balde branco

CRÔNICA

Paulo do Carmo Martins

Chefe-geral da Embrapa Gado de Leite

 Os pesquisadores da Embrapa que criaram esta cultivar listam algumas de suas vantagens, como o seu potencial de produção de 50 t de matéria seca/ano ou 300 t de matéria verde”

Cinco anos de BRS CAPIAÇU

Em 1998 o capim-elefante era muito recomendado para a alimentação do gado e havia duas correntes em termos de manejo nas propriedades leiteiras. Uma era liderada por professores da Esalq/USP e a outra por pesquisadores da Embrapa Gado de Leite.

Visando estabelecer uma visão crítica entre os dois manejos preconizados, aceitei integrar uma equipe que foi a campo avaliar o desempenho de adotantes do capim-elefante, sob as óticas agronômica e econômica. Fomos até aos produtores da CCPR/Itambé, que havia estimulado a sua implantação.

Os resultados que obtivemos foram surpreendentes. Concluímos que o capim-elefante era tão complexo de se manejar, que nenhuma das duas correntes apresentava resultados bastante satisfatórios, como uma solução realmente definitiva para o produtor.

O fato é que, durante uma década e meia a partir daquele estudo, o capim-elefante não deixou de ser usado em propriedades, já que sempre teve reconhecido o seu valor nutricional. Porém, deixou de ser tão badalado quanto era nos anos que antecederam a virada do milênio.

Mas, em 2016, nas comemorações de 40 anos de fundação da Embrapa Gado de Leite, foi lançada a BRS Capiaçu, a nova cultivar de capim-elefante desenvolvida por seus pesquisadores. Naquele 26 de outubro de 2016, mais de 600 produtores e técnicos estiveram no Campo Experimental de Coronel Pacheco e participaram de um Dia de Campo especial. Nós, que ali estivemos, sabíamos que éramos testemunhas oculares da história, ao presenciarmos a entrega desta solução à sociedade, naquela data.

Cada um dos presentes levou um feixe de mudas da nova cultivar para multiplicá-la, já que ela nasceu prometendo revolucionar a produção para vacas com produção em torno de 15 litros/dia. Naquela data, também aprendemos lançar um produto tecnológico, utilizando as técnicas de comunicação e marketing, como fazem empresas bem-posicionadas no mercado. O resultado foi a imediata e intensa repercussão. Produtores de todo o País entraram em contato com a Embrapa Gado de Leite, em busca de informações técnicas e sobre como adquirir mudas.

Os pesquisadores da Embrapa que criaram esta cultivar listam algumas de suas vantagens, como o seu potencial de produção de 50 t de matéria seca/ano ou 300 t de matéria verde. A cultivar apresenta crescimento vegetativo vigoroso, rápida expansão foliar e intenso perfilhamento. As touceiras são eretas com elevada densidade de perfilhos o que confere boa resistência ao tombamento, bem como facilidade para a colheita mecanizada.

Outra característica favorável dessa cultivar é a tolerância ao estresse hídrico e frio moderados, o que a torna alternativa para cultivo em regiões com alto risco de ocorrência de veranicos e geadas. Essa cultivar é recomendada para corte, podendo ser usada picada fresca ou na produção de silagem. Na avaliação dos impactos socioambientais, o BRS Capiaçu é solução como segurança alimentar dos animais no período da seca, além de reduzir a mão de obra quando comparado ao uso da cana.

A partir de seu lançamento me acostumei a ouvir relatos de produtores satisfeitos com o desempenho da cultivar, de regiões com biomas os mais diferentes, como nas serras gaúchas ou no Ceará ou, ainda, em Rondônia, Goiás e Mato Grosso.

No dia do seu quinto aniversário, ocorrido no dia 26 do mês passado, resolvi pesquisar no Google quantas páginas na internet se referiam à BRS Capiaçu. Encontrei 74 mil. No portal de comércio eletrônico Mercado Livre, encontrei 678 vendedores de mudas, a imensa maioria não credenciada. Já no portal OLX foram 611 vendendo a partir de todos os estados da federação e do Distrito Federal. Sucesso, não?

Eu tomei conhecimento de críticas feitas ao Capiaçu, por poucos técnicos que contestam sua qualidade nutricional. Eles falam com tanta veemência e intensidade contra esta solução, de modo raivoso, que fica a dúvida se realmente acreditam no que falam ou se buscam se projetar sobre o sucesso do Capiaçu. Afinal, embora não seja comportamento ético, existem profissionais que lançam mão da estratégia de denegrir feitos para ficarem em evidência. Isso ocorre em ambiente técnico, entre grupos antagônicos de gestão e é regra na política. E, claro, sempre contra o que é sucesso, como o Capiaçu.

Nos últimos doze meses os custos de produção de leite estão subindo continuamente e comprimindo as margens entre a receita e a despesa na produção. O Índice de Custos de Produção de Leite – o ICPLeite da Embrapa registra uma elevação de 48,7% no custo da alimentação concentrada, entre setembro de 2020 e igual período em 2021. Para muitos produtores, está se tornando inviável permanecer na atividade. No Rio Grande do Sul, de acordo com a Emater, houve uma redução pela metade do número de produtores nestes últimos cinco anos.

Como o Capiaçu reduz o custo de alimentação do rebanho, principalmente em relação à silagem de milho, a pergunta é: quantas famílias de produtores foram salvas pelo Capiaçu, nestes cinco primeiros anos de sua existência?

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