na qualidade dos criadores de búfalo no segmento do leite, que exercem suas funções como verdadeiros profissionais. Diferente dos criadores de bovinos, os produtores de búfalas das principais bacias leiteiras do País têm uma estabilidade com relação ao preço pago pelo litro de leite durante o ano inteiro, ocorrendo muito pouca oscilação.”

Para ele, a verticalização de cadeia, sem dúvida alguma, é uma alternativa para o produtor, porém não é a única opção. Muitos bubalinocultores no Brasil, hoje, verticalizam sua produção, mas outros produtores não o fazem e têm também sucesso na sua atividade. “Caso a verticalização seja uma escolha do produtor, ela deve ser muito bem planejada, pois se agrega valor nesse sistema, mas vale informar que é uma operação muito mais complexa do que a produção de leite”, avalia.

A verticalização, produção de queijos, não é a única opção para os produtores, pois há aqueles que também têm sucesso vendendo a matéria-prima para os laticínios

Selo de pureza – De acordo com o coordenador do programa “Selo de Pureza 100% Búfalo”, João Batista de Souza, o selo beneficia muito mais o consumidor, dando ele a garantia de que o produto certificado é realmente elaborado 100% com leite de búfala, consequentemente acaba beneficiando o produtor, porque, a partir do crescimento de volume processado pelos laticínios certificados, faz com estes que aumentem a compra de leite de búfala. O Selo de Pureza 100% Búfalo tem como objetivo levar essa informação para o varejo e para o consumidor final, e também trabalhar como parceiro dos órgãos fiscalizadores, visto que a ABCB tem um vasto material colhido e arquivado nos últimos 20 anos. Nos últimos três anos, aumentaram as análises realizadas, graças a uma grande parceria com a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por intermédio do Instituto de Zootecnia de Nova Odessa, sob o comando do pesquisador Anibal Eugênio Vercesi Filho, o que permitiu à ABCB elevar consideravelmente o número de análises realizadas mensalmente de derivados lácteos de búfalas.

“O objetivo do programa é garantir uma concorrência honesta entre produtos colocados no mercado, agregando valor àqueles elaborados exclusivamente com o leite da espécie, de qualidade reconhecidamente superior, além de garantir a segurança do alimento aos consumidores de tais produtos. Ou seja, submetendo os produtos de leite de búfala à aferição periódica de sua composição por meio de exames laboratoriais, como testes para identificação de espécies em produtos lácteos derivados de búfala, com análises qualitativa e quantitativa para a presença de leite de búfala e leite de vaca, além de eventual fiscalização nos estabelecimentos produtores, realizados por seu Grupo Técnico de Controle”, diz Souza.

João Batista de Souza: “O selo também beneficia o produtor, porque, a partir do crescimento de volume processado pelos laticínios certificados, faz com que haja maior demanda pelo leite de búfala”

O programa, de âmbito nacional, por intermédio da atuação dos participantes representados por sua Comissão Executiva, busca ainda promover o selo em si junto aos formadores de opinião, compradores e mercado consumidor. E ainda difundir boas técnicas de fabricação entre seus membros, promover a difusão da exploração bubalina leiteira, assegurando uma maior e mais regular oferta de matéria-prima, bem como estimular o consumo dos produtos derivados de leite de búfalas.

Entre as condições para adesão ao programa, está o compromisso de respeitar o regulamento, de submeter seus rótulos à apreciação da direção do programa, a fim de que eles não encerrem confusões quanto à origem da matéria-prima.

Segundo a ABCB, pesquisas efetuadas junto aos consumidores de derivados de leite de búfala em São Paulo deram conta de que, na percepção do consumidor, o selo vem agregando uma imagem altamente positiva ao segmento. Além disso, a intensificação das ações promocionais do programa certamente representa uma vantagem competitiva adicional aos produtos certificados e, portanto, o fortalecimento do selo, que se dará com uma maior adesão dos fabricantes, permitirá uma potencialização do mercado como um todo, diferenciando e valorizando os produtos.

