O alimento dos animais é o fator de maior custo, por isso é importante focar nos pontos que possam reduzir os custos, sem afetar a qualidade da dieta

CONCENTRADO

CONCENTRADO

Estratégias para reduzir o custo desse alimento

Apesar do forte impacto econômico na produção leiteira, é possível, com orientação técnica especializada e o olho no mercado, formular uma dieta de baixo custo, que melhore as margens da fazenda

Da Redação

   Na atividade leiteira, como em qualquer outra, nem sempre o ótimo produtivo equivale ao ótimo econômico. Mais importante do que maximizar a produtividade por animal e aumentar o volume de leite produzido é ganhar mais dinheiro com a atividade, o que não necessariamente significa alcançar níveis de produção mais elevados. “Na busca pela máxima eficiência, devemos procurar manter equilibrados os custos e as receitas. Para tanto, é preciso compreender a importância do equilíbrio dos custos com o concentrado e obter dicas de como reduzir as despesas de forma eficiente”, assinala William Heleno Mariano, zootecnista e consultor da Labor Rural.

   Um animal precisa se alimentar primeiramente para atender à sua exigência de mantença, que corresponde ao que os animais necessitam para manutenção dos processos vitais. Suprida essa exigência, a próxima a ser atendida é para a produção de leite, caso o animal esteja em lactação. Atendida mais esta, o animal começará a ganhar peso, que poderá ser avaliado de forma subjetiva via escore de condição corporal. “Dessa forma, estima-se que uma vaca que começa a depositar gordura já tenha atendido às exigências para mantença e produção de leite, sendo essa avaliação essencial dentro da fazenda”, observa Mariana de Figueiredo Guerra Pinto, graduanda em Zootecnia/UFV e estagiária da Labor Rural e do PDPL/PCEPL (Programa de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira/Programa de Capacitação de Especialistas em Pecuária Leiteira). 

   Os pesquisadores ressaltam que todas as medidas que visam ao equilíbrio dos custos, sem afetar o desempenho dos animais, são bem-vindas. No que se refere à alimentação, eles chamam a atenção para a questão dos alimentos concentrados, pois, em geral, representam o maior custo da atividade leiteira. “Analisando o banco de dados da Labor Rural, temos que as fazendas mais rentáveis comprometem até 35% da renda bruta da atividade com concentrado. Vale ressaltar que o ideal, para as propriedades com custo maior, não é baixar desenfreadamente os gastos com concentrado, e, sim, equilibrar essa despesa”, assinala Willian Mariano. O mais acertado é equilibrar o gasto com concentrado, gastar de forma mais eficiente, fornecendo aos animais a quantidade necessária do insumo, visando ao ótimo econômico de sua utilização: ou seja, ao lucro máximo, sempre atentando aos eventuais impactos na produtividade dos animais em lactação.

William Mariano: vale ressaltar que o ideal, para as propriedades com custo maior, não é baixar desenfreadamente os gastos com concentrado, e, sim, equilibrar essa despesa

   Para compreender o comportamento dos indicadores econômicos, frente à variação do gasto com concentrado, os entrevistados realizaram uma simulação, considerando uma fazenda modal do banco de dados da Labor Rural, com variação apenas do custo unitário do concentrado. “Para refletir sobre os resultados da simulação, vamos analisar o gráfico abaixo, no qual o eixo horizontal representa o indicador Gasto com concentrado sobre a Renda Bruta da atividade (%) e o eixo vertical, o percentual dos indicadores analisados. Utilizamos, para essa análise, a série histórica de preço bruto do leite, no período de janeiro/2005 a dezembro/2019, do Cepea/Esalq- USP”, explica Mariana.

Saiba fazer a coisa certa para reduzir

CUSTOS DO CONCENTRADO,

equilibrar a dieta e aumentar a margem

   Observe-se que, à medida que aumenta o percentual de gasto com concentrado, em relação à renda bruta da atividade, mantendo inalterados todos os demais custos e a produtividade da fazenda, menor será a lucratividade, que representa o percentual que o produtor consegue suportar em aumento do custo de produção ou redução do preço do leite, mantendo todo o resto constante. Da mesma forma, menor será a rentabilidade expressa pelo indicador Taxa de Remuneração do Capital com Terra (%). “Ambos os comportamentos de decréscimo ocorrem pela expressiva redução das margens da fazenda. Se as margens são menores, o produtor possui menos fôlego para suportar crises e a atratividade do negócio é reduzida”, assinala Mariana. 

   Aumento do risco – Vale o alerta que, com a redução das margens, que gera menor rentabilidade e menor lucratividade, há um aumento expressivo do risco, que representa a probabilidade de a propriedade não conseguir ganhar dinheiro, ou seja, de operar com prejuízos. 

Mariana Guerra: se as margens são menores, o produtor possui menos fôlego para suportar crises e a atratividade do negócio é reduzida

   William Mariano frisa: “Para cada ponto percentual de aumento do gasto com concentrado, em relação à renda bruta da atividade, mantendo todo o resto constante, há um aumento de quase três pontos percentuais no risco. Significativo, não?”

   Para orientar o produtor, os pesquisadores apontam algumas “dicas” que ajudarão a equilibrar esses gastos, evitando aumento do risco, redução da lucratividade e da rentabilidade, e, portanto, “auxiliando você, produtor, a ganhar mais dinheiro com o seu negócio”.

