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O bom desempenho de um sistema de produção de leite tem como um de seus principais pilares a fertilidade do rebanho

REPRODUÇÃO

Como avaliar a

fertilidade do rebanho?

Especialistas dão uma série de dicas para o produtor medir corretamente a fertilidade de vacas leiteiras e melhorar os resultados da fazenda

Erick Henrique

Antes de entrar nesta reportagem em si, convém informar que, de acordo com artigo publicado pela Embrapa Agrossilvipastoril, intitulado “Eficiência Reprodutiva em Bovinos”, a reprodução é uma função do organismo extremamente complexa e depende de uma grande diversidade de fatores, tais como nutrição, sanidade, conforto térmico, raças e nível de produção, entre outras.

Além disso, o artigo destaca que a eficiência reprodutiva depende de outros fatores extrínsecos, como competência e atenção da mão de obra. Conhecendo essas nuances citadas acima, o médico veterinário e consultor técnico da CowTech, Marco Antônio de Pádua Carvalho, complementa que o primeiro ponto que é preciso entender é como avaliar a fertilidade de um rebanho, pois existe uma série de indicadores que apontam, de maneira direta e indireta, a fertilidade de um rebanho leiteiro.

Marco Antônio de P. Carvalho: “A contribuição de uma vaca de alta fertilidade é muito grande, a começar pela maior produção de leite do plantel"

“O intervalo entre partos é um indicador que mostra se as vacas estão parindo com a frequência desejada, porém mede apenas o intervalo das vacas que tiveram partos consecutivos. Os animais que, por algum motivo, não emprenharam e não tiveram um próximo parto não entram na conta e por causa disso trata-se de um indicador falho”, esclarece ele, observando que o DEL médio do rebanho é um indicador um pouco mais efetivo, porque mostra a distribuição das vacas no rebanho com base no último parto. “Assim, se o DEL medido estiver muito elevado, mostra que as fêmeas estão demorando muito para emprenhar e para parir novamente. Um valor de referência para este indicador é entre 150 e 170 dias. Aliás, existem muito outros indicadores que podem mostrar, de maneira indireta, a quantas anda a reprodução de um rebanho”, explica Carvalho.

Em sua avaliação, de maneira mais efetiva, os indicadores que mostram a real situação do rebanho são taxa de cobertura (ou taxa de observação de cios, ou taxa de inseminação), taxa de concepção (ou taxa de fertilidade) que é erroneamente confundida e chamada de taxa de fertilidade ou de prenhez, e a taxa de prenhez, propriamente dita, que é a real taxa de fertilidade de um rebanho.

“A taxa de cobertura (ou taxa de inseminação, ou taxa de observação de cios) é a porcentagem de animais que foram inseminados ou cobertos em um determinado período em relação a todas as possíveis vacas que estejam liberadas para serem cobertas. Normalmente fazem parte dessa conta as vacas que estejam acima do período voluntário de espera (PEV), que pode variar nas fazendas de 40 a 80 dias pós-parto. Esse é o período no qual as vacas estão liberadas para serem inseminadas após o último parto. Esse tempo pode variar conforme rebanho, raça, produção média de leite do rebanho e ocorrência de problemas no pós-parto imediato”, diz o médico veterinário.

Enfim, segundo Carvalho, cada rebanho deve definir o seu período de espera voluntário, de acordo com suas características específicas. Fazem parte dessa conta também as fêmeas que foram diagnosticadas como vazias no último exame ginecológico e as vacas que estão inseminadas, aguardando confirmação de prenhez, pois várias delas vão repetir cios e devem ser cobertas novamente. “É muito difícil achar o número de vacas aptas em um rebanho, daí ser sempre necessário o uso de um bom software para esse fim”, destaca o consultor técnico.

Baixa eficiência reprodutiva – Como vimos, a eficiência reprodutiva em uma fazenda é resultado de uma série de pequenos resultados. Por isso, para entender a dinâmica da reprodução é necessário conhecer bem não só a reprodução, mas todo o sistema produtivo da fazenda.

“O diagnóstico inicial precisa focar no conjunto de todas as áreas, a nutrição precisa se adequar o suficiente para garantir que todas as fases do ciclo produtivo sejam efetivas. A lactação de uma vaca se inicia aos 60 dias antes do parto, tanto para vacas quanto para novilhas. Essa é a primeira fase que precisa ser trabalhada: o escore corporal deve ser compatível para esta fase, visando garantir que não se tenha nem ganhos excessivos, muito menos que os animais percam a condição corporal e já comecem a mobilizar gordura corporal”, explica Carvalho.

Conforto do animal, inseminador favorável; forma de obtenção do cio, pedômetro, IATF, tudo isso contribui para melhores resultados no quesito fertilidade

Segundo ele, tal fato pode desencadear muitos problemas. Dentre eles, pode afetar o recrutamento de folículos que vão ovular nos primeiros cios após o parto, lá por volta dos 45 a 60 dias após o parto, a segunda fase da lactação (pré-parto), que vai dos 30 dias antes do parto até a data do parto. Para o médico veterinário da CowTech, essa fase é bastante crítica e vai afetar não apenas a saúde, mas também a produção de leite, assim como a fertilidade do rebanho leiteiro, se for mal conduzida.

“Manter boa condução e acompanhamento do parto será decisivo para o nascimento de bezerras saudáveis, além de garantir que as vacas tenham a condição de entrar na lactação sem nenhum problema. A maioria das doenças de vacas de leite ocorre nessa fase, que vai desde o pré-parto até os 60 dias após o parto. Todas as doenças desse período afetam a reprodução e podem ocasionar problemas de fertilidade no plantel”, diz Carvalho.

Outro ponto de suma importância apontado pelo consultor técnico é planejar um calendário de vacinação efetivo para assegurar a saúde de todo o rebanho, com o intuito de não só garantir o controle de doenças reprodutivas, mas também de outras doenças infecciosas, e, de maneira indireta, afetar a reprodução. Estabelecer um bom plano de biosseguridade da propriedade ajuda o produtor de leite a manter muitas doenças sob controle, evitando a disseminação nos animais.

PARÂMETROS SATISFATÓRIOS PARA O ESPECIALISTA

Como bons indicadores para um rebanho, os que o consultor da CowTech mais gosta de avaliar são:

• Taxa de cobertura acima de 70%;
• Taxa de concepção pode variar acima de 35% para rebanhos de alta produção e acima de 45% para rebanhos de produção um pouco menor;
• Taxa de prenhez sempre acima de 25%;
• São algumas sugestões a serem perseguidas.

Alta fertilidade – “Para ser bastante específico, a contribuição de vacas de alta fertilidade é muito grande, a começar pela maior produção de leite do plantel. Para ilustrar: um rebanho com potencial produtivo de 30 litros/leite/dia, se estiver com DEL de 200 e com média de 30 litros/dia; esse mesmo rebanho, com a mesma média de produção, mas com DEL de 170, a produção seria 8% a 10% maior, ou seja, 32,5 a 33 litros de leite por vaca/dia. Isso faz um diferencial enorme”, avalia Carvalho.

Ele continua: “Se for um rebanho de 200 vacas, produzindo em média 2,5 litros por dia de leite a mais, em 365 dias, isso resultaria em uma produção anual adicional de 182.000 litros de leite. Essa é a razão pela qual a reprodução é tão importante na bovinocultura leiteira”.

“Em grande parte das fazendas, a reprodução é deixada de lado por um simples motivo: ela não afeta a produção de leite no curto prazo, porque, se uma vaca emprenhar hoje, ou não emprenhar este mês, não vai aumentar nem diminuir a produção por enquanto. Contudo, no ano seguinte, se esse animal vai parir ou não, emprenhar ou não, logo é aí que o problema se instala, pois se a reprodução for ruim, ano que vem a produção de leite será pior na fazenda, e somente no outro ano poderá ser melhorada novamente. Isso quer dizer que a reprodução tem efeito no longo prazo, tanto para pior quanto para melhor”, finaliza o consultor da CowTech.

Segundo Carvalho, para cada rebanho deve ser definido o período de espera voluntário, de acordo com suas características específicas

Fábio Fogaça: “O programa da Alta é baseado em mais de 50 milhões de resultados e diagnósticos de gestação"

Gabriel Godoy: “Com a utilização dessa ferramenta da Genex, os produtores têm um controle mais certeiro"

FERRAMENTAS DESENVOLVIDAS PELAS CENTRAIS DE IA


A inseminação artificial é a biotecnologia mais aplicada na reprodução animal e tem como principal objetivo a disseminação da genética de reprodutores de maior valor zootécnico. Para impulsionar ainda mais essa tecnologia no campo, centrais como Alta Genetics e Genex, entre outras, desenvolveram programas capazes de aferir a fertilidade do sêmen, buscando avaliar, a campo, a eficácia e eficiência do sêmen de touros leiteiros.

“Em resumo, o Concept Plus, da Alta, é um programa baseado em mais de 50 milhões de resultados e diagnósticos de gestação. O programa considera fatores que afetam a fertilidade, como idade, mês, rebanho, lactação, número de serviços, efeito de cio, efeito do inseminador. É um programa com abordagem precisa para gerenciar a fertilidade em diferentes tipos de sêmen – convencional e sexado, que trabalha com dados de alta confiabilidade, uma vez que envolvemos grandes e progressivos rebanhos comerciais da América do Norte com dados coletados pelo DairyComp e outros softwares de gestão”, destaca Fábio Fogaça, gerente de produto Leite Importado Alta Brasil.

Segundo ele, por meio do sêmen convencional, os touros com selo do programa costumam ter taxa de concepção de dois a cinco pontos porcentuais acima da média do mercado. Ou seja, um rebanho que usa hoje apenas esses touros está, por exemplo, com 30 de concepção e pode ir a 32/35. Quando é usado sêmen sexado do programa, consegue entregar taxas de concepção de quatro a nove pontos porcentuais acima da média de mercado.

“Para o produtor aumentar a taxa de concepção do rebanho, três fatores precisam ser considerados. De acordo com trabalho científico produzido por Kent Weigel e colaboradores, da Univesity of Winsconsin, em Madison, divulgado em 2001, esses fatores e seus porcentuais são: 1% relacionado ao sêmen; 3% relacionados à vaca e suas condições hormonais, entre outras, e 96% relacionados ao ambiente e manejo. Isso significa que os fatores são diversos e vão desde instalações, conforto do animal, inseminador favorável, e forma de obtenção do cio, que pode ser observação visual, pedômetro, inseminação artificial em tempo fixo (IATF), assertividade na aplicação de hormônios, idade do animal, animal subnutrido. Sendo este um dos fatores que mais influenciam, é preciso que seja proporcional ao estágio de lactação que a vaca se encontra, porque a vaca recém-parida é um animal mais exigente em termos de nutrição”, explica Fogaça.

Já a Genex, conforme explica o especialista técnico em leite Gabriel Godoy, possui um software de gestão de rebanhos chamado Milkcheck. Essa ferramenta auxilia o pecuarista a gerenciar a produção e reprodução do seu rebanho leiteiro, dispondo de indicadores visuais de performance para cálculo e acompanhamento dos parâmetros reprodutivos.

“Com a utilização desse software, os produtores têm um controle mais certeiro e direcionado de todo o sistema, tendo na palma da mão o acesso a inúmeros relatórios, por exemplo, estoque de rebanho, inseminações, concepções, prenhezes, como também os registros de protocolos de IATF, estoque de sêmen, produção de leite e DEL”, informa Godoy.

Além disso, o especialista da Genex ressalta que a empresa sugere nove passos para melhorar a performance da fazenda a partir da reprodução:
1. Acompanhamento dos parâmetros reprodutivos;
2. Respeitar o PEV (é preciso esperar alguns dias após o parto antes de se fazer uma nova inseminação, mesmo que o animal entre em cio, devido à involução uterina que leva, em média, 43 dias);
3. Detectar corretamente o cio – o fator mais limitante para o desempenho reprodutivo é a detecção de cio. Ser eficaz na realização dessa tarefa requer precisão e regularidade;
4. Aumentar a taxa de serviço – lembrar que quanto maior a taxa de serviço, mais vacas ficarão prenhes;
5. Intensificar a reprodução após o PEV, para que mais vacas fiquem prenhas mais cedo;
6. Diagnosticar prenhez e fazer reconfirmação com 60 dias, e evitar que animais vazios fiquem sem IA;
7. Reduzir o intervalo entre partos;
8. Atentar na escolha de touros provados para serem utilizados no rebanho, usando os índices de fertilidade como um adicional para garantir mais segurança;
9. Utilizar um programa de gerenciamento de rebanhos, em que é possível o acompanhamento dos principais parâmetros produtivos e reprodutivos, influenciando, assim, diretamente na tomada de decisão pelo produtor.

Ele reforça que iniciativas como o projeto “ Caçapava Mais Leite” facilitam a ação da CDRS, podendo motivar outros municípios a adotar a mesma prática. “O município engajado facilita nosso trabalho. No caso de Caçapava, já há um convênio com a prefeitura, que permite que seja disponibilizado um técnico para acompanhar o projeto e o compartilhamento do prédio e de um veículo da Secretaria”, arremata.

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