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CADEIA DE LÁCTEOS

Com altos e baixos, 2020 aponta para um

2021 de incertezas

O isolamento social causado pela pandemia favoreceu a produção leiteira, com destaque para o potencial do consumo de queijos a partir da melhoria da renda da população

Luiza Mahia

O ambiente hostil criado pela pandemia obrigou as famílias a ficarem mais dentro de casa, gerando um cenário positivo para a cadeia leiteira. Durante a sexta edição do Dairy Vision, Congresso 100% Digital promovido entre os dias 1º e 4 de dezembro de 2020 pela Agripoint e pela consultoria inglesa Zenith Global, especialistas apontaram o desempenho da matéria-prima no mercado interno e seus desdobramentos no período pós-pandemia.

“O preço do litro do leite terminou o ano com valor 48,3% maior do que o averiguado no mês de janeiro e rentabilidade do produtor 24,2% maior que em 2019”, apontou o engenheiro agrônomo Valter Galan, analista do Milk Point Mercado, a uma plateia virtual composta por 250 pessoas. “O preço líquido pago ao produtor bateu recorde em agosto, com aumento de 2,21%, enquanto a muçarela registrou aumento de 31,2%, um pico de preço visto apenas em 2016”, continuou ele, justificando que tal movimento ocorreu por causa do pagamento do auxílio emergencial à população de baixa renda; a mudanças de hábitos de consumo; ao cenário de baixa disponibilidade de matéria-prima por causa da entressafra, e, por fim, à queda na importação.

Um ano fora do padrão – Entender o cenário para a cadeia leiteira em um ano com tantas incertezas foi um dos eixos do congresso online. E Galan, ao lado de outros especialistas, traçou um panorama que, apesar dos altos e baixos, trouxe dados positivos especialmente para os pecuaristas de leite.

Segundo ele, no início da pandemia, com a restrição da mobilidade e ante a necessidade de consumir alimentos feitos em casa, houve uma alta no preço do leite UHT e do leite pó como resultado direto do aumento da demanda em plena entressafra. Já a demanda por queijos sofreu forte retração, uma vez que o consumo é mais comum em estabelecimentos comerciais, que foram fechados. Mas, ao longo do período de isolamento, outros fatores como a incidência de seca em algumas bacias leiteiras, a valorização cambial e a chegada do auxílio emergencial trouxeram alguns elementos para dar um nó no desempenho do segmento leiteiro no ano de 2020.

Valter Galan: "O cenário depende da manutenção ou não do auxílio emergencial, da recuperação econômica, da nova vacina, e até de uma segunda onda da pandemia"

Segundo ele, o recorde no preço da matéria-prima no primeiro semestre aumentou a rentabilidade do produtor (veja tabela) e estimulou o aumento da produção leiteira até o mês de setembro. No mesmo período houve um incremento de mais de 62 milhões de litros importados e, consequentemente, maior disponibilidade do produto para o mercado. Na contramão do desempenho observado pelo produtor, o varejo perdeu participação no valor de venda e a briga com a indústria facilitou a queda dos preços nas prateleiras.

Quando se esperava um forte recuo no preço da matéria-prima, com os primeiros sinais de queda no valor da cesta de produto como o leite UHT e o queijo tipo muçarela entre os meses de agosto e novembro, como consequência da disputa entre varejo e indústria, do forte aumento da oferta da matéria-prima no segundo semestre e da perspectiva de redução de renda com a queda pela metade do auxílio emergencial, houve uma nova recuperação.

“Questões climáticas como o efeito La Niña, que provocou alterações das chuvas em todo o País, o abate de matrizes devido à valorização da arroba do boi gordo e o aumento no preço da ração – com fortes reajustes do milho e soja no mercado futuro – impulsionaram novos reajustes no preço do leite UHT, dos queijos e no mercado spot”, sintetizou.

E as incertezas para 2021 se mantêm. O cenário de câmbio e preços internacionais são bastante incertos, as importações tendem a seguir competitivas, e uma das únicas certezas é o aumento de 17,8% no preço do milho e soja e há uma previsão de uma inflação de 18% no leite.

“O cenário depende da manutenção ou não do auxílio emergencial, da recuperação econômica, da nova vacina, e até de uma segunda onda da pandemia”, finaliza Galan.

APESAR DE UM CENÁRIO DE INCERTEZAS, OS QUEIJOS
DESPONTAM COMO PROMOTORES DO CONSUMO DE LÁCTEOS


Glauco Carvalho, economista da Embrapa Gado de Leite, levou para o Dairy Vision uma palestra que teve como objetivo avaliar se os queijos podem ser o grande promotor do consumo de lácteos no Brasil. E iniciou sua apresentação comparando o consumo per capita (kg/ano) de queijo entre o Brasil e os países mais ricos. E o gráfico mostrou que nosso consumo é relativamente baixo de queijo, quando comparado a países como Estados Unidos, Canadá, Austrália, Argentina. “É uma questão relacionada à renda e neste aspecto estamos alinhados à nossa realidade considerando a renda média. E sob, este aspecto, podemos ver que o consumo está em um patamar razoável”, afirmou.

Grande inovação nesse segmento – Uma das constatações é de que o brasileiro está “comendo” mais leite. O que significa dizer que o consumo de queijos tem superado o consumo do leite fluido e dos demais derivados. “Vemos o queijo com uma tendência importante de crescimento. De 2010 a 2019 os queijos passaram de 30,8% para 34% no destino do leite sob inspeção”, apontou Carvalho. Segundo o pesquisador, considerando apenas o efeito renda, o consumo de queijo deverá crescer entre 17% e 26% nos próximos dez anos. “Além deste fator, observamos inovações com produtos mais segmentados e um mix cada vez mais variado, que acabam puxando o consumo desses alimentos”, completou Carvalho.

Glauco Carvalho: "No consumo de queijos, há uma tendência importante de crescimento. De 2010 a 2019 os queijos passaram de 30,8% para 34% no destino do leite sob inspeção"

Dados comparativos mostraram que os queijos têm resposta mais acentuada à alteração de renda. Nos estratos de renda mais baixa, a cada 1% de aumento na renda há um avanço de 0,82% no consumo de queijo, enquanto para os demais derivados o aumento fica na casa dos 0,5%. Nos estratos de renda média, o acréscimo de 1% nos rendimentos representa um aumento de 1,2%, enquanto, por exemplo, quando o consumo de leite em pó apresenta recuo de 1,15%, o leite fluido avança apenas 0,5%. Veja a Tabela 2.

Quando se observa a aquisição anual de lácteos, à medida que a renda aumenta, maior é o consumo de queijos, principalmente. Para as rendas até R$ 1,9 mil, o consumo de queijo por ano é de cerca de 700 gramas, quando a renda supera R$ 14 mil o consumo chega a quase 6 kg por ano, 8,8 vezes mais. Enquanto para o leite fluido o aumento do consumo nas mesmas condições é de 2,1 vezes mais. Iogurte, 4,9 vezes e leite em pó, 1,05 vez mais.

Mesmo em períodos de recessão a demanda por queijo se manteve porque está ligada ao perfil do consumidor”, afirmou o economista da Embrapa. De 2009 a 2019, enquanto a renda cresceu 14%, o consumo de queijo aumentou 26%. A perspectiva para o futuro segue otimista: considerando-se dois cenários de crescimento da economia (2% e 3%), o potencial de consumo de queijo até 2029 pode representar 38% do leite inspecionado no Brasil. “Pode ser maior e acreditamos nisso, porque além do efeito renda observamos inovações com produtos mais segmentados e mix mais variados que acabam puxando o consumo desses alimentos.”

Segmento de queijos com muitas inovações, na produção industrial e artesanal, para atender aos mais diversos paladares

TENDÊNCIAS DE MERCADO

 

Glauco Carvalho apontou ainda quais as tendências para os próximos anos para estimular o consumo de lácteos:

• Segmentação (nichos como oportunidades)

• Produtos funcionais – para públicos com necessidades diferentes

• Customização – para cada tipo de refeição

• Sabores diferenciados

• Produtos de origem – em todo o País, todos os biomas, grandes oportunidades. “Queijos artesanais com margens até 40% maiores em alguns casos”, afirmou.

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