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O pequeno e médio produtor de leite tem no mercado uma série de créditos rurais para incrementar sua atividade

CRÉDITO RURAL

Crédito acessível com juros baixos:

é o que o produtor precisa para fortalecer seu negócio

A Balde Branco vai publicar uma série de matérias sobre as principais linhas de crédito rural disponíveis para os produtores rurais

João Antônio dos Santos

Face à natureza da atividade rural, não há produtor que em algum momento não tenha necessitado de um recurso extra para manter seu negócio em movimento, num momento de aperto ou mesmo para aprimoramentos e crescimento. E se for de fácil acesso e juros baixos vem sobretudo beneficiar os pequenos e médios produtores rurais. É nessa faixa que se enquadram milhares de produtores de leite, conforme assinala Francisco Martins, secretário executivo do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista-Feap, “que tem a finalidade de fomentar a produção agropecuária no Estado de São Paulo, conciliando os três pilares do desenvolvimento sustentável: econômico, social e ambiental”.

No manual do Feap estão explicitados seus objetivos, conforme destaca Martins: “O crédito rural propicia aos produtores rurais paulistas meios para implantação, ampliação ou modernização de sistemas de produção, como também para adoção de boas práticas agropecuárias, contribuindo assim para o desenvolvimento sustentável das diversas atividades agrossilvipastoris presentes no Estado de São Paulo.”

Francisco Martins: Para o produtor de leite há crédito para vários incrementos, inclusive linha para pequenas agroindústrias

Em 2022, o Feap disponibilizou cinco linhas de financiamento, tendo a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral – Cati e a Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo – Itesp como responsáveis pela operacionalização do crédito rural junto ao produtor.

Segundo Martins, no ano passado, o órgão operou com R$ 204 milhões em crédito, atendendo a mais 1.500 produtores, com juros baixos (3% ao ano) e com carência. “Comumente, uma operação normal é de oito anos, com dois anos de carência. Em 2021, fizemos um custeio emergencial, que atendeu a dois mil produtores, com recursos de R$ 170 milhões. O Feap também tem essa possibilidade de, no caso de uma emergência, como em 2021, abrir uma linha de crédito especial”, explica.

Especificamente para o segmento da produção leiteira o Feap tem linha de crédito para o incremento no uso de tecnologias, insumos, equipamentos etc., passando também pela compra de matrizes e tecnologias de melhoramento genético do rebanho. “Assim, o produtor investe na melhoraria da pastagem, sistema rotacionado, irrigação, compra de equipamentos de ordenha, de resfriamento do leite, instalações, entre outros, e também no melhoramento genético dos animais. E até mesmo para o processamento da matéria-prima, pela linha Pequenas Agroindústrias, que apoia o produtor para verticalizar sua atividade, produzindo derivados lácteos”, diz Martins.

Acesso ao crédito – O Feap tem um acesso muito facilitado, sobretudo ao pequeno e médio produtor familiar. Ele nem precisa ir ao banco, pois o técnico da Casa da Agricultura opera, auxiliando-o em tudo que precisar para obter o crédito, a partir de suas condições, volume de produção, renda etc. O técnico então faz todo o enquadramento desse produtor, avaliando a partir do montante solicitado. Ou seja, faz-se um projeto técnico, com plano de pagamento adequado às condições de seu negócio, para que ele possa pagar o empréstimo sem problemas.

Martins observa que isso tudo é acompanhado de um Projeto Integral da Propriedade que mostra as prioridades para os investimentos, de modo que realmente promova o que o produtor busca. Por exemplo, se o produtor pode deseja comprar mais vacas de melhor padrão genético, porém a propriedade não dispõe de condições para produzir alimento de qualidade e em quantidade exigido por animais de melhor genética. Ou então comprar um trator que na maior parte do tempo ficará ocioso.