O produtor precisa estar atento aos preços dos ingredientes do concentrado no mercado, para comprar no melhor momento

 Para equilibrar os gastos com concentrado, na propriedade leiteira, não basta apenas levar em consideração o preço do milho, do farelo de soja, do núcleo ou do concentrado comercial, por exemplo. “Obviamente, o preço desses insumos é importante, porém, além disso, há outros pontos a que devemos estar atentos, sobretudo no que se refere a pontos que conseguimos controlar da porteira para dentro”, dizem os entrevistados, apontando os seguintes itens a serem considerados: 

   • Realizar a separação dos animais em lotes – Essa separação de lotes deve ser o mais homogênea possível, para garantir que todos os animais recebam uma dieta próxima da sua exigência, sem excessos ou déficits;

   • Optar por vacas mais produtivas – Independentemente da produtividade das vacas, a energia de mantença necessária para manter as funções vitais do animal, normalmente, será semelhante, em função do seu peso corporal, tamanho, grau de sangue e metabolismo como um todo. Portanto, quanto mais produtiva essa vaca for, maior será a diluição da sua energia de mantença, considerando animais com características corporais semelhantes; 

   • Fornecer uma dieta bem balanceada – Como vimos, é essencial atender às exigências dos animais. Porém, uma dieta desbalanceada pode trazer problemas para o produtor, como, por exemplo, a acidose. Animais com acidose reduzem o consumo de matéria seca e, consequentemente, não suprem suas necessidades, comprometendo a produção, a sanidade e a reprodução;

   • Avaliar: uso de concentrado comercial ou fazer a mistura na fazenda – Ambas as  opções podem possuir prós e contras para a sua fazenda. Então, o produtor deve avaliar atentamente, técnica e economicamente, essas opções;

   • Realizar compras estratégicas – Essas compras visam conseguir melhores preços de insumos e, por isso, devem ser antecipadas ou realizadas de forma coletiva. O melhor momento para compra estratégica é a época de colheita da soja e do milho, quando estes elementos apresentam preços mais baixos. A soja apresenta menor preço médio histórico nos meses de fevereiro, março e abril e o milho, nos meses de junho, julho e agosto;

Fonte: Labor Rural. Dados econômicos corrigidos pelo IGP-DI de fevereiro/2020.

1 Influência da variação do percentual do gasto com concentrado sobre a renda bruta da atividade nos indicadores econômicos

   •  Optar por um volumoso de boa qualidade – Quanto melhor a qualidade nutricional e a digestibilidade do volumoso, menor quantidade de concentrado será necessária para que o animal atenda à sua demanda nutricional. Segundo o benchmark, as fazendas mais rentáveis comprometem até 10% da renda bruta da atividade com alimentos volumosos, ou seja, menos de um terço da referência para alimentos concentrados no custo de produção. Os alimentos volumosos, além de serem uma fonte de alimento de baixo custo, são essenciais na dieta de animais ruminantes; 

   • Substituir os ingredientes da dieta – A utilização de subprodutos na dieta é feita para substituir os alimentos mais tradicionais, como milho e soja, quando o preço desses insumos está elevado. Essa substituição, se realizada corretamente considerando questões técnicas e econômicas, pode representar uma grande economia de custos na propriedade e, além disso, os subprodutos podem possuir nutrientes especiais ou complementares aos já existentes na formulação, permitindo um ajuste fino da dieta;

   • Cuidado com o uso de aditivos sem comprovação de eficácia técnica – Apesar de alguns aditivos serem fundamentais e possuírem uma boa relação custo-benefício, outros não são sustentados por uma ciência sólida. Com isso, poderão apenas aumentar o custo do quilo de concentrado, sem apresentar benefício para o desempenho animal;

   •  Cuidados com alimentos estocados na fazenda – É fundamental reduzir as perdas diretas e indiretas dos alimentos estocados dentro da propriedade. Se o armazenamento dos insumos for realizado de forma incorreta poderá favorecer a proliferação de fungos, que produzem micotoxinas danosas à sanidade dos animais. Essas micotoxinas causam redução do desempenho, desordens reprodutivas, abortos e imunossupressão, além de proporcionarem uma perda expressiva de matéria seca e do valor nutricional do alimento. Podem ocorrer, também, perdas de alimentos devido às falhas na previsão de consumo, quando essa previsão é superestimada e sobra muito alimento no cocho.  

Volumoso de qualidade é fundamental para compor uma dieta bem formulada e de baixo custo

   Como as despesas com concentrado, normalmente, correspondem ao principal componente de custo da fazenda leiteira, para garantir que a atividade seja rentável é essencial que o produtor e seus funcionários estejam atentos a esses gastos, sem perder de vista a produtividade do rebanho, que é um dos pilares na busca por maior eficiência. “Por isso, é preciso contar com a orientação de um consultor especializado na parte técnica e gerencial. Além disso, é muito importante o produtor ficar sempre atento ao preço dos insumos, às formulações das dietas, ao correto arraçoamento e às estratégias nutricionais”, recomendam Willian Mariano e Mariana Guerra Pinto, arrematando que isso contribuirá para operar com fluxo de caixa positivo, menor risco econômico e maior rentabilidade na atividade, ou seja, produzirá mais e melhor com menos, sendo mais eficiente em sua propriedade.

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