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Também quanto ao ataque de pragas, a primeira providência é a prevenção para evitar danos

CIGARRINHA-DAS-PASTAGENS

CONTROLE DE PRAGAS

é necessário para garantir uma

BOA PASTAGEM

Além de todas as recomendações (já indicadas em edições anteriores), evitar a infestação de pragas é determinante para a produtividade e a qualidade da forragem

João Antônio dos Santos

Toda e qualquer lavoura cultivada requer do agricultor uma série de cuidados – com solo, correção e adubação, escolha criteriosa das sementes ou mudas adequadas às condições climáticas da região, e, por fim, os tratos culturais indispensáveis exigidos pela cultura. Esses critérios é que vão garantir que se obtenha, da respectiva planta, todo o seu potencial produtivo. E isso vale também, fundamentalmente, para as pastagens, qualquer que seja o tipo de forrageira escolhida. Nesta reportagem será focado o problema das pragas que atacam os pastos, com foco nas cigarrinhas-das-pastagens, uma das mais danosas. Por isso, o produtor que utiliza o pasto para garantir alimento suficiente e de qualidade para o rebanho não pode se descuidar quanto ao risco de ver os piquetes infestados de praga, no caso, a cigarrinha-das-pastagens.

“As pragas de pastagem causam danos expressivos, podendo diminuir drasticamente a produção. As perdas incluem diminuição da qualidade da forrageira e da produção de matéria seca, reduzindo consequentemente a produção de carne e leite”, alerta Fabrícia Zimermann Vilela Torres, pesquisadora na área de entomologia de plantas forrageiras tropicais na Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande (MS).

Ela informa que, dentre as pragas que atacam pastagens, pode-se citar as cigarrinhas-das-pastagens e os percevejos-castanhos, considerados mais importantes nos dias atuais, além de lagartas, percevejo blissus, cochonilhas, pulga saltona (pulguinha-do-arroz), larvas de besouros, formigas, gafanhotos e cupins. “As cigarrinhas são as principais pragas das pastagens. Existem as cigarrinhas chamadas típicas de pastagem, que incluem aquelas de tamanho menor, geralmente de coloração preta com ou sem listras brancas ou amareladas. E as não-típicas de pastagens, que são cigarrinhas maiores e mais agressivas, pertencentes ao gênero Mahanarva”, explica Fabrícia.

No que se refere às forrageiras disponíveis no mercado, existem algumas mais suscetíveis, por exemplo, a Brachiaria decumbens cv. basilisk, conhecida como “braquiarinha”. Outras opções, como as cultivares marandu e piatã (Brachiaria brizantha), são resistentes às cigarrinhas típicas de pastagens, mas não às espécies do gênero Mahanarva. Uma boa opção para áreas em que se tenha histórico de ocorrência de Mahanarva spp. é a cultivar BRS Ypiporã, um híbrido de braquiária, que é resistente às cigarrinhas típicas de pastagem (Notozulia entreriana e Deois flavopicta) e também a Mahanarva spectabilis.*

Fabrícia Torres: “O produtor deve fazer o monitoramento frequente da pastagem para detectar a presença do inseto”

ATAQUE DE CIGARRINHAS EM POUCO TEMPO TRAZ DANOS QUE PODEM ATINGIR TODA A ÁREA DO PASTO

O produtor deve estar ciente de que a prevenção, com monitoramento frequente da pastagem, é fundamental para evitar os riscos de infestação intensa por cigarrinhas, detectando assim a presença da praga nas plantas logo no início (e, claro, também de outras pragas). “Isso se faz ainda mais necessário, caso a sua propriedade esteja localizada em uma região com histórico de cigarrinhas, assim como se seu pasto for formado por gramíneas suscetíveis a essa praga. Após as primeiras chuvas deve-se monitorar o pasto em busca de espumas e iniciar o manejo das cigarrinhas assim que possível”, orienta a pesquisadora.

As cigarrinhas ocorrem no período das águas, associadas ao clima mais úmido e quente. Em pastos onde há sobra de palha acumulada (excesso de pasto), há o favorecimento do desenvolvimento das ninfas das cigarrinhas, que gostam de ambiente úmido e escuro. “Essa situação é mais preocupante ainda quando se tem histórico de cigarrinhas do gênero Mahanarva na região, pois se desenvolvem muito bem nesse microclima criado pelo excesso de palha na superfície do solo”, diz Fabrícia.

Fases do desenvolvimento da praga que começa a se disseminar

Os danos causados pelas cigarrinhas-das-pastagens são decorrentes da sucção da seiva e injeção de saliva tóxica. As ninfas sugam a seiva na base da touceira, causando sintomas como amarelecimento e secamento das folhas. Já os adultos sugam a seiva na parte aérea da gramínea, deixando pontuações esbranquiçadas que se juntam formando listras cloróticas. Estes danos evoluem para o secamento das folhas, que ficam com aspecto retorcido nas pontas.

Controle eficiente – Fabrícia ressalta que o controle de cigarrinhas-das-pastagens deve ser feito de forma preventiva, com o uso de gramíneas resistentes quando possível. Caso não seja viável o uso dessas cultivares na propriedade por qualquer motivo, deve-se primeiramente tentar o manejo do pasto e do gado. Estes devem ser feitos de acordo com a recomendação da cultivar plantada, mantendo a gramínea na altura mínima recomendada, para evitar o ambiente propício ao desenvolvimento das cigarrinhas (sobra de pasto e acúmulo de palha). Outro ponto que merece toda a atenção é evitar o superpastejo, a fim de não prejudicar o crescimento da gramínea.

Nesta pastagem já são bem visíveis os danos provocados pelas cigarrinhas-das-pastagens

Outra forma de controle pode ser a aplicação de fungos entomopatogênicos, como o Metarhizium anisopliae, disponível comercialmente em diversas formulações. “Neste caso, deve-se observar as melhores condições de aplicação, pois maior eficiência nesse tipo de controle é obtida em condições de maior umidade e menor exposição ao sol”, explica.

O uso de inseticidas químicos deve ser a última alternativa escolhida pelo produtor. Além da contaminação ambiental, deve-se avaliar o custo desse método de controle. Caso esta seja a opção, é preciso se atentar ao momento de aplicação, pois é importante ter como alvo os insetos adultos. “Muitas vezes, o produtor se preocupa com o problema apenas quando os danos estão mais visíveis, o que ocorre em torno de três semanas após o início do ataque”, alerta a pesquisadora, observando que, nesse momento, os adultos, que são o alvo desse tipo de controle, já morreram, já que vivem por um período, em média, de 10 a 12 dias. Se for feito controle nesse momento, o produtor terá desperdiçado produto e os ovos das cigarrinhas, que já foram postos por esses adultos no solo, não serão afetados pelo inseticida, gerando nova população da cigarrinha em alguns dias. “Além disso, é importante que sejam utilizados apenas produtos registrados para pastagens e que seja respeitado o período de reentrada dos animais na área aplicada, que varia de acordo com cada fabricante”, destaca.

Mais informações: Fabrícia – email: fabricia.torres@embrapa.br
*Sobre os capins e suas características, incluindo a resistência às cigarrinhas-das-pastagens, mais informações podem ser obtidas no aplicativo Pasto Certo, da Embrapa.

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