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Os produtos Muugy, da fazenda Recanto Arizona, tendo ao fundo o robô de ordenha

EMPREENDEDORISMO

Com miniusina de lácteos, produtor investe em tecnologias de ponta e faz do leite

um bom negócio

O pecuarista Eurico Checco, da Fazenda Recanto Arizona, em Brotas (SP), conseguiu sair da dependência do laticínio para lucrar mais com produtos próprios

João Antônio dos Santos

A situação de dificuldade em contar com mão de obra capacitada e a nada atraente remuneração do leite pelos laticínios fizeram com que o produtor Eurico Surian Checco se propusesse a superar tal situação com profissionalismo. Ele é produtor desde 1997, quando, aos 19 anos, decidiu continuar a pequena produção leiteira na Fazenda Recanto Arizona, em Brotas (SP), de propriedade de seu pai. “Tinha a certeza de que o caminho seria, com a ajuda de tecnologias, elevar o volume de produção com ganhos em produtividade e qualidade do leite. E que tinha de sair da dependência do laticínio”, recorda-se. E assim ele traçou seu caminho na atividade leiteira.

A propriedade possui uma área de 52 hectares, sendo 36 de cana-de-açúcar, outra área de capineira com jiggs e braquiária, com cerca de 4 ha, para fornecer capim picado fresco para os animais, e o restante para produção de silagem de milho. O produtor observa que a produção de volumoso de qualidade é fundamental para seu sistema de produção, sendo por isso muito criterioso para obter boa produtividade e qualidade do alimento.

Eurico Checco está na lida do leite há uns 35 anos. Quando garoto, com 13-14 anos, ia sozinho da cidade à fazenda para ajudar na produção leiteira, inclusive na ordenha manual das vacas. A propriedade era de seu pai, que se dedicava a seu escritório de advocacia na cidade. 

Eurico Checco, com sua mulher, Márcia, e a filha, Lívia

“Acabei me formando em Processamento de Dados e depois Direito, em Piracicaba (SP), e mesmo naquela época ia para a fazenda nos fins de semana. Como realmente gostava de trabalhar com a produção de leite, decidi dar continuidade à atividade leiteira, me dedicando integralmente ao negócio em 1997”, lembra, observando que já tinha alguns conhecimentos práticos e uma visão mais empresarial de que o negócio deveria ser bem administrado e que precisava ter melhor desempenho produtivo com o auxílio de tecnologias.

Uma de suas primeiras providências, além de se informar mais e aprimorar seus conhecimentos sobre a pecuária leiteira, foi instalar o primeiro lance do barracão de free-stall, com sistema de climatização automático, que liga os aspersores e ventiladores de acordo com a temperatura, sendo o pioneiro na região. Também construiu uma nova sala de ordenha, que ao longo do tempo foi aumentando à medida que o número de vacas em lactação crescia, até chegar a uma espinha de peixe.

“Desde o início, tinha consciência de que vender o leite para algum laticínio não me daria muito futuro, pois a remuneração sempre foi insatisfatória, como ainda é até hoje. Quando melhora um pouco, o preço dos insumos aumenta e o que sobra para o produtor é ficar no vermelho. Então, ousei um pouco mais e instalei uma miniusina para produzir derivados de leite, no fim de 1997. Aos poucos fui diversificando os produtos com a marca Muugy, vendidos no comércio da cidade.”

Sempre acreditando na inovação tecnológica como um suporte importante para a profissionalização da atividade, visando obter o melhor desempenho em busca da produtividade e qualidade do leite, Checco, em outubro de 2014, ousou mais uma vez: instalou um robô de ordenha. E junto veio um orgulho com essa ousadia: foi o segundo produtor no Brasil a instalar essa tecnologia e também soube que era a primeira miniusina na América Latina a ter esse equipamento.

Para ele, esse foi o passo certo, depois do free-stall e da miniusina, para resolver o problema da mão de obra e fugir da venda da matéria-prima a laticínios, pois, como faz questão frisar, a qualidade do leite é fundamental para fabricar seus produtos lácteos, que são fornecidos também para escolas, hospital e casas de abrigo a idosos. “Assim, sou determinado e muito rigoroso para a marca Muugy entregar um alimento seguro e de qualidade a meus clientes. E, com essa tecnologia, tenho a garantia dessa qualidade do leite, maior conforto e bem-estar para os animais, que não são afetados pelo estresse”, afirma.

O galpão de free-stall que conta sistema de climatização automatizado e scraper para limpeza dos dejetos no piso

Ele afirma que o robô de ordenha realmente é uma tecnologia incrível, pois além facilitar toda a operação de manejo das vacas em lactação, permite um monitoramento rigoroso do úbere dos animais. E, qualquer ajuste que precise, pode ser feito remotamente, de onde estiver. Outro ponto que ele assinala é que o robô de ordenha trouxe diversos benefícios para a produção leiteira na Fazenda Arizona, a começar por amenizar o árduo trabalho de produção de leite, assim como a redução de mão de obra. Junto com o robô de ordenha, adquiriu também a cabine de alimentação conectada ao robô, e o scraper para a limpeza de dejetos dos corredores do free-stall. A fazenda conta com gerador de energia, pois as máquinas não podem parar, numa eventual queda na rede elétrica.

