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São diversos os subprodutos da agroindústria que podem ser utilizados na dieta de animais leiteiros

NUTRIÇÃO

COPRODUTOS

ajudam na redução de custos e no

balanceamento da dieta

A utilização dos chamados coprodutos ou subprodutos na alimentação das vacas leiteiras é uma alternativa para substituir alguns ingredientes mais caros, visando reduzir os custos e garantir o ajuste nutricional da dieta

Erick Henrique

Em razão da alta significativa dos custos dos principais insumos utilizados regularmente na pecuária leiteira – milho e farelo de soja –, que afeta diretamente a margem de lucro do produtor, surgem dietas alternativas, que ajudam a superar esse desafio e que também podem contribuir para o balanceamento nutricional na alimentação dos animais.

“Vivemos um momento diferente em relação aos preços dos insumos. Isso obriga o produtor a buscar alternativas de ingredientes que substituam totalmente ou parcialmente os insumos chamados ‘nobres’, que são fontes de energia e proteína”, explica Ricardo Fasanaro, zootecnista e coordenador do Consulado do Leite.

Em sua avaliação, o primeiro passo é realizar uma análise bromatológica do novo ingrediente e entender seu comportamento no ruminante. Segundo Fasanaro, o milho é uma fonte de energia nobre, mas pode ser substituído por outros ingredientes nobres como sorgo, mandioca, trigo, etc. Em subprodutos há várias opções de fontes de energia não dependentes do amido, como polpa cítrica ou casquinha de soja, por exemplo.

“Conhecer o comportamento desse alimento é a chave de uma dieta balanceada. Com tal conhecimento, nós direcionamos o produtor a procurar determinados produtos para a substituição total ou parcial de alguns ingredientes, dependendo da oportunidade de mercado, visando reduzir os custos da dieta sem prejudicar a alta produtividade”, avalia o zootecnista.

Em relação a quanto é possível reduzir o custo da dieta com a substituição de alguns ingredientes por subprodutos, Fasanaro cita que recentemente os técnicos do Consulado do Leite foram procurados por um pecuarista que produz cerca de 3 mil litros/leite/dia, que estava com dificuldades em reduzir os custos da dieta, composta basicamente por silagem de milho, napier verde, milho, uma ração comercial, soja e núcleo mineral e ureia pecuária.

Ricardo Fasanaro: é recomendável sempre consultar um nutricionista para usar subprodutos na dieta equilibradamente

“Entramos com cevada úmida, casquinha de soja e farelo de algodão e retiramos a ração comercial e reduzimos o milho e a soja. Dessa forma, baixamos a dieta vaca/dia de R$ 41,55 para R$ 38,73 e com o balanceamento adequado ainda ganhamos 3,3 kg de leite na média do rebanho”, diz.

De acordo com o zootecnista, os subprodutos da agroindústria são uma alternativa interessante e passaram de oportunidade para necessidade. “Sua escolha e inclusão devem considerar fatores como composição química, preço, armazenamento, tempo de uso e disponibilidade, além de conhecer bem seus riscos em relação aos fatores antinutricionais e seus compostos tóxicos.” Ele faz questão de alertar sobre a importância de o produtor consultar sempre um nutricionista para quando for usar esse tipo de alimento na dieta. Porém, mesmo assim, são uma opção econômica relevante na redução do custo da dieta e da eficiência alimentar.

Os seis principais alimentos alternativos

Para que os produtores conheçam os benefícios e os valores nutricionais dos subprodutos e coprodutos, e como essa dieta deve ser fornecida para o rebanho leiteiro, tomando os devidos cuidados para não comprometer a produtividade dos animais, o coordenador do Consulado do Leite elenca, dentre diversos outros, seis ingredientes de grande valia:

SDDG – Trata-se do resíduo gerado a partir da extração do amido do milho para produção do etanol de milho. É uma excelente fonte de proteína e fibras digestíveis no rúmen. Sabemos que a proteína é a porção mais cara na dieta, e o DDG oferece uma boa alternativa, tendo até três vezes mais proteína que o milho grão, variando entre 20% e 42% de proteína bruta. Além disso, tem altos níveis de metionina. Lembre-se que a vaca precisa de aminoácidos, e não de proteína. Por isso a importância em avaliar a proteína degradável no rúmen, já que a proteína microbiana é a maior fonte de aminoácidos da vaca.
É fundamental ainda analisar cada carga de DDG e mensurar os níveis de óleo nesse ingrediente. Sabemos que o óleo é energia, mas esse óleo do DDG é um óleo livre, e seu excesso é prejudicial ao rúmen, o que exige conhecimento do nutricionista em determinar as quantidades equilibradas desse ingrediente na dieta. Outro ponto é que os grãos usados no DDG são de todos os tipos, quebrados, velhos, somados à alta umidade desse material, os riscos de micotoxinas são iminentes e precisam ser monitorados também. A análise bromatológica de cada carga é essencial para conhecer esses parâmetros.