O leite de búfala possui características especiais e é a matéria-prima ideal para a elaboração de diversos tipos de queijo

DIFERENCIAIS DOS LÁCTEOS DE BÚFALA

O leite de búfala possui características especiais e é a matéria-prima ideal para a elaboração de diversos tipos de queijo, em particular a tradicional muçarela de búfala, um tipo de queijo fresco, de massa filada, originário da Itália, no século XVI, produzido exclusivamente com leite de búfala, o que lhe confere sabor, aroma e textura inigualáveis. É moldado em diversos formatos, tais como: bolas, nozinhos, tranças ou barras, sendo embalado em soro ou não, e consumido como entrada, aperitivo ou componente na elaboração de diversos pratos.

No Brasil, a ABCB criou o Selo de Pureza 100% Búfalo para identificar a muçarela de búfala verdadeira e proteger o consumidor, pois o produto é alvo constante de falsificadores. Segundo a entidade, a muçarela de búfala tem menos colesterol do que a muçarela de vaca.

Além disso, é branca, pois o leite da búfala não possui betacaroteno, um precursor da vitamina A, que dá coloração amarelada ao queijo de vaca. No leite da búfala, a vitamina A fica disponível para o organismo absorvê-la mais rápido.

Há pesquisas em curso sobre búfalos, oferecendo aos produtores biotecnologias produtivas e reprodutivas

PESQUISAS EM PROL DA BUBALINOCULTURA

 
De acordo com levantamento do Instituto de Zootecnia (IZ/Apta), no Estado de São Paulo somam-se mais de 112 mil cabeças de búfalos. A região do Vale do Ribeira conta com o maior rebanho de búfalos de São Paulo, e, por isso, dispõe das pesquisas desenvolvidas no IZ/Apta. Atualmente, somado ao apoio da associação, o IZ estabeleceu parcerias com a transferência de tecnologias de dois de seus laboratórios – o de Biotecnologia e o de Análise de Leite.

O Vale do Ribeira possui um rebanho de 44 mil cabeças de búfalos, distribuído em 399 propriedades. Em Registro (SP), onde está a Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento (UPD) do IZ, concentram-se 12.500 cabeças de búfalos. Há 35 anos, o IZ oferece aos produtores biotecnologias produtivas e reprodutivas.

Atualmente, segundo o pesquisador e chefe da unidade, Nelcio Antonio Tonizza de Carvalho, a fazenda experimental conduz cinco linhas de pesquisas, como produção animal, inseminação artificial em tempo fixo (IATF), produção in vivo (SOV) e in vitro (PIVE) de embriões e transferência de embriões em tempo fixo (TETF), contando com apoio da Fapesp e CNPq.

Já o Laboratório de Biotecnologia, do Centro de Pesquisa de Genética e Reprodução Animal do IZ, em Nova Odessa (SP), coordenado pelo pesquisador Anibal Eugênio Vercesi Filho, desenvolveu metodologias que certificam os produtos lácteos existentes no mercado quanto à presença integral de leite de búfalas nestes produtos.

Há ainda o Laboratório Móvel para Análise de Leite, que fica no Centro de Pesquisa de Bovinos de Leite do IZ, coordenado pelo pesquisador Luiz Carlos Roma Jr., em parceria com a Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS), da região de Itapetininga (SP). Esse laboratório tem capacitado produtores de leite de búfalas “in situ” para melhorias na qualidade do leite produzido pelo rebanho, sendo ponto imprescindível para que os laticínios possam receber matéria-prima de qualidade.

De acordo com os especialistas, a difusão das tecnologias em bubalinocultura pela Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, por meio do IZ, ultrapassou fronteiras, alcançado criadores do exterior, recebendo comitivas de bubalinocultores da Colômbia, Guatemala e México. A unidade de Registro faz parte do roteiro “Búfalo Tour” no Brasil, promovido pela ABCB.

Em síntese, as unidades do IZ trabalham em parceria com a associação dos criadores para atender aos anseios dos bubalinocultores por tecnologias que possibilitem a máxima eficiência e produtividade de seus rebanhos e, consequentemente, o maior retorno financeiro com suas atividades.

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