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OPINIÃO

Marcelo Prado

CEO da Mprado Consultoria Empresarial/Núcleo Cooperativas

Cooperativas: Uma força a impulsionar o leite brasileiro

A produção de leite no Brasil foi de 34,8 bilhões de litros em 2020, crescimento de 2,7% em relação a 2019. Ela está embasada fortemente no cooperativismo, pois esse segmento está concentrado nos micro, pequenos e médios pecuaristas. As cooperativas têm um papel importante, de impulsionar a adoção de novas tecnologias de manejo, produção e controle de ectoparasitas e doenças. Ao mesmo tempo, os veterinários e zootecnistas dessas instituições têm impulsionado a produtividade leiteira por meio do melhoramento genético.

O outro papel importante que as cooperativas desenvolvem é o fornecimento de rações, medicamentos e insumos em geral para os pecuaristas. É onde esses empresários adquirem os produtos e estes são descontados do valor a receber do leite entregue a essas cooperativas. Elas criam uma facilidade logística e agroindustrial muito importante para viabilizar a atividade leiteira junto aos pequenos produtores, pois os caminhões resfriados da cooperativa possuem uma rota diária de captação do leite produzido, e isso dispensa o investimento do produtor em armazenamento próprio. Na agroindústria, a cooperativa processa e homogeneíza o leite, comercializando-o com indústrias alimentícias. Muitas possuem sua própria produção de leite tipo A ou longa vida, que é comercializado nas redes de varejo.

Normalmente, em abril/maio, quando se inicia o período da seca, as cooperativas realizam feiras agropecuárias para fechar contratos de fornecimento de rações com os cooperados, a fim de que estes tenham preços garantidos do alimento bovino até o início das águas. Com isso, a cooperativa promove previsibilidade aos pecuaristas, facilitando o controle dos custos de produção, para que estes possam manejar adequadamente a eficiência do seu negócio.

Nos últimos anos, as cooperativas também promoveram capacitações voltadas para a gestão, com o propósito de aumentar o conhecimento dos cooperados nos processos de tomada de decisão, gestão do fluxo de caixa, orçamentos, relatórios gerenciais e contábeis, gestão de custos e despesas, e do capital de giro. Esses treinamentos têm promovido um aumento significativo da visão empresarial dos cooperados e, com isso, eles conseguem fazer escolhas e estratégias mais assertivas, potencializando a rentabilidade do seu negócio, estimulando a cultura empresarial. Fato este que é muito positivo para o desenvolvimento da cadeia produtiva do leite.

As mulheres cooperativistas exercem um papel muito importante neste processo. Cerca de 25% das fazendas leiteiras já são comandadas por elas. E uma coisa muito interessante é que a capacidade administrativa e organizacional delas é bem mais aguçada. Mulheres são mais detalhistas e exercem controles administrativos e financeiros altamente eficientes. Por meio da gestão feminina, observam-se grande evolução da produtividade e rentabilidade das fazendas.

Dentro das cooperativas, o papel de liderança e presença em cargos de gestão e direção também tem apresentado um grande crescimento, inclusive na participação dos conselhos de administração e fiscal.

Um dos grandes desafios que a cadeia produtiva enfrenta é a busca de agregação de valor por intermédio da produção de derivados do leite, como iogurtes e queijos finos, entre outros. Esses nichos de mercado promovem margens de lucro bem superiores, mas, ao mesmo tempo, exigem padrões de qualidade muito altos para o leite, e, neste caso, o papel da mulher torna-se indispensável, pois, onde ela está envolvida diretamente na produção, a qualidade do leite é superior. Os cuidados com a higiene e o manejo são muito mais eficientes!

As cooperativas desse setor têm uma atuação concentrada no Sul e Sudeste, e será muito importante para o desenvolvimento da atividade e do País que tais instituições possam migrar também para as Regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, a fim de promover os valores cooperativistas e, ao mesmo tempo, fomentar a produção do leite bovino nessas regiões.

Como foi dito acima sobre a importância da agregação de valor, é necessário que os empresários rurais pensem também sobre a oportunidade na produção do leite de cabra, de ovelha e de búfalas, cuja matéria-prima origina queijos de alto valor de mercado e que podem, em regiões específicas, se tornar novos negócios rentáveis, tanto para as cooperativas quanto para os pecuaristas, como já ocorre na Europa.

De forma geral, o Brasil avançou nos últimos anos. Mas, como o quinto produtor mundial, tem muitas oportunidades de evolução, tanto na produção quanto na produtividade do leite. Poderemos avançar no manejo das pastagens degradadas usando adubação, rações balanceadas, genética de gado mais produtivo, e, ao mesmo tempo, na automação da ordenha e na utilização de soluções digitais que trazem facilidade, eficiência e modernidade.

Caso se tenha, nos próximos dez anos, uma política de fomento do desenvolvimento do leite do País, aliada à capacidade aglutinadora das cooperativas agropecuárias e à competência e determinação dos pecuaristas brasileiros, o segmento poderá crescer tanto quanto o de soja e milho. E, com isso, o Brasil poderá ocupar um dos três lugares do pódio da produção mundial de leite.

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