A cetose bovina, também conhecida como acetonúria, hipoglicemia e acetonomia, é uma doença metabólica que afeta animais de alta produção, especialmente as vacas leiteiras.
O problema geralmente ocorre durante o período de transição, no qual a vaca passa por diversas mudanças metabólicas e hormonais. Essa enfermidade causa grandes impactos na produtividade e na reprodução das fazendas, diminuindo consideravelmente a produção de leite. Além disso, há o aumento gradativo dos custos com sanidade.
O que é cetose bovina?
A cetose é uma das principais doenças metabólicas das vacas leiteiras e geralmente acomete animais de alta produção no pós-parto. Ela acontece quando há um excesso na produção e concentração de corpos cetônicos na corrente sanguínea devido a uma maior exigência energética para produção de leite.
A alta demanda por energia num momento de redução do consumo e escassez de glicose causa um desequilíbrio chamado balanço energético negativo. Na cetose primária esse déficit ocorre majoritariamente durante o período de transição, no qual o animal passa de não lactante gestante para lactante não gestante. Neste momento, mudanças drásticas ocorrem no seu metabolismo.
Já nos quadros de cetose secundária, como o próprio nome diz, essa queda acentuada do apetite ocorre secundariamente a outras enfermidades. A vaca então passa a mobilizar tecido adiposo a fim de obter uma fonte alternativa de energia e, como consequência, há o aumento dos níveis séricos de ácidos graxos não-esterificados (Agne) no sangue.
Sintomas
A cetose pode se apresentar na forma clínica e na forma subclínica. Na cetose clínica há perda de escore corporal, anorexia, prostração e queda na produção de leite. Além disso, fezes secas e odor de cetona no ar expirado podem ser comumente observados. Em alguns casos, o quadro clínico pode evoluir apresentando sinais nervosos como tremores musculares, hiperexcitabilidade e descoordenação com ataxia dos membros posteriores.
Em casos de cetose subclínica, os níveis de corpos cetônicos no sangue e no leite estarão aumentados, mesmo sem a apresentação da sintomatologia clínica. Nesse sentido, a concentração sérica igual ou superior a 1,2 mmol/litro de beta hidroxibutirato já é um indicativo de cetose subclínica.
A cetose subclínica resulta em grandes impactos produtivos e econômicos na fazenda. A doença contribui, por exemplo, para a redução da imunidade dos animais e provoca, ainda, mudanças drásticas no perfil hormonal da vaca. Esses fatores podem ocasionar desde a redução de peso e da fertilidade dos animais até enfermidades secundárias.
Quais são as causas?
O manejo nutricional é um ponto decisivo para a ocorrência da enfermidade. A oferta de dietas desbalanceadas e manejos desalinhados também podem favorecer a redução do consumo, contribuindo para o aparecimento da cetose.
O estresse térmico e as condições ambientais também podem predispor à doença. Além disso, outras afecções metabólicas e não metabólicas durante o período de transição, como problemas de casco, podem induzir à redução do consumo de alimentos, aumentando a predisposição do animal à cetose. Confira em seguida como tratar e prevenir a cetose bovina.
Tratamento
O tratamento da forma clínica da doença é sintomático. Desta forma, é importante reverter o quadro hipoglicêmico com a administração de glicose via endovenosa – a glicose via oral deve ser evitada, pois é rapidamente fermentada no rúmen, produzindo precursores cetogênicos, o que agravaria o problema.
Além disso, a realização de um monitoramento da cetose pode auxiliar no tratamento profilático dos quadros subclínicos. Para isso, basta mensurar os níveis de BHBA (beta-hidroxibutirato). Esse monitoramento pode ser realizado em medidores apropriados para tal finalidade, aplicando uma amostra de sangue coletada da cauda dos animais. Os dados podem ser correlacionados com a tabela ao lado.
Nas situações de cetose leve ou moderada, devemos oferecer quantidades elevadas de energia, como o propileno glicol, visando evitar a mobilização de gordura nas vacas. O uso de drench em vacas recém-paridas pode ser uma boa opção, pois essa administração oral forçada de nutrientes (drench) minimiza a deficiência energética e hidrata o animal.
• 160 gramas de sal branco (NaCl)
• 20 gramas de cloreto de potássio
• 10 gramas de cloreto de cálcio
• 250 ml de propilenoglicol
• 20 litros de água limpa
Prevenção da cetose bovina
A prevenção da cetose se inicia antes da secagem dos animais, com a implementação de um manejo nutricional adequado e balanceado. Nesse sentido, o fornecimento de forragens de boa qualidade e o uso de concentrados na proporção correta auxiliam na ingestão de nutrientes e, consequentemente, reduzem o dispêndio de reservas corporais.
Ministrar aditivos alimentares pode beneficiar o metabolismo e a saúde do animal, sendo uma alternativa na prevenção da doença. Além disso, vitaminas do complexo B podem reduzir a mobilização de gordura corporal durante o início da lactação e assim diminuir o balanço energético negativo, prevenindo enfermidades metabólicas.
A administração de gordura protegida com sais de cálcio (sem comprometer a ingestão de fibras) pode maximizar a densidade de energia na matéria seca consumida, contribuindo para a redução do quadro de balanço energético negativo.
ESQUEMA ECC
O monitoramento do escore de condição corporal (ECC) é uma boa ferramenta na avaliação da cobertura de gordura corporal da vaca, pois o ECC pode auxiliar na prevenção da enfermidade, servindo como termômetro do programa nutricional. Pensando em rebanhos de maior grau de sangue, como o Holandês, por exemplo, o escore ótimo ao momento do parto é entre 3 e 3,5 (numa escala que varia de 1 a 5).
Por fim, a promoção de um ambiente confortável, limpo e com temperatura amena também contribui para a redução da incidência da doença na fazenda, afinal, vacas que não sofrem de estresse térmico durante o período seco tendem a possuir melhor desempenho na lactação subsequente.
Considerações – Prevenir é sempre a melhor opção, por isso lembre-se: o manejo nutricional balanceado é a chave para reduzir a ocorrência da cetose na sua fazenda. Se você deseja melhorar a sua capacidade de formulação de dietas para gado de leite, não perca tempo e inscreva-se na pós-graduação em Nutrição de Bovinos Leiteiros!
*Bruno Marinho M. Guimarães é médico veterinário e técnico Equipe Leite Grupo Rehagro; coautora: Brisa Sevidanes, produtora de conteúdo Rehagro
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