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LEITE EM NÚMEROS

Kennya B. Siqueira

Pesquisadora da Embrapa Gado de Leite

Consumo domiciliar de leite em pó integral nas diferentes regiões do Brasil

O consumo de leite em pó integral, no Brasil, é significativamente maior no Norte e Nordeste do que nas demais regiões, chegando, em alguns casos, a um consumo seis vezes maior

O leite é uma das commodities mais importantes do mundo, tanto em termos de produção quanto de consumo. Em média, são produzidos anualmente no mundo cerca de 850 milhões de toneladas de leite e a FAO estima que, todos os dias, bilhões de pessoas consumam leite e derivados.

O leite também é um dos produtos mais versáteis da indústria de alimentos, podendo ser consumido em vários formatos. No entanto, o consumo de alguns desses produtos tem se reduzido em alguns países. No Brasil, dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstraram queda no consumo de laticínios nos lares brasileiros de aproximadamente 35% entre 2002/2003 e 2017/2018. Entretanto, um derivado lácteo que apresentou comportamento inverso, ou seja, crescimento de consumo domiciliar, foi o leite em pó integral. O consumo de leite em pó integral no Brasil cresceu, em média, 34% entre os períodos de 2002/2003 para 2017/2018.

Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), o Brasil é o segundo maior consumidor de leite em pó do mundo. No entanto, existem grandes diferenças regionais na aquisição desse produto no País (Figura 1).

Pela Figura 1 é possível observar níveis de consumo per capita de leite em pó integral superiores nas regiões Norte e Nordeste do País. Em 2017/2018, o leite em pó integral ocupou a segunda posição entre os lácteos mais consumidos nas regiões Norte (2,089 kg) e Nordeste (1,853 kg), perdendo apenas para o leite fluido. Os estados que mais consomem leite em pó integral no Brasil são o Amapá (3,238 kg) e o Piauí (2,633 kg).

O consumo domiciliar de leite em pó integral no Norte teve um aumento de 8% no período de 2002/2003 a 2008/2009, e, no Nordeste, de 14%. No período de 2008/2009 a 2017/2018, esses incrementos foram ainda maiores, sendo de 14% na região Norte e de 19% no Nordeste.

Ao agregar à análise o tamanho da população em cada região, tem-se que o Nordeste, sozinho, foi responsável por 36% do consumo domiciliar de leite em pó integral no Brasil no biênio 2017/2018. Esse resultado é justificado pela substituição do leite UHT na região pelo leite em pó. Pelo fato de ser diluído em água para consumo, o leite em pó rende mais, sendo, portanto, mais vantajosa a compra do leite em pó integral do que a do leite UHT.

Outra característica que justifica a substituição do leite longa vida pelo leite desidratado seria o armazenamento. O fato de poder ser conservado em temperatura ambiente, sem necessidade de refrigeração, é uma característica importante para consumidores de baixa renda que não dispõem de refrigeradores em casa. Considerando-se que as regiões Norte e Nordeste têm grande parte da população com baixa renda, ou até em situação de vulnerabilidade, a possibilidade de armazenamento em temperatura ambiente caracteriza-se como uma vantagem para o leite em pó.

O consumo de leite em pó integral, no Brasil, é significativamente maior no Norte e Nordeste do que nas regiões Sudeste, Sul e Centro- Oeste, chegando, em alguns casos, a um consumo seis vezes maior.
Entretanto, nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste é possível observar índices inferiores de aquisição alimentar domiciliar de leite em pó integral. Em 2017/2018, o nível de consumo per capita de leite em pó integral na região Norte (2,089 kg) equivale a quase seis vezes o nível de consumo na região Sul (0,368 kg), demonstrando uma diferença significativa no perfil de consumo domiciliar deste produto no Brasil.

Assim, os dados de consumo de leite em pó integral no Brasil evidenciam que as diferenças de consumo estão relacionadas com as diferenças de renda, visto que as regiões de maior consumo (Norte e Nordeste) são as de menor Produto Interno Bruto (PIB). Por outro lado, as regiões de maior PIB (Sul, Sudeste e Centro-Oeste) são as que têm menores níveis de consumo per capita de leite em pó integral.

Quando se analisam as faixas de renda nas diferentes regiões, têm-se indícios de que o consumo de leite em pó integral associa-se positivamente com a renda. No entanto, essa análise foi realizada com um número reduzido de dados, de forma que não é possível afirmar sobre a existência de um padrão de consumo associado à renda em todo o País (Figura 2).

Co-autora: Rafaela Oliveira Neto – estudante de Engenharia de Alimentos da UFV

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