Farelo de glúten de milho – É outro subproduto do processamento do milho, mas agora gerado da extração do amido e do gérmen para a produção do xarope de milho. É uma fonte de energia oriunda das fibras de alta digestibilidade, e fonte de proteína degradável no rúmen. Usado na substituição parcial da soja e do milho, deve-se ter cuidado na sua inclusão. A recomendação da comunidade científica é não passar de 20% do total de matéria seca da dieta, mas nutricionistas experientes chegam a usar mais que esses valores. Seu excesso desbalanceado na dieta pode reduzir a produção de leite.

Polpa cítrica – A polpa cítrica é uma fonte alternativa de energia bastante semelhante ao milho. É rica em pectina, que é um carboidrato estrutural, e em fibras de alta digestibilidade. Além disso, é um excelente ingrediente energético que não oferece risco ao pH ruminal, gerando uma fermentação mais estável, diferente de fontes de energia derivadas do amido, por exemplo. A polpa cítrica é vendida in natura, com alta umidade, ou peletizada seca. Ambas exigem monitoramento devido aos riscos de micotoxinas.
Na versão úmida, é necessário um giro mais rápido de uso devido a essa alta umidade acelerar o processo de degradação por meio de fungos no material. Já na versão peletizada, pode ser armazenada por longos períodos, desde que armazenada em local protegido do tempo e arejado. Preço em torno de R$ 1.650,00 a tonelada, 65% mais caro que o milho, não sendo neste momento uma boa opção de custo, apenas na falta do milho. O correto é avaliar entre ela e a casquinha de soja, que está mais viável em termos de custo.

Cevada úmida – A cevada úmida é o resíduo de cervejaria. Um excelente complemento alimentar. É rico em fibra de alta digestibilidade ruminal, baixa gordura e com proteína em torno de 22%, sendo metade bypass (de absorção intestinal). É altamente palatável, rica em vitaminas e leveduras inativadas. Usando esse alimento como complemento, os resultados em produção de leite são excelentes: dietas com 3 kg de matéria seca de cevada comparada a dietas sem cevada normalmente ganham em torno de 2 kg de leite.
Também é um alimento que exige atenção. Por ser de alta umidade, deve ser usado em até 14 dias se não for ensilado. Outro risco é de desabastecimento. Como dependemos da demanda das cervejarias, ocorre com frequência o desabastecimento, e a retirada sem readaptação da dieta é péssima para o consumo de matéria seca do rebanho e o risco de queda no leite é altíssimo, mesmo entrando com dietas altamente balanceadas. Com o uso da cevada conseguimos reduzir em torno de 8% o custo da dieta total.

Caroço e farelo de algodão – Usados em dietas como fonte de fibra efetiva, energia e proteína. É um excelente ingrediente visando reduzir custos e aumentar a produtividade. Deve ser armazenado seco, em local bem protegido do tempo. Quando submetidos à chuva e ao calor, ocorre uma hidrólise enzimática dos ácidos graxos voláteis presentes no caroço, tornando esses ácidos graxos livres, o que os torna prejudiciais ao desempenho ruminal, derrubando a gordura no leite e a produtividade. Armazenados de forma correta, são um excelente alimento e de baixo custo.
O farelo de algodão é uma fonte proteica que pode substituir parcialmente ou totalmente o farelo de soja na dieta. É resultado dos processos de extração do óleo do caroço de algodão, concentrando sua porção proteica no farelo. A proteína bruta varia de 28% a 40%, o que é descrito no ato da venda do produto, variando então seu preço. Seu teor de proteína degradável no rúmen é inferior ao da soja, apresentando em torno de 35%, enquanto da soja é de 48%. Seu perfil de aminoácidos também é inferior ao da soja, e por isso a substituição total da soja deve ser feita com cuidado, e em casos de extrema necessidade. A recomendação é de que sua inclusão não passe de 20% da MS da dieta. Vale notar que tanto o farelo quando o caroço devem ser utilizados com atenção e cuidado. A presença de gossipol e do perfil de ácidos graxos podem afetar a reprodução dos animais.
Conforme esses produtos podem efetivamente substituir alguns dos ingredientes da dieta em algumas situações, devem ser criteriosamente administrados segundo a orientação do técnico nutricionista, para evitar o risco de prejudicar a produtividade dos animais. Além disso, é preciso considerar condições de preço compensador no mercado e sua disponibilidade.

Casquinha de soja – A casquinha de soja é uma opção energética que pode entrar como substituição parcial do volumoso devido a seu alto teor de fibras de alta digestibilidade e até mesmo do milho, por oferecer uma redução no custo da dieta, auxiliando em um ótimo balanceamento. Fornece também uma boa quantidade de pectina. É fundamental passar por um processo de tostagem, que inativa a enzima urease presente na casca in natura, que pode ser prejudicial aos ruminantes. Após esse processo é moída e peletizada, o que facilita o armazenamento e a mistura na dieta total.
É preciso também ter conhecimento sobre seu uso em proporção equilibrada, pois o excesso na substituição do volumoso pode causar uma redução na gordura do leite em dietas com baixo teor de carboidrato não-estruturais, reduzindo a síntese microbiana ruminal. Lembre-se de que a casquinha in natura e a peletizada oferecem diferentes valores nutritivos, sendo a tostada e peletizada a mais segura. Por ser subproduto, seu custo é normalmente inferior ao do milho, oferecendo uma redução de custo significativa na dieta.

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