Ele nota ainda que se trabalha com o conceito de crédito assistido. Como a Cati tem ferramentas como o Sisrural e o protocolo de boas práticas de produção, tem-se feito um esforço para que os projetos de crédito venham com assistência e extensão para apoiar o produtor rural. Assim, desde a elaboração do projeto é preciso ter segurança se o objetivo do produtor é mesmo prioritário e não apenas um desejo cuja realização é inviável naquele momento, pois poderá levar ao não aproveitamento daquele recurso.

RESULTADOS 2022


Solicitações:
R$ 202,2 milhões
Liberados: R$ 161,8 milhões
Produtores que solicitaram o crédito: 1.496
Solicitações de financiamento: 1.584
Produtores atendidos: 1.121
Tempo médio para a liberação do recurso: 75 dias
Valor médio por produtor: R$ 144,3 (mil)

Fonte: Relatório Feap – Linhas de Crédito Rural 2022

Desenvolvimento local – Segundo Martins, em breve haverá mais novidades para o segmento do leite, já que a atividade leiteira é a mais abrangente e de grande importância para o campo, sobretudo a produção familiar, espalhadas por todo o estado. “A gente acredita muito no leite pasteurizado, sobretudo por seu potencial de contribuir para o desenvolvimento local, pois por sua característica não viaja longe e é produzido e processado ali na região. Com isso, esse movimento financeiro fica ali na região”, assinala, reforçando que isso vai contribuir em bases mais consistente para o fortalecimento da cadeia do leite na região, inclusive apoiando os programas de sanidade animal do estado.

Tácito Garcia Scorza, assistente agropecuário da Cati Regional de Presidente Venceslau-SP, região de pecuária de leite e de corte, olericultura, cana-de-açúcar, mandioca, entre outras culturas, atende a produtores que vão em busca do crédito do Feap. “Na região, tem havido grande procura pelo Feap, que engloba todas as atividades rurais. O que os produtores, em geral, mais têm buscado são recursos para a compra do kit de energia (placas solares), entre outras demandas de acordo com a atividade”, explica ele, sendo que para a produção de leite a busca maior é por matrizes de melhor valor genético.

Tácito Scorza: O Feap é de suma importância para o pequeno produtor rural, sendo uma das melhores políticas públicas de financiamento, não só pela baixa taxa de juros, acessível e carência

O acesso ao crédito do Feap é bastante facilitado, bastando o produtor procurar a Casa da Agricultura, onde recebe todas as orientações. Em geral, o produtor já sabe em que linha de crédito se encaixa sua atividade e o que pretende com o recurso.

O técnico orienta quanto a uma lista de documentos, um histórico dos últimos três anos, que o produtor tem de apresentar para se habilitar ao crédito. “Para que o produtor se enquadre, precisa explorar no máximo 120 hectares, a renda bruta da atividade tem de somar no máximo um milhão de reais, sendo que 50% da renda tem de vir da propriedade, ou seja, tem de ser rural”, nota Scorza.

Ele cita um exemplo de bons resultados, caso da produtora de leite Lucineide Lourdes (leia o box), a quem atendeu. Segundo seu relato, ela procurou a Casa da Agricultura, no final de 2021, época em que o estado de São Paulo estava passando por déficit hídrico (longa estiagem e também momentos de geada), o que prejudicou severamente a agropecuária. Ante tal situação, o Feap criou a linha de crédito emergencial chamada Custeio Emergencial SP, voltado principalmente para compra de ração, minerais e outros alimentos para os animais, energia rural, combustível, sementes, adubos etc. Lucineide Lourdes que tem sua propriedade num assentamento, pela precariedade da situação de sua atividade, enquadrou-se nessa linha de crédito.

Scorza lembra ainda que a produtora já tinha seu projeto para o leite delineado, graças ao aprendizado no curso capacitação do programa Pró-Leite. “Quando fechamos seu projeto técnico já estava especificado seu plano de ação, sendo a primeira etapa a reforma da pastagem e a instalação de um sistema de irrigação, para ter forragem de qualidade e suficiente para seus animais”, observa ele, assinalando que isso foi muito importante para que ela passasse a focar mais no leite e a obter melhores resultados e acreditar mais na atividade.

Segundo destaca o assistente agropecuário da Cati, o Feap é de suma importância para o pequeno produtor rural, pois é uma das melhores políticas públicas de financiamento, não só pela baixa taxa de juros, acessível, com 24 meses de carência e oito anos para pagar. Isso permite que o produtor, com as melhorias que consegue, possa pagar o financiamento de forma mais fácil.

Em poucos meses a produtora recuperou com eficiência toda sua área de produção de alimento para os animais

DE TIRADORA A PRODUTURA DE LEITE

 
É com essas palavras que Lucineide Lourdes S. C. Araújo e seu marido José de Moraes Araújo, se definem na atividade que tocam há mais de 30 anos e que mudou drasticamente há menos de dois anos. “Graças ao aprendizado que tivemos e os recursos do Feap conseguimos mudar muito nossa vida e digo isso com certeza. Até então éramos simplesmente tiradores de leite e agora somos produtores de leite”, diz com orgulho.

No Sítio Elshaday, no Assentamento São Camilo, em Presidente Venceslau-SP, eles produzem leite, algum gado de corte, hortaliças e frutas . “Em 2021, a seca estava muito severa, além de geadas, o que acabou com os nossos pastos, deixando os animais completamente sem comida. Sem recursos para comprar alimentos, ficamos numa situação desesperadora. Foi quando procurei a Casa da Agricultura e falei o técnico Tácito Scorza, que me atendeu muito bem e me orientou no andamento para obter o crédito”, recorda-se Lucineide.

Conforme conta, ao obter os R$ 70 mil, já tinha planejado tudo do que precisava para avançar na primeira parte de seu de projeto de focar mais na produção leiteira. E naquela situação de penúria, mais que nunca, ou então teria de desistir de tudo. “Tinha o sonho, conforme o projeto, de melhorar muitas coisas, ou seja, profissionalizar a produção de leite, com base no que aprendera no curso de um ano do Pró-Leite, ministrado pelo prof. Sidinei Favarin, da Fatec-Presidente Prudente e instrutor do Senar-SP. Ele nos orientava e aprendi que, em primeiro lugar, tínhamos de garantir comida de qualidade para os animais”, diz.

E assim antes do final do primeiro semestre de 2022, o Sítio Elshaday, de 19 hectares, já estava de cara nova: 2,5 ha de pastagem rotacionada de capim paredão, com 38 piquetes irrigados; 2,5 ha de cana-de-açúcar; 1,2 ha de capim açu. Tudo conforme o recomendado para ter um bom pasto: análise e correção do solo e a adubação conforme a análise, pois o solo estava com baixíssima fertilidade.

Lucineide e José de Moraes aos poucos estão mudando a realidade do sítio, já que a cada passo vão avançado em produtividade, qualidade e renda

Além da forragem, os animais recebem ração e silagem de milho reidratado. As mesmas 18 vacas mestiças em lactação que produzem hoje em média 240 litros de leite/dia, produziam de 80 a 120 litros/dia, um ano e pouco atrás.

“A partir de agora vou depender novamente de Feap para dar continuidade à segunda etapa de nosso projeto, que é o melhoramento genético das matrizes, mais produtivas para elevar o volume de leite. A qualidade a gente vem melhorando dia a dia, graças aos ensinamentos do prof. Fadani. Aprendemos coisas com ele que nem imaginávamos que existiam”, conta Lucineide.

Sua meta é chegar por volta dos 600 litros de leite/dia de alta qualidade, com vacas que produzam por volta dos 30 litros/dia. “Pois assim, com maior volume e mais bem-remunerada, poderei pagar com mais folga e mais rápido o novo empréstimo. Aos poucos, vou mudar a realidade da minha produção, já que a cada passo a gente vai avançado, usando novas tecnologias para sempre fazer mais e melhor”.

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