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As doenças ou lesões do casco podem trazer muitos prejuízos à produção de leite e o pedilúvio pode ser uma solução para evitar problemas como a dermatite

SAÚDE ANIMAL

Cascos: doenças ou lesões

têm impacto negativo na produção de leite

Podem reduzir pelo menos 30% da sua produção diária e levar até ao descarte dos animais afetados

João Carlos de Faria

As doenças de cascos ou afecções podais têm várias causas e muitas consequências, mas sempre trazem prejuízos econômicos significativos ao produtor. Ainda assim, nem sempre são encaradas e tratadas com a devida importância, apesar dos impactos negativos na produção e na produtividade do rebanho leiteiro. Dependendo da gravidade dessas doenças, são inevitáveis problemas como a redução drástica do volume de leite produzido, os gastos com mão de obra, medicamentos e o descarte do animal.

Na avaliação do médico veterinário Fernando Santos, gerente nacional de vendas da linha Grandes Animais da Syntec, os produtores lidam diariamente com os desafios que cercam o rebanho, mas as doenças podais são muito comuns e seus impactos são bem evidentes. “Em geral eles têm noção dos efeitos negativos que essas doenças causam em termos quantitativos, pois o gasto com tratamento e principalmente o descarte de vacas afeta diretamente o seu bolso”, diz.

Segundo ele, os cascos possuem papel primordial na vida do animal, porque sustentam o seu peso, garantem equilíbrio e são responsáveis pela sua locomoção. Por isso, as patologias dos podais dos bovinos são um dos principais problemas que podem afetar o desempenho econômico de uma propriedade.

Fernando Santos: “Os prejuízos são sérios e estão, na sua grande maioria, ligados às despesas com medicamentos e tratamento veterinário”

“Os prejuízos são sérios e estão, na sua grande maioria, ligados a despesas com medicamentos e com tratamento veterinário, sendo as afecções podais responsáveis por boa parte do descarte precoce de matrizes”, afirma Santos.

A dificuldade de locomoção afeta a ingestão de alimentos e a manifestação de comportamentos naturais (como o cio, por exemplo) e os índices reprodutivos, podendo acontecer de a vaca não aceitar a monta devido ao seu desconforto podal ou ainda ocorrer que o descarte seja inevitável, o que afeta diretamente a produtividade.

Segundo o veterinário, com a ocorrência da claudicação e desconforto na locomoção, as vacas leiteiras podem deixar de produzir em média até 5 litros/dia ou mais. Além disso, dependendo da gravidade da lesão, elas podem apresentar queda na taxa de concepção, que, em casos mais avançados, pode chegar de 50% a 100%.

A úlcera de sola é uma lesão causada principalmente pelo desaprumo do animal

Eudes Esteves do Nascimento: “Em geral, o grande produtor tem mais informação, é mais organizado e faz a prevenção. O pequeno e o médio nem sempre tem essa mesma visão”

Para o médico veterinário Eudes Esteves do Nascimento, responsável técnico pelos produtos de uso veterinário da Makroquímica, o problema afeta principalmente o pequeno produtor e clinicamente é um dos principais que incidem sobre o rebanho. “Em geral, o grande produtor tem mais informação, é mais organizado e faz a prevenção. O pequeno e o médio nem sempre têm essa mesma visão”, avalia. O maior problema, segundo ele, quando se trata dessas doenças, é que o animal entra num ciclo de emagrecimento que pode levá-lo à morte, ou a lesões ósseas crônicas e à necessidade de uso de próteses. “Muitas vezes o produtor persiste no tratamento por meses, na expectativa de recuperar o animal, mas isso custa caro e nem sempre dá resultado.”

Ele afirma que as vacas com lesões podem ter os ovários afetados e apresentar problemas de cio e sofrer abortos, interrompendo a prenhez, ou então ocorrer a retenção da placenta após a parição. “O impacto na genética é muito significativo e uma vaca afetada pode levar até um ano para voltar a se reproduzir”, conclui.

A claudicação acontece com o crescimento irregular do casco, que normalmente resulta no desequilíbrio do andamento e da sustentação do animal, o que deve ser corrigido com a lapidação dos cascos, a ser feita pelo menos a cada seis meses. O médico veterinário também chama a atenção para a osteíte ou inflamação do osso, que ocorre quando o processo avança e as bactérias atacam os ossos, tornando o quadro crônico, quase irreversível.

PRINCIPAIS CAUSAS DE PROBLEMAS NOS CASCOS ÀS QUAIS O PRODUTOR DEVE ESTAR ATENTO

 

Eudes do Nascimento aponta como possíveis causas das doenças dos cascos a nutrição desbalanceada, a mineralização inadequada e a falta de higiene no ambiente. “O carboidrato em excesso, ao ser absorvido pelo fígado do animal, vai para as extremidades, causando as lesões. Isso pode acontecer quando o próprio produtor faz a sua ração, sem atentar para o balanceamento correto dos nutrientes”, avalia.

Por sua vez, Fernando Santos reforça a importância de se formularem dietas com níveis adequados de fibras, energia, proteína, vitaminas e minerais com oferta dos micronutrientes e macronutrientes na proporção ideal para cada categoria de animais, podendo ainda serem inclusas suplementações como a biotina, que ajudam a manter a saúde dos cascos.

“A nutrição balanceada é muito importante para evitar possíveis desordens metabólicas, como a acidose ruminal, causada por excesso de carboidratos, o que faz com que o organismo libere substâncias nocivas para a saúde do casco”, diz Santos.

Ambiente – Fernando Santos, por sua vez, explica que os pisos de concreto são também um dos principais fatores das lesões podais no rebanho leiteiro. Esses pisos normalmente têm menor capacidade de absorção de impactos, ocasionando o desequilíbrio na distribuição do peso corpóreo das vacas, com maiores taxas de lesões nos membros posteriores, em decorrência do peso adicional do úbere.

Higiene – Ele destaca ainda que a falta de higiene nas salas de ordenha e os pisos constantemente úmidos ou áreas com muito barro causam o amolecimento dos cascos, deixando- os mais expostos ao risco de lesões. Portanto, os maiores desafios para a prevenção dessas doenças estão atrelados à nutrição e aos tipos de piso das instalações.

Pisos de concreto, por terem menor capacidade de absorção dos impactos sobre os cascos, são um dos principais fatores para a ocorrência de doenças

Gleison Moras: “É como se você caminhasse com um sapato com a sola torta. No caso da vaca, quando ela exerce mais pressão sobre uma pata, começam os problemas de lesão”

Nessa mesma linha de orientação, o médico veterinário Gleison Moras, especialista em casqueamento, recomenda o cuidado com os pisos, que não devem ser nem muito ásperos e nem lisos. “Sempre orientamos o produtor a ter um cuidado especial com o piso na hora de construir o galpão. O ideal é que seja um piso usinado, levemente polido e frisado, sempre em diagonal cruzado, para escoar bem a água, pois assim as vacas não terão nenhum problema de lesão de casco e fica mais fácil a limpeza.”

Moras afirma que a principal lesão em animais confinados em galpões, em especial nos sistemas de free stall, é o hematoma ou a úlcera de sola, causados pela falta de adequação do piso. “Uma é consequência da outra e só com o casqueamento preventivo já se consegue eliminar a maior parte das lesões.”

Em síntese, essas avaliações indicam que o produtor deve oferecer o máximo de conforto aos animais, o que significa, por exemplo, que no caso de gado no sistema confinado é preciso fornecer camas macias para minimizar o impacto sobre os membros e evitar a superlotação.

No caso de gado a pasto, é preciso evitar que os animais passem por locais com muitos desníveis, pedras, buracos, subidas e descidas, alta umidade, barro misturado com resíduos orgânicos. Ou seja, é fundamental evitar a sobrecarga dos membros com a baixa absorção de impacto ou possíveis traumas como o amolecimento dos tecidos pelo excesso de umidade.

“Afinal, ter animais claudicando é sinal de que o manejo está sendo feito de forma incorreta ou ineficiente, ou seja, algo está faltando. Pode ser a alimentação deficiente ou com inadequados níveis nutricionais ou instalações que não estão em conformidade com a necessidade dos animais (tipo de pisos) ou ainda porque o gado está sendo submetido a esforços acima dos suportáveis, de acordo com as boas práticas de manejo”, ressalta Fernando Santos.

Pedilúvio – Segundo Gleison Moras, o pedilúvio é a única forma de prevenir a dermatite. “Como ela é uma bactéria que está presente no esterco não tem como eliminar 100% de outra forma”, afirma. Os pedilúvios geralmente são instalados em corredores de entrada e saída da sala de ordenha, contendo uma solução para desinfetar os cascos dos animais. “No mercado há vários produtos, mas nós trabalhamos com o sulfato de cobre, com diluição entre 5% e 10%, no mínimo duas vezes por semana, o que ajuda bastante na prevenção”, diz.

CASQUEAMENTO PREVENTIVO COMO SOLUÇÃO PARA EVITAR PREJUÍZOS

 
O médico veterinário Gleison Moras (foto), que atende propriedades leiteiras no Sul do País, afirma que o termo correto ao se referir a lesões ou a doenças de cascos é “podologia bovina”. Também evidencia que há diferença entre o que é uma lesão – que pode ser causada pela falta de casqueamento ou desaprumo do animal – e o que são doenças, que normalmente são infecções bacterianas que podem levar a uma lesão grave ou até mesmo ao descarte do animal.

“Hoje, 99% das lesões e das doenças de casco podem ser prevenidas e o caminho é o casqueamento preventivo. Um animal que caminha aprumado distribui melhor o seu peso sobre os cascos”, afirma. Há oito anos no mercado, ele faz esse procedimento em 12 mil animais/ano, em média.

“É como se você caminhasse com um sapato com a sola torta, exercendo mais pressão sobre um pé ou só de um lado do pé. No caso da vaca, quando ela exerce mais pressão sobre uma pata começam os problemas de lesão e, por isso, a primeira coisa a ser feita para evitá-los é casquear todos os animais e deixá-los o mais aprumados possível”, resume, observando que, em geral, as unhas crescem de 3 a 5 mm por mês e em seis meses vão estar enormes.

O casqueamento preventivo, segundo ele, deve ser realizado no mínimo a cada seis meses, mas para propriedades que queiram avançar um passo a mais, a recomendação é reduzir esse prazo para quatro meses ou três vezes por ano. “O resultado é excelente”, diz.

Isso porque, quando se consegue corrigir o aprumo e equilibrar o peso entre as unhas, são eliminados os pontos de pressão, reduzindo drasticamente as lesões. Além do hematoma e da úlcera de sola, Moras lembra de outras lesões comuns em animais mal aprumados, como as úlceras de pinça e de talão.

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