Nos últimos seis anos, a pecuária leiteira deve ter implantado mais de mil projetos de compost barn pelo país
Adriano Seddon, um dos principais especialistas no tema no país, diz que o sistema não é uma resposta a todos problemas. “Na realidade, é um facilitador”, define, observando que o retorno pleno da tecnologia só se mostra quando se tem resolvidas questões como gestão, nutrição, sanidade e reprodução
Em entrevista exclusiva à Balde Branco, ele, que é médico veterinário e diretor da consultoria Alcance Rural, conta como tem sido essa experiência e os fatores que tem levado a expansão do modelo compost barn. Aproveita também para dar alguns alertas para quem pensa em investir no sistema em compost barn. “O investimento é alto e precisa ser bem planejado”, diz, citando a necessidade de se ter uma boa relação entre o espaço que se tem para os animais, os corredores, as instalações, a circulação de ar, entre outros fatores.
Sobre o perfil do produtor que se dá bem com o novo sistema, diz que tem atendido basicamente quem chegou ao impasse: se não oferecer conforto para a vaca vai ter que sair do negócio. “É o pessoal que tem duas fazendas: a do verão, em que tudo dá errado e as pessoas estão infelizes, e a do inverno em que ganha dinheiro e as pessoas estão felizes”, costuma descrever. É basicamente para esta demanda, segundo ele, que tem servido o compost barn, para quem busca equilíbrio na atividade leiteira o ano inteiro.
Balde Branco – O sistema compost barn, do qual o sr. se tornou pioneiro e um especialista na implantação, se espalhou pelo país. Em pouco mais de seis anos, estima-se que já existam mais de 1.000 propriedades leiteiras que o adotam. Em sua opinião, o que explica tamanha adesão?
Adriano Seddon – Ao longo do tempo as fazendas ganharam muito conhecimento nas diversas áreas da produção. E nos últimos 20 anos melhoramos o gado, nutrição, manejo e sanidade. Tudo isso estava reprimido. Quando o sistema compost barn chegou, todo esse potencial foi utilizado. Penso que o compost chegou no momento certo. Também houve uma melhora na gestão das fazendas que enxergaram no aumento e estabilização da média de produção um caminho para o lucro.
BB – Na sua opinião, essa expansão do sistema compost barn deve continuar crescendo? Sua implantação se dá substituindo principalmente qual tipo de exploração?
AS – O compost barn continuará a crescer e alguns pontos são essenciais para sustentar esse crescimento. Na medida que as fazendas precisam ganhar eficiência para continuar no mercado, fatores como alta produtividade, longevidade, qualidade de leite e conforto dos colaboradores ficam se evidenciam. O compost consegue reunir tudo isso. A maioria das fazendas que aderiu ao sistema usava um sistema de semi-confinamento, já sabia fazer comida e vinha melhorando o gado há muito tempo. Quando essas fazendas colocaram as vacas no compost barn, a resposta foi muito boa. Também vimos fazendas com gado confinado em free stall construindo compost para lotes com necessidades especiais ou transformando free stall deficitários em compost. Mesmo para fazendas exclusivamente a pasto, temos indicado a construção de compost e sistemas de resfriamento para o período de transição, lotes pré e pós parto. São as categorias que mais se beneficiam com conforto.
BB – Pela maneira como vem avançando, o compost barn deve substituir o free stall?
AS – O compost já substituiu o free stall. Em número de propriedades é bem provável que já tenha ultrapassado. O mercado absorveu a tecnologia muito rapidamente, porque conseguiu enxergar o valor do sistema. O que não pode acontecer é achar que o sistema é uma resposta a todos problemas. Questões como gestão, planejamento, nutrição, sanidade e reprodução são extremamente importantes e devem ser consideradas em sua eficiência antes de se optar pelo sistema. O compost barn, na realidade, é um facilitador, mas a tecnologia deve ser empregada de maneira adequada.
BB – A propósito, quais condições prévias o produtor deve apresentar para colher bons resultados com o compost barn?
AS – São os requisitos básicos para qualquer negócio: capacidade de gestão e liderança, ter um conhecimento técnico razoável e uma equipe técnica com alta capacidade. Tratando-se de qualquer sistema confinado a capacidade de produzir comida com qualidade em quantidade suficiente e animais com boa capacidade de produção. Alguns pontos como energia elétrica instalada, água e relevo podem aumentar o custo chegando em alguns casos a ser proibitivo. Hoje temos muitos projetos começando do zero, gente nova entrando no negócio, acho isso muito bom. São projetos bem estruturados, que começam da maneira correta e com resultados positivos.
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Leia a entrevista completa de Adriano Seddon em Balde Branco, 637, edição de outubro 2017.