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Essa doença merece toda a atenção do produtor, pois tem sério impacto negativo no rebanho

VIBRIOSE

Campilobacteriose genital bovina:

bons índices zootécnicos auxiliam na prevenção

São cuidados que, aliados a um programa vacinal, melhoram o desempenho econômico da produção de bovinos leiteiros

Gisele Dela Ricci*

Conhecida como vibriose, a campilobacteriose genital bovina (CGB) é uma doença infecciosa de transmissão via sexual que acomete bovinos, causada pela bactéria Campylobacter fetus e que pode causar infertilidade temporária da vaca devido a repetições de cio e aborto.

Essa doença ocorre com maior frequência em países onde a monta natural é mais comum, como África do Sul, Argentina, Austrália, Brasil, dentre outros. Também em países com maior índice de inseminação artificial dos rebanhos ela é observada, como Canadá, Estados Unidos, França, Inglaterra e Nova Zelândia (OIE 2009). Nos países onde ocorre, esta doença causa grandes perdas, uma vez que leva à média de 60% de taxa de retorno ao cio e que 35% das novilhas cobertas ficam prenhes.

Entre as principais características da doença está a repetição de cios, com intervalos irregulares, normalmente maiores que 35 dias e abortos no terço inicial e médio da gestação. Frequentemente, o abortamento ocorre entre o terceiro e o quinto mês de gestação, período que também podem ser encontrados abortos pelo protozoário Tritricomonas foetus, que ocasiona morte embrionária, além de abortos. O vírus da diarreia bovina acarreta abortos em terço inicial de gestação, mas se diferencia por manifestações clínicas específicas.

Além de repetição de cios e abortos, a CGB pode causar processos inflamatórios do útero, como a endometrite e a cervicite e da tuba uterina, como a salpingite, podendo apresentar infertilidade temporária ou permanente nos animais. Na vaca, a bactéria se aloja na mucosa da vagina, no cérvix e no útero. Nos touros, a infecção não apresenta sintomas, sendo eles apenas disseminadores da infecção, já que mantêm a libido e a capacidade fértil do sêmen, cujas características físicas e químicas não se alteram.

Trata-se de uma doença de apresentação normalmente sem sintomas e pouco perceptível, especialmente se o controle zootécnico for deficiente, em que as repetições de cio são pouco controladas, e ao serem notadas, as perdas já serão significativas. Normalmente, é silenciosa e determina um menor número de bezerros produzidos em relação ao seu pleno potencial, com perdas na lucratividade da bovinocultura.

Estudos mostram que em rebanhos com estação de monta controlada se observa número elevado de vacas vazias ao fim da estação de monta, especialmente novilhas, sem concentração de nascimentos, como esperado.

 

Diagnóstico clínico – Ao detectar e avaliar os indícios da presença da doença nas vacas, o médico veterinário deve confirmar seu diagnóstico com testes laboratoriais. É fundamental esse procedimento para que a CGB não seja confundida com outras doenças transmitidas por via sexual. As técnicas utilizadas são as de imunofluorescência direta, isolamento e identificação do agente, testes imunoenzimáticos e genéticos. Os testes normalmente são feitos nos touros, por possuírem líquidos próprios e por estarem em menor número populacional.

 

Transmissão da CGB no rebanho – A entrada da doença ocorre pela introdução de animais infectados, normalmente os touros. O sêmen contaminado e o comportamento homossexual de touros aumentam a transmissão de indivíduo para indivíduo. Materiais de coleta para inseminação artificial e camas oriundas de altas densidades podem transmitir, sendo pouco frequente.

A relação correta entre touro-vaca é muito importante para controle da disseminação da doença. Normalmente, em rebanhos infectados a relação touro-vaca aumenta em decorrência de maiores coberturas pelo retorno ao cio.

Touros de repasse são um ponto importante na transmissão da campilobacteriose genital bovina. Esses animais normalmente são utilizados para coberturas de vacas que não se tornaram gestantes após duas ou três inseminações. Também touros mais velhos são um fator de risco importante, por possuírem estruturas reprodutivas mais propícias à manutenção da doença em seu organismo. As fêmeas portadoras da doença contribuem significativamente para a manutenção, uma vez que eliminam a enfermidade em até três cios sem cobertura.

ESTRATÉGIAS DE CONTROLE DA DOENÇA

 
Um bom programa de inseminação artificial com sêmen de qualidade é a principal estratégia de controle da doença, já que impede a principal via de transmissão. Outros métodos de controle são as estações de monta limitada (60 a 90 dias), repouso sexual de 3 a 4 ciclos para recuperação de fêmeas, de modo a evitar a utilização de touros de repasse.

A separação de bovinos jovens para a formação de rebanhos saudáveis a partir de novilhas e touros não infectados seria o mais indicado. Porém, é muito difícil de ser realizada, uma vez que seria importante distinguir quem são os infectados dos não doentes.

A vacinação é outra grande aliada no controle da CGB. São utilizadas para esse controle desde 1960, e são fundamentais especialmente em rebanhos em que a inseminação artificial é difícil de ser realizada.

A vacina contra C. fetus subsp. Venerealis é muito eficaz contra as repetições de cio e aborto, já que apresenta também efeitos curativos, controlando a doença. Para touros, a vacinação não deve ser utilizada como única forma de controle, pois seus efeitos ainda são controversos na literatura.

Todos os bovinos do rebanho em idade reprodutiva devem ser vacinados 30 a 60 dias antes da cobertura, sendo obrigatória a revacinação anual em dose única.

Atualmente, o pequeno produtor de leite busca cada vez mais a redução dos custos, a melhoria da qualidade do seu produto e da genética dos bovinos. Para isso, é muito importante que haja constante vigilância na aquisição e introdução de bovinos no rebanho. É fundamental manter o manejo reprodutivo adequado, aliado a um bom programa de vacinação, que são as principais práticas para a manter os bovinos livres da campilobacteriose genital bovina (no original, há referências bibliográficas, que os interessados podem solicitar à Balde Branco).

*Zootecnista, mestra, doutora e pós-doutoranda pela USP. Atua no laboratório de Etologia, bioclimatologia e nutrição de animais de produção (bovinos, suínos e ovinos)

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