Ele lembra que algumas pessoas se espantaram ao ver uma pequena propriedade adquirir um equipamento sofisticado como esse e de alto custo. “Faço questão de frisar que não somos ricos, nem ganhamos nenhuma herança. Tudo o que possuímos vem da atividade, que é bem gerida, com os custos equilibrados e que, com a miniusina, agregamos maior valor ao negócio”, ressalta, acrescentando que sempre “fica olhando pra frente, pois de nada adianta ficar reclamando e não tomar nenhuma atitude. E que este meu exemplo sirva para mostrar que é possível o pequeno produtor evoluir, melhorar o desempenho e tornar seu negócio compensador”.

E isso tudo, como enfatiza, ao longo dos anos, com muito trabalho, ele veio se preparando, tendo já a miniusina, tratores, uma área de cana-de-açúcar, a profissionalização de toda a atividade e as contas equilibradas para ter condições de fazer investimentos em tecnologias, com muita cautela também.

Checco afirma que o “pulo do gato” foi e é a miniusina, pois verticalizar a produção leiteira lhe deu condições e segurança para evoluir na atividade. “Com tudo funcionando satisfatoriamente, graças a muito trabalho, temos dinheiro e o direito de sonhar e tornar o sonho realidade. Estou sempre antenado nas novas tecnologias e conhecimentos que possam ajudar a melhorar meu negócio.”

Checco e três funcionários fazem todo o trabalho da fazenda. Ele, além da administração, cuida da gestão dos dados emitidos pelo robô sobre o monitoramento das vacas, seu comportamento, sua produção, a saúde do úbere e a alimentação nos cochos automatizados, entre outros aspectos. Um funcionário cuida da limpeza dos barracões, outro do trato das vacas e da criação das bezerras e uma funcionária é responsável pela produção dos derivados lácteos.

Miniusina processa 1.000 litros de leite por dia para fabricar queijos, iogurtes e leite fluido

Segundo o produtor, na região, os laticínios pagam pelo do leite em torno de R$ 2,20 por litro. A Fazenda Recanto Arizona, que conta com o selo Sisp, comercializa o leite pasteurizado a R$ 3,50, o iogurte a R$ 5,00, o queijo frescal a R$ 25,00/kg, o meia-cura a R$ 50,00/kg e o parmesão entre R$ 90 e R$ 100,00/kg. Tempos atrás também fabricava sorvetes, mas não deu conta de atender à grande demanda, pois seriam necessários mais investimentos em equipamentos, o que em sua avaliação sairia fora de seu planejamento do negócio.

“Como está estruturado há anos, o sistema de produção de leite e derivados lácteos melhorou muito a margem de renda do negócio. Tudo o que temos veio do leite. Não tenho o que falar mal. Claro que já atravessamos momentos de crise, como agora, com o preço dos insumos. Em setembro, por exemplo, a tonelada da silagem custava R$ 400,00; a saca de milho, R$ 100,00; a saca de farelo de soja, R$ 160,00. Porém, com a gestão eficiente, fica mais fácil enfrentar os problemas.”

Seu rebanho é de 120 animais da raça Holandesa e está formando uma parte de Jersolandas, e conta com algumas bezerras meio-sangue. Ele observa que já teve um número bem maior de animais, mas vem trabalhando na melhoria genética visando estabilizar e ajustar o rebanho de acordo com a estrutura instalada (inclusive a capacidade da miniusina). Ou seja, menor número de animais, mas com maior produtividade. 

As 45 vacas em lactação produzem na média em torno dos 25 litros/vaca/dia. O restante divide-se entre cerca de 15 vacas secas e as demais, em bezerras e novilhas. Na média dos últimos 12 meses, a produção diária tem girado entre 1.000 e 1.100 litros, pois na região, nos últimos dois anos, o clima tem estado muito seco e com pouca chuva.

O robô de ordenha tem capacidade de atender entre 60 e 65 vacas por dia, com acesso livre. Segundo o produtor, há vacas que vão para a ordenha quatro ou cinco vezes (geralmente as que produzem 30-40 litros de leite/dia ou mais), as vacas recém-paridas vão para a ordenha em intervalos de cinco horas, enquanto as em final de lactação de seis horas e meia a sete horas.

Sanidade e alimento de qualidade são fundamentais para o bom desempenho dos animais, assim como todo cuidado na criação e recria das bezerras

Com a estrutura da Recanto Arizona equilibrada, ele diz que sua meta é atingir, com essa mesma estrutura, a média em torno dos 1.800 litros de leite por dia, com 60 animais em lactação, com média de 30 litros/vaca/dia, mantendo uma proporção de 30% de vacas Jersolandas, como uma forma de enriquecer o leite com maior teor de sólidos, visando melhor rendimento na fabricação de queijos.

Além disso, está nos planos de Checco desenvolver novos produtos, queijos principalmente, com maior valor agregado para atender a nichos mais exigentes da gastronomia e de consumidores que apreciam tais produtos. “Ou seja, produtos que tenham um diferencial e conquistem um lugar nesse segmento”, arremata ele